Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Missão cumprida. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Missão cumprida. Mostrar todas as postagens

sábado, 12 de agosto de 2023

Interferência eleitoral - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

 O TSE, comandado pelo mesmo Alexandre de Moraes, não permitiu que a campanha de Bolsonaro falasse das antigas e sólidas ligações de Lula com ditadores comunistas

 

 Alexandre de Moraes, ministro do STF | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 “O diretor da Polícia Rodoviária Federal solicitou uma audiência e veio aqui, como eu disse, explicar os motivos da ocorrência daquelas operações. E, eu insisto, não houve nenhuma. As informações da Polícia Rodoviária Federal e de todos os próprios eleitores… não há nenhum eleitor que disse que deixou de votar, que voltou à origem por causa das operações. Então não houve prejuízo aos eleitores.”

Foi o ministro Alexandre de Moraes quem disse isso. Ele frisou: “Nenhum ônibus voltou para a origem; todos foram para a sessão eleitoral e votaram. Não houve nenhum prejuízo no exercício de voto. Todos votaram”. O presidente do TSE estava atestando a lisura de todo o processo eleitoral que ele comandou com mão de ferro e bastante centralização. Missão dada, missão cumprida.

Isso foi na época da eleição. Alguns meses depois, eis o que temos: o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, foi preso preventivamente por suposta interferência no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A prisão ocorreu em Florianópolis durante a Operação Constituição Cidadã, da Polícia Federal, que também mirou vários outros membros da PRF.
 

 silvinei vasques - polícia rodoviária federal - prf - cpmi do 8 de janeiro

Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal | Foto: Carolina Antunes/PR

A suspeita é que Silvinei e outros funcionários da PRF teriam arquitetado operações excessivas no Nordeste, onde Lula tem maior vantagem, para prejudicar o petista.  
Alexandre de Moraes mentiu, então?  
Quantos eleitores deixaram de votar por causa das operações? 
Quantos ônibus voltaram para a origem sem chegar ao destino?

(...)

As aberrações jurídicas seguem a todo vapor. A lista vai aumentando a cada dia. Já temos, em nosso país, parlamentar preso por se expressar, parlamentar sem direitos políticos por se expressar, jornalistas sem passaporte, com contas bancárias congeladas e censurados nas redes sociais por se expressar, cidadãos presos por protestar e policial preso por reprimir crimes.

O advogado particular e amigo pessoal que Lula indicou para o STF tomou sua primeira decisão como ministro supremo, uma decisão monocrática que anulou a punição a acusados de estelionato [vai que o atual presidente é processado por estelionato e descobrem
que o seu ex-advogado condenou um  simples mortal pelo mesmo crime ... complicaria; então, por precaução,  já se forma jurisprudência por absolvição do crime de estelionato.]

Enquanto isso, Lula, condenado em três instâncias e solto por um malabarismo supremo, continua aproximando o Brasil das ditaduras comunistas e distribuindo cargos e verbas para o centrão fisiológico e a mídia. ...

 (...) 

 

O crime compensa no Brasil, eis a triste constatação. 
Tentar fazer a coisa certa pode render severas punições, já que está tudo dominado. Nada disso seria possível sem a cumplicidade da velha imprensa, que trata cada nova medida absurda com normalidade ou mesmo incentivando todo abuso de poder
A democracia foi salva, o amor venceu, e o Brasil normal está de volta! Neste Brasil normal não há espaço para gente séria, honesta e trabalhadora.
 A esses cabe apenas calar a boca e não reclamar, pois até questionar o resultado eleitoral é considerado ataque à democracia. 
 
E, claro, cabe a essa gente patriota arregaçar as mangas e trabalhar ainda mais, pois é preciso pagar mais e mais impostos.  
Os economistas já preveem que as metas da nova regra fiscal serão descumpridas em 2023 e 2024, e o próprio governo Lula já estima que teremos uma alíquota de IVA perto de 30%, a maior do mundo. Perdeu, mané! Não amola! Bora trabalhar de bico fechado que é preciso sustentar a patota democrata do amor…


Leia também
“Democracia sem povo”

Coluna Rodrigo Constantino, Revista Oeste


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Drible de caneta - Percival Puggina

         Gradualmente, a bruma se dissipa. A gente pisca os olhos como para limpar a visão e começa a ver um pouco além da grande confusão dos últimos meses. Já não se trata mais de buscar as razões do que aconteceu, porque elas nunca foram razões da razão; o que se percebe, com realismo, são os motivos e os objetivos
O impeachment de Dilma e a presidência de Michel Temer foram dois pontos fora da curva e a eleição de Bolsonaro marcou o terceiro surfando nas redes sociais apesar da imprensa tradicional e do “Ele não!”.  
Acabei de mencionar os motivos; os objetivos, obviamente, foram dois: derrotar Bolsonaro e, com Lula, trazer a esquerda de volta ao poder.
 
O fato mais expressivo da campanha eleitoral de 2022 foi a nítida sensação de que a reeleição do presidente era inaceitável para quem se habituou a comandar o jogo. 
Episódio eloquente ocorreu no dia 12 de dezembro do ano passado, na cerimônia de diplomação da chapa eleita: o auditório do TSE, repleto de autoridades e petistas engravatados, saudou a chegada do ministro Alexandre de Moraes à mesa dos trabalhos com estrondosa e prolongada salva de palmas. 
Uma alegria incontida que só não entendeu quem não quis. 
Os cotovelos de Lula devem ter ficado magoados porque sua recepção foi muito menos calorosa. 
Revela-se nesses detalhes o ânimo legionário que permite a locução de praxe: missão dada, missão cumprida.

Para usar uma expressão do futebol, a história levou um drible “de caneta”. Como no poema de Drummond: “E agora, José?”.

Durante décadas, eventuais conclusões sobre o futuro do Brasil nas mãos da esquerda eram rotuladas como teoria da conspiração.  
Agora, não dá mais, porque tudo que se dizia sobre as consequências de uma futura vitória de Lula, está em pleno curso, aberto, declarado, estampado. 
Parece que o presidente saído das urnas não se preocupou, nem mesmo, em cuidar da imagem de seus benfeitores.
 
Quer desestatizar, impedir privatizações, ampliar a máquina e o gasto público, distribuir empregos para seus militantes revogando a Lei das Estatais, aumentar impostos, reestatizar o Banco Central, desarmar a população, apoiar as ações do MST, desqualificar quem se dedica ao agronegócio, descartar a cláusula democrática para retomar o projeto da UNASUL, apoiar ditaduras de esquerda na América Latina, ampliar sua influência sobre o topo do Poder Judiciário e formalizar a censura das opiniões nas redes sociais, através do PL 2630.  
De novo, mesmo, apenas a ideia de financiar a Argentina através do Banco do BRICS, incluir Venezuela como membro daquela organização e criar moedas únicas com quem quer que o convide a dizer algo sobre economia.
 
Hoje, examinei as imagens da reunião dos presidentes dos países da América do Sul. Vi Lula em reuniões reservadas e renegociando dívidas com Nicolas Maduro. O ditador venezuelano, aqui recebido com pompa e circunstância, é um narco-terrorista que se chegar num país que pretenda proteger seus cidadãos, vai preso.

Nisso tudo, o que mais me espanta é conhecer tanta gente que simplesmente não se importa em perder sua liberdade (e, com ela, sua dignidade) e ferrar seu país.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 19 de maio de 2023

‘Missão dada, missão cumprida’- Revista Oeste

 Ana Paula Henkel

O cenário de absoluta promiscuidade jurídica no Brasil deixa bem claro que Deltan não foi apenas cassado. Ele foi também caçado


Ministro Benedito Gonçalves | Foto: José Alberto/STJ
 
A ditadura do Judiciário, agora claramente estabelecida no Brasil, tem a sua mais nova vítima: o deputado Deltan Dallagnol.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou na noite de terça-feira, 16 de maio, o mandato do ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba que se elegeu deputado federal em 2022 pelo Estado do Paraná com mais de 344 mil votos. O julgamento que cassou Dallagnol teve como relator o ministro Benedito Gonçalves, sim, aquele dos tapinhas na cara.

O relator companheiro de Lula foi o único a votar de facto. A leitura do voto, que durou cerca de 40 minutos e que teve decisão proferida em escandalosos 66 segundos, retratou a tese de que Dallagnol tentou burlar a Justiça ao deixar o Ministério Público durante o período em que, segundo o magistrado, respondia a processos administrativos que poderiam resultar em condenação, transformando-o em “ficha suja”. O ministro que recebe tapinhas na cara (de pau) em público de ex-presidiário afirmou que o que Deltan fez foi apenas uma “manobra para driblar a inelegibilidade”.

Atendendo a um pedido do PT, o corregedor da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves, proibiu Bolsonaro de usar imagens do 7 de Setembro em campanhas. Na posse de Moraes no TSE, Lula e Gonçalves, indicado pelo petista ao STJ, se encontraram: pic.twitter.com/2esb55edRR

— Clayton Ubinha (@clayton_ubinha) September 12, 2022


[ Ministro Benedito Gonçalves, do TSE, recebe do companheiro Lula um carinhoso tapinha no rosto. - Foto: Reprodução/ Twitter (foto inserida pelo Blog Prontidão Total.) [são momentos carinhosos e que mostram que autoridades e criminosos também são capazes de momentos de carinho.]

O cenário de absoluta promiscuidade jurídica no Brasil deixa bem claro que Deltan não foi apenas cassado. Ele foi também caçado. 
A sanha autoritária que tomou conta do Brasil há alguns anos, e que firmou passos rápidos desde 1º de janeiro de 2023 com a posse do corrupto favorito do STF, deixou claro nesta semana que cassará — e caçará — todos aqueles que são e foram contra o sistema. 
A tal ditadura que disseram que Jair Bolsonaro implementaria no Brasil, com censura e perseguições políticas, não aconteceu durante os quatro anos de seu governo, mas finalmente chegou. 
 
O processo de caçação  sim, com “ç” — de Deltan se deu, como de praxe hoje no Brasil, de maneira inconstitucional, desrespeitando mais uma vez a autonomia e independência dos Poderes da República.  
Os ativistas de plantão, que aplaudem o atropelo das leis para a derrubada de oponentes políticos, clamam que o desfecho do julgamento do TSE foi correto, uma vez que Deltan Dallagnol ao se exonerar do cargo de procurador teria processos disciplinares pendentes no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o que o tornaria inelegível. No entanto, quando Deltan saiu do Ministério Público, a certidão do CNMP mostra não haver processos disciplinares e, por isso, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná autorizou sua candidatura em 2022.

A tese que consta no recurso que cassou Deltan alega que a exoneração “antes da instauração de um possível processo disciplinar (PAD)” atrairia inelegibilidade. No entanto, não cabe à Justiça Eleitoral avançar para examinar o conteúdo de processos preliminares e realizar um juízo se eles resultariam ou não em uma hipotética e não sabida punição. 
Se essa for a nova regra, basta que alguém formule inúmeros pedidos de providências antes de um juiz ou membro do MP pedir exoneração para alegar a inelegibilidade depois. 
O advogado Fabricio Rebelo, entrevistado algumas vezes no Oeste Sem Filtro, simplificou muito bem todo o cenário: “Imagine ter de explicar juridicamente como um procurador SEM processo disciplinar aberto não pode ser candidato, pela possibilidade de que algum venha a ser instaurado, enquanto políticos tradicionais que efetivamente respondem a inúmeros processos ficam tranquilos. Traduzindo a cassação de Deltan Dallagnol: é como alguém começar a cumprir a pena ainda na fase do inquérito policial, antes de sequer se saber se houve mesmo um crime ou muito menos existir uma ação penal. É o ápice de um estado policialesco, regido pelo direito penal do inimigo”.

Saímos de uma aura de justiça da “República de Curitiba” para a “República Soviética do Brasil”

Ou seja, Dallagnol se tornou o primeiro parlamentar cassado por uma suposição, por um possível crime no futuro. 
A barbaridade cometida pelo TSE nesta semana vai muito além de uma mera interpretação errônea de uma lei — o Supremo Tribunal Eleitoral no país supôs que Deltan pediu exoneração do Ministério Público para escapar “talvez quem sabe um dia no futuro” de algum processo administrativo disciplinar que poderia ser aberto, instaurado e julgado
O precedente do TSE é gravíssimo e acarreta perigo sistêmico, uma vez que a interpretação extensiva do tribunal poderá ser aplicada a outros casos por juízes eleitorais em todo o Brasil, inclusive para outras hipóteses de inelegibilidade previstas na Lei da Ficha Limpa.

O que o TSE fez nesta semana foi mais um evento grave desse insano regime totalitário ao qual foi submetido o Brasil, uma anulação forçosa e inconstitucional da vontade popular: 344.917 pessoas foram caladas em uma canetada vergonhosa, em mais um abjeto caso de perseguição política de quem claramente discorda do sistema podre que está implodindo a República e transformando o Brasil em um absoluto regime totalitário.

Os juízes de Berlim
Saímos de uma aura de justiça da “República de Curitiba” para a “República Soviética do Brasil”. E creio que podemos ir além da aura persecutória dos bolcheviques para retratar o sentimento e o medo justificado que estamos vivendo. 
Salvaguardado todo o respeito às vítimas e à proporção do mal feito pelos nazistas ao mundo, ler sobre “lei e a justiça” no Terceiro Reich traz arrepios com as pequenas semelhanças com um sistema no Brasil que não usa mais as leis, o processo legal e o amplo direito de defesa como o único norte possível em uma nação séria mas a vontade de juízes. Não podemos esquecer jamais — que há um deputado preso que teve um perdão presidencial constitucional extirpado de seus processos, e foi condenado a oito anos de prisão por palavras proferidas em um vídeo no YouTube.
 

Daniel Silveira, condenado a oito anos de prisão | Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

É profundamente incômodo visitarmos a história e nos depararmos com as páginas que mostram que, no Terceiro Reich, o estado policial é caracterizado pela detenção arbitrária e encarceramento de opositores políticos e ideológicos. Com a reinterpretação de “guarda protetora” (Schutzhaft) em 1933, o poder de polícia tornou-se independente dos controles judiciais. Na terminologia nazista, “custódia protetora” significava a prisão — sem revisão judicial — de opositores reais e potenciais do regime.

O Terceiro Reich foi também chamado de dual state, ou estado duplo, já que o sistema judicial normal coexistiu com o poder arbitrário de Hitler e da polícia. No entanto, como a maioria das áreas da vida pública após a ascensão nazista ao poder em 1933, o sistema de Justiça alemão passou por uma “coordenação”, para maior alinhamento com os objetivos nazistas. Associações profissionais envolvidas com a administração da Justiça foram fundidas na Liga Nacional Socialista de Juristas Alemães. Em abril de 1933, Hitler aprovou uma das primeiras leis antissemitas, expurgando judeus e também juízes, advogados e outros oficiais do tribunal de suas profissões. Além disso, a Academia de Direito Alemão e os teóricos jurídicos nazistas, como Carl Schmitt, defendiam a nazificação da lei alemã, limpando-a da “influência judaica”. Os juízes foram obrigados a deixar que o “sentimento popular saudável os guiasse em suas decisões”, e não as leis.

Hitler então decidiu aumentar a confiabilidade política dos tribunais. Em 1933, ele estabeleceu tribunais especiais em toda a Alemanha para julgar casos “politicamente delicados”. Insatisfeito com os veredictos de “inocente” proferidos pela Suprema Corte no Julgamento do Incêndio do Reichstag, Hitler ordenou a criação do Tribunal do Povo em Berlim em 1934 para julgar traição e outros “casos políticos” importantes.

Desde a sua fundação, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães lutou contra o estado de direito. A aquisição nacional-socialista também representou uma vitória do direito penal autoritário sobre o direito penal liberal. A criação dos Tribunais Especiais em 1933 e do “Tribunal do Povo” em 1934 foram marcos importantes nas terríveis páginas da história nazista contra a humanidade.

Depois de 1938, todos os atos criminosos e, depois de 1939, todos os delitos menores poderiam ser processados perante os Tribunais Especiais. Esses tribunais consistiam em três juízes profissionais, e o veredicto que proferiam era o primeiro e último estágio de apelação. 
Com a nomeação do juiz Roland Freisler como presidente do “Tribunal do Povo” em 1942, os julgamentos perderam sua última aparência de procedimentos legais legítimos. Freisler humilhou e ridicularizou os réus. 
A redação das leis foi sistematicamente mal interpretada e sentenças de morte foram “justificadas” por motivos apresentados em menos de duas páginas de texto, textos que poderiam ser lidos em 66 segundos, e o “Tribunal Popular” foi autorizado a cometer assassinatos judiciais.
 
O regime nazista teve juízes leais que voluntariamente transformaram a lei liberal alemã em um instrumento de opressão, discriminação e genocídio. Isso foi conseguido sem interferir substancialmente no funcionamento dos tribunais e sem aplicar medidas disciplinares aos juízes. Mas nem todos os juízes eram servidores congeniais do regime — alguns resistiram na qualidade de juízes e honraram suas togas e dever com o povo alemão. É claro que não estamos diante de um estado judicial visto nas páginas da Alemanha de Hitler. Ainda. 
O que nos preocupa, no entanto, é o desrespeito histórico às nossas leis e o silêncio que foi conivente a muitos que hoje, com razão, gritam por justiça diante do episódio com Deltan Dallagnol.

Durante quatro anos, assistimos atônitos à complacência da imprensa no Brasil e à quebra do ordenamento jurídico no país, afinal, era para derrubar o “Bozo”, o “novo Hitler”, o “ditador”, o “autoritário”. Até os ditos e autoproclamados conservadores e liberais demonizaram e desumanizaram Jair Bolsonaro porque “ele não é conservador” no checklist burkeano dos hipócritas do Instagram que surfaram e nadaram de braçadas na onda conservadora empurrada por Bolsonaro. Muitos elogiavam o presidente para vender cursos e livros, para depois posarem de limpinhos que “não se misturam com essa gente bolsonarista”. Permaneceram em absoluto silêncio durante 2020, 2021 e 2022 enquanto nossa Constituição era estuprada diariamente, afinal, “oh well… são bolsonaristas sendo perseguidos e presos. Inconstitucionalmente, sim. Mas ainda são bolsonaristas”. 

Jair Bolsonaro, assim como Donald Trump, foi um fenômeno reativo da sociedade que estava estafada de tanta corrupção, aparelhamentos, acordos. Sabíamos que a eleição de 2022 era muito, muito além de Bolsonaro ou Lula. O próprio Deltan Dallagnol, homem que lutou bravamente no MP contra um sistema carcomido, julgou o presidente Bolsonaro de maneira injusta e sem se ater a críticas pontuais e pertinentes. O dano agora está feito. O monstro de alma autoritária e caneta tirânica virá para todos.

Quero acreditar que a verdadeira missão de Deltan Dallagnol, muito além da Lava Jato e do mandato de deputado, tenha apenas se iniciado. Sua cassação irregular ao arrepio da lei pode ter mobilizado quem ainda pensava que sairia ileso de um projeto de poder totalitário.  
O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem uma histórica oportunidade de retomar as rédeas institucionais da Casa do Povo e mostrar que a autonomia entre os Poderes não pode suportar mais uma grave interferência de um Judiciário ativista que recebe tapinhas na cara de um ficha suja. 
A prerrogativa de cassação de um mandato de um deputado que já foi empossado é exclusivamente da Câmara. Se Arthur Lira vai peitar o sistema, duvido. Gostaria de estar errada. 

Benedito Gonçalves, como um bom servidor do projeto de poder do partido mais corrupto da nossa história, mostrou nesta semana que sua célebre frase proferida a Alexandre de Moraes, “missão dada, missão cumprida”, não é mote exclusivo dele, mas de todo um sistema que agora se arma contra o povo em projetos de censura, mordaça, intimidações, perseguições, prisões, desmandos, imoralidades e inconstitucionalidades.

Cabe a nós, assim como as páginas da história claramente ensinam, que o silêncio e o medo não possam mais ser uma opção. A história, dificilmente, não se repete.

Leia também “Render-se não é uma opção”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste