Ascânio Seleme
Iniciativa do TCU estabelece prazo máximo de 30 dias para a devolução de um processo ao plenário [medida certíssima, desde que tenha validade para o Supremo e seja obedecida pelos supremos ministros]
Se acabar cristalizada, a iniciativa do TCU criará uma nova regra que os demais tribunais poderão ser compelidos a seguir. Quem ganha com isso é a Justiça. Quem perde é a famosa lentidão da Justiça. Com o auxílio do pedido de vista, que pode ser acionado nos tribunais regionais, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, um processo demora de 15 a 20 anos para ser julgado, a ponto de permitir a prescrição de eventual crime antes dele conhecer sua sentença final. O pedido de vista acabou virando instrumento protelador de decisões judiciais.
Tem processos pendentes no STF, com placar de 6 a 4, ainda provisório, aguardando o retorno de um ministro - a principio, providência que parece meramente protelatória, haja vista que o ministro que voltar, quando proferir seu voto, qualquer que seja, em nada mudará o lado vencedor.
Só que a faculdade dos ministros mudarem o voto até a proclamação do resultado, permite que outro ministro decida após o novo placar (repetindo: que não alterou nada em relaçãoao escore anterior) mudar de voto.
Mais grave ainda é que, ocorrendo alteração do placar, um ministro peça vista.
Nós, eleitores comuns, quando votamos nas eleições não podemos mudar o voto - demore o que demorar a proclamação do resultado.
Os cidadãos que servem no Tribunal do Júri não podem mudar seu voto.]
A proposta do TCU é terminativa. Depois de 30 dias o processo em vista por um ministro é devolvido automaticamente ao plenário e entra na pauta. O regimento do Supremo também estabelece um prazo de 20 dias para que um processo com pedido de vista seja devolvido para a pauta. Mas trata-se de um dispositivo ridículo, já que o prazo estabelecido não é obrigatório. Os ministros da Corte ignoram solenemente este prazo, e o instrumento acabou virando chacota de advogados, que o apelidaram de “perdidos de vista”.
A frase correta
Ao contrário da barbaridade que pronunciou, Guedes poderia ter dito o seguinte: “Com o dólar muito baixo, os brasileiros deixavam US$ 2 bi por ano na Flórida, a maior parte em Orlando. A então candidata Hillary Clinton chegou a dizer, na campanha de 2016, que poderia dar atenção especial ao brasileiro. A nossa é a segunda nacionalidade a mais frequentar a Disney, perdemos apenas para os americanos”.
Mas, em se tratando de câmbio, com certeza ficar calado seria a melhor opção.
Ascânio Seleme, colunista - O Globo