Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Santa Fé. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Santa Fé. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Vaticano atualiza política de investimento, para proteger a vida

A medida cortará o financiamento de pesquisas com células-tronco

A nova política de investimentos foi idealizada pelo papa Francisco
A nova política de investimentos foi idealizada pelo papa Francisco | Foto: Reprodução/Flickr

A Igreja Católica anunciou atualizações em sua política de investimento, a fim de proteger a santidade da vida e alinhar-se aos ensinamentos cristãos. O mais recente esforço na reforma das finanças do Vaticano terá como foco a exclusão de investimentos em pesquisas com células-tronco embrionárias e em outros temas considerados contrários aos ensinamentos da Igreja.

“A política de investimentos visa a contribuir para um mundo mais justo e sustentável, de maneira a proteger o valor real do patrimônio líquido da Santa Fé e gerar um retorno suficiente para auxiliar de forma sustentável o financiamento de suas atividades”, informou o Vaticano, na terça-feira 19. “Essas medidas estão alinhadas com os ensinamentos da Igreja e pretendem excluir os investimentos que contrariam seus princípios fundamentais, como a santidade da vida, a dignidade do ser humano e o bem comum.”

A mudança de política enfatiza a ideia da Igreja Católica de investir em atividades consideradas produtivas. “Nesse sentido, é importante que sejam voltadas para atividades financeiras de natureza produtiva, excluindo as de natureza especulativa, e sobretudo que sejam pautadas pelo princípio de que a decisão de investir em um lugar e não em outro, em um setor produtivo em detrimento de outro é sempre uma escolha moral e cultural”, diz o texto.

A política, promovida pelo papa Francisco, entrará em vigor em 1º de setembro.

Leia também: “Luz em tempos de escuridão”, artigo de Ana Paula Henkel publicado na Edição 113 da Revista Oeste

 

domingo, 17 de julho de 2022

Peronismo à brasileira - Revista Oeste

Silvio Navarro

 A agenda de esquerda que quebrou a Argentina agora ameaça o Brasil infiltrada no programa de governo de Lula 

A imagem do presidente Fernando de la Rúa deixando a Casa Rosada a bordo de um helicóptero, em dezembro de 2001, ficou marcada para sempre na memória dos argentinos. Do lado de fora da sede do governo, uma multidão enfurecida batia panelas, num gesto que se espalhava das ruas do centro de Buenos Aires para todas as províncias. O país estava em convulsão social. Quarenta pessoas morreram durante os protestos, cinco delas na Praça de Mayo, o coração da capital argentina.

Ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva <i>(à esq.)</i>, ao lado da vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente argentino, Alberto Fernández | Foto: Estaban Collazo/Presidência de La Nación Argentina
Ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (à esq.), ao lado da vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente argentino, Alberto Fernández | Foto: Estaban Collazo/Presidência de La Nación Argentina 
 
É unânime na literatura que a virada daquele ano foi o pior momento da história de um país que já figurou como a sétima economia do mundo. No século passado, aliás, os vizinhos se gabavam da expressão riche comme un argentin (“rico como um argentino”)
Eram vistos em férias das praias de Santa Catarina ao Nordeste brasileiro. Foram apelidados de “os europeus sul-americanos”
Mas a Argentina é um caso raro de país rico que ficou pobre rapidamente.  
E agora está muito pobre.

Vinte anos depois daquele dia, os argentinos lotaram as ruas no último sábado, 9, no feriado da Independência. De Córdoba a Santa Fé, de Mendoza a Rosário, multidões empunharam faixas de protesto contra a derrocada econômica, cujo marco é a inflação galopante em mais de 60% ao ano — a previsão é passar de 100% até dezembro — e uma moeda que não tem valor. Em Buenos Aires, uma frase estampada em cartazes sintetizou o desejo da população: “Argentina sem Cristina”.

Desde 2007, Cristina dá as cartas na política argentina, com um breve intervalo no infeliz governo de Mauricio Macri. Ele assumiu a Presidência no fim de 2015, depois de 12 anos dos Kirchners — Nestor, marido de Cristina, precedeu os mandatos dela. Macri foi eleito por apresentar uma agenda econômica liberal, para sufocar a inflação e sanar a crise fiscal — o país era o 138º colocado no ranking dos cobradores de impostos do Fórum Econômico Mundial. Não fez nada disso: aumentou os gastos públicos, não privatizou estatais (só a Aerolíneas Argentinas dava prejuízo de US$ 2 milhões por dia), congelou preços e deu aumento para o funcionalismo.

O que aconteceu? Cristina voltou. Cercada de denúncias de corrupção, montou uma chapa na qual é vice-presidente de um preposto, Alberto Fernández. Ele é uma quase figura folclórica, não fosse corresponsável por um cenário de tragédia social. Acabou apelidado de “nossa Dilma Rousseff” pelos raros cartunistas de direita platinos.

Um país em ruína
Como ocorre em todas as crises, a alternativa dos argentinos foi recorrer ao dólar ainda que não existam reservas. O comércio do bairro de Palermo, por exemplo, ou o da Rua Flórida exibem os preços em moeda norte-americana — também é possível pagar em real. Os lojistas rejeitam o peso porque o próprio povo não confia mais na própria moeda. Nesta semana, viralizou a notícia de que um iPhone é vendido a mais de 1 milhão de pesos, ou R$ 40 mil. O presidente Alberto Fernández, contudo, vive num mundo paralelo. Em pronunciamento recente, disse que faltam dólares em circulação no país porque a economia interna está crescendo.

A Argentina é hoje um território que afasta investimentos estrangeiros. O maior problema é com os bancos. O governo tem títulos de dívidas de US$ 5 bilhões vencidos. A dívida com credores privados é um abismo. E todos os dias os telejornais apontam risco de outro calote ao Fundo Monetário Internacional (FMI). De quanto estamos falando? Algo como US$ 65 bilhões aos credores privados e um empréstimo de mais US$ 45 bilhões com o FMI. O país é o maior devedor ao FMI do planeta.

O agora ex-ministro da Economia Martín Guzmán disse que não vai ocorrer novo calote, mas renunciou ao cargo na semana passada. Não se sabe ainda o que esperar da sucessora, Silvina Baltakis. Ao assumir o posto, ela virou notícia por outro motivo: o governo quer proibir a divulgação de imagens de gôndolas vazias em supermercados.Há um problema em curso: por causa da hiperinflação (algo pior do que o brasileiro viu no governo José Sarney, nos anos 1980), os preços são remarcados mais de uma vez ao dia. Com isso, criou-se um câmbio paralelo. Nas ruas, existem casas de câmbio batizadas de Cuevas. Elas funcionam dentro de pequenos mercados, quiosques e em bancas de jornais — que vendem de tudo, menos jornais. Em suma, dólar e real valem mais do que a cotação oficial. Não à toa, uma das buscas mais procuradas no Google sobre o país é: qual moeda levar para a Argentina?

Sem crédito nem reserva, a solução poderia ser o passado glorioso da agropecuária. Mas o cenário é desalentador. O plantio de soja, por exemplo, acabou em março. Os 16 milhões de hectares plantados representam o pior resultado em 15 anos — a produção estimada caiu de 44 milhões de toneladas para 42 milhões. É praticamente a safra de Mato Grosso.

No caso da carne bovina, os criadores perderam US$ 1 bilhão no ano passado, porque o governo limitou as exportações para segurar os preços domésticos. O país só detém ainda um pedaço de mercado porque a arroba do boi (em dólar) é mais barata do que no Uruguai, no Brasil e no Paraguai.

O perigo mora ao lado
Nos últimos anos, quando os economistas liberais passaram a usar a expressão “fábrica de pobres” para se referir ao modelo econômico argentino, a dupla Cristina e Alberto Fernández viu uma luz no fim do túnel. Passou a apostar todas as suas fichas na eleição do ex-presidente Lula no Brasil. Sem disfarçar, admitiu que o socorro poderia vir do vizinho em 2023.

Em dezembro do ano passado, o governo montou um palco na Praça de Mayo, em frente da Casa Rosada, para um showmício do petista. A foto dos três, além do uruguaio José Mujica, rodou a América Latina.No palanque, Lula rasgou elogios a Cristina e prometeu ajuda. “A perseguição que me colocou em cárcere é a mesma perseguição sofrida por Cristina Kirchner aqui”, disse. “Alberto foi me visitar mesmo depois de eu dizer para ele ter cuidado, que talvez não fosse prudente um candidato a presidente ir à cadeia visitar um preso político. Alberto disse ao meu amigo Celso Amorim (ex-chanceler) que me visitaria com muito orgulho.”

Lula e o PT usaram as imagens à exaustão nas redes sociais, para afirmar que uma onda de esquerda estava se erguendo na América Latina e que era hora de ​​“começar a reatar os laços do Brasil com o país irmão”.Fernández retribuiu o carinho na TV local. “Pouco a pouco, as coisas vão se arrumando: (Gabriel) Boric, no Chile está fazendo um esforço; o Lucho (Luis) Arce, na Bolívia; (Pedro) Castillo, no Peru; (Gustavo) Petro, na Colômbia; e Lula, que eu desejo que ganhe no Brasil. Teremos uma lógica de unidade conceitual na América do Sul”, afirmou, ao canal C5N.

A “lógica conceitual” se chama Foro de São Paulo. Em dezembro, a frente radical de esquerda comemorou 30 anos. “Não imaginávamos que esse encontro de partidos e movimentos chegasse aonde chegou, tornando-se um foro permanente e até uma referência para partidos de esquerda e ‘progressistas’ de todo o mundo”, disse Lula.

Fazem parte do grupo os narcoguerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ditadores, como Nicolás Maduro (Venezuela), Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua). E o PT.

A América Vermelha

Para a Argentina, o que restou é tentar se pendurar no Brasil como tábua de salvação. Para o Brasil, a ruína do vizinho deveria servir de alerta.

“Se a esquerda continuar no governo, a Argentina vai virar uma Venezuela”, diz o analista político Gustavo Segré, do diário La Nación. “No Brasil, para o Bolsonaro, a melhor campanha é o governo Alberto Fernandez. Porque ele pode dizer que, se o PT ganhar, pode acontecer isso aqui também.” A candidatura de Lula é a consolidação do peronismo à brasileira

Tango sem fim
Os argentinos convivem com modelos econômicos fracassados e uma classe política incompetente desde os 1980. Essa década, aliás, terminou de forma trágica, com a queda do presidente Raúl Alfonsín. A inflação bateu 764% ao ano, o país parou com mais de mil greves (13 delas nacionais), saques e protestos sangrentos nas ruas. Foi declarado estado de sítio.

Carlos Menem assumiu o governo com uma agenda liberal, na contramão de bandeiras históricas do peronismo. “Levanta-te e anda, Argentina!” foi o seu lema. Estreitou laços com os Estados Unidos, fez as pazes com o Reino Unido e privatizou todas as empresas estatais que conseguiu — principalmente as petrolíferas, ferroviárias e aéreas. Segurou a hiperinflação e atraiu capital estrangeiro, como as multinacionais de telefonia. Com perfil excêntrico, marcado pelas costeletas bicolores e fotos pilotando jet-ski e carros de luxo, ficou dez anos no poder.

A década foi marcada pela retomada do crescimento, mas a bolha criada pelo modelo econômico de paridade cambial peso-dólar, elaborado pelo ministro Domingo Cavallo, estourou. O país queimou reservas e se endividou. Foi quando surgiu a novidade Fernando de la Rúa e seu plano econômico que limitava os valores para saques em bancos e o congelamento das poupanças. As fachadas dos bancos foram depredadas durante os panelaços. A população de classe média caiu de 60% para 30%. Tornou-se cena comum nas ruas de Buenos Aires ver cidadãos com terno e gravata pedindo ajuda nos semáforos. Surgiram nas ruas os chamados “cartoneros” (catadores de papelão) — 55% da população estava abaixo da linha da pobreza. A Argentina faliu.

Por que um país próspero, com educação e cultura acima da média no cone sul, chegou ao fundo do poço? Uma das respostas é o peronismo

O movimento nasceu na década de 1940, pelas mãos de Juan Domingo Perón, numa mistura de fascismo com socialismo, ancorada na multiplicação dos sindicatos como ativo político. “A grande massa do povo combatendo o capital”, diz a letra da clássica marcha argentina. Sua mulher, Eva Perón, era conhecida como “a mãe dos pobres”. O culto à imagem de Perón e Evita se tornou um símbolo de como o narcisismo de um governante faz dele autoritário — o presidente mandou prender seus adversários e passou a controlar a imprensa.

A dependência da população para com o Estado tornou-se uma marca indelével. Hoje, quatro em cada dez argentinos são pobres e vivem de programas assistencialistas. As diretrizes de governo defendem a reestatização, o aumento do funcionalismo público e a ampliação de aposentadorias. “Seis milhões de pessoas bancam o país inteiro. O restante depende do Estado”, diz Gustavo Segré.

Hoje, o peronismo virou algo indecifrável, mas que espraiou suas raízes à esquerda. E adquiriu uma nova característica com os Kirchners: a corrupção. Cristina é conhecida por produzir dossiês contra deputados, senadores e juízes da Suprema Corte — um dos magistrados, Eugenio Zaffaroni, virou personagem de escândalo, ao ser acusado de manter prostíbulos clandestinos. Sempre que é pressionada, a vice-presidente ameaça fazer vazarem informações sigilosas sobre os rivais para a imprensa.

Outra característica da Argentina foi dar corda para as pautas do chamado “progressismo” — ou esquerda moderninha. O aborto foi legalizado há dois anos. Há uma intensa campanha para o uso de linguagem neutra nas escolas — o “todes” e outras bizarrices. O filho do presidente Alberto Fernández aparece com frequência no noticiário, por se apresentar como drag queen. A Argentina é um país que não aprendeu com o seu passado. O Brasil tem a chance de não repetir os mesmos erros nas eleições de outubro.

Leia também “Um projeto para destruir o Brasil”

Silvio Navarro, jornalista - Revista Oeste

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

A praga e a peste - Nas entrelinhas


A pandemia da covid-19 atingiu 57 mortes por hora, quase uma por minuto. O relaxamento do isolamento social e a imunização de rebanho caminham de mãos dadas

[se decisão judicial não tivesse atribuído aos governadores e prefeitos o combate à covid-19, a imunidade de rebanho teria sido a política adotada.
A opção por isolamento e distanciamento sociais, via"quarentenas meia boca", não tem se mostrado eficiente  e retardou em muito o alcance da imunidade de rebanho.]

Uma nuvem de gafanhotos ronda a fronteira do Brasil com a Argentina, ameaçando as lavouras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, depois de atacar as do Paraguai, onde os insetos destruíram plantações de milho. As principais regiões atingidas na Argentina são as províncias de Santa Fé, Formosa e Chaco, onde existe produção de cana-de-açúcar e mandioca e a condição climática é favorável. Uma nuvem de gafanhotos, em um quilômetro quadrado, pode ter até 40 milhões de insetos, que consomem, em um dia, pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas consumiriam.

Na Bíblia, nuvens de gafanhotos são uma das 10 pragas do Egito (Êxodus), lançadas por Deus para obrigar o faraó a libertar os hebreus. Moisés foi o portador da mensagem divina: “Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: ‘Até quando você se recusará a humilhar-se perante mim? Deixe ir o meu povo, para que me preste culto. Se você não quiser deixá-lo ir, farei vir gafanhotos sobre o seu território amanhã. Eles cobrirão a face da terra até não se poder enxergar o solo. Devorarão o pouco que ainda lhes restou da tempestade de granizo e todas as árvores que estiverem brotando nos campos. Encherão os seus palácios e as casas de todos os seus conselheiros e de todos os egípcios: algo que os seus pais e os seus antepassados jamais viram (…)”.

Mas o Senhor disse a Moisés: “Estenda a mão sobre o Egito para que os gafanhotos venham sobre a terra e devorem toda a vegetação, tudo o que foi deixado pelo granizo”. Moisés estendeu a vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar sobre a terra um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela manhã, o vento havia trazido os gafanhotos, os quais invadiram todo o Egito e desceram em grande número sobre toda a sua extensão. Nunca antes houve tantos gafanhotos, nem jamais haverá. Eles cobriram toda a face da terra de tal forma que ela escureceu. Devoraram tudo o que o granizo tinha deixado: toda a vegetação e todos os frutos das árvores. Não restou nada verde nas árvores nem nas plantas do campo, em toda a terra do Egito.

Em julho do ano passado, uma nuvem de gafanhotos invadiu Las Vegas, nos Estados Unidos. Simultaneamente, no Iêmen, devastado pela fome e pela guerra civil, outra nuvem de gafanhotos destruiu as plantações. Os gafanhotos circularam por mais de 60 países, principalmente na África, no Oriente Médio e na Ásia Central. Os cientistas acreditam que as mudanças climáticas estão fazendo os insetos agirem de maneira mais destrutiva e imprevisível. Estudo publicado por cientistas americanos na revista Science mostrou que o clima mais quente torna os gafanhotos mais ativos e reprodutivos. Um gafanhoto adulto é capaz de comer o equivalente ao seu peso corporal por dia. Plantações de trigo, arroz e milho são um banquete para os insetos. Um ataque de gafanhotos à nossa agricultura em plena pandemia pode ser um desastre. O agronegócio é o setor mais dinâmico da nossa economia. Em 2004, na África, os insetos causaram danos no valor de US$ 2,5 bilhões para as lavouras. O historiador romano Plínio, o Velho, registrou a morte de 800 mil pessoas na região que atualmente engloba Líbia, Argélia e Tunísia por causa da devastação das lavouras por essa praga bíblica. A China acaba de anunciar a mobilização de 100 mil patos para combater uma nuvem de 400 bilhões de gafanhotos que se aproxima da fronteira com a Índia e o Paquistão.

A pandemia
Já nos basta a peste. Aqui no Brasil, a pandemia da covid-19, ontem, atingiu a marca de 57 mortes por hora, ou seja, quase uma por minuto. O relaxamento precoce do isolamento social e a política de imunização de rebanho não-declarada caminham de mãos dadas, estamos longe do pico. Ontem, em audiência no Congresso, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pozuello, garantiu que o governo dará “transparência infinita” às informações e anunciou que o Ministério da Saúde passará a considerar o diagnóstico dos médicos, e não apenas os testes, para contabilizar os casos confirmados. Ou seja, jogou a toalha em relação à política de testagem em massa para monitoramento dos infectados.


Os números oficiais de ontem são 52.645 mortes e 1.145.906 casos confirmados, sendo 1.374 mortes e 39.436 novos casos nas últimas 24 horas. Segundo o Ministério da Saúde, há 479.916 pacientes em acompanhamento, enquanto 613.345 foram recuperados, o que não deixa de ser uma boa notícia. A notícia pior é a queda de anticorpos em pacientes assintomáticos dois meses após a infecção por covid-19. Em artigo publicado pela Nature Medicine, o cientista Ai-Long Hua, da Universidade Médica de Chongqing, na China, constatou em 37 pacientes assintomáticos com o Sars CoV-2 que, oito semanas depois, os níveis de anticorpos neutralizantes diminuíram 81,1%. O estudo não é conclusivo, mas acendeu uma luz amarela para a possibilidade de as pessoas contraírem a doença mais de uma vez.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Contra a polarização - Merval Pereira

 O Globo

Soluções para evitar a polarização

A busca de uma solução para que a máxima da democracia representativa, “um homem, um voto”, leve ao Congresso um espelho cada vez mais fiel do pensamento médio do cidadão eleitor, e não seja distorcida por  polarização política que leve à radicalização, tem dominado o debate partidário em vários países. Aqui, diante da possibilidade de reeditarmos em 2022 a polarização entre petistas e anti-petistas, o ex-deputado federal Miro Teixeira, um dos mais experientes políticos brasileiros propôs, em entrevista a Roberto D’Avila na Globonews, que o segundo turno das eleições seja disputado pelos três candidatos mais votados, e não apenas dois.

Nos Estados Unidos, a cidade de Nova York, a mais populosa do país, acaba de aprovar por vasta maioria o voto ranqueado (Ranking Choice Voting), que dá mais peso ao desejo de cada eleitor, que pode escolher cinco candidatos, dando uma classificação para cada uma de suas escolhas. O balanço final determina quais os escolhidos para o Congresso, para prefeito como ocorreu no Maine, ou, quem sabe, para a presidência da República. Os dois sistemas substituem com vantagens o voto útil como o conhecemos, pois permitem que o eleitor vote em vários candidatos dando um peso especifico a cada um deles, e o melhor ranqueado leva, em vez o vencedor leva tudo, como fazemos no voto majoritário.

No voto ranqueado, candidatos que conseguem ter uma maior pontuação de primeiras escolhas, mas também aparecem como a segunda escolha dos eleitores, ou terceira, têm maior chance de se eleger. Se um candidato receber a maioria de votos de primeira escolha, está eleito. Caso contrário, o candidato com o menor número de primeiras escolhas é descartado, e seus votos redistribuídos. Esse processo continua até que algum candidato tenha a maioria. No caso da proposta de Miro Teixeira, assim como no voto ranqueado, a radicalização da campanha cai drasticamente, deixa de ser uma arma eleitoral, pois desencoraja a campanha negativa. [ao nosso ver, o melhor método é o segundo turno, com os dois primeiros colocados disputando em nova votação a preferência dos eleitores.]


Candidatos que pretendem ter o segundo ou terceiro votos do eleitor
, terão que moderar a campanha, tornando-a mais abrangente e menos radicalizada. O voto ranqueado, segundo seus adeptos, promove o apoio da maioria, dá ao eleitor uma maior variedade de opções. Os eleitores também têm menos estímulos para não votar, pois podem dar a primeira escolha para seu candidato, mesmo que ele tenha poucas chances de ganhar, mas colocar os demais votos estrategicamente para barrar um candidato, ou fazer com que sua segunda escolha saia beneficiada.

 Vinte cidades dos Estados Unidos, como Minneapolis, São Francisco, Santa Fé já estão adotando o ranqueamento, que permite que os eleitores, em vez de votar contra alguém, possam votar naqueles que realmente refletem seu desejo, acabando com o voto útil, quando se escolhe o “mal menor”, como vimos nas últimas eleições.   O voto ranqueado começará a valer em Nova York em 2021, nas primárias locais e eleições especiais. Seus opositores alegam que o resultado às vezes pode demorar muito, o que levaria a uma insegurança sobre a apuração. No caso da proposta do ex-deputado Miro Teixeira, a apuração dos votos seria a mesma da atual, não havendo esse perigo.

Caso o ranqueamento dos votos viesse a ser adotado no Brasil, o sistema de votação teria que ser alterado. O ideal é que fossem testadas as diversas formas em eleições municipais, o que não será mais possível para as de 2020, pois a legislação só pode ser alterada no máximo um ano antes da eleição, prazo que expirou em outubro.   Há ainda uma proposta já em tramitação no Congresso para implantar o sistema de voto distrital, começando por municípios com mais de 200 mil eleitores. As eleições de 2024 podem se transformar em um grande laboratório em busca de uma representatividade mais exata do eleitorado.


Merval Pereira, colunista - O Globo 

 

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Os Bolsonaros e o Itamaraty - Blog do Noblat - Veja

Revista Veja

Nepotismo? Que nada. Deixem de bobagem


Aos poucos, com calma e sem pudor, o capitão Bolsonaro tenta desmontar o Itamaraty. Seu filho Eduardo uma vez disse que “se quiser fechar o STF basta mandar um soldado e um cabo”, não foi?  Pois para desmontar o Itamaraty o capitão pensava que seria ainda mais fácil, bastava sua vontade. Já descobriu que não é bem assim, apesar de ter levado o carro à frente dos bois: segundo ele disse, já fez saber ao Trump que vai indicar seu filho para embaixador do Brasil em Washington.

Entusiasmado, lá em Santa Fé, na Argentina, o capitão ainda disse que poderia sugerir ao chanceler Ernesto Araújo – nesse exato momento da breve entrevista, Ernesto estava pertinho do capitão – que ele vá para Washington e Eduardo para o comando do Itamaraty. Ainda estou pensando nas inúmeras vantagens dessa troca. São tantas que eu talvez leve uma semana para avaliar todas elas. O capitão, além de detalhar as grandes qualidades do filho, lembrou outra grande vantagem do Eduardo Embaixador: o acesso imediato ao Trump. Como grandes amigos que são, Trump atenderia ao Eduardo antes de qualquer outra pessoa. (O que será que os embaixadores de outros países pensarão a respeito desse afeto?)

Nepotismo? Que nada. Deixem de bobagem. Isso no governo Bolsonaro não existe. Aqui rezamos conforme a Nova Política. Que é a mais limpinha do mundo! Chega a cegar nossos olhos de tão branca!  Pelo presidente, o assunto já estava definido mas, a contragosto, é preciso esperar pela anuência do Senado Federal e do STF, [imperioso lembrar que a principio, constitucionalmente, o STF nada tem a ver com o assunto;
pode se manifestar se for provocado mediante ação judicial para se manifestar sobre a constitucionalidade da decisão do presidente da República. 
A bola, a principio, é toda do Senado Federal.] de pessoas que não conhecem bem seu filho, não sabem como ele já viajou o mundo todo, como ele conhece bem a vida e as gentes de fora do Brasil.

Mas como o capitão é uma verdadeira usina de ideias, ainda soltou outra: que nós, espectadores da entrevista, prestássemos atenção em outro garoto Bolsonaro presente em Santa Fé, o adolescente Jair Renan. (Bonitinho o garotinho). Que, segundo o pai, está sendo treinado para também vir a ser embaixador. Tudo isso acompanhado daquele sorrisinho curioso do capitão.Tomo a liberdade de pedir ao capitão que lembre ao amigão Trump que os brasileiros gostariam de não ter que pedir visto para entrar nos States. E mais, que o POTUS (President of the United States) não persiga os brasileiros que estão lá sem licença formal. Afinal, amigos são para essas coisas.

Ah! capitão, peça também ao Eduardo que não se esqueça de tirar uma foto dele com os Trump Kids traçando um hambúrguer nos jardins da Casa Branca. Para dar mais colorido local ao grande evento, seria bom que todos usassem camisetas Make America Great Again e bonés TRUMP 2022.  Tomara que na sabatina no Senado Eduardo Bolsonaro demonstre todo seu vasto conhecimento sobre a História da Brasil e a história de nossas Relações Internacionais, para assim calarmos a boca dos falastrões que não sabem nem fritar um hambúrguer!

Mas também seria bom não esquecermos que o capitão-presidente fez questão de dizer que não sabe de nenhum embaixador brasileiro em Washington, de 2003 para cá, que tivesse feito algo de bom para o Brasil. Ele não sabe ou não quer saber?
Que o capitão fique sabendo que graças a alguns dos grandes sucessores do Barão do Rio Branco, como Roberto Campos, Vasco Leitão da Cunha, Araújo Castro, Azeredo da Silveira, Paulo Tarso Flecha de Lima, Rubens Ricúpero, Mauro Vieira, Antonio Patriota e muitos outros brilhantes diplomatas da carreira, o registro do papel deles na embaixada em Washington é o que vai salvar o Itamaraty. [esclarecendo: o comentário do presidente Bolsonaro se refere a 2003 para cá e a maior parte dos citados antecede àquele ano.]
Sabem de uma coisa? Creio que desta vez o presidente-capitão vai aprender: mais fácil um burro voar do que desmontar o Itamaraty!


Blog do Noblat - Transcrito da Revista Veja

domingo, 17 de março de 2019

Tiroteios em escolas crescem nos EUA, assim como segurança e prevenção



Vinte anos após ataque em Columbine, país teve maior registro anual de casos e vê crescimento da indústria voltada para proteção em câmpus

Vinte anos após o massacre de Columbine, no Colorado, o debate sobre como evitar os tiroteios em escolas continua presente nos Estados Unidos – e deve crescer no Brasil, após dois jovens deixarem 7 mortos em uma escola em Suzano (SP), antes de se matarem. Desde 1999, ao menos 221 mil jovens foram expostos a situações de violência armada dentro de colégios americanos, segundo levantamento feito pelo jornal Washington Post. De 2013 a este ano, pelo menos 61 pessoas foram mortas e 98 ficaram feridas em tiroteios dentro de estabelecimentos de ensino. E as escolas tiveram de repensar a segurança.  
A cada tragédia perto de uma sala de aula, se reacende nos Estados Unidos o debate sobre o maior rigor para compra de armas, mas o tema ainda divide a sociedade e a classe política americana. O partido republicano, do presidente Donald Trump e da maioria do Senado, é tradicionalmente contra um maior controle no acesso.   A discussão está longe de ficar desatualizada nos Estados Unidos – e 2018 foi o ano mais letal nesse aspecto em 13 anos, quando se observam os dados da escola de pós-graduação da Marinha Americana. O NPS Center for Homeland Defense and Security relatou 94 incidentes de tiroteio em escolas no ano passado. É um aumento de quase 60% em relação aos 60 registros de 2006 (maior número anterior, com o adendo de que a estatística vem dos anos 1970). Entre os episódios, destacam-se os ocorridos em Parkland, Flórida e Santa Fé. 
 
Enquanto isso, há Estados que passaram a adotar outras medidas de segurança. Menos acessos de entrada à escola – comparando com eventos esportivos ou com locais como a Disney –, câmeras de segurança em 3D, sistemas inteligentes e detectores de metal portáteis passaram a fazer parte da realidade de americanos. O distrito escolar na Flórida onde fica a escola que foi alvo do tiroteio em Parkland, em 2018, anunciou que vai adotar um novo sistema inteligente de vigilância e monitoramento. No caso, um ex-aluno da Stoneman Douglas High School, Nikolas Cruz, de 19 anos, chegou ao local com um rifle AR-15 e atirou contra estudantes e professores, deixando 17 mortos.  

Entre outras coisas, esse novo sistema informa automaticamente autoridades quando identifica uma movimentação suspeita. O anúncio até causou controvérsia, uma vez que o software conta com algoritmos para rastrear o comportamento das crianças que supostamente representam ameaças. Ken Trump, da Associação Serviços de Segurança Nacional em Escolas, aponta que a indústria de tecnologias de segurança “dominou” os colégios. “As empresas se tornaram cada vez mais organizadas em seu lobby junto ao Congresso e aos governos estaduais para financiamento focado em produtos de proteção física, sob argumento de tirar as escolas do alvo”, avalia. Em 2018, o Congresso aprovou lei contra a violência escolar, destinando um fundo anual milionário para segurança nos estabelecimentos americanos pela próxima década. 

E não faltam aparatos para isso
. Após um caso em Oklahoma, em 2014, uma empresa chamada ProTecht passou a oferecer “escudos” dobráveis para proteger alunos em caso de tiroteio. O bodyguard blanket utiliza o mesmo material de armaduras militares. Depois do caso de Parkland, foram distribuídas milhares de mochilas transparentes – de forma a ser possível “controlar” a entrada de armas.
O conselho estudantil ainda prometeu para o futuro outras medidas, como identidades eletrônicas e detectores de metal nos principais ambientes. 

Contrafluxo. Em contrapartida, a bandeira do maior controle de armas passou a ser defendida pelos próprios alunos sobreviventes. Os que escaparam do massacre em Parkland fundaram o movimento mais organizado, o March For Our Lives – em tradução livre, Marche Pelas Nossas Vidas. Eles visitaram escolas, foram a parlamentos, publicaram um livro e até inspiraram um documentário da HBO. Entre as conquistas do grupo está a mudança na legislação da Flórida, republicana e aberta ao lobby das armas. Ali, conseguiram que os juízes admitissem a possibilidade de confiscar armas de pessoas consideradas instáveis, aumentar para 21 anos a idade mínima para compra e vedar qualquer possibilidade de se adquirir armamento mais letal – que permite rajadas de tiros. A próxima meta é conseguir assinaturas suficientes para barrar de vez o comércio de fuzis de assalto como o do massacre – no Estado. 

Outro grupo muito atuante é o Sandy Hook Promise,
que diz ter treinado mais de 5,5 milhões de pessoas de mais de 10 mil escolas em todos os 50 Estados para esse tipo de caso. O massacre de Sandy Hook aconteceu em 30 de novembro de 2012, no mesmo horário em que se registrou o massacre de Suzano, por volta das 9h40. Antes de se suicidar, Adam Lanza matou 20 crianças e 7 adultos, incluindo sua mãe.
Esse episódio teve um desdobramento nesta semana. Por 4 votos a 3, a Corte Suprema do Estado americano de Connecticut decidiu ontem que a fabricante de armas Remington pode ser processada pelo tiroteio.  Lei federal de 2005 protegia a indústria de armas desse tipo de questionamento na Justiça. Segundo a ação contra a Remington, a publicidade da companhia glorificava a violência e associava virilidade às armas.

Ao menos 8 Estados liberam arma a funcionário de colégio
Após o tiroteio de Parkland em 2018, o presidente Donald Trump chegou a sugerir que se os professores da escola estivessem armados a tragédia seria menor. A medida é defendida também pela Associação Nacional do Rifle, que promove os interesses das empresas de armas nos Estados Unidos. No Brasil, a mesma ideia foi cogitada pelo senador Major Olímpio (PSL-SP) no dia do massacre no colégio de Suzano, na Grande SP. 

Nos Estados americanos, as leis fixam diferentes restrições a armas dentro de colégios. Em ao menos oito Estados, funcionários como professores ou inspetores – têm o direito de carregar armas. Isso é o que diz o relatório da Comissão Educacional dos Estados (Education Commission of States), entidade não governamental que monitora normas do setor. Se considerar os profissionais de segurança, mais de 30 Estados permitem o uso da arma, segundo o mesmo levantamento.
“Em vez de usar armas para criar a ilusão de escolas seguras, precisamos tornar as escolas de fato lugares seguros para as crianças, com aumento do investimento em apoio à saúde mental”, escreveu Michael Hansen, pesquisador do think tank Brookings, em Washington. 

A legislação estadual do Texas, por exemplo, já permite que os distritos escolares indiquem uma ou mais pessoas para portar armas nas escolas locais. A norma, porém, estabelece requisitos, como um treinamento de 80 horas e a manutenção da arma em local fechado.  Há também um limite para quantidade de funcionários que podem portar a arma com base no número de alunos. Mas um tiroteio recente fez acender a possibilidade de flexibilizar os requisitos. Em maio de 2018, um jovem de 17 anos protagonizou um ataque em uma escola de Santa Fé, no Texas, deixando dez mortos. O governador do Estado se reuniu com lideranças locais para aprovar um plano de sugestões ao Legislativo com medidas para ampliar a segurança dos estudantes. 

O governador republicano Greg Abbot considera que parte desses requisitos é muito onerosa e torna a legislação ineficaz, sugerindo a flexibilização da medida. Ele também quer ampliar programas de saúde mental nas escolas, para que alunos identificados com comportamento agressivo sejam encaminhados para tratamento psicológico e monitorados. 

Treinamento
 Em muitas regiões dos Estados Unidos, têm ganhado força programas para treinar professores a usar armas e reagir a situações de violência. Em Ohio, por exemplo, professores de alguns distritos têm sido treinados para manusear esse tipo de equipamento. 

No Brasil, projetos no Congresso não foram adiante
No Brasil, com menor número de casos de ataques em escolas, o debate sobre mudanças, sobretudo legislativas, avança pouco. Após o massacre de Realengo, com 12 mortos, vários projetos foram apresentados no Congresso, mas não progrediram. 

Houve quem propusesse tornar obrigatória a presença da Polícia Militar 24 horas nas escolas das redes pública e privada. Outra sugestão era colocar chips nas armas, para facilitar rastreio. Os projetos foram arquivados.  Ali, e em Câmaras e Assembleias, também não se deixou de sugerir os detectores de metais – sem aval final. E o caso de Suzano fez a discussão ser revista. Na Assembleia do Rio e na Câmara de Campo Grande já surgiram projetos na semana passada solicitando esse aparelhamento.
 



 

 

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Estudante armado mata dez pessoas em escola no Texas



Polícia prendeu suspeito, de origem grega, que invadiu aula de artes; explosivos foram encontrados em prédio


Estudante que matou dez em escola no Texas sofria bullying

 Dimitrios Pagourtzis, suspeito de ter matado dez pessoas na Santa Fe High School, no Texas - HANDOUT / REUTERS

Um estudante abriu fogo em uma escola secundária em Santa Fé, no Texas, durante a manhã desta sexta-feira e deixou ao menos dez pessoas mortas, nove alunos e um professor, além de outras dez feridas. Duas pessoas foram presas após a ação policial, sendo uma delas, um adolescente de 17 anos, Dimitrios Pagourtzis, suspeito de ser o responsável pelo crime — além disso, a polícia encontrou explosivos em alguns pontos do prédio da escola. A instituição foi interditada e os arredores cercados. 

O jovem, de origem grega, é aluno da escola, onde fez parte do time de futebol, e também integrante da equipe de dança de uma Igreja Grega Ortodoxa local. Segundo outros estudantes, ele sofria bullying. Pagourtzis é acusado de homicídio e não tem direito a fiança. Em uma coletiva de imprensa em que confirmou o número de mortos e feridos até o momento, o governador do Texas, Greg Abbott, disse que o atirador utilizou uma escopeta e uma pistola calibre .38, as duas pertencentes ao seu pai. Ainda segundo o governador, os planos do atirador não envolviam ser preso pela polícia.  — Ele não apenas queria realizar o ataque, mas também cometer suicídio ao fim do tiroteio. Ele não teve coragem — afirmou Abbott.

Apesar disso, Abbott disse que Pagourtzis não deu sinais prévios de que poderia cometer um ato violento. Ele não tinha antecedentes criminais e o único sinal de perigo encontrado até agora foi uma foto em seu perfil no Facebook na qual ele usava uma camiseta com a frase "Born to kill" (nascido para matar).  Diferente de Parkland, diferente de Sutherland Springs, não houve esses tipos de sinais alarmantes — disse o governador. — Os alertas foram não existentes ou quase imperceptíveis.

Dustin Severin, estudante de 17 anos, contou que Pagourtzis era alvo de bullying na escola, não só de alunos, mas também de alguns treinadores. Segundo ele, o jovem usava um casaco pesado, o mesmo que estaria vestindo no momento do ataque, todos os dias, mesmo quando estava calor. — Ele já foi alvo de piada por treinadores antes, por cheirar mal e coisas assim — disse à NBC. — E ele não fala muito com muitas pessoas também. Ele fica mais na dele.

Outra testemunha contou à rede KTRK, afiliada da CNN, que o estudante entrou em uma aula de artes na Escola Secundária Santa Fé e começou a disparar. A fonte disse que viu uma garota baleada na perna. Logo após entrar no edifício da escola, a polícia localizou o que poderiam ser dispositivos explosivos na escola e no campus. O Departamento de Educação do Distrito de Santa Fé informou em um comunicado que iniciou um bloqueio da região após um incidente com tiros na escola. 

Uma imagem aérea do lado de fora da escola transmitida pela televisão local mostrou policiais escoltando filas de estudantes para fora do prédio e, em seguida, procurando por armas, enquanto muitos carros da polícia e pelo menos duas ambulâncias estavam no local.
O presidente americano, Donald Trump, classificou o episódio como "desolador":
— Meu governo está determinado a fazer tudo em seu poder para proteger nossos estudantes, nossas escolas, e manter armas longe das mãos daqueles que impõem ameaça a si mesmos e aos outros — disse o republicano.

A aluna Leila Butler disse à afiliada local da ABC que os alarmes de incêndio dispararam por volta das 7h45m (horário local), e os alunos deixaram suas salas de aula. O novo tiroteio em uma escola americana reacendem um debate nacional sobre controle de armas, que se intensificou depois que um agressor matou 17 alunos e funcionários em fevereiro em um colégio da Flórida.
 Escola em Santa Fé, no Texas, é interditada após relatos de tiros - AP

Um estudante que não se identificou descreveu a cena em uma entrevista à rede CBS.
Foram três disparos que eu ouvi, então todos nós saímos pelos fundos e tentamos chegar até umas árvares, já que queríamos nos esconder. Foi então que ouvi quatro outros tiros, e então resolvemos pular a cerca que divide a escola de algum vizinho — afirmou.
 

AP e REUTERS