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sábado, 1 de dezembro de 2018

Indicação de militares é polêmica desnecessária

Polêmica desnecessária


O complexo de vira-lata de que falava o grande escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues nos ataca com freqüência, e sua mais recente representação é a “continência” do presidente eleito Jair Bolsonaro para John Bolton, o Conselheiro do presidente dos Estados Unidos Donald Trump.  A continência é um tipo de “saudação” quando um militar encontra qualquer civil ou autoridade, e tem o significado de um “olá”, um bom-dia, representando apenas a cortesia de um cumprimento. Bolsonaro, ainda na campanha, encontrou-se com o juiz Sérgio Moro por acaso, num aeroporto, e cumprimentou-o batendo continência.

Seu gesto não representou subserviência, assim como também o então chanceler brasileiro Celso Lafer não foi subserviente ao aceitar tirar os sapatos para uma vistoria de segurança em um aeroporto dos Estados Unidos, logo depois dos ataques terroristas de 2001.  Lafer, como explicou depois, foi apenas republicano, entendendo que, naquele momento específico, “havia uma legislação aplicável a todas as pessoas. Achei que era natural essa preocupação com segurança. Não criei problemas, assim como não criaram nesta mesma ocasião o ministro das Relações Exteriores da Rússia e a ministra do Chile”.
Não foi, porém, por isso que o governo brasileiro deixou de registrar a inconveniência política de exigir do chanceler uma vistoria igual à das demais pessoas. Sem “complexo de vira-lata” que justificasse um escândalo diplomático.

Mas esse nosso complexo tem uma marca antecedente emblemática, quando, em 1958, o secretário de Estado americano John Foster Dulles visitou o Brasil. Antes de iniciar as conversações oficiais, JK e Dulles aguardavam que os fotógrafos terminassem seu trabalho. Com cara fechada, o americano sentou-se antes do fim da sessão, e quando Juscelino curvou-se para também sentar, o fotógrafo Antônio Andrade fez um flagrante que foi parar na primeira página do Jornal do Brasil e até em jornais como o New York Times.
A imagem ganhou uma versão carnavalesca: “Me dá um dinheiro aí”, como se a pose significasse a subserviência do Brasil diante dos Estados Unidos. Também a indicação de vários militares para postos importantes no governo Bolsonaro está causando rebuliço desnecessário.

Todos, ou quase todos, ocupam posições de suas especialidades, ou de que já tiveram experiência. E vários deles participaram de forças de Paz da ONU. Bolsonaro colocou no Gabinete de Segurança Institucional o general Augusto Heleno, primeiro comandante da Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti (Minustah), entre 2004 e 2005.
Na Secretaria de Governo o General Carlos Alberto dos Santos Cruz, que esteve no Haiti de 2007 a 2009;  indicou para o comando do Exército Edson Leal Pujol, líder da força de paz entre 2013 e 2014. O general Fernando Azevedo e Silva será o ministro da Defesa. O General Floriano Peixoto Vieira Neto, que coordenou a missão entre 2009 e 2010, supervisionará a gestão dos contratos de publicidade do governo, na Secretaria-Geral da Presidência. O general integrou a equipe do Centro de Comunicação Social do Exército.

O general Maynard Marques Santa Rosa será responsável pelo Programa de Parceria de Investimentos (PPI), que centralizará as privatizações e concessões.O mais recente indicado foi o almirante de esquadra Bento Costa Lima, futuro ministro de Minas e Energia. Atuou na Força de Paz da ONU em Sarajevo, representa a prioridade da Marinha, que é o projeto do submarino nuclear.
A explicação é simples: hoje, no Exército, uma grande parte dos oficiais e praças tem experiências em missões de paz. O Haiti foi a maior operação sob a égide da ONU, com uma característica especial de que o Force Commander era sempre brasileiro, o que deu destaque a muitos deles, e experiência na negociação direta com os diversos militares envolvidos nas operações.

Assim como o ex-presidente Lula se cercou de sindicalistas, e o ex-presidente Fernando Henrique de intelectuais e acadêmicos, é natural que Bolsonaro se cerque de militares. Só que precisa incorporar a institucionalidade civil do cargo. (Amanhã: a alma barroca brasileira e o complexo de vira-latas) [está explicada uma certa afinidade entre FHC e o presidiário do PT - quando na presidência, ambos se cercaram de nulidades.]

Merval Pereira - O Globo

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Tráfico reforçou poderio bélico nos complexos da Penha e Alemão para enfrentar o Exército - Hoje, soldado foi morto durante confronto. É a terceira baixa militar desde o início da intervenção federal na Segurança do Rio




Moradores falam em centenas de traficantes deslocados para a região em estratégia para confrontar ação dos militares


A confirmação na tarde desta quarta-feira da morte do soldado Marcus Vinícius Viana Ribeiro, de 22 anos, lotado no Batalhão de Infantaria Motorizado, o terceiro desde o início da ocupação dos complexos do Alemão, Penha e Maré, revela o grau de sofisticação que os militares têm enfrentado na difícil tarefa de retirar de circulação criminosos armados que atuam com táticas de guerrilha em comunidades construídas em montanhas, de difícil acesso e divididas por becos e ruelas. Um terreno minado que os generais não encontraram nem mesmo no Haiti, país para onde foram enviadas tropas brasileiras em 2004, na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).

[Exército Brasileiro vacilou, dançou - é triste ter que afirmar isso, reconhecer essa fato, especialmente para um brasileiro que teve a honra o orgulho de pertencer ao Exército brasileiro.

Faltou decisão quando a intervenção militar foi decretada - prevaleceu o estilo "Temer" quando o estilo teria que ser um entre o do marechal Castello Branco ao do general Geisel - com as opções Costa e Silva e Médici.

No momento em que o interventor federal determinou a identificação das pessoas nas ruas, com consulta imediata as delegacias,  e a turma dos 'direitos humanos' - que impedem o êxito de qualquer operação policial  - protestou, cabia apenas uma resposta por parte das tropas federais, do comandante da intervenção ou mesmo do presidente da República: continuem identificando e se alguém tentar impedir, prendam.

A chiadeira seria grande mas a identificação continuaria e a bandidagem aceitaria o inevitável: uma força maior que a deles estava atuante e nem eles, nem nenhum outra força militar ou institucional poderia impedir.

Mas, cedera, suspenderam as identificações, passou aquele as tropas arrancavam os bloqueios na Vila Kennedy pela manhã, os bandidos repunham à noite e no dia seguinte tudo se repetia. 

Esqueceram que a base do êxito seria: CERCO + ASFIXIA + SUFOCAÇÃO = Batalha de Argel.]

Agora consertar o que foi feito errado, recuperar o prestígio e o poder de dissuasão ainda é impossível - as FF AA do Brasil não entram em uma contenda para perder - mas vai ser bem mais dificil, especialmente a pouco mais de quatro meses do final do governo. A turma dos 'direitos humanos' vai chiar e Temer vai tremer.]

 Na terça-feira, outros dois militares foram enterrados no Cemitério de Engenheiro Pedreira, em Japeri, na Baixada Fluminense. O cabo Fabiano de Oliveira Santos, de 36 anos, e o soldado João Viktor Silva, de 21 anos, também morreram depois de serem atingidos durante confrontos realizados durante a megaoperação nos conjuntos de favelas na Zona Norte do Rio. Especialmente nos complexos do Alemão e Penha, os traficantes parecem bem mais organizados que em outras favelas.Moradores da Vila Cruzeiro e da Chatuba, no Complexo da Penha, revelaram ao GLOBO que pouco antes da ocupação dos militares do Exército na segunda-feira, criminosos de outras favelas controladas pelo Comando Vermelho foram chamados para reforçar o poderio bélico dos parceiros para enfrentar o Exército. Numa clara demostração de que tinham informações privilegiadas dos planos do Gabinete de Intervenção Federal de ocupar aquelas favelas.

 Militares durante operação no Complexo do Alemão - Gabriel Paiva / Agência O Globo

A confirmação dessa estratégia pode ser atestada com as prisões que estão sendo realizadas após a tomada das tropas dos complexos do Alemão e Penha. Ainda nesta terça, policiais civis da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) prenderam no Hospital Getúlio Vargas, Eber do Nascimento Cândido, conhecido como Ebinho. Segundo os policiais, ele é dono do tráfico na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Ele foi baleado na Chatuba, no Complexo da Penha, que fica a cerca de 10 km de distância da região que comanda. Um dia antes, outro importante chefe do tráfico também foi preso: o traficante Eduardo José dos Santos, conhecido como Sonic. Ele foi detido na Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso, por policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).

Os mesmos moradores ouvidos pelo GLOBO falam em centenas de traficantes deslocados para os complexos da Penha e do Alemão de outras favelas do Comando Vermelho. Segundo as mesmas fontes, isso estaria dificultando até mesmo a identificação dos cinco mortos nos confrontos, todos suspeitos de envolvimento com o tráfico. Na terça-feira, o general Walter Braga Netto, interventor federal na Segurança do Rio, lamentou as mortes dos militares. Braga Netto disse que a Força está consternada com o ocorrido, mas que isto não irá afetar a decisão de restaurar a paz no estado. [com todo respeito ao general: não é hora de se restabelecer a paz como  primeiro passo - a hora é de restabelecer a ordem, as FF AA mostrar que mandam e controlam a situação e após estabelecer a paz.]

Estamos consternados pelo falecimento dos dois militares e pelo ferimento do outro militar. Eles estavam cumprindo a missão deles de brasileiros, protegendo a população fluminense, lutando em prol de sua segurança. Este é um momento muito triste para nós. Todo apoio está sendo dado às famílias dos três. Assim como também todo o procedimento jurídico está sendo feito. Este fato não significa para nós motivo de desânimo, mas reforça a nossa decisão de trabalhar, de nos dedicarmos ainda mais para trazer a paz para a população fluminense. O que esperamos é que o sacrifício deles, como de outros policiais que também morrem ou são feridos em ação, seja reconhecido pela população — afirmou Braga Netto.

O enfrentamento é complexo: os oficiais que comandam as tropas que tomaram favelas e morros no Rio na última segunda-feira sabem há muito tempo que parte dos criminosos que agora empunham fuzis automáticos e defendem facções do crime, tiveram passagem pelas Forças Armadas. Aprenderam técnicas militares e a usar com precisão armas de guerra. [logo algum parlamentar da esquerda vai propor a extinção do SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO alegando que aquele Serviço treina bandidos. - e quem propor isso vai contar com o apoio do pessoal dos direitos humanos e do desarmamento.] 
 
De acordo com último balanço divulgado pelo Comando Militar do Leste, 70 suspeitos foram presos até agora. Ao todo, 554 quilos de maconha foram apreendidos até o momento na ação. Quatorze armas, entre elas cinco fuzis, também foram recuperadas, além de sete carregadores, 1.045 munições e um colete balístico. Uma moto foi apreendida.

Em nota, CML lamentou profundamente a morte do agente e informou que o soldado "veio a falecer em decorrência de evolução indesejável de seu quadro clínico".  O Exército informou ainda que "todo o apoio psicológico e espiritual vem sendo dado aos seus familiares.Todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis também já estão em curso."

Os militares João Viktor da Silva e Fabiano Oliveira dos Santos não se conheciam, mas eram moradores de Japeri, deixam filhos de dois anos e estavam recém-separados. Os dois sonhavam com a carreira militar, tinham três irmãos cada e receberam a notícia que participariam da ação nas comunidades da Zona Norte ao lado de suas respectivas mães.