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domingo, 17 de julho de 2022

Peronismo à brasileira - Revista Oeste

Silvio Navarro

 A agenda de esquerda que quebrou a Argentina agora ameaça o Brasil infiltrada no programa de governo de Lula 

A imagem do presidente Fernando de la Rúa deixando a Casa Rosada a bordo de um helicóptero, em dezembro de 2001, ficou marcada para sempre na memória dos argentinos. Do lado de fora da sede do governo, uma multidão enfurecida batia panelas, num gesto que se espalhava das ruas do centro de Buenos Aires para todas as províncias. O país estava em convulsão social. Quarenta pessoas morreram durante os protestos, cinco delas na Praça de Mayo, o coração da capital argentina.

Ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva <i>(à esq.)</i>, ao lado da vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente argentino, Alberto Fernández | Foto: Estaban Collazo/Presidência de La Nación Argentina
Ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (à esq.), ao lado da vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente argentino, Alberto Fernández | Foto: Estaban Collazo/Presidência de La Nación Argentina 
 
É unânime na literatura que a virada daquele ano foi o pior momento da história de um país que já figurou como a sétima economia do mundo. No século passado, aliás, os vizinhos se gabavam da expressão riche comme un argentin (“rico como um argentino”)
Eram vistos em férias das praias de Santa Catarina ao Nordeste brasileiro. Foram apelidados de “os europeus sul-americanos”
Mas a Argentina é um caso raro de país rico que ficou pobre rapidamente.  
E agora está muito pobre.

Vinte anos depois daquele dia, os argentinos lotaram as ruas no último sábado, 9, no feriado da Independência. De Córdoba a Santa Fé, de Mendoza a Rosário, multidões empunharam faixas de protesto contra a derrocada econômica, cujo marco é a inflação galopante em mais de 60% ao ano — a previsão é passar de 100% até dezembro — e uma moeda que não tem valor. Em Buenos Aires, uma frase estampada em cartazes sintetizou o desejo da população: “Argentina sem Cristina”.

Desde 2007, Cristina dá as cartas na política argentina, com um breve intervalo no infeliz governo de Mauricio Macri. Ele assumiu a Presidência no fim de 2015, depois de 12 anos dos Kirchners — Nestor, marido de Cristina, precedeu os mandatos dela. Macri foi eleito por apresentar uma agenda econômica liberal, para sufocar a inflação e sanar a crise fiscal — o país era o 138º colocado no ranking dos cobradores de impostos do Fórum Econômico Mundial. Não fez nada disso: aumentou os gastos públicos, não privatizou estatais (só a Aerolíneas Argentinas dava prejuízo de US$ 2 milhões por dia), congelou preços e deu aumento para o funcionalismo.

O que aconteceu? Cristina voltou. Cercada de denúncias de corrupção, montou uma chapa na qual é vice-presidente de um preposto, Alberto Fernández. Ele é uma quase figura folclórica, não fosse corresponsável por um cenário de tragédia social. Acabou apelidado de “nossa Dilma Rousseff” pelos raros cartunistas de direita platinos.

Um país em ruína
Como ocorre em todas as crises, a alternativa dos argentinos foi recorrer ao dólar ainda que não existam reservas. O comércio do bairro de Palermo, por exemplo, ou o da Rua Flórida exibem os preços em moeda norte-americana — também é possível pagar em real. Os lojistas rejeitam o peso porque o próprio povo não confia mais na própria moeda. Nesta semana, viralizou a notícia de que um iPhone é vendido a mais de 1 milhão de pesos, ou R$ 40 mil. O presidente Alberto Fernández, contudo, vive num mundo paralelo. Em pronunciamento recente, disse que faltam dólares em circulação no país porque a economia interna está crescendo.

A Argentina é hoje um território que afasta investimentos estrangeiros. O maior problema é com os bancos. O governo tem títulos de dívidas de US$ 5 bilhões vencidos. A dívida com credores privados é um abismo. E todos os dias os telejornais apontam risco de outro calote ao Fundo Monetário Internacional (FMI). De quanto estamos falando? Algo como US$ 65 bilhões aos credores privados e um empréstimo de mais US$ 45 bilhões com o FMI. O país é o maior devedor ao FMI do planeta.

O agora ex-ministro da Economia Martín Guzmán disse que não vai ocorrer novo calote, mas renunciou ao cargo na semana passada. Não se sabe ainda o que esperar da sucessora, Silvina Baltakis. Ao assumir o posto, ela virou notícia por outro motivo: o governo quer proibir a divulgação de imagens de gôndolas vazias em supermercados.Há um problema em curso: por causa da hiperinflação (algo pior do que o brasileiro viu no governo José Sarney, nos anos 1980), os preços são remarcados mais de uma vez ao dia. Com isso, criou-se um câmbio paralelo. Nas ruas, existem casas de câmbio batizadas de Cuevas. Elas funcionam dentro de pequenos mercados, quiosques e em bancas de jornais — que vendem de tudo, menos jornais. Em suma, dólar e real valem mais do que a cotação oficial. Não à toa, uma das buscas mais procuradas no Google sobre o país é: qual moeda levar para a Argentina?

Sem crédito nem reserva, a solução poderia ser o passado glorioso da agropecuária. Mas o cenário é desalentador. O plantio de soja, por exemplo, acabou em março. Os 16 milhões de hectares plantados representam o pior resultado em 15 anos — a produção estimada caiu de 44 milhões de toneladas para 42 milhões. É praticamente a safra de Mato Grosso.

No caso da carne bovina, os criadores perderam US$ 1 bilhão no ano passado, porque o governo limitou as exportações para segurar os preços domésticos. O país só detém ainda um pedaço de mercado porque a arroba do boi (em dólar) é mais barata do que no Uruguai, no Brasil e no Paraguai.

O perigo mora ao lado
Nos últimos anos, quando os economistas liberais passaram a usar a expressão “fábrica de pobres” para se referir ao modelo econômico argentino, a dupla Cristina e Alberto Fernández viu uma luz no fim do túnel. Passou a apostar todas as suas fichas na eleição do ex-presidente Lula no Brasil. Sem disfarçar, admitiu que o socorro poderia vir do vizinho em 2023.

Em dezembro do ano passado, o governo montou um palco na Praça de Mayo, em frente da Casa Rosada, para um showmício do petista. A foto dos três, além do uruguaio José Mujica, rodou a América Latina.No palanque, Lula rasgou elogios a Cristina e prometeu ajuda. “A perseguição que me colocou em cárcere é a mesma perseguição sofrida por Cristina Kirchner aqui”, disse. “Alberto foi me visitar mesmo depois de eu dizer para ele ter cuidado, que talvez não fosse prudente um candidato a presidente ir à cadeia visitar um preso político. Alberto disse ao meu amigo Celso Amorim (ex-chanceler) que me visitaria com muito orgulho.”

Lula e o PT usaram as imagens à exaustão nas redes sociais, para afirmar que uma onda de esquerda estava se erguendo na América Latina e que era hora de ​​“começar a reatar os laços do Brasil com o país irmão”.Fernández retribuiu o carinho na TV local. “Pouco a pouco, as coisas vão se arrumando: (Gabriel) Boric, no Chile está fazendo um esforço; o Lucho (Luis) Arce, na Bolívia; (Pedro) Castillo, no Peru; (Gustavo) Petro, na Colômbia; e Lula, que eu desejo que ganhe no Brasil. Teremos uma lógica de unidade conceitual na América do Sul”, afirmou, ao canal C5N.

A “lógica conceitual” se chama Foro de São Paulo. Em dezembro, a frente radical de esquerda comemorou 30 anos. “Não imaginávamos que esse encontro de partidos e movimentos chegasse aonde chegou, tornando-se um foro permanente e até uma referência para partidos de esquerda e ‘progressistas’ de todo o mundo”, disse Lula.

Fazem parte do grupo os narcoguerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ditadores, como Nicolás Maduro (Venezuela), Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua). E o PT.

A América Vermelha

Para a Argentina, o que restou é tentar se pendurar no Brasil como tábua de salvação. Para o Brasil, a ruína do vizinho deveria servir de alerta.

“Se a esquerda continuar no governo, a Argentina vai virar uma Venezuela”, diz o analista político Gustavo Segré, do diário La Nación. “No Brasil, para o Bolsonaro, a melhor campanha é o governo Alberto Fernandez. Porque ele pode dizer que, se o PT ganhar, pode acontecer isso aqui também.” A candidatura de Lula é a consolidação do peronismo à brasileira

Tango sem fim
Os argentinos convivem com modelos econômicos fracassados e uma classe política incompetente desde os 1980. Essa década, aliás, terminou de forma trágica, com a queda do presidente Raúl Alfonsín. A inflação bateu 764% ao ano, o país parou com mais de mil greves (13 delas nacionais), saques e protestos sangrentos nas ruas. Foi declarado estado de sítio.

Carlos Menem assumiu o governo com uma agenda liberal, na contramão de bandeiras históricas do peronismo. “Levanta-te e anda, Argentina!” foi o seu lema. Estreitou laços com os Estados Unidos, fez as pazes com o Reino Unido e privatizou todas as empresas estatais que conseguiu — principalmente as petrolíferas, ferroviárias e aéreas. Segurou a hiperinflação e atraiu capital estrangeiro, como as multinacionais de telefonia. Com perfil excêntrico, marcado pelas costeletas bicolores e fotos pilotando jet-ski e carros de luxo, ficou dez anos no poder.

A década foi marcada pela retomada do crescimento, mas a bolha criada pelo modelo econômico de paridade cambial peso-dólar, elaborado pelo ministro Domingo Cavallo, estourou. O país queimou reservas e se endividou. Foi quando surgiu a novidade Fernando de la Rúa e seu plano econômico que limitava os valores para saques em bancos e o congelamento das poupanças. As fachadas dos bancos foram depredadas durante os panelaços. A população de classe média caiu de 60% para 30%. Tornou-se cena comum nas ruas de Buenos Aires ver cidadãos com terno e gravata pedindo ajuda nos semáforos. Surgiram nas ruas os chamados “cartoneros” (catadores de papelão) — 55% da população estava abaixo da linha da pobreza. A Argentina faliu.

Por que um país próspero, com educação e cultura acima da média no cone sul, chegou ao fundo do poço? Uma das respostas é o peronismo

O movimento nasceu na década de 1940, pelas mãos de Juan Domingo Perón, numa mistura de fascismo com socialismo, ancorada na multiplicação dos sindicatos como ativo político. “A grande massa do povo combatendo o capital”, diz a letra da clássica marcha argentina. Sua mulher, Eva Perón, era conhecida como “a mãe dos pobres”. O culto à imagem de Perón e Evita se tornou um símbolo de como o narcisismo de um governante faz dele autoritário — o presidente mandou prender seus adversários e passou a controlar a imprensa.

A dependência da população para com o Estado tornou-se uma marca indelével. Hoje, quatro em cada dez argentinos são pobres e vivem de programas assistencialistas. As diretrizes de governo defendem a reestatização, o aumento do funcionalismo público e a ampliação de aposentadorias. “Seis milhões de pessoas bancam o país inteiro. O restante depende do Estado”, diz Gustavo Segré.

Hoje, o peronismo virou algo indecifrável, mas que espraiou suas raízes à esquerda. E adquiriu uma nova característica com os Kirchners: a corrupção. Cristina é conhecida por produzir dossiês contra deputados, senadores e juízes da Suprema Corte — um dos magistrados, Eugenio Zaffaroni, virou personagem de escândalo, ao ser acusado de manter prostíbulos clandestinos. Sempre que é pressionada, a vice-presidente ameaça fazer vazarem informações sigilosas sobre os rivais para a imprensa.

Outra característica da Argentina foi dar corda para as pautas do chamado “progressismo” — ou esquerda moderninha. O aborto foi legalizado há dois anos. Há uma intensa campanha para o uso de linguagem neutra nas escolas — o “todes” e outras bizarrices. O filho do presidente Alberto Fernández aparece com frequência no noticiário, por se apresentar como drag queen. A Argentina é um país que não aprendeu com o seu passado. O Brasil tem a chance de não repetir os mesmos erros nas eleições de outubro.

Leia também “Um projeto para destruir o Brasil”

Silvio Navarro, jornalista - Revista Oeste

 


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

As vidas perdidas a bordo do submarino ARA San Juan



A primeira submarinista da América do Sul, um cabo que se casaria em duas semanas e um pai que deixou três filhos adolescentes estão entre os 44 tripulantes desaparecidos a bordo do submarino “ARA San Juan” no Atlântico.

– A submarinista –
Eliana Krawczyk sonhava em ser engenheira industrial, mas uma tragédia familiar mudou o rumo de sua vida para torná-la a primeira submarinista sul-americana. Natural de Oberá, na província argentina de Misiones, Eliana se inscreveu na Escola Naval após a morte do irmão, em um acidente, e da mãe, vítima de um infarto.  Em 2012, Eliana se tornou submarinista, a primeira da América do Sul, e aos 35 anos era chefe de máquinas do “ARA San Juan”.

– O comandante –
O capitão de fragata Pedro Martín Fernández, 45 anos, comandava o submarino. Nascido em Tucumán, no norte da Argentina, era casado e tinha três filhos adolescentes. Em 2 de março de 2015 se mudou para a cidade de Mar del Plata, 400 km ao sul de Buenos Aires, base do “ARA San Juan” e onde residia quase toda a tripulação.

– Os noivos –
O cabo Luis Niz, 25 anos, era aguardado em Mar del Plata pela cabo Alejandra Morales, onde os dois se casariam no dia 7 de dezembro.  Nascido em La Pampa, uma província sem litoral, Niz foi um dos melhores no curso de formação, o que lhe valeu a designação para o “ARA San Juan”.
O tenente Renzo Martin Silva, 32 anos, também iria se casar em breve. Entrou na Escola Naval com 18 anos e sonhava em ser submarinista desde criança, em sua cidade natal em San Juan, província encravada na Cordilheira dos Andes. Já vivia com María Eugenia Ulivarri Rodi, também militar, que seria sua futura esposa.

– Papai Fernando –
Fernando Santilli, 35, era submarinista desde 2010. Engenheiro, abandonou muito cedo sua província natal de Mendoza (oeste) para realizar o sonho de ser submarinista. Seu filho Stefano, com pouco mais de um ano, aprendeu a dizer “papai” quando Fernando já estava desaparecido em alto mar, contou sua esposa, Jessica Gopar.
“Foi meu grande amor, namoramos por sete anos, seis anos de casados e nosso filho, Stéfano, que demorou para que Deus nos enviasse”.

– A espera de um filho –
O oficial Mario Armando Toconás Oriundo, 36, entrou na Marinha aos 13 anos e havia abandonado sua Patagônia natal para se instalar em Mar del Plata, próximo à base do submarino. Era esperado por um filho de quatro anos e sua companheira, grávida de quatro meses.

AFP