Bolsonaro se deixa
dominar pelos filhos, que atacam integrantes do governo, como o
vice-presidente, e assumem poderes que não têm
O
último surto dos filhos do presidente mostra, uma vez mais, a situação
bizarra em que o Brasil se encontra. Um vereador do Rio fica dando
ordens de bom comportamento ao vice-presidente da República. A família
do governante se comporta como se o país tivesse escolhido, nas urnas, o
clã inteiro para governar. O presidente não consegue ter a mínima
autoridade em sua própria casa e aparece como um joguete na mão dos
filhos.
Quando era perguntado sobre por que demonstrava
pensamentos diferentes dos do então presidente João Figueiredo,
Aureliano Chaves costumava responder: “não sou demissível ad nutum”.
Esse é o ponto que inquieta os filhos do presidente. O vice-presidente,
Hamilton Mourão, foi eleito, tanto quanto Bolsonaro, e tem suas próprias
ideias. Não há razão alguma para que não possa tê-las, até porque na
democracia a diversidade sempre foi melhor que a ordem unida.
Mourão
não apareceu na vida nacional por ser um disciplinado soldado. Pelo
contrário, exatamente por expor suas ideias — de admiração pelo regime
militar — o general Mourão foi duas vezes punido antes de ir para a
reserva. As suas indisciplinas, aliás, não foram piores que as do
capitão Jair Bolsonaro, que acabou preso por 15 dias por desafiar
superiores. Portanto, que não se peça agora a Mourão que apenas bata
continência, seja um soldado de Bolsonaro. Goste-se ou não, ele tem um
mandato.
Já os filhos do presidente não têm mandato para dar
ordens na administração da República. Carlos foi eleito vereador, pode
cuidar dos inúmeros problemas da cidade do Rio. Eduardo, seu irmão mais
novo, foi eleito deputado federal e tem um mandato a exercer na Câmara.
Os dois ontem estavam no Twitter se revezando em críticas a Mourão.
Eduardo, a propósito, também não é — é bom lembrá-lo disso —o ministro
das Relações Exteriores. O cargo está mal ocupado, é verdade, mas isso
não dá ao filho número três a liberdade de assumir o comando da política
externa. Flávio, o primogênito, atingido por um escândalo na largada,
que ainda não explicou, ficou mais quieto inicialmente. Mas já
apresentou uma ideia completamente sem sentido de acabar com a reserva
legal nas propriedades rurais. Como senador, ele deveria ter a
responsabilidade de estudar, por alto que seja, os assuntos sobre os
quais quer fazer algum projeto. [a bagunça, até mesmo a indisciplina, protagonizada pelos filhos do presidente Bolsonaro, até que é administrável.
Basta o presidente decidir levar a sério o exercício do cargo para o qual ELE, PESSOALMENTE, foi eleito, chamar os 'pimpolhos' e dizer para o Carlos:
- vc foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, é seu DEVER, sua OBRIGAÇÃO, estar lá, exercendo seu mandato, sua ausência continuada, sua desídia com o mandato que o povo lhe concedeu, pode até justificar sua cassação;
Já para o senador Flávio lembrar que ele não é assessor do presidente da República, não é ministro - se Bolsonaro o quisesse exercendo um desses cargos o teria nomeado - foi eleito para SER SENADOR e tem o DEVER, a OBRIGAÇÃO de bem e fielmente cumprir seu mandato, ou a ele renunciar e pedir que o pai o nomeie ministro ou equivalente;
Para o Eduardo, lembrar que apesar da grande votação, foi eleito DEPUTADO FEDERAL e tem o DEVER, a OBRIGAÇÃO de exercer o mandato que lhe foi conferido na Câmara Federal. Caso não queira ser deputado, sugerir o mesmo que sugeriu para o senador Flávio.
Após explicar, de forma didática e séria, as funções públicas para as quais foram nomeados e TEM O DEVER DE EXERCÊ-LAS, BEM E FIELMENTE, o presidente pode então informar aos dignos filhos que caso algum deles queira falar com o Bolsonaro, o pai, devem promover tal conversa sem invadir reuniões (não consta que algum deles tenha invadido uma reunião de Bolsonaro com ministro, com o vice-presidente, ou outra autoridade) e conversar pessoal e reservadamente com o pai - sem sair alardeando antes ou após a reunião o tema da mesma.
Se o assunto tratado for de caráter oficial, qualquer manifestação pública sobre o conversado fica ao exclusivo critério da autoridade maior - o presidente da República - e deverá ser feita pelo porta voz do presidente.
Essas simples medidas bastam para enquadrar os filhos do presidente, deixar claro que eles o óbvio = quem foi eleito presidente da República foi o JAIR BOLSONARO = e assim não podem, nem devem, interferir no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro - o pai extremoso - deixa um canal aberto para os filhos, de forma reservada, desfrutarem do amor paternal e oferecerem o amor filial ao pai.
ACABOU A ENCRENCA.]
Mas mais do que terem mau
desempenho como parlamentares, os três filhos do presidente criam
dificuldades para o país atacando integrantes do governo do pai. Uma
frente de constrangimento vem do autodenominado filósofo Olavo de
Carvalho, a quem Carlos e Eduardo, e o próprio presidente, prestam uma
patética vassalagem. Os ataques que, dos Estados Unidos, ele dispara
contra pessoas como o ministro Santos Cruz, ou o próprio
vice-presidente, não teriam a mais remota relevância. Têm destaque
quando o presidente posta em rede social uma entrevista na qual ele
mistura seus costumeiros palavrões, pensamentos rasteiros, com críticas a
integrantes do governo.
[outra aberração, ou fantasma, que atrapalha o Governo Bolsonaro é uma figura chamada Olavo Carvalho e que até agora não teve nenhuma utilidade ao governo do capitão;
o que ele tem feito é semear a desarmonia, a cizânia, fazer comentários que não são da sua alçada, tuitar asneiras, ofender pessoas de bem;
tal individuo vive há décadas longe do Brasil, homiziado nos Estados Unidos, e que se dependesse do tal Olavo para obter votos, Bolsonaro não teria chegado sequer aos 100.000 votos.
Se o tal Olavo resolver privilegiar o Brasil e o Governo Bolsonaro com sua ausência, em no máximo uma semana será lembrado por, no máximo, meia centena alienados. Seus comentários, seus palpites, suas sugestões, não servem para nada e só atrapalham o Brasil.
Olavo de Carvalho tinha um site - Mídia Sem Máscara - que parece foi desativado, o que lamentamos já que ele poderia usar aquele domínio para veicular suas encrencas e provocações, sem sentido e/ou necessidade e sem forçar audiência.
Aliás, ele se auto intitula filósofo e são pessoas do seu tipo, do seu comportamento, que fazem com que exista um brocardo (com o qual não concordamos) que diz: "A filosofia é uma ciência
tal que com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual."
Presidente Bolsonaro, peça ao filósofo de Virgínia para favorecer com sua ausência e silêncio ao Brasil, ao seu Governo e a todos os brasileiros e as coisas vão melhorar.]
O país está em uma enorme crise. Ela foi
em grande parte herdada da última administração, mas o ex-presidente
Temer tinha reduzido a dimensão do problema e deixado uma série de boas
propostas prontas para serem assumidas pelo governo. [preferimos destacar que o termo 'última administração' se refere ao governo da escarrada ex-presidente Dilma Rousseff, já que o governo Temer só não deixou o Brasil em melhores condições pela sistemática sabotagem promovida pelo ex-procurador-geral da República, o tal Janot - aliás, as denúncias daquele ex-PGR, fundadas em grande parte em delações dos açougueiros de Anapólis, que até a presente data ainda não foram homologadas pelo STF.] Cabia ao presidente
Bolsonaro aproveitar o momento de otimismo com a sua eleição e tomar
decisões que ajudassem a tirar o país dessa longa estagnação.
A
confiança na capacidade do governo Bolsonaro está derretendo entre os
agentes econômicos e o mercado financeiro. Sua popularidade está em
queda rápida. E isso, na visão dos analistas, tornará mais remota a
possibilidade de o governo aprovar as necessárias reformas econômicas. Enquanto
o país se preocupa com problemas reais — a alta taxa de desemprego que
não cede, as projeções do PIB que desabam, a falta de perspectiva do
país, o dólar que volta a rondar a casa de R$ 4,00 — a família
presidencial gasta o seu tempo, e a nossa paciência, postando críticas a
supostos inimigos do pai, mesmo quando estão dentro do governo, como o
vice-presidente Hamilton Mourão. [conveniente lembrar que o vice-presidente Mourão, FOI ELEITO, e é indemissivel.
Mesmo que fosse demissivel, nãda existe que justifique tal medida.
Na campanha o general Mourão, se empolgou e falou algumas coisas que não soaram bem, mas, desde que foi empossado que tem honrado o cargo, inclusive, quando no exercício da Presidência da República.] Há, sinceramente, problemas maiores no
país do que eventuais divergências de opinião entre Bolsonaro e seu
vice. As trapalhadas dos filhos também seriam vistas como cômicas — que
de fato são — se o presidente não fosse tão dominado por seu círculo
familiar. Por isso é que um assunto menor passa a ser um problema da
política nacional.
Míriam Leitão - O Globo