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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Temporada de caça às bruxas - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Estamos vendo a divisão entre os que estão dispostos a usar o poder do Estado para silenciar seus oponentes e os que estão preocupados com a liberdade e o império das leis

Foram quatro ininterruptos anos de uma perseguição histórica. Desde a campanha presidencial, Donald Trump vem sendo caçado pelos democratas como nunca se viu com qualquer outro presidente. 
E falo isso com muita tranquilidade, o bufão laranja não era meu candidato favorito nas primárias republicanas em 2016. Em novembro daquele ano, confesso que não estava animada com o desfecho da eleição presidencial. A corrida para a Casa Branca, entre Donald Trump e Hillary Clinton, ficou marcada como uma corrida de dois nomes ruins para os norte-americanos. 

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Evan El-Amin/Shutterstock
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Evan El-Amin/Shutterstock

Mas Donald Trump me surpreendeu com a sua administração. E acredito ter surpreendido muita gente que comprou a embalagem, e não o conteúdo. É verdade que o conteúdo só pôde ser conhecido, de fato, depois de vê-lo por algum tempo no Salão Oval. Mas, rapaz… que conteúdo. Não vou me estender aqui desmiuçando as políticas dos quatro anos de Trump na Casa Branca, há vários artigos honestos na internet sobre esse período, mas hoje atesto sem vergonha (e também com vergonha por não ter apostado que ele seria um bom “CEO da América”!) que os Estados Unidos estariam em lençóis muito piores se o malvadão do século não tivesse entrado na rota dos norte-americanos como Commander in Chief.

Pois bem, mesmo depois de uma conturbada e ainda cheia de mistérios — eleição presidencial em 2020, os democratas voltaram ao poder. Além da Presidência, eles retomaram também a Câmara e o Senado. Bufão fora da Casa Branca, vamos tocar nossa agenda radical e jogar Trump no esquecimento! Certo? Errado. Donald Trump continua fazendo estragos no caminho político dos democratas até hoje.


A volta do malcriado do Twitter
O movimento MAGA (Make America Great Again), iniciado por Trump em 2016, parece estar mais forte do que nunca, e isso pode ser medido pelos resultados de eleições locais nos Estados. Desde 2021, os republicanos vêm tomando territórios importantes do tabuleiro político norte-americano, como o governo do Estado da Virgínia e quase todos os cargos eletivos importantes, região que votava com os democratas havia muitos anos. No caminho das eleições de midterms agora em novembro, Trump continua incomodando democratas e até republicanos que torcem o nariz para ele. Depois da rodada do último fim de semana para as cadeiras da Câmara e do Senado, dos 187 candidatos apoiados por Trump dentro das primárias do partido republicano, 173 saíram vitoriosos e 14 foram derrotados. Um impressionante aproveitamento de 93% em suas indicações.
 
Mas há muito mais nesse caminho, além das eleições de midterms, que apavora os democratas. Diante de tamanho engajamento — mesmo com toda a demonização de sua figura política durante os quatro anos na Casa Branca —, Trump ameaça com uma cartada que pode ser devastadora para o partido do senil Joe Biden, hoje sem nenhum legado ou herdeiro político com porte presidencial: sua volta a Washington e ao Salão Oval em 2024. Trump sofreu algumas tentativas de impeachment enquanto presidente, e pelas razões mais ridículas que os norte-americanos poderiam ver. 
Um processo até passou na Câmara, mas foi derrubado no Senado. 
Mais um plano de impeachment, um seguro arquitetado por Nancy Pelosi usando o 6 de janeiro, foi colocado em prática para evitar a volta do malcriado do Twitter e se iniciou logo após sua saída da Presidência, mas também não obteve sucesso. 
Nesta semana, mais uma tentativa de impedir que o 45º presidente dos Estados Unidos se torne o 47º presidente de sua história entrou em curso
 
(...)

Os agentes ocuparam e vasculharam a casa inteira, incluindo o guarda-roupa da ex-primeira-dama Melania Trump. A incursão do FBI à casa do ex-presidente Donald Trump algo nunca visto na história dos Estados Unidos pode energizar ainda mais os eleitores republicanos que não esqueceram que Hillary Clinton excluiu 33 mil e-mails de quando era secretária de Estado e ganhou apenas um tapinha na mão. Em 2016, o então diretor do FBI, James Comey, anunciou que a candidata Hillary Clinton era culpada de destruir os e-mails — um provável crime relacionado ao seu mandato como secretária de Estado. No entanto, ele praticamente prometeu que ela não seria processada devido ao seu status de candidata presidencial.

Um número crescente de republicanos e independentes (e brasileiros) percebe que, se quiserem realizar alguma coisa na próxima vez que estiverem na Casa Branca (e no Planalto), terão de reformar o serviço público e a política

 (...)

Durante décadas, o serviço federal tornou-se cada vez mais um bastião para os democratas progressistas (leia-se regressistas).  

Absolutamente todos os estudos mostram que seus membros estão quase uniformemente à esquerda. Para dar apenas um exemplo, em 2016, 95% dos burocratas federais que fizeram doações registradas para um candidato na eleição presidencial doaram para Hillary Clinton. O controle dos democratas sobre a lealdade dos burocratas significa que esses funcionários podem atrapalhar e até parar qualquer tentativa dos conservadores de implementar políticas de que não gostam. 
Isso foi particularmente problemático para um presidente como Trump, que não queria jogar pelas regras convencionais estabelecidas pelos sociais-democratas em Washington e establishment que também inclui republicanos como Mitt Romney e Liz Cheney. 
Os presidentes podem fazer 4 mil nomeações políticas para cargos do governo, com cerca de 1,2 mil delas sujeitas à confirmação do Senado. Mas 50 mil burocratas têm autoridade para tomar decisões sobre questões políticas, e isso implode a lisura de um sistema justo de dentro para fora.

Um ato político
Há menos de 90 dias de uma eleição de meio de mandato, e com a possibilidade de os republicanos retomarem ambas Casas legislativas (a Câmara com um “banho de sangue”, como dizem os analistas), o evento em Mar-a-Lago fica caracterizado não apenas como um ataque, mas um ato político. 
Para Adam Geller, especialista em pesquisas internas para o Partido Republicano, o ataque e a maneira como foi orquestrado e relatado dão aos eleitores republicanos e indecisos um choque que essencialmente respingará nas eleições de midterms e talvez além: “Não há dúvida de que os republicanos e o presidente Trump podem aproveitar isso para seu benefício político até 2024”. 
Para a estrategista democrata Carly Cooperman, Trump, com razão, transformará isso em uma oportunidade política: “Ele está reunindo sua base e alimentando seus apoiadores. Isso se encaixa perfeitamente com o que ele gosta de argumentar sobre o exagero do governo. Se isso não for nada muito sério, o evento realmente ajudará sua estratégia.”

O cenário político para 2022 na América está se definindo rapidamente. O Partido Democrata deverá sofrer perdas históricas em novembro. Donald Trump estava prestes a anunciar sua candidatura presidencial para a corrida de 2024. No último domingo em Dallas, Texas, ele falou por quase duas horas no encerramento do CPAC, evento conservador norte-americano, e mostrou que em muitas pesquisas continua sendo o republicano favorito para a indicação — e bem à frente do atual presidente Joe Biden em uma suposta revanche em 2024.

Assim como no Brasil, uma atual republiqueta devido ao ativismo porco de membros judiciário e do atual STF, o deep state” pode ser de enorme ajuda para os democratas, que buscam de maneira radical transformar o governo e a economia para se adequarem à sua agenda ideológica de extrema esquerda sem a presença de membros do Congresso. Os republicanos (assim como milhões de brasileiros) que querem drenar o pântano de Washington (e de Brasília) hoje se deparam com um serviço público não eleito, ativista e irresponsável que atua como um quarto Poder extraconstitucional do governo, e com veto efetivo sobre as políticas dos políticos eleitos.

(...)

 A União Soviética possuía “leis de direitos” que garantiam a “liberdade de expressão e direitos iguais”. 
 E os bolcheviques assassinaram seus adversários políticos e enviaram seus dissidentes aos gulags
Lavrentiy Beria, o chefe da polícia secreta mais implacável e mais antigo no reinado de terror de Joseph Stalin na Rússia e na Europa Oriental, se gabava de poder provar uma conduta criminosa contra qualquer pessoa, até mesmo um inocente: “Mostre-me o homem e eu lhe mostrarei o crime”. Essa era a infame ostentação de Beria.
 
O que nos mantém funcionando, mesmo com todos os defeitos detectados em nossas leis, diferentemente dos bolcheviques, é que nossas Constituições separaram os Poderes para impedir uma união partidária em torno de apenas um.  
Eleições têm consequências. As espinhas dorsais das eleições no Brasil, em outubro, e nos Estados Unidos, em novembro, nunca estiveram tão próximas e talvez nunca foram tão importantes não apenas para as Américas, mas para o Ocidente.
 
Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA
 

Leia também “As verdades inconvenientes de Jordan Peterson”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A Ucrânia balança o mundo - Revista Oeste

Flavio Morgenstern e Artur Piva

Os alertas sobre o expansionismo russo sempre foram interpretados como uma espécie de teoria da conspiração de radicais da direita 

Tanque de tropas do Exército ucraniano | Foto: Milan Sommer/Shutterstock
Tanque de tropas do Exército ucraniano -  Foto: Milan Sommer/Shutterstock

Quando era candidata a vice-presidente na chapa de John McCain em 2008, uma pouco destacada Sarah Palin foi entrevistada sobre seu conhecimento de geopolítica, já que era vista apenas como a governadora de um Estado pouco relevante como o Alasca. A resposta de Palin virou piada nacional: lembrando que o Alasca faz fronteira com a Rússia, afirmou poder ver de seu Estado natal Putin invadindo a Ucrânia. Até hoje há quem creia que a governadora tenha afirmado que podia ver fisicamente a Rússia de sua casa (home), mas quase ninguém se lembrou de sua declaração quando Putin anexou a Crimeia seis anos depois.

Em um debate com o então presidente, Barack Obama, em 2012, Mitt Romney havia dito que a maior ameaça geopolítica que a América enfrentava era a Rússia. Obama soube ganhar apoio midiático e votos rindo da declaração, gracejando que seu adversário republicano queria uma política externa “dos anos 1980” de volta. Seu vice-presidente era um certo Joe Biden, então pouco conhecido no Brasil.

Quatro anos depois, Donald Trump surpreenderia o mundo com sua campanha de amplo apoio popular e violentíssima reação da mídia — afirmando, já na abertura do seu livro América Debilitada, que Vladimir Putin era um perigo para os Estados Unidos da América e para o mundo livre — e que a política democrata estava enfraquecendo a América e favorecendo os planos expansionistas do novo autocrata russo. Putin foi considerado o homem mais poderoso do mundo durante quase todos os anos da administração Obama, que tinha em Hillary Clinton seu braço internacional e em Joe Biden a conexão e o apoio político com o establishment norte-americano.

Desta vez, além de virar alvo de galhofa da mídia, seguiram-se pelo menos dois anos de uma teoria da conspiração que é tratada até hoje como se tivesse sido provada: que Trump havia ganhado as eleições com ajuda da manipulação russa — logo de Putin, que era alvo do então candidato. Seria pedir muito que a maioria dos jornalistas da grande mídia lesse duas ou três páginas de um livro antes de emitir opiniões tão fanatizadas. Foram apenas alguns exemplos de constantes críticas pela direita norte-americana ao expansionismo russo, enquanto o Partido Democrata, o complexo midiático internacional e as instituições acadêmicas que formam a opinião pública faziam troça de tais acusações — tal como Obama, geralmente afirmando que era uma “retórica de Guerra Fria”.

A Ucrânia, país pobre e debilitado, mas ao mesmo tempo muito importante no projeto geopolítico e cultural russo, era vista como o próximo alvo dos planos de Vladimir Putin, tal como Taiwan é a menina dos olhos da China de Xi Jinping. Mas os alertas constantes sobre o imperialismo russo sempre foram ouvidos pelo estamento como uma espécie de teoria da conspiração de extrema direita ultranacionalista — exatamente a chuva de adjetivos de forte impacto psicológico e nenhuma clareza conceitual que foi esquecida na última semana, tão logo Putin cumpriu suas ameaças. A concretização da geopolítica russa, afinal, é resultado do fracasso constante da política externa democrata — de Obama, Hillary e Biden.

O fracasso da “contenção” tardia
O ex-presidente Donald Trump adotou uma política aplicando conceitos mais próximos da administração do que da geopolítica. Apesar das críticas ao seu desconhecimento em geopolítica, ele cuidou de favorecer os amigos do Ocidente, no que ficou conhecido como a política da América em primeiro lugar (America First). Assumindo quando o Estado Islâmico parecia trazer o fim dos tempos, conseguiu manter-se por quatro anos sem nenhum incidente internacional digno de nota. Conseguiu inclusive trazer Kim Jong-un para a mesa de negociações e colocou fim à guerra civil síria, além de ter levado mais paz ao Oriente Médio com os Acordos de Abraão.

Com a vitória de Biden, não demorou até outras potências e grupos opositores colocarem à prova a força do novo governo. Quando isso ocorreu com o Trump, ele respondeu rapidamente com um bombardeio contra bases sírias. Com Biden, o oposto tomou forma: sua política fracassou no Afeganistão e perdeu uma guerra custosa de 20 anos. O caminho estava aberto para que a China, a Rússia, o Irã e outros países voltassem a avançar contra a estabilidade mundial.

Biden também tem culpa por colocar a ideologia acima dos interesses nacionais norte-americanos. O presidente norte-americano é um dos grandes responsáveis por não ter Índia e Brasil alinhados de modo mais claro à posição norte-americana, já que escolheu esnobar Narendra Modi e Bolsonaro por serem conservadores. Ele também fez o mesmo com os países do Golfo, cancelando vendas de produtos de defesa para a Arábia Saudita e para os Emirados, ambos desafetos do Irã, principal aliado russo no Oriente Médio.

Com o atual expansionismo de Putin na Ucrânia, temos um dos mais fortes erros geopolíticos da história norte-americana (e foram muitos recentes). Putin faz suas mobilizações para provocar, e sempre ganha sem precisar disparar um tiro
A Rússia, que faz fronteira com a Turquia e o Japão, com a Finlândia e a Coreia do Norte, com a Polônia e a China, de certa forma com o Japão e os Estados Unidos, pode realizar constantes mobilizações militares e exercícios fronteiriços. 
Afinal, ainda está em seu próprio território. Assim o fez recentemente com a Bielorrússia e a Geórgia, com o Cazaquistão e a própria Ucrânia.

Para o Ocidente poder mostrar seu poder de fogo de volta, precisa passar pela via burocrática: pedidos da Otan, destacamento caríssimo de tropas, passagem por países —  não raro ditaduras —, culminando em exercícios diminuídos e que nunca poderiam assustar alguém como Putin. Até tal resposta aparecer, os russos já puderam fazer novos exercícios, em outros pontos da fronteira russa que envolvem países diferentes — e todo o processo recomeça do zero, a altíssimo custo, enquanto Putin apenas movimenta tropas alguns quilômetros acima ou abaixo.

O que foi testemunhado nas últimas semanas foram constantes provocações militares, que teriam sido contidas caso houvesse um presidente forte na Casa Branca. Joe Biden, depois de Putin já tomar cidades ucranianas com ataques por terra, mar e ar, afirma que irá impor… sanções econômicas às regiões separatistas da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk
Algo para o qual Putin já estava se preparando havia anos — e trata suas tropas na região como “mantenedoras da paz” (sic). O seu ethos é guerreiro, coletivista, não se importa com sacrifícios de indivíduos ou tempo pensando no longo prazo. Não há como comparar uma ameaça de “medidas econômicas severas” com Putin falando em tons militares das “consequências nunca antes vistas” (com armas nunca testadas em campo) do apoio à entrada da Ucrânia na Otan.

Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade

Seria preciso que os Estados Unidos tivessem realizado uma política de contenção mais robusta, como as sanções impostas por Trump ao oleoduto Nord Stream 2 Biden simplesmente desistiu das sanções em maio último, o que levantou suspeitas sobre os interesses de seu filho — e também da família Clinton — nos sistemas de energia dos países mais corruptos do Leste Europeu. Putin logo entendeu que podia se preparar para atacar. Medidas como esta, no tempo correto, teriam sido suficientes para evitar o atoleiro no qual Biden se vê: todas as desvantagens de um conflito militar, que agora é quase inevitável, sem nenhuma vantagem da contenção diplomática.

O curioso é que a propaganda de Biden era justamente de que Putin tinha “medo” dele (e não de Trump), porque ele seria “muito duro” com o autocrata russo. Palavras sem espada são apenas tinta no papel. Ou no Twitter. Hoje, tudo o que resta a Biden é prometer sanções econômicas, que poucos dos seus aliados europeus levarão a sério, se são tão dependentes da energia russa.

A Ucrânia no xadrez geopolítico
Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade: a recriação da grandeza do antigo Império Russo, mas com a tecnologia moderna e o poder autocrata herdado da União Soviética. Este plano busca recriar o Império original, a grande Rus, o nome original da Rússia. A Ucrânia, ou “Pequena Rússia”, como é chamada pelos russos, é peça-chave para o plano de Putin. Além de muitos ucranianos serem etnicamente russos, e identificarem-se mais com o grande e glorioso país do que com seu decadente e corrupto Estado moderno, o antigo Império tinha em Kiev o seu centro cultural — o que é uma questão séria para Putin.

Sem ter uma ideologia muito precisa que unifique a sociedade a favor do seu projeto de poder como os ditadores comunistas possuíam com o bolchevismo comunista, seu apelo atual é para um “nacionalismo” expansionista, no qual os antigos territórios do Império Russo serão retomados um a um. A hegemonia cultural, militar e econômica do globo deixará de ter na América e na Inglaterra o seu centro irradiador, e a Grande Mãe Rússia ressurgirá como a nação capaz de salvar os pobres e aflitos do planeta. Foi neste contexto que vimos a Ucrânia querer uma aproximação com o Ocidente: cogitando mais um modelo liberal, pró-União Europeia e sendo apoiada até militarmente pelo mundo livre. Cogitou se filiar à Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, o bloco de países que se uniu justamente para frear o expansionismo militar russo durante a Guerra Fria. Para um autocrata com um plano global como Putin, é muito mais do que uma provokatsiya: é praticamente uma declaração de guerra. Afinal, a “Pequena Rússia” é parte da Rússia, segundo pensa Putin.

Memes começaram a aparecer nas redes sociais minutos depois da invasão:

 

A despeito das ideologias, as fronteiras atuais da Ucrânia foram definidas pelos tratados do fim da Guerra Fria. Como os países menores eram controlados por governos “satélites” de Moscou pela União Soviética, o mapa atual da Ucrânia possui fronteiras artificialmente maiores do que seu desenho histórico — o que é martelado dia e noite pela propaganda oficial de Putin. Entre os principais alvos estão Odessa e Sevastopol, importantes portos para a economia russa. Quando a Ucrânia se declarou independente de Moscou de vez, em 2014, essas regiões tornaram-se zonas de extrema tensão e conflito. E é neste ponto em que a política externa de Biden, desastrosa em tudo, se tornou verdadeiramente mortífera.

A política da provokatsiya e da desinformatsiya
Putin, homem forte da KGB e especialista em desinformatsiya, sempre soube fazer intensa propaganda separatista na Ucrânia, sobretudo na fronteira leste, financiando milícias, apoiando grupos rebeldes e prometendo mundos e fundos para quem pretendesse anexar-se à Rússia. Ao mesmo tempo, também destaca como grupos “neonazistas” aparecem no país vizinho, passando a tratar qualquer um que se oponha ao seu projeto de poder como um “nazista” ou um “racista”. Como palavras importam em uma guerra travada antes na mídia do que no campo de batalha, países ocidentais pisam em ovos para apoiar governos legítimos, como o da Ucrânia. Mesmo no Brasil, até sua bandeira já foi acusada de ser um “símbolo neonazista”, exigindo que o embaixador ucraniano no Brasil viesse a público explicar que o símbolo do país não é “neonazista”
Ou seja, a desinformatsiya russa é eficiente e transcontinental. Determina até os termos usados por jornalistas brasileiros. Enquanto isso, Putin constantemente ganha mais espaço de manobra para destruir grupos rivais. Tal como virou moda em republiquetas, acusa seus adversários de nazistas, e então trata-os como se merecessem um eterno Estado de exceção. E políticos como Obama e Biden, em vez de defender o mundo livre, sempre pisam em ovos para lidar com as manobras do expansionismo russo. Para eles, importa muito mais não ser chamados de “apoiadores de nazistas” pelo complexo midiático norte-americano — e, logo, mundial — do que lutar pelo mundo livre. Infelizmente, este modelo de política já foi exportado para o mundo ocidental. [o mais importante é que a consolidação de Putin, controlando a Ucrânia - ou mesmo anexando - reduz em muito o ímpeto do Biden e da sua vice na propagação, quase imposição, do maldito progressismo esquerdista. Putin não discute, nem dá sinais que discutirá o comunismo - que não considera tema importante. 
Para ele o conservadorismo que o domina é bem mais importante. Uma brecada na propagação do maldito progressismo esquerdista, que tem como meta destruir todos os valores do mundo - entre eles, sem limitar: BONS COSTUMES, FAMÍLIA, MORAL, PROPRIEDADE, RELIGIÃO, TRADIÇÃO, LIBERDADE, PATRIOTISMO é importante para que o mundo seja um lugar digno das pessoas de BEM continuarem nele.]
As possíveis consequências para o Brasil
Em um mundo interligado, um conflito na Ucrânia não é mais assunto distante, como a última Guerra da Bósnia. O Brasil está em uma situação bastante peculiar: sua agropecuária alimenta boa parte do mundo, mas é extremamente dependente de fertilizantes russos e 49% das exportações de gado têm como destino a China. Por isso, uma negociação com os russos é necessária e delicada.

Além de uma possível alta no preço dos combustíveis e do gás, em caso de um embargo, como proposto por Biden, a Rússia provavelmente irá triangular com a China para furar o bloqueio. A manobra aumentaria ainda mais o poder de Xi Jinping sobre o comércio internacional. Mais um desastre da atual política norte-americana é forçar sanções nas regiões pró-Rússia em dólar, euro e iene. Em vez de enfraquecer o inimigo, todas essas áreas separatistas passam a recorrer ao iuane chinês, aumentando o poder de barganha de Pequim. O Brasil também sofre com uma China controlando ainda mais territórios com sua moeda.

O cenário tem tudo para ser, no mínimo, péssimo para a economia.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Flavio Morgenstern e Artur Piva, Revista - Oeste 
 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Uma eleição para muitos anos - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Contra o ativismo ou o silêncio judicial, a letra fria da lei e nossa vigília diária

Caso Roe <i>versus</i> Wade | Foto:  Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Caso Roe versus Wade | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Para falarmos da Suprema Corte Americana (SCOTUS – Supreme Court of The United States), é preciso voltar um pouco na história do país. A Declaração de Independência, assim como a Constituição americana, enxuta com suas 27 emendas, não mostra apenas a solidez dos documentos mais importantes da nação mais próspera do mundo. Quando alguns bravos homens das 13 colônias britânicas na América do Norte se encontraram no Segundo Congresso Continental e decidiram se unir contra a Coroa britânica, nem tudo foi suave como alguns historiadores proclamam. Havia 13 colônias independentes com suas peculiaridades e identidades. Houve muito debate e questões regionais conflitantes foram levantadas, mas mesmo assim eles decidiram colocar as diferenças de lado e escrever seus nomes em um pergaminho que declarava a independência da Grã-Bretanha.

Todos estavam cientes dos tempos difíceis que os aguardavam, mas também era muito claro o que era defendido na escrita daqueles homens: independência, liberdade, representatividade no governo, republicanismo, um processo legal de um Estado Democrático de Direito que não existia para os colonos. Mesmo com muitas diferenças entre eles, aqueles homens se uniram em torno do maior ponto em comum que os conectava: o empenho em criar uma grande nação na terra com o maior documento governante que a humanidade já conheceu. E eles foram bem-sucedidos.

A Constituição americana estabeleceu um governo beneficente limitado e protegeu a sociedade civil para nutrir a liberdade, a família e os direitos religiosos e civis. Na Declaração de Direitos, elaborada durante anos, os pilares sagrados para a nação norte-americana:  
a proteção ao indivíduo contra o governo central, a proteção à liberdade de expressão, de imprensa e religiosa e a sagrada proteção contra a tirania e a opressão o direito de manter e portar armas contra os inimigos, tanto indivíduos quanto governamentais.

Os Pais Fundadores dos Estados Unidos ainda fizeram questão de deixar explícito na Magna Carta o devido processo legal, a necessidade de mandados com base em causa provável, julgamentos rápidos, cláusulas pétreas de proteção às propriedades e tudo o que é crucialmente importante para uma sociedade civil livre. 

Nenhum documento na face da terra é como a Constituição americana, baseada nas declarações de independência e nos direitos naturais inalienáveis. O federalismo, implementado pelos Pais Fundadores e que concede autonomia sólida aos Estados, forma mais um filtro institucional adicionado à espetacular teia de freios e contrapesos para evitar a tirania do Executivo e o ativismo do Judiciário. Mesmo assim, a nação estabelecida no império da lei não é perfeita e também tem cicatrizes de raros ativismos judiciais. Infelizmente, o que é uma rara praga para os ianques é a regra para nós, brasileiros.

Se procurarmos no renomado dicionário americano Webster o termo “ativismo judicial”, encontraremos a seguinte descrição: “prática no Judiciário de proteger ou expandir direitos individuais por meio de decisões que se afastam de precedentes estabelecidos ou são independentes, ou opõem-se a supostas intenções constitucionais ou legislativas”.

Ativismo judicial
O termo “ativismo” é usado tanto na retórica política quanto na pesquisa acadêmica. No uso acadêmico, ativismo geralmente significa apenas a disposição de um juiz para derrubar a ação de outro ramo do governo em um precedente judicial em que juízes reforçam as próprias opiniões sobre os requisitos constitucionais ou ações de tribunais anteriores. Por essa ótica, o ativismo pode não ser considerado pejorativo, e estudos sugerem que não possui uma valência política consistente.

Na retórica política, no entanto, o ativismo judicial não é apenas um termo ruim, é uma ação nociva. Descrever os juízes como ativistas nesse sentido é argumentar que eles decidem casos com base em suas próprias preferências políticas e opiniões, em vez de uma interpretação fiel da lei, abandonando assim o papel judicial imparcial e “legislando da bancada”. As decisões podem ser rotuladas de ativistas por derrubar uma ação legislativa ou executiva, ou por simplesmente permitir que ela permaneça. Esse ativismo no Judiciário ocorre exatamente quando juízes se recusam a aplicar a Constituição ou as leis de acordo com seu significado público original, ou ignoram o precedente obrigatório e decidem os casos com base em preferências pessoais.

Roe versus Wade
Nos Estados Unidos, um dos casos mais conhecidos e polêmicos sobre o ativismo do Judiciário, até hoje centro de intermináveis batalhas políticas e protestos pelo país, é a decisão da Suprema Corte Americana no caso Roe versus Wade. Em 1969, Norma McCorvey ficou grávida de seu terceiro filho, mas decidiu que não queria ter o bebê. Na época, a lei do Texas, onde McCorvey residia, só permitia o aborto em casos de estupro, incesto ou para salvar a vida da mãe. Ela chegou a ser aconselhada por suas amigas a afirmar falsamente que havia sido estuprada, mas não havia nenhum relatório da polícia para apoiar essa alegação. Então McCorvey tentou fazer um aborto ilegal, mas logo descobriu que as autoridades haviam fechado algumas clínicas.

Depois de visitar um advogado, “Jane Roe” (nome fictício usado para proteger a identidade da requerente, Norma McCorvey) decidiu entrar com uma ação federal contra o Distrito de Dallas, Texas, pela impossibilidade de realizar o aborto. O caso foi parar na Suprema Corte, e, numa decisão histórica, os magistrados esticaram malandramente a Décima Quarta Emenda Americana, que protege, entre outros pontos, o direito à privacidade para criar uma nova legislação que protegeria “o direito ao aborto”. A Corte com maioria progressista entendeu que ali caberia uma “interpretação” [naturalmente uma interpretação criativa, tão em voga no Brasil] de que a emenda também protegia a liberdade e a privacidade de uma mulher grávida de optar por um aborto sem a restrição do governo.

Desde 1973, ano em que a lei entrou em vigor em todos os Estados americanos, ferindo gravemente o federalismo estabelecido na Constituição do país, o caso tem trazido enorme comoção nacional. Em 2016, eleitores motivados por uma ou duas vagas na Suprema Corte, e a possibilidade de reversão do pernicioso ativismo do tribunal nos anos 1970, acabaram se tornando uma das razões da vitória de Donald Trump. Em uma pesquisa em 2018, um em cada cinco eleitores do candidato republicano disse à CNN que a Suprema Corte foi uma das razões pelas quais votaram em Trump. Além disso, mais de 56% dos eleitores que votaram no republicano afirmaram que esse foi o “fator mais importante” em sua decisão.

Donald Trump, que saiu das primárias de maneira surpreendente, foi visto como a chance que os eleitores conservadores e constitucionalistas queriam: enviar um republicano à Casa Branca para fazer uma enorme diferença na composição do tribunal por uma geração. E ele entendeu o recado. Durante seu discurso na Convenção Nacional Republicana, quando aceitou a nomeação para ser o candidato à Casa Branca, Trump mencionou a Suprema Corte: “Também vamos nomear juízes para a Suprema Corte dos Estados Unidos, juízes que defenderão nossas leis e nossa Constituição”, disse. “Não deixem essa oportunidade escapar. Não temos mais quatro anos. Eles vão começar a nomear juízes para a Suprema Corte. Temos uma chance e não podemos deixar isso escapar.”

Conservadores e independentes concordaram, e muitos votaram em Trump com a Suprema Corte em mente. Presidentes estaduais do Partido Republicano propagaram a necessidade de apoiar Trump, deixando explícito em suas reuniões que a Suprema Corte desempenhava um papel significativo em sua escolha. O presidente eleito daquele ano provavelmente indicaria dois ou mais juízes e apenas um candidato, Donald Trump, escolheria conservadores sólidos para ocupar as cadeiras. 

Em julho de 2016, o comentarista conservador Hugh Hewitt escreveu em um artigo, intitulado “É a Suprema Corte, estúpido”, que sua decisão de votar em Trump havia sido baseada em grande parte nas repercussões catastróficas de uma Presidência de Hillary Clinton no tribunal mais importante do país. A um mês das eleições, em outubro de 2016, Manny Klausner, libertário e cofundador da Reason Foundation, disse que votaria no candidato do Partido Libertário, Gary Johnson, mas acrescentou que, para outros milhões de libertários, “a probabilidade de o próximo presidente nomear vários juízes para a Suprema Corte nos próximos quatro anos era uma razão suficiente para que os eleitores em Estados que poderiam decidir as eleições (swing States) votassem em Trump em vez de Johnson”.

Se há algo que une democratas e republicanos nos Estados Unidos é o respeito quase religioso à Constituição

Bem, o pragmatismo do voto conservador em 2016 em Donald Trump, mesmo com todas as críticas às suas aparições públicas, parece começar a servir a seu propósito. Trump nomeou três juízes para a Corte mais importante dos EUA, e, na semana passada, o tribunal ouviu os argumentos orais no processo Dobbs versus Jackson Women’s Health Organization — um caso sobre aborto que visita a constitucionalidade da Lei da Idade Gestacional do Mississippi, que, com algumas exceções, proíbe o aborto após 15 semanas. Enquanto concedia o certiorari (ouvirão o caso), a Suprema Corte limitou a questão do recurso a “se todas as proibições de pré-viabilidade de abortos eletivos são inconstitucionais”, e os argumentos se concentraram mais amplamente em se o Tribunal Superior deveria revisitar e anular Roe versus Wade. A porta para corrigir o ativismo de 1973 foi finalmente aberta, e com uma Corte com maioria conservadora (6-3), o voto calculado de católicos e evangélicos no malcriado do Twitter pode finalmente pagar dividendos.

Supremo Tribunal Federal
Já no Brasil, na última semana, finalmente testemunhamos a sabatina de mais um nome indicado ao Supremo Tribunal Federal pelo presidente Jair Bolsonaro. André Mendonça teve seu nome aprovado no Senado para ocupar a vaga deixada pela aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, indicado por Fernando Collor de Mello e que permaneceu 31 anos na Corte. Diante de tantos desmandos à nossa Constituição por parte do tribunal, a sabatina de André Mendonça foi vista por milhões de brasileiros que estavam atentos à TV como uma final de campeonato de futebol. Para milhões que foram às ruas no 7 de Setembro para pedir um basta no ativismo político da Corte, há esperança e dúvidas se, de fato, teremos alguém no STF que protegerá nossas leis e nosso devido processo legal.

Em seu discurso, André Mendonça assumiu publicamente compromissos importantes e disse “que se compromete com a democracia e o Estado Democrático de Direito conforme expresso desde o preâmbulo da Constituição Federal”. Ele também declarou que “o Judiciário é o garantidor da legítima atuação dos demais Poderes — sem ativismos nem interferências indevidas”. O indicado de Jair Bolsonaro também afirmou que “cabe ao Supremo Tribunal Federal não legislar - sem executar as políticas públicas com base na lei”.

Assim como na Suprema Corte Americana em 1974, o Supremo Tribunal Federal no Brasil não esconde seu desejo quase incontrolável de legislar sobre o aborto. Gostaria de poder acreditar sem pestanejar nas declarações do senhor André Mendonça, mas só o tempo e suas decisões mostrarão o legado que será escolhido por ele — e colhido por todos nós.

Se há algo que une democratas e republicanos nos Estados Unidos é o respeito quase religioso à Constituição e aos limites dos Poderes. A transformação do STF nos últimos anos é preocupante. Quanto mais interpretação livre do texto constitucional pela última instância, quanto mais liberdade para atuar fora de sua esfera e quanto maior o silêncio da mais alta Corte do país quando leis são criadas por prefeitos e governadores, cerceando nossos direitos fundamentais, mais risco corremos. Contra o ativismo ou o silêncio judicial, a letra fria da lei e nossa vigília diária. É a última garantia para as nossas liberdades.

Antonin Scalia, um dos mais respeitados juízes da Suprema Corte Americana, falecido em 2016, era categórico quanto ao papel dos tribunais para a manutenção de democracias saudáveis e dos pilares do império da lei e da ordem: “Enquanto juízes mexerem na Constituição para ‘fazer o que as pessoas querem’ em vez do que o documento realmente comanda, os políticos que escolherem e confirmarem os novos juízes, naturalmente quererão apenas aqueles que concordam com eles politicamente. A Constituição não é um documento vivo, é um documento legal”, dizia Scalia — certamente um norte na América até hoje quando o assunto são as prerrogativas e os limites de cada Poder.

Em suas declarações a respeito do novo ministro do STF, o presidente Jair Bolsonaro disse que um dos pontos para a indicação de André Mendonça era o fato de que ele era “terrivelmente evangélico”. Assim como Donald Trump em 2016, o presidente que sairá da eleição presidencial de 2022 no Brasil terá a chance de indicar dois ministros para a Corte Suprema em 2023. Indicações que podem afetar toda uma geração. O Brasil é um país que abraça e respeita todas as religiões, mas tenho certeza de que reza para que essas indicações sejam, antes de qualquer coisa, terrivelmente fiéis às nossas leis.

Leia também “O preço do radicalismo”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


domingo, 9 de maio de 2021

Isso não pode acabar bem - Revista Oeste

 
Rodrigo Constantino

Uma ala expressiva da esquerda tem justificado cada vez mais a intransigência, até com violência, contra a direita, toda ela considerada 'fascista'

Qual o desfecho possível para uma democracia quando uma parte considera que cerca de um terço da população é genocida, fascista, negacionista, assassina? 
A pergunta é retórica. Qualquer pessoa sensata vai concluir que é inviável uma democracia com tais características. Se há tanta gente assim dentro de tal sistema, ele vai inevitavelmente ruir, terminar até em guerra civil. Não há democracia possível com tantos inimigos
[o que nos conforta e nos propicia a certeza da  VITÓRIA, É QUE A esquerda SEMPRE PERDE;
Nos últimos cem anos os malditos esquerdistas perderam por cinco vezes (contando só as derrotas maiores, as pequenas derrotas que sofreram, ignoramos)= e a cada vitória mais nos convencemos de que devem ser extirpados politicamente.
Até os atos violentos, covardes e infundados do tal
'black lives matter', foram apenas alvoroços, estertores,  que de prático nada trouxeram, nem trarão, já que a razão não lhes assiste.

 
Mas é exatamente essa a narrativa que uma elite vem impondo. E o fenômeno é mundial, com claro agravamento na era das redes sociais. O tribalismo tem sido a tônica nos “debates” — e, em vez de aceitar a ideia de que seu adversário político pensa diferente ou está equivocado, a premissa cada vez mais usual é a de que se trata de um ser perverso, cruel, maligno. Não há diálogo possível com fascistas assassinos, há?

É crucial entender a origem do fenômeno moderno. A tentativa de demonizar o adversário, visto como inimigo mortal, não é novidade. O processo de desumanização do “outro lado” é uma tática comum em ideologias totalitárias. O exemplo mais evidente é o que os nazistas fizeram com os judeus. Se do lado de lá não há humanos que discordam das nossas bandeiras, mas sim vermes que querem nos destruir, então o extermínio desses “vermes” passa a ser pregado como algo aceitável.

O sociólogo e filósofo alemão Herbert Marcuse (1898-1979), com seu conceito de “tolerância repressiva”, deu a senha para que a esquerda pós-moderna encarasse qualquer um que não fosse socialista como um reacionário fascista, um perigo iminente, uma ameaça terrível. E, com base nessa ideia, toda reação a essa ameaça era legítima, justificada, um ato libertador. Palavras agridem, ideias são bombas, e agredir fisicamente quem as profere passa a ser legítima defesa.

Eis o resultado prático: grupos se vestem de preto, usam máscara, pegam armas brancas e incendeiam universidades para impedir a palestra de um conservador moderado como o advogado e escritor norte-americano Ben Shapiro. E eles se chamam de Antifa, ou seja, os antifascistas! Aquele que adota postura truculenta, intolerante e autoritária passa a ser o democrata tolerante em sua própria visão distorcida, tudo porque tem certeza de que está reagindo ao enorme risco fascista, que enxerga em cada esquina, em cada um que não defende sua mesma ideologia.

É por isso que Hillary Clinton se referiu a metade dos eleitores de Trump como “deploráveis”, e a esquerda “progressista” passou a considerar “discurso de ódio” a simples defesa de tradições, do casamento entre homem e mulher ou as críticas à ideologia de gênero. A mentalidade esquerdista hoje, de forma geral, é totalitária, pois não aceita que seja possível discordar dela com legitimidade, com boa intenção.

No Brasil, toda a direita tem sido demonizada faz tempo, e com a chegada de Bolsonaro ao poder a coisa piorou muito. 
O presidente passou a ser confundido com o próprio vírus chinês, acusado de cada óbito na pandemia, responsabilizado diretamente por tudo de ruim que acontece. 
Esta semana, com a morte do humorista Paulo Gustavo, vimos o ápice dessa postura. Paulo Coelho, Felipe Neto, Maitê Proença, a turma do MBL e muitos outros acusaram Bolsonaro pela morte do ator, com rótulos de “genocida”, “assassino” ou “verme.[juntando as três 'coisas' destacadas, surge algo bom?]

Qualquer um que ouse enxergar virtudes no presidente ou em seu governo é logo tachado de cúmplice de genocídio por essa gente. Não há diálogo viável, não há argumentos racionais que prestem para os “canceladores”. Só há um “pequeno” problema: segundo as pesquisas, Bolsonaro tem o apoio de cerca de um terço do povo brasileiro. Nas ruas no sábado passado, vimos um 1º de Maio atípico, com centenas de milhares de pessoas ocupando várias avenidas importantes pelo país em apoio ao presidente. Foi um recado bem alto.

Essa gente considera que há um golpismo no ar, que o establishment atua para impedir o governo, para boicotar ou derrubar o presidente. Não confia nas urnas eletrônicas e pede voto auditável
Joga tomates em imagens dos ministros supremos pois os considera traidores da Constituição e a serviço do corrupto que os indicou para o STF. Alguns clamam por uma ação militar, tamanhos o desespero e a sensação de impotência diante de um sistema corrompido.
Discordar de suas bandeiras ou de seus métodos é do jogo. Chamá-los de genocidas ou fascistas, porém, é retirar a legitimidade de um grito atravessado na garganta de milhões de brasileiros. Voltamos ao ponto inicial: como viabilizar uma democracia que rejeita quase metade dos eleitores? 
Como dirimir conflitos, aparar arestas e buscar consensos ou contemporizações se, em vez de oponentes políticos, enxergamos monstros assassinos do outro lado? 
Tentam a todo custo e com muito esforço, além da cumplicidade de boa parte da imprensa, transformar em pária social aquele que defende o grosso da atual gestão, que claramente possui inúmeros méritos mesmo. Você não está errado, segundo essa narrativa; você é “do mal”, e isso justifica todo o ódio “do bem” que vemos por aí, com gente desejando abertamente a morte de Bolsonaro e de seus apoiadores.

Isso não tem a menor chance de terminar bem. Até porque essa enorme parcela da população descobriu que pode ter um representante no poder, que existem outros milhões que pensam como ela, que o jogo é sujo para impedir seu direito de existência política. Não é possível voltar ao estado anterior, com uma mídia dominada de forma quase hegemônica pela esquerda e um teatro de tesouras entre petistas e tucanos como se fosse uma disputa entre esquerda e direita. A direita acordou, e um gigante desperto precisa ser levado em conta. Não dá para colocar um elefante embaixo do tapete e fingir que ele nem sequer existe.

Comentando os atos violentos do Black Lives Matter nos Estados Unidos, o sociólogo húngaro-canadense Frank Furedi escreveu em coluna desta revista: “O surgimento de uma nova filosofia que justifica esse tipo de protesto e os saques é resultado direto da poderosa influência exercida pela política identitária no mundo anglo-americano. Nos Estados Unidos, até pouco tempo atrás, o uso de violência e de ameaças politicamente motivadas tendia ao confinamento dos campi universitários. O exercício da cultura de cancelamento sempre continha a implicação de que a força poderia ser usada contra o alvo cancelado. O que mudou é que, em meses recentes, formas de comportamento que estavam confinadas às universidades migraram para o resto da sociedade. No ambiente menos refinado da urbanidade norte-americana, a cultura do cancelamento adquiriu uma dinâmica muito mais sombria”.

Ele concluiu em tom pessimista: “Quando uma mídia supostamente livre se recusa a pensar livremente e noticiar o que é evidente aos olhos de seus espectadores, você sabe que a liberdade está muito encrencada. Quando protestos violentos são ignorados e, em alguns casos, celebrados, o respeito pelo Estado de Direito está fatalmente comprometido. Agora entendo de verdade quando a garçonete me alertou sobre a possibilidade de uma guerra civil. Pessoas como ela sabem que seu modo de vida está sob ameaça quando o comércio para o qual trabalham pode se tornar um alvo legítimo para um ‘protesto intenso, mas basicamente pacífico’.”

Uma ala expressiva da esquerda tem justificado cada vez mais a intransigência, até com violência, contra a direita, toda ela considerada “fascista”. Essa estratégia pode surtir algum efeito em círculos da elite cosmopolita, que fica com “nojo” de tudo o que remeta ao conservadorismo, tido como “tacanho”, “obscurantista” ou “assassino”. 

 Mas vai esgarçando o tecido social até o ponto de ruptura. Toda ação leva a uma reação. É por isso que não podemos descartar nem mesmo um conflito eventual. A esquerda não pode achar que vai provocar tanto assim sem nenhuma consequência. Talvez alguns mais radicais e revolucionários desejem mesmo isso. 

Cabe aos outros compreender quanto antes o perigo, e resgatar o respeito por quem pensa diferente, por quem é de direita, e sim, por quem apoia o governo Bolsonaro.

Leia também “Uma guerra civil nos EUA?”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Trump deve escapar da punição política que merece – Valor Econômico

Opinião

Dois terços dos eleitores republicanos acham que as eleições foram roubadas

A democracia americana saiu irremediavelmente ferida após quatro anos de governo de Donald Trump. A invasão do Congresso por hordas direitistas, incitadas pelo próprio presidente, foi o desfecho surpreendente, mas não imprevisível, da campanha sistemática de Trump a favor de seu próprio poder e contra todas as instituições, em um país que se orgulhava de apresentá-las como um modelo para o mundo.

Trump, afinal, manteve-se o escroque e embusteiro que sempre foi, mas sua convocação a atos de vandalismo e intimidação contra o Legislativo não tem precedentes na história americana. Ele não hesitou em usar métodos torpes para mudar os resultados de eleições limpas nas quais foi derrotado. Embora as instituições tenham resistido aos ataques autoritários de Trump, mostraram fissuras importantes, que não serão consertadas facilmente. Elas são produto de mudanças ao longo de anos no cenário político americano, entre elas a caminhada do Partido Republicano para os braços da extrema direita. O partido de Lincoln passou às mãos do Tea Party, que abriu espaço para que se curvasse a um aprendiz de déspota ignorante como Trump.

Na era das redes sociais, os passos dados e até os objetivos do presidente foram públicos. Os republicanos o apoiaram em todas suas ações inomináveis - pior ainda, ainda apoiam. Após a inédita invasão do Congresso por americanos, 191 deputados republicanos votaram contra um segundo processo de impeachment de Trump e apenas 10 a favor. Os democratas venceram na Câmara, mas dificilmente passarão pela barreira do Senado, de maioria republicana. Para ser aprovado, precisará receber a adesão de 17 republicanos - número tido como grande demais para ser factível no contexto conflagrado da política americana. [os inimigos do presidente Trump são tão sem noção que insistem em um processo de impeachment ridículo, sem sentido e cujo pior desfecho o presidente Trump é impedi-lo de exercer um mandato que se extingue em 20 janeiro 2021 - devido o fator tempo se, e quando, tal decisão se concretizar     EXTINGUIU define melhor.

Outro absurdo é criticarem os cidadãos que votaram no Partido Republicano por  continuarem favorável ao  candidato que recebeu seus votos - queriam que aplaudissem a Pelosi?

Falando em Pelosi - aos que não lembram quem  é:  trata-se da deputada que preside a Câmara dos Deputados  dos Estados Unidos - foi repreendida pelo comandante do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (Marines), general David H. Berger, que recusou o pedido da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em usar os Marines na segurança da posse de Joe Biden, no dia 20 de janeiro, contra partidários de Donald Trump. 

Entre outras verdades, disse o general:  “Não me dê sermões sobre patriotismo, Senhora Oradora. Servi este país com distinção por 40 anos. Eu derramei sangue por nossa nação. O que você, uma autoridade eleita em benefício próprio, fez por seu país? ” - “Eu respondo apenas ao presidente e, pelo que entendi, Donald J. Trump ainda é presidente e comandante-em-chefe. Eu cumpro a Constituição como foi escrita, não a sua interpretação” -  “Se você quer que ajudemos a combater seus apoiadores, sugiro que você ligue para ele e diga isso a ele. Se ele me mandar, eu o farei. Caso contrário, sugiro que você ouça com atenção as palavras que escapam de seus lábios rachados e venenosos; são equivalentes a traição. Não trabalhamos para você ”.

Saiba mais, clicando aqui.


Comandante Dos Fuzileiros Navais Americanos Repreende Pelosi: “Não Trabalhamos Para Você!”

Desde antes das eleições, Trump já avisara que seriam as “mais fraudulentas” da história dos EUA. A pressa em nomear uma jurista católica para a Suprema Corte, tornando-a de maioria conservadora, a 36 dias do pleito, indicou que o presidente se preparava para uma batalha judicial sobre os resultados da votação, que não aceitaria perder.

Trump já usara golpes baixos para se eleger disputando contra Hillary Clinton em 2016. 

(...)

A invasão do Capitólio foi estranha e relativamente fácil. O policiamento, numeroso e eficiente em distribuir pancadas em manifestações populares, foi insuficiente e displicente e os invasores, tratados com inusual gentileza. Havia militares em trajes civis na invasão. O ato de ousadia exibiu preocupantes rachaduras no aparato do Estado Legislativo.

Dois terços dos eleitores republicanos acham que as eleições foram roubadas. Dentro do Capitólio, 139 deputados republicanos votaram nesse sentido. Pesquisa do You.gov registrou que metade dos eleitores republicanos considerou acertada a invasão e só 25% deles a viu como ameaça à democracia.

Trump teve 75 milhões de votos e seus seguidores republicanos, bem como o partido, estão majoritariamente inclinados a desprezar as normas democráticas e se guiar apenas pelo que seu líder, uma fraude ambulante, diz e pensa. Não se consertam desavenças dessa magnitude em um par de anos. Joe Biden terá muito trabalho pela frente.

Valor Econômico  - MATÉRIA COMPLETA


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A chave da vitória - Alon feuerwerker

Análise Política

Quase ninguém está prestando atenção, mas a apuração dos votos continua na eleição para presidente dos Estados Unidos. No estado de Nova York, por exemplo, falta apurar mais de 10% dos votos. 

Daí poucos atentarem para o fato de Joe Biden estar recolhendo, por enquanto, uns 13 milhões de votos a mais que Hillary Clinton em 2016. E Donald Trump estar contabilizando mais de 10 milhões de votos sobre o obtido quatro anos atrás. E no fim das contas, segundo os números nos estados (leia), talvez as pesquisas não tenham errado tanto assim.

O voto antecipado e o voto pelo correio, além do registro maciço de novos eleitores, deu ali o "drible da vaca" (expressão antiga do futebol) na Covid-19. Já por aqui, a abstenção subiu. Se foi a pandemia ou o desinteresse crescente pelas eleições, ainda não está claro.

Uma coisa é certa: cada vez mais, o desafio para partidos e candidatos será fazer o eleitor votar. O acréscimo, ou decréscimo, no eleitorado ativo de cada um tende a ser a chave para a vitória.

 Não deixe de ler:O PIB, o auxílio e a política

E a prévia do crescimento do Produto Interno Bruto no 3o. trimestre veio melhor que as previsões (leia). Boa notícia para o governo. ...

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

domingo, 8 de novembro de 2020

O mundo inseguro das boquinhas de TI - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Às 15h de terça-feira, o sistema de computadores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi invadido, e os trabalhos da Corte só voltarão ao normal nesta semana

O episódio mostra que os computadores da Viúva continuam sendo administrados de forma leviana. No mundo das altas competências, no século passado o governo brasileiro já pagou o mico de ter um sistema de criptografia das embaixadas protegido por equipamentos de uma fábrica suíça que tinha um sócio oculto, a Central Intelligence Agency americana. No governo Dilma Rousseff, descobriu-se que algumas de suas comunicações também estavam grampeadas.

Não se sabe o propósito dos invasores do STJ, pois achar que o tribunal tem meios ou recursos para pagar um resgate não faz sentido. Sabe-se, contudo, que a rede oficial de informática está contaminada por dois vícios elementares, que nada tem a ver com altas competências. É pura incompetência. Em muitas áreas, quando muda o chefão, ele troca a equipe de tecnologia. Mesmo em áreas onde isso nem sempre acontece, os hierarcas usam seus endereço da rede oficial para tratar de assuntos pessoais. Nos Estados Unidos a secretária de Estado Hillary Clinton pagou caro por isso. Assuntos oficiais e comunicações pessoais são coisas diversas. Se essa banalidade não é respeitada, só se pode esperar que o sistema esteja bichado em outras trilhas.

Essa incompetência não acontece por causa da herança escravocrata. Ela é produto de uma indústria da boquinha em quase tudo que tem a ver com informática. Prova disso é que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação armou uma licitação viciada de R$ 3 bilhões há mais de um ano, foi apanhado, cancelou a maracutaia, mas até hoje não explicou como o edital foi concebido.

Na compra de equipamentos, pode-se pegar o jabuti quando ele quer mandar 117 laptops para cada um dos 255 alunos de uma escola. Quando as contratações vão para escolha de operadores, manutenção e até mesmo programação entra-se num mundo complexo, atacado por amigos que têm conexões, mas não têm competência.

Médici, Geisel e Bolsonaro
Nenhum presidente brasileiro teve uma relação tão próxima com seu colega americano como o general Emílio Médici com Richard Nixon, a quem visitou em 1971. Quando Nixon se atolou no caso Watergate e acabou perdendo o cargo, Médici, fora do governo, não disse uma só palavra.

Nenhum presidente brasileiro detestava seu colega americano como Ernesto Geisel detestava Jimmy Carter. Enquanto esteve na Presidência, nunca disse uma palavra contra ele. Fora dela, recusou-se a encontrá-lo e não atendeu o telefone quando ele ligou para sua casa.

MATÉRIA COMPLETA em Folha de S.Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista  

 

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 5 de novembro de 2020

Que susto, hein? Quando Donald Trump derrotou Hillary Clinton em 2016, fazendo jogo sujo, fazia sentido supor que isso tivesse acontecido por falta de conhecimento. Os americanos conheciam Trump como apresentador de tevê e, digamos, um milionário metido a besta. Era razoável supor também que boa parte dos eleitores estivesse farta da velha política, ali representada pela figura de um clã. Ok, Bill Clinton havia sido um bom presidente, Hillary tinha uma carreira pessoal de muito sucesso, mas de novo?

Também dava para imaginar que depois de Obama, os americanos estariam decididos a experimentar uma virada à direita, como acontecia em outras partes do mundo. Mas tudo isso se pensou depois da eleição. Porque antes era difícil imaginar que depois de eleger o primeiro presidente negro, com o nome Barack Hussein, os americanos passassem para Trump. Passaram, ganharam o benefício da dúvida. 

Mas passados quatro anos e Trump confirmando todo o jogo sujo que se esperava dele, e sendo agora amplamente conhecido como político – admito que me surpreendi com a competitividade dele. E mais ainda com alguns números apanhados nestes primeiros momentos, com dados do NY Times. Por exemplo: em comparação com 2016, Trump perdeu votos entre homens brancos com e sem diploma universitário. Em compensação, ganhou votos entre latinos de Miami (ok, são cubanos, em geral), mas também entre os mexicanos do Arizona. Os mexicanos, aqueles foram simplesmente xingados por Trump.

De outro lado, Biden foi pior que Hilary entre negros (homens e mulheres) e latinos (também homens e mulheres). Era de se imaginar o contrário depois de tudo que Trump e seu pessoal haviam feito. As primárias mostraram um Partido Democrata bastante dividido num amplo espectro político. Sim, há socialistas na esquerda democrata, embora não haja um programa propriamente claro. Não há ninguém propondo a expropriação dos meios de produção, mas há muita gente contra o “grande capital”. Isso até vem de longe: Al Gore, por exemplo, fez campanha contra o “big pharma” e o “big oil”.

Binden, talvez para atender essa esquerda, criticou o “big oil” e propôs algum tipo de controle de preços ou distribuição social de remédios. Tudo na direção de evoluir o Obamacare, que não pode ser chamado de socialista, talvez nem de social-democrata. Mas isso, em parte do eleitorado americano, deu alguma credibilidade às acusações de Trump de que há uma conspiração socialista e anti-cristã que precisa ser varrida dos EUA e do mundo. 

Aliás, Trump voltou à ideia ontem quando se declarou vencedor e que estava sendo roubado – não se importando nem um pouco em criar uma crise institucional de proporções inimagináveis. Por outro lado, há republicanos do bem, gente que quer reorganizar o país. Aliás, Binden foi senador por muitos anos, presidiu o Senado quando foi o vice de Obama, conhece republicanos. Pode, portanto, ser uma fonte de entendimento na direção do centro. Mas tanto os republicanos quanto os democratas também elegeram os seus radicais. Permanecerão nos seus partidos ou haverá divisões?

De todo modo, para o mundo, a quarta-feira terminou melhor do que começou. Binden agora é o favorito e isso muda para melhor o panorama global. Com Binden, os EUA voltam ao Acordo de Paris, à OMS, à aliança atlântica. Claro que continua a disputa com a China pela hegemonia econômica, militar e tecnológica, mas será uma disputa, digamos, mais inteligente e com muito menos chance de descambar para algum conflito.

Mas que há muita confusão política/ideológica nos EUA e no mundo, disso não há dúvida. E para terminar, uma vitória de Binden deixa Bolsonaro inteiramente isolado nas Américas. E será bem feito. A tal amizade com Trump não trouxe nada de significativamente lucrativo para o Brasil. Mas os bolsonaristas continuam por aí. Vão dizer que Trump foi roubado, assim como Bolsonaro acha que foi roubado numa eleição que ganhou. Aliás, tem uma ironia aí. As nossas urnas eletrônicas saíram-se muito bem, obrigado. [Quanto às urnas eletrônicas o que melhorou o seu conceito foi que o presidente Bolsonaro foi eleito em eleição na qual foram utilizadas - e sabemos que a eleição do capitão não foi aceita pelos inimigos do Brasil = adeptos do 'quanto pior, melhor' + mais 'turma do mecanismo' + inimigos da democracia + corja esquerdista - assim, se ele foi eleito não foi por falta de vontade daqueles inimigos de  fraudar as eleições, e sim por impossibilidade.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista