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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A besta quadrada leva a taça - Augusto Nunes

 Revista Oeste

Dilma é eleita a melhor do ano por economistas que acham que 30% de 30% não é 30% de 30%

 

Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado 

Ouvi pela primeira vez um discurso de improviso de Dilma Rousseff no verão de 2010, quando Lula já decidira transformar em sucessora a chefe da Casa Civil. Fiquei atônito
Na forma, o palavrório era um desfile de frases sem começo, meio e fim, desentendimentos entre sujeito e predicado, plurais com “sss” amputados, verbos no infinitivo acaipirados pelo sumiço dos “rrr”, reticências que anunciavam abruptas mudanças de rumo que também não chegariam a lugar nenhum, vírgulas bêbadas atrapalhando o trânsito das palavras, fora o resto. No conteúdo, o falatório empilhava platitudes de debutante e maluquices.

Das duas, uma: ou eu me transformara numa cavalgadura ou aquela mulher era uma perfeita besta quadrada.   
Não havia uma terceira hipótese. 
Nos dias seguintes, enquanto examinava com lupa meus próprios escritos, mantive sob estreitíssima vigilância tudo o que Dilma dizia. 
Com a sofreguidão dos obsessivos profissionais das crônicas de Nelson Rodrigues, comecei a assediar todo jornalista que tivera alguma conversa com Dilma Rousseff. 
Segurava-lhe os braços e repetia o interrogatório: “E então? Deu para entender alguma coisa? Ela disse alguma frase compreensível?”.

Um deles garantiu que a entrevista transcorrera normalmente.
       Outro afirmou que ela sempre se mostrava bem mais desembaraçada em conversas a dois. E quase todos estranharam minha aflição: ninguém havia notado nada de estranho em Dilma Rousseff. 
Eu certamente andava exagerando. E então fui socorrido pelo jornalista Celso Arnaldo, um craque em língua portuguesa e bom senso que se tornara colaborador do blog que eu mantinha no site de Veja. “Essa mulher fala um subdialeto indecifrável”, liquidou o assunto Celso Arnaldo. 
Quem dizia que compreendia o que vinha da boca de Dilma estava mentindo, concluímos. Ponto final.
 
Foi esse blog que batizou o mistério linguístico e deu o furo mundial: Dilma Rousseff, e ninguém mais no mundo, falava dilmês.  
Nos meses e anos seguintes, a coluna acompanhou com tamanha atenção a estranha figura que há tempos me dei conta do paradoxo sem precedentes. Dilma é a única chefe do governo brasileiro desde 1978 com quem nunca conversei. 
Mas talvez seja quem eu mais conheça. Nunca serei fluente em dilmês, até porque para tanto é preciso não falar coisa com coisa. Mas aprendi o necessário para afirmar, no começo da campanha eleitoral de 2010, que o Brasil poderia ser presidido por uma candidata perto de quem dona Maria I, a Louca, seria considerada um exemplo de sensatez.

A advertência não impediu que o neurônio solitário de Dilma ganhasse a disputa pela Presidência em 2010. 
 (Cumprimentei pela façanha o principal adversário, José Serra: não é fácil ser derrotado por uma concorrente com severas avarias na cabeça.) Tampouco evitaria a reeleição com o triunfo sobre Aécio Neves e o maior desastre econômico sofrido pelo país neste século. A essa altura, já era tratada como piada de péssimo gosto pelo Brasil que pensa e presta. Foi essa parte saudável da nação que exigiu o despejo de Dilma depois de descobertas as pedaladas criminosas e impôs o impeachment ao monumento à cegueira coletiva.

Durante cinco anos e meio, a seita que tem num presidiário o seu único deus aplaudiu o desfile de espantos. Dilma anunciou, entre tantas outras ocorrências assombrosas, que por trás de toda criança há um cachorro oculto, que uma ponte é muito importante porque une um ponto a outro, que é gravíssimo permitir que a pasta saia do dentifrício, que 13 menos 7 é igual a 9, que 30% de 30% não é 30% de 30%, que a pandemia só seria liquidada pelo isolamento horizontal porque as famílias vivem na horizontal e o coronavírus — muito esperto, muito solerte — aprendeu a atacar sempre na horizontal.

O PT, embora menos esperto, menos solerte, tratou de manter Dilma longe de palanques desde o fiasco da candidatura ao Senado por Minas Gerais em 2018. Lula, capaz de deixar pra trás a família inteira se for esse o preço de uma vitória nas urnas, não reservou um espaço para a companheira no latifúndio ministerial com 39 gabinetes de luxo. Preferiu mandar Dilma Rousseff para a China, que no cérebro despovoado de neurônios do presidente é o país mais longínquo do planeta (e mesmo assim, quem diria?, foi invadido por Napoleão Bonaparte, pelo menos na cabeça de Lula). 

O País do Carnaval já foi considerado o país das oportunidades. 
Hoje é um viveiro de oportunistas de picadeiro. 
Há pouco mais de três anos, por exemplo, a paranaense Janja da Silva era namorada de preso. Hoje é primeira-dama. 
Aos 20 anos, Dilma Rousseff militava num grupelho que acha possível derrubar à bala o governo militar, sepultar o regime capitalista e instalar a ditadura do proletariado. Hoje, a jovem assaltante de bancos é a sessentona que ganha uma fortuna por mês para presidir o Banco do Brics.

Está feliz como pinto no lixo, confirma a mais recente aparição de Dilma na internet. A bordo de um avião, ouve de uma passageira a exclamação: “Viajando de primeira classe!…”  
A mais rabugenta governante da História foi à réplica: “Lógico, querida. Eu sou presidente de banco, querida. E você acha que presidente de banco viaja como?”. Dito isso, seguiu em frente para alojar as malas em alguma parte do bagageiro que nunca lembra qual é.

Enquanto isso, na primeira classe da Emirates:

“Eu sou Presidente de Banco, querida”.
— Roussef, Dilma (2023) pic.twitter.com/jEjdS8WyQc— Renata Barreto (@renatajbarreto) December 13, 2023


Não se sabe direito o que anda fazendo na China. Ninguém sequer ouviu falar de um único e escasso projeto relevante produzido por sua gestão. Mas o que fez, faz ou deixou de fazer foi considerado suficiente pelo Sistema Cofecon/Corecons, que reúne o Conselho Federal de Economia e os Conselhos Regionais de Economia, para outorgar-lhe a máxima condecoração da entidade: Mulher Economista de 2023. É possível que, isolada na China, Dilma tenha aprendido a somar, subtrair, multiplicar e dividir. Se isso aconteceu, os economistas eleitores e a economista eleita se merecem.

Preciso agora descobrir o local do evento. Dilma certamente vai falar. Tomara que seja de improviso. Faz tempo que não ouço uma peça retórica em dilmês castiço.Meme com frase de Dilma Rousseff | Foto: Reprodução/Redes Sociais 
 
 

 
 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Xingu e Gaza - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

 

Luta por terra

São Félix do Xingu (PA), em imagem de arquivo.
São Félix do Xingu (PA), em imagem de arquivo.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
 
São Félix do Xingu, no Pará, está a 1,6 mil quilômetros de Brasília. Gaza está a 10 mil quilômetros. 
Para os brasileiros em geral, Gaza é vizinha e São Félix do Xingu é no fim do mundo. Não sei se é a tal síndrome de vira-lata, diagnosticada por Nelson Rodrigues, em que a vida brasileira vale menos que as outras, ou se é um mecanismo de fuga, identificado por Freud, que faz a gente se interessar menos pelo próprio país e viver algum sonho d’além-mar. 
Faz semanas que fervem os espíritos de brasileiros da Vila Renascer, resultado de um assentamento do Incra em 1994, “indevido”, segundo a Funai, na reserva Apyterewa, de 980 mil hectares, onde em 1998 viviam 218 índios Parakanã. [em um cálculo rápido, pouco mais de 4.000 hectares para cada indígena.] 
 
Veio ordem para desalojar os colonos, que plantam cacau e criam gado de subsistência, e demolir tudo, inclusive a escola. 
Como eles não têm para onde ir, resistem. 
A Força Nacional está lá, helicópteros, Ibama, Funai – e o que acontece tem sido considerado irrelevante pelos pauteiros das redações em geral. 
O que aconteceu em Israel serviu para justificar a omissão com os brasileiros expulsos de território brasileiro.  
Todos esquecemos que foi assim que saímos do litoral; foi assim que passamos por cima da Linha de Tordesilhas. Até que, nesta semana, tivemos o primeiro sangue derramado. Um dos que resistiam recebeu dois tiros – um no tórax e outro no abdômen. 
Notícias de lá contam que o prefeito ligou para o governador Helder Barbalho, que ligou para o presidente Lula, que mandou suspender a operação de retirada.

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Enquanto isso, no Mato Grosso do Sul, a mil quilômetros de Brasília, dois ônibus desembarcam 80 índios em Rio Brilhante, e invadiram uma fazenda de 400 hectares, com 7 mil sacos de soja recém-colhidos e milho por semear. O ex-governador Zeca do PT, hoje deputado estadual, denunciou a invasão na Assembleia e afirmou que ele e Lula pensam o mesmo: garantir os direitos dos indígenas, mas nunca concordar com invasões de terras produtivas. 
Zeca do PT foi quem abriu as porteiras da agropecuária do estado para o candidato Lula se eleger pela primeira vez presidente.
 
Esses episódios mostram uma insegurança fundamental que afeta o território nacional: a insegurança fundiária, agravada após a interpretação do Supremo do marco temporal deixado pelos constituintes
Ela é um dos lados da insegurança pessoal, patrimonial e jurídica, que nos afeta, que torna o futuro imprevisível. 
Quem poderia fazer alguma coisa, o presidente do Senado, declarou em Paris que não vai buscar medidas populares, “porque qualquer instabilidade é muito ruim para o país”
Manter o atual estado de coisas, para ele, é melhor. 
Significa manter o status quo. Vamos fingir que está tudo muito bem, porque afinal, a mais de 10 mil quilômetros de distância, o Hamas quer eliminar Israel e Israel quer eliminar o Hamas. [enquanto discutem quem vai eliminar quem, Israel aprimora sua pontaria bombardeando civis palestinos na Faixa de Gaza e aplicando um bloqueio implacável - cortou o suprimento de alimentos, água, energia,  medicamentos, gás - que atinge homens, mulheres, crianças e idosos que tentam sobreviver naquela região.
A leitura da matéria adiante linkada, publicada em O Globo, é um excelente exemplo do complexo de vira-lata:
 
"Benjamin Netanyahu recebe título de cidadão honorário de Rondônia em meio a guerra com o Hamas

'... De acordo com o decreto legislativo 2.403, de 11 de outubro de 2023, publicado no Diário Oficial desta segunda-feira, e assinado pelo presidente da Casa, o deputado estadual Marcelo Cruz (Patriota), Netanyahu foi merecedor da homenagem "pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Rondônia" embora o político israelense nunca tenha pisado na unidade federativa do norte do país...'"]
 
 
Quando e se acabar por lá, estaremos de volta por aqui, desfrutando a paz dos passivos e dos omissos.
 
Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A estrela do xerife - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza 


 

Era uma vez uma democracia graciosa e frágil como uma donzela inocente, bonitinha e ordinária como uma santa de Nelson Rodrigues. Ela vivia vagando por aí cheia de dúvidas e vulnerabilidades, muito instável e inconstante. Até que surgiu o xerife.

O xerife era um personagem decidido, resoluto, que não precisava de nada nem de ninguém para fazer acontecer e mover a roda da história com energia e impetuosidade. Ele então dirigiu-se à democracia, aquela donzela frágil e hesitante, e determinou: fica sentadinha ali no canto, sem dar alteração, que agora é comigo.

Foi maravilhoso. Toda aquela instabilidade decorrente da existência errática da mocinha débil foi corrigida e substituída pelos poderes resolutos do xerife.  
A confusão de opiniões díspares que poluíam o senso comum foi erradicada num instante. 
Instaurando o regime da lisura informacional, com tolerância zero para comentários impuros, insolentes e antidemocráticos, o homem da estrelinha prateada botou ordem na bagunça. 
Quem dissesse coisa errada perdia a língua - e ponto final. [cuidado Fiuza... não começa a dar ideia..]  Como ninguém tinha pensado nisso antes?

Talvez até tivessem pensado, mas ainda não tinha aparecido ninguém com a desenvoltura e a objetividade suficientes para acabar com as gracinhas no recinto. O xerife era o homem certo no lugar certo, porque não tinha problema de inibição. Nem de timidez. Nem de vergonha. Nem de juízo. Nem de semancol. Como diriam William Shakespeare e William Bonner, todo herói é meio sem noção.

Enquanto redigimos este texto, chega um pedido de direito de resposta de Shakespeare, que somos obrigados a acatar e passamos a transcrever: “Me tira dessa, companheiro. Não tenho nada com isso. Me erra. Ass: Will”.

Pronto, está feita a reparação em favor do dramaturgo inglês. Se chegar um pedido do Bonner e a Justiça do Xerife considerar procedente, acataremos da mesma forma, sem discussão. Tudo pela lisura informacional.

A salvação da democracia acabou levando também à salvação da imprensa. 
Os jornalistas andavam meio perdidos, sem saber direito o que panfletar e a quem bajular. 
O xerife preencheu essa lacuna. Era tudo falta de um comando firme. Daí em diante foi um show de liberdade de expressão. 
Confiante de que o xerife era a lei, a imprensa formou um consórcio para ratificar, legitimar e exaltar tudo o que ele fazia. 
Assim surgiu uma prodigiosa onda de manchetes triunfais sobre quebras de sigilo, arrombamentos, pés na porta, mordaças, intimidações, coações, atropelos e perseguições por um mundo melhor.
Políticos, empresários, banqueiros, médicos, advogados, juízes e demais categorias aderiram ao gigantesco bloco de legitimação dos poderes magníficos do xerife
É bem verdade que a sociedade ficou dividida, mas não havia polarização: metade era de cúmplices e a outra metade era de covardes. Como acontece em toda democracia absolutista, a cumplicidade e a covardia se complementam - e confluem para a harmonia do todo. 
Na hora da eleição, por exemplo, não houve espaço para desavenças e ondas de ódio. O xerife esclareceu de saída: vai ser o que eu quiser, como eu quiser.

Alívio geral. Covardes e cúmplices se abraçaram e foram felizes para sempre lambendo as botas do xerife.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Um líder sem povo - Revista Oeste

Augusto Nunes

Os eleitores de Lula atravessaram a campanha acampados nas pesquisas 

Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Shutterstock

Luiz Inácio Lula da Silva - Foto: Shutterstock 

Nos dez últimos dias da campanha, as multidões de eleitores de Lula que transbordam das pesquisas de intenção de voto não deram as caras nas ruas. 
Enquanto partidários de Jair Bolsonaro ocupavam tais espaços, para saudarem a passagem do candidato à reeleição, o favorito das lojinhas de porcentagem gastava a voz crescentemente rouca em entrevistas a emissoras de TV, reuniões com aliados ou empresários, uma aparição na quadra da Portela e duas discurseiras para plateias amestradas. O bisonho desempenho do ex-presidente confirma que, no fim das contas, faz sentido deixá-lo mais tempo em casa do que em público.

Em 22 de setembro, por exemplo, incorporou mais vogais e consoantes ao abarrotado baú de declarações desastradas. Irritado com a evocação de uma crítica feita pelo maior adversário, qualificou-a de “uma estupidez de alguém que é um pouco ignorante, é o que ele é, mesmo, um pouco ignorante”. Poderia ter parado por aí, mas o Lula modelo 2022 sempre vai em frente. “É aquele jeitão bruto dele, de capiau lá do interior de São Paulo, aquele capiau de Registro, bem duro assim, bem ignorante”. (Errou a cidade: Bolsonaro nasceu em Glicério.) Engatou a terceira marcha e completou o insulto a milhões de paulistas do interior.  “Tem gente que acha que ser ignorante é bonito, e não é”, ensinou o setentão que vive espancando o idioma português e as boas maneiras. “O que é bonito é você ser educado, ser um cara refinado como eu”, gabou-se. Dois dias depois, com medo de reprisar o fiasco na Band, escapuliu do debate no SBT para protagonizar em São Luís do Maranhão a colisão frontal entre o Lula real e o refinado imaginário. Zanzando no palco, o orador que vive lastimando a ausência de coisas que poderia ter materializado nos seus oito anos de governo ressuscitou um exotismo inverossímil: a varanda de 2 metros quadrados que tanta falta faz às moradias populares financiadas pela Caixa Econômica Federal.

“Todo mundo sabe como sou e como ajo no governo”, recitou sempre que alguém lhe cobrava a plataforma mantida em segredo

Na capital maranhense, Lula pareceu definitivamente convencido de que nenhum vivente destes trêfegos trópicos será feliz sem esse espaço tão diminuto quanto indispensável. “Eu até falei pro cara da Caixa: vamos fazer a sacadinha do pum!”, declamou o orador no clímax do falatório que agitaria a internet nos dias seguintes. “O sujeito não está bem da barriga, ele não tem que ficar incomodando a mulher dele, vai pra varandinha fazer as suas coisas”, detalhou. Logo atrás, sua mulher, Janja, desmanchou-se no sorriso de aprovação, imediatamente reproduzido por um bando também risonho. Refinamento é isso aí.

Nada disso ameaçou a liderança do ex-presidiário no Datafolha, no Ibope que mudou de nome e em outros institutos engajados na luta para devolver o poder ao grupo que fez do governo federal uma gazua de dimensões siderais. Nada disso pareceu inquietar jornalistas que passam o dia jurando que Lula vencerá no primeiro turno, mas atravessam a noite rezando pelo sucesso do golpe do “voto útil”, que garantiria a presença do chefe no segundo turno. Quem vê as coisas como as coisas são enxerga com nitidez um populista que, a poucas horas dos 77 anos, está claramente fora de forma. 
O tom de voz sempre feroz está em descompasso com o conteúdo do discurso — tão pouco profundo que, na imagem de Nelson Rodrigues, uma formiga pode atravessá-lo com água pelas canelas. É difícil imaginar o Lula dos velhos tempos perdendo a calma com o Padre Kelmon durante o debate na Globo, um dos momentos mais patéticos registrados desde o primeiro bate-boca entre homens das cavernas.

Lula atravessou a campanha combatendo em duas frentes. Numa, tentou inutilmente reescrever o passado, que inclui a temporada na cadeia imposta por nove juízes de três instâncias ao criminoso enredado em casos de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 
 Os dois debates aos quais compareceu demonstraram o malogro dos truques concebidos para transformar bandido em xerife e mocinho em vilão, terceirizar a roubalheira e reiterar que, no faroeste à brasileira, é o fora da lei quem vence no fim.  
Acuado pelas descobertas da Operação Lava Jato, desprovido de álibis suficientemente criativos para resgatá-lo dos becos sem saída, Lula viu rasgada a fantasia que o tornava portador da alma viva mais pura do Brasil, talvez do mundo. Na segunda frente, aberta para que o candidato chegasse ao duelo de 2 de outubro sem apresentar um programa de governo, a seita que tem num caso de polícia seu único deus foi bem-sucedida.

A rigor, Lula só está comprometido com a exumação do Bolsa Família e a implantação da sacadinha do pum — projeto anunciado na metade de 2010, seu último ano no Palácio do Planalto, e reiterado em dezembro de 2021. “Todo mundo sabe como sou e como ajo no governo”, recitou sempre que alguém lhe cobrava a plataforma mantida em segredo. “O programa sou eu”, poderia ter simplificado. Seja qual for a formulação, eis aí uma informação perturbadora. Em 2003, ele vestiu a faixa presidencial num Brasil libertado do dragão inflacionário e num mundo que seria contemplado com dez anos de bonança na economia. O país e o planeta mudaram. Se Lula continua o mesmo, e pretende agir como agiu, ao eventual regresso ao Planalto se seguiriam crises de proporções sísmicas, como as desencadeadas pelos escândalos do Mensalão e do Petrolão.

A falta de multidões lulistas a fotografar induziu a imprensa camarada a festejar com pompas e fitas a adesão de políticos sem público e artistas sem voto. Colunistas de segundos cadernos têm louvado a bravura da cantora Maria Gadu, no momento em guerra para receber integralmente o cachê reduzido pelo contratante ao saber que a contratada afirmara no palco, aos berros, que Lula é a solução para os problemas do Brasil. 

Aos olhos de um analista da Folha de S.Paulo, por exemplo, o candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin demonstrou seu poder de persuasão ao incorporar à tribo lulista o ex-deputado federal Fábio Feldmann e três ex-prefeitos paulistas desgarrados do PSDB. 
Além de Alckmin, renderam-se ao pajé do PT alguns parteiros do Plano Real, que o PT amaldiçoou, Celso de Mello, o ministro do Supremo Tribunal Federal que viu no Mensalão a prova definitiva de que o bando lulista se orientava por um “projeto criminoso de poder”, e o também ex-juiz do STF Joaquim Barbosa, relator do caso. Os dois juízes aposentados [ZERO + ZERO = ZERO.] talvez tenham encontrado evidências robustas de que o bordel dedetizado em 2012 se tenha transformado no templo das últimas vestais.

O alistamento de ministros enfiados em pijamas pode inflamar o ânimo combatente dos ativistas de toga aquartelados no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral, esse agora onipresente puxadinho do Pretório Excelso. Também por isso Lula pôde dispensar-se de comícios, exonerar outros instrumentos de caça ao voto e reduzir-se a candidato sem programa. 
Com um antigo campeão de votos emudecido em casa, lutam por ele institutos de pesquisa, meios de comunicação que agonizam urrando e o alto comando da Justiça Eleitoral.  
Alexandre de Moraes, presidente do TSE e governador geral do inquérito do fim do mundo, escalou Benedito Gonçalves, ministro do Superior Tribunal de Justiça em missão na Justiça Eleitoral, para o papel de capitão do mato concentrado na perseguição de um inimigo comum. Em dias de festa, Lula afaga Benedito com tapinhas na face. Benedito retribui as carícias do padrinho hostilizando Bolsonaro em dias de festa, dias úteis, sábados, domingos e feriados.

Os sucessivos surtos de arrogância e insolência protagonizados pela dupla erguem um monumento ao abuso por dia. O presidente da República está proibido, por exemplo, de fazer gravações para o horário eleitoral no Palácio da Alvorada. Se o presidente é Jair Bolsonaro, ocupar uma sala do lugar onde mora é uso indevido de patrimônio público. 
Imagens da visita a Londres para o funeral de Elizabeth II? 
De jeito nenhum: mais respeito com a falecida. 
Fotos de Bolsonaro discursando na sessão de abertura da Assembleia Geral da ONU? Nem pensar: no exterior, o chefe de Estado deve esquecer que a eleição vem aí. 
A última do Alexandre é coisa de delinquente: ao ordenar aos delegados e agentes da Polícia Federal transformados em guarda particular que grampeassem o telefone do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, o ministro do STF estuprou a privacidade do chefe do Executivo, que usa frequentemente o mesmo celular.

Solto por uma obscena chicana do ministro Edson Fachin, absolvido pelo capinha William Bonner com o aval de Gilmar Mendes, Lula sonha sem vigilância com a censura à imprensa, o restabelecimento da política externa da canalhice e a imediata retomada da parceria promíscua com a Venezuela, a Nicarágua, a Bolívia, Cuba e ditaduras africanas de estimação, a volta das mesadas que engordam o MST, a reestatização dos cofres de estatais hoje em mãos da iniciativa privada, a ladroagem institucionalizada, a derrota política, econômica e moral do Brasil que pensa e presta.  

O problema é que ainda não foi revogado o artigo 1° da Constituição, e ali fica claro de onde emana todo o poder. 
As multidões atraídas por Bolsonaro, que apresentou seu plano de governo, podem ser vistas a olho nu e são tangíveis. 
A campanha eleitoral atestou que Lula esconde o passado, tenta ocultar o futuro e virou um líder sem povo.

Leia também “A pandemia de intolerância”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


 


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Depois de brigar com os fatos, jornalistas estão brigando com o povo - Gazeta do Povo

VOZES - Alexandre Garcia

Manifestações

Discurso de Bolsonaro é acompanhado por milhares de pessoas em Brasília.| Foto: Reprodução/Facebook

Estou notando que muita gente no jornalismo expressou surpresa pelo público que lotou as ruas e praças de praticamente todas as cidades brasileiras nas manifestações do dia 7 de setembro
Em geral, a gente só vê as grandes capitais, mas eu vi imagens de cidades do interior do Maranhão, do Acre, do Rio Grande do Sul, de toda parte. Foi no país inteiro. 
Isso surpreende muitos porque certamente estão acreditando nas pesquisas, embora tenham sido enganados pelas pesquisas em 2018. Mas estão insistindo naquele “me engana que eu gosto” e aí se surpreendem quando aparece um mar de gente, embora tenham feito a maior propaganda de que haveria violência nas manifestações para ver se as pessoas ficariam em casa. 
Na Avenida Paulista, em São Paulo, chegou a ter chuva, e mesmo assim ela esteve superlotada. Foi um mar de gente.
 
As pessoas não se dão conta do “passar recibo”. Estou falando de colegas meus. Contam que Flores da Cunha era viciado em pôquer e jogava no Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Certa vez, ele estava jogando e havia um sujeito atrás dele, “peruando” o seu jogo. 
Ele estava com todas as cartas para ganhar aquela rodada e jogou tudo errado. Olhou para trás e disse: “Sofre, peru”. Estou vendo que os que foram “peruar” as manifestações estão sofrendo.
 
Houve até aquela história da pergunta para o Aldo Rebelo, que foi ministro dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, foi filiado ao Partido Comunista do Brasil e atualmente está no PDT. Perguntaram a ele o que achava dos bolsonaristas “se apropriando” da bandeira nacional. Óbvio que a bandeira nacional é de todos. Então ele respondeu que as pessoas de esquerda jogaram a bandeira no chão, adotaram a bandeira vermelha, e isso foi a oportunidade para que Bolsonaro e seus seguidores erguessem a bandeira nacional
Bandeira que foi pisoteada pelos seguidores do outro lado, pisoteada e queimada como aconteceu em Curitiba e na Califórnia.

O mais grave de tudo é que esses colegas jornalistas, que têm brigado contra os fatos desde meados de 2018, agora estão brigando com o povo. Estão xingando o povo que foi para a rua, essa massa que foi para a rua. Estão esquecendo que a democracia é o governo do povo para o povo, o governo da maioria.

De condenado a candidato

O candidato Lula e seu companheiro de chapa, Geraldo Alckmin, fizeram um comício na noite desta quinta-feira em Nova Iguaçu (RJ). 

Foi um dia em que puderam festejar o registro da candidatura de Lula, mesmo ele tendo sido condenado em três instâncias, já que a condenação foi simplesmente anulada por um ato praticamente administrativo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin; ele depois encaminhou a liminar ao plenário do Supremo, que a aprovou.

No entanto, não aprovaram a candidatura de Roberto Jefferson (PTB), que foi indultado, depois de ser condenado pelo mensalão que ele mesmo denunciou. Aplicaram a Lei da Ficha Limpa ao Roberto Jefferson, como aplicaram na quinta-feira ao ex-governador Anthony Garotinho (União Brasil) no Rio de Janeiro; e ao senador Izalci Lucas (PSDB), que queria ser candidato ao governo do Distrito Federal. Fica estranho, a gente demora para entender uma coisa dessas.
O que Bolsonaro quis dizer

Eu demorei a entender a palavra que virou quase um adjetivo e que foi pronunciada lá no dia 7 pelo presidente Jair Bolsonaro. O tal do “imbrochável”. Parece o Antonio Rogério Magri, que inventou o “imexível”. 
Eu acho que entendi o que ele quis dizer porque o presidente sai do Palácio do Alvorada, preside como comandante supremo a parada militar, se despe da faixa presidencial, vai para outro palanque, daí para um carro de som numa manifestação com uma massa nunca vista em Brasília. 
Sai da manifestação, pega avião e vai para o Rio de Janeiro, onde comanda uma motociata do Aterro do Flamengo até o Posto Seis, em Copacabana. 
Comanda uma manifestação gigantesca e depois de tudo isso ainda vai ao Maracanã ver o jogo do Flamengo, onde foi aplaudido no estádio que vaia até minuto de silêncio, como dizia Nelson Rodrigues. Meu Deus, o homem não cansa. Deve ser isso o que ele quis dizer com “imbrochável”.[sendo recorrente: uma colunista do jornal O Globo, escreveu um verdadeiro tratado sobre o tema.
A Vera Magalhães, a jornalista que o presidente Bolsonaro disse ser apaixonada por ele - não larga o pé presidencial - também tuítou  sobre o tema.]
 
A eleição está chegando
Já estamos em 9 de setembro e está se esgotando o prazo para chegar ao 2 de outubro
 Se alguém ainda não escolheu seus candidatos, já está na hora de definir. Não é só para presidente da República, tem de escolher bem o deputado estadual, o deputado federal, o senador, o governador. 
Porque tudo isso influencia na vida de todos nós, dos nossos filhos e nossos netos. 
Vamos escolher os chefes de Executivo e os legisladores que fazem as leis estaduais e federais, que podem até mudar a Constituição. 
Vamos pensar bastante nisso. Vejam o que aconteceu no Chile e na Colômbia por falta de voto, por abstenções ou por votar em branco ou votar nulo. Tem de escolher, seja qual for o critério.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZE
 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

A BOFETADA NA DEMOCRACIA SE CONFIRMA NO DEBATE DA BAND ENTRE OS PRESIDENCIÁVEIS - Sérgio Alves de Oliveira

Estou a cada dia que passa mais convencido de que o maior sábio de todos os tempos em matéria de democracia foi efetivamente o pensador brasileiro Nelson Rodrigues. E com essas conclusões:
(1) "A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas,que são a maioria da humanidade",
(2)"Os idiotas vão tomar conta do mundo.Não pela capacidade,mas pela quantidade.Eles são muitos".
 
E não existe prova mais contundente que o pensador brasileiro estava certo, e que, lamentavelmente,o Brasil parece não escapar dessa sentença de "morte" (da democracia), que não (1) as entrevistas feitas no Jornal Nacional,da Rede Globo, por Willian Bonner, e Cristina Vasconcellos, com os candidatos presidenciais Jair Bolsonaro, e Lula da Silva, respectivamente, nos dias 22 e 25 de agosto,e (2) o debate entre os seis primeiros colocados nas pesquisas eleitorais, na Televisão Bandeirantes (Band), realizado em 28 de agosto.]
 
Todas as pesquisas eleitorais "Fake News" feitas pelos órgãos reconhecidos e devidamente cadastrados na Justiça Eleitoral, antes e após a abertura da propaganda eleitoral gratuita nos meios de comunicação, apontam na "polarização" da eleição presidencial de outubro próximo entre as candidaturas do atual Presidente, Jair Bolsonaro, e o ex-Presidente (e ex-presidiário) Lula da Silva, este último "liderando" as pesquisas (forjadas).
 
Essa "preferência" pelos  dois candidatos que polarizam a eleição, porém,de forma alguma  parte do "eu consciente" dos próprios eleitores,mas de forças "externas" que formam artificialmente esse "eu", de todo um "sistema" que penetra nos seus cérebros de maneira a conduzir o voto na urna, mesmo sem considerar a eventualidade de num "passe de mágica" do mundo dos computadores esse voto passe a ser "desviado" para  outro candidato.
 
Essas "forças ocultas" começam nas pesquisas eleitorais manipuladas, cujos resultados, invariavelmente, "corresponderão" à vontade do agente patrocinador da pesquisa,"paga" para obter  esse determinado resultado. Para tudo no mundo jurídico exige-se "prova", menos o que se relaciona à pesquisa eleitoral no momento do registro da preferência do eleitor. [tem mais um item no menos: quando a acusação é de atentado à democracia e contra um apoiador de Bolsonaro - prescinde de provas.] também não há nenhuma certeza de que o resultado apresentado pelo agente pesquisador irá refletir-se com fidelidade na pesquisa totalizada.Trocando em miúdos,não há provas da veracidade das pesquisas. E na quadra político-eleitoral ,que culminará com as eleições de outubro próximo,qual grupo político estaria com mais "musculatura" 
(financeira)para encomendar e pagar as pesquisas que lhe interessam? 
 
Mas não são só as pesquisas eleitorais que podem ser objeto de fraude. As "entrevistas" no rádio e na televisão também podem. A começar pelo fato de que os "entrevistados" podem ser selecionados pelas emissoras conforme estiverem à frente nas pesquisas que,como salientado, podem estar viciadas pela inverdade.Forma-se ,assim, um círculo vicioso.Um círculo vicioso da mentira.E são diversas as maneiras que também as entrevistas podem ser burladas. A primeira seria uma prévia combinação entre entrevistador e entrevistado, antes acertando "perguntas" e "respostas",e tudo depois jogado  na "cara" do telespectador desavisado. Outra maneira de fraudar entrevista  seria entregar previamente ao candidato o formulário com  as perguntas,já com as respostas,ou para que elas sejam estudadas e preparadas.
 
Mas o debate  entre os presidenciáveis na "Band",apesar da aparente isenção e imparcialidade na  apresentação,serviu para deixar muito claro que não são os melhores os candidatos que "polarizam" essa eleição,porém talvez os "piores". Isso ficou muito claro. E se toda  essa inversão de valores políticos têm o "aval" da Justiça Eleitoral, é porque o Brasil na verdade não tem nenhuma "justiça eleitoral",porém uma "(in)justiça eleitoral" ,que valida toda essa baderna para enganar os eleitores.
 
Mas se consideramos como verdadeira toda a lógica exposta no nosso raciocínio,e como  os brasileiros,politicamente,estão num irreversível dilema "político-eleitoral" ,tipo "se ficar o bicho pega,se correr o bicho come", ou seja,considerando o buraco político em que o povo brasileiro foi jogado pelo "sistema",*establishment",ou "mecanismo",certamente a melhor alternativa eleitoral de todas será a recondução do atual Presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro,que não lidera as pesquisas,porque o "sistema" certamente age na base da fraude, e não deseja a sua recondução, e por esse simples motivo ele deve ser o melhor entre os "dois". É preciso que o povo dê uma rasteira no "sistema".

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A democracia caolha do ‘11 de agosto’ - Revista Oeste

 J. R. Guzzo

Disseram que estavam fazendo uma manifestação em favor da “democracia”; era um evento em favor da candidatura Lula, e atraiu o mesmo público que atraem os comícios do ex-presidente 
 
Deveria ser, pelo que garantiam os formadores de opinião, os grão-duques da “análise política” e os peritos em nos dizer o que o povo está pensando a cada minuto, um momento decisivo na história das “lutas populares” neste país — a hora em que as massas, a uma só voz, se levantariam em defesa do ministro Alexandre de Moraes, das urnas eletrônicas e da volta de Lula à Presidência da República
Acabou sendo, no mundo dos fatos concretos, apenas mais um daqueles arranques penosos de cachorro atropelado, como diria Nelson Rodrigues — uma coisa sem graça, sem vigor e sem esperança. Chegaram a dizer, num surto de empolgação, que desta vez “o Bolsonaro” tinha ido longe demais com seus “ataques” ao sistema de apuração das eleições; desafiou a “sociedade civil”, e com a “sociedade civil” não se brinca. A resposta do povo seria a manifestação monumental em frente à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, no dia 11 de agosto, para a leitura da “Carta aos Brasileiros em Defesa da Democracia”. No fim, foi um fracasso miserável.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Freepik
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Freepik

A manifestação de massa não tinha massa; não chegou a ocupar nem o modesto Largo de São Francisco, onde já não cabe muita gente, e ainda menos qualquer das ruas vizinhas. 
 havia um único trabalhador de verdade para representar a classe operária. 
Nos muros da faculdade eram exibidos cartazes de protesto contra a “fome” e o “racismo”. Os peixes gordos foram admitidos dentro do prédio — as caras mais conhecidas, os advogados penais que cobram caro para defender ladrão, os empresários socialistas e mais do mesmo. 
 O resto ficou de fora, no frio e na chuvinha. “Voltei pessimista do Largo de São Francisco”, lamentou uma personalidade das classes culturais anti-Bolsonaro presentes no evento. “Pouquíssima gente, pouquíssimos jovens, os mesmos intelectuais de ideias mofadas de sempre, zero vibração.” Foi um resumo realista — em contraste com a visão geral da mídia, que continuou fiel à crença de que a carta “em defesa da democracia” tinha sido uma segunda chegada do homem à lua.

O Brasil, para dar um exemplo, tem 156 milhões de eleitores; a “carta”representa uns 0,2% disso

A carta, segundo disse no ar uma jornalista da televisão, teve 300 e tantas mil assinaturas, o que lhe pareceu algo francamente excepcional, pelo seu tom de voz, a ênfase em anunciar cada algarismo da cifra e o semblante de espanto diante do que lhe pareceu a imensidão do número anunciado. (Pelo menos uma das assinaturas, a do empresário Paulo Skaf, foi falsificada. Será que foi só uma?) 
E daí, se foram mesmo essas 300.000? 
Não é nada de mais — é apenas, de novo, a velha dificuldade da imprensa para lidar com elementos rudimentares do senso de proporção. O Brasil, para dar um exemplo, tem 156 milhões de eleitores; a “carta”representa uns 0,2% disso. 
O abaixo-assinado pedindo para o Senado julgar o impeachment do ministro Moraes já tem 3 milhões de assinaturas, ou dez vezes mais — e por aí vamos, na permanente operação de retirada que o jornalismo nacional executa sempre que encontra números pela frente. 
 
É o mesmo estado de espírito que leva às manifestações de negacionismo diante da queda no preço dos combustíveis. Outra jornalista, também da televisão, nos garante que a gasolina mais barata só interessa aos ricos — porque, pelo que deu para entender, só os ricos possuem carros que gastam muita gasolina. 
É como se a frota brasileira fosse formada apenas por SUVs Cayenne de R$ 1 milhão a unidade — e como se os milionários que possuem esses aviões estivessem angustiados com o que gastam para encher o tanque. 
Mas a frota tem mais de 60 milhões de automóveis, segundo o IBGE — para não falar nos caminhões e nos 25 milhões de motos, utilizadas sobretudo para o trabalho. 
Quer dizer que a queda nos preços não interessa a essa gente toda? 
Ou que todo cidadão que tem um carro é rico?

Em toda essa pregação pela democracia não aparece, jamais, a palavra “liberdade”

É essa maneira de ver o Brasil que conduz a funerais como o do Largo São Francisco. Cada vez mais o consórcio da mídia, dos intelectuais e da elite que se crê “de esquerdaapresenta sintomas de rompimento severo com a realidade objetiva; o resultado é que estão estabelecendo uma distância intransponível entre o Brasil que querem e o Brasil que existe. 

Na cabeça dessa gente, o “11 de agosto” é uma data de imenso apelo simbólico; na cabeça da maioria da população o 11 de agosto não significa nada. Disseram que estavam fazendo uma manifestação em favor da “democracia”; era um evento em favor da candidatura Lula, e atraiu o mesmo público que atraem os comícios da campanha eleitoral do ex-presidente. É a mesma coisa com a “carta”. Foi escrito lá que era um grito em favor do “estado democrático de direito”. 
 Era um grito em favor da esquerda, numa faculdade onde os professores são de esquerda, o centro acadêmico é de esquerda, os bedéis são de esquerda; até a cera do assoalho é de esquerda
Acham que é possível juntar multidões, e ganhar voto, defendendo o STF. Não percebem que o STF é uma das instituições mais desmoralizadas deste país; numa pesquisa publicada há pouco em O Estado de S. Paulo, só 16% dos brasileiros disseram que têm respeito pelo Supremo. Em toda essa pregação pela democracia não aparece, jamais, a palavra “liberdade”. 
Não se mencionam em nenhum momento o direito de livre expressão, o direito à liberdade política ou, na verdade, quaisquer direitos individuais. Não há menção, é óbvio, às prisões de jornalistas, de chefes partidários ou de deputados em pleno exercício de seu mandato — todos eles admiradores do presidente. 
 
Não há nenhuma objeção ao fato de que o ministro Moraes desrespeita a lei todos os dias, ao manter aberto o seu inquérito ilegal para investigar “atos antidemocráticos”. 
Também não se explica de forma compreensível, e com fatos reais, por que a democracia estaria sendo ameaçada no Brasil neste momento — e precisando de abaixo-assinados em sua defesa. Como assim? Alguém se sente ameaçado pela polícia secreta do presidente? 
Alguém foi proibido pelo governo de fazer alguma coisa? 
Algum apoiador da campanha Lula foi punido, ou teve os seus rendimentos bloqueados, por falar mal de Bolsonaro nas redes sociais, ou por desejar que ele morra queimado? 
Como a democracia pode estar ameaçada num país onde o STF, a cada cinco minutos, expede decretos exigindo que o presidente da República “explique” tudo o que passa pela cabeça dos partidos de esquerda — do desfile do 7 de Setembro à varíola do macaco?  
Um juiz, a pedido da mesma esquerda, proíbe um outdoor contra o comunismo no Rio Grande do Sul — e é o governo que ameaça a democracia?
 
Mais obscura ainda é a proposição de que para salvar a democracia o brasileiro tem de votar em Lula — pois é exatamente disso que estão falando, quando se deixam de lado a hipocrisia e toda a imensa tapeação que foi montada em torno do assunto
Por que votar em Lula é ser a favor da democracia e votar em Bolsonaro é ser contra? 
O voto livre é um dos direitos mais elementares do regime democrático; porque a “carta”, e todo o universo construído em torno dela, nega às pessoas o direito de votar no atual presidente do Brasil?  
Ele não está no cargo porque deu um golpe e sim porque foi eleito pelo voto de quase 58 milhões de cidadãos, nessas mesmas urnas que o STF trata como o Santíssimo Sacramento. 
No fim, ficam indignados quando uma postagem de Bolsonaro nas redes sociais, fazendo pouco da “carta”, tem 360.000 sinais de aprovação, e a postagem de Lula, fazendo elogio, tem 6.000
Será que é mesmo uma surpresa tão grande? 
É perfeitamente possível que “o 11 de agosto” e o seu fiasco não queiram dizer nada para o resultado final da eleição presidencial de outubro;
 a maioria dos eleitores nem tomou conhecimento de que aconteceu alguma coisa de especial nesse dia
Mas se é com a “carta”, e com o seu apoio em praça pública, que contam para voltar ao Palácio do Planalto, é melhor que comecem a refazer as contas.

Leia também “O Brasil que ‘não aguenta'” 

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 18 de julho de 2022

Querer lula na presidência equivale à mulher ingênua que opta a viver com um pilantra - Sérgio Alves de Oliveira

A tese que tento desenvolver é no sentido da similaridade entre a paixão e a união de uma mulher com um homem que lhe trará a desgraça, e a  escolha "democrática",de um presidente cujo perfil evidencia que  também causará  a desgraça de um povo .[que nada... o 'descondenado' é a alma mais honesta do mundo; apesar de condenador por vários crimes, por nove juízes, em três instâncias, foi descondenado devido ao fato que enviaram os processos para CEP errado.] Mas para que não sejamos alvo de insinuações maldosas  de "lacradores" de todo tipo,ou acusados de "marxista","feminista",ou seja lá o que for,a união a"dois" sobre a qual estamos cogitando é absolutamente independente do aspecto biológico "macho" e "fêmea".[de qualquer forma na linguagem neutra, versão mais científica, também não pode ser definida como entre um ser humano com vagina e outro ser humano com pênis.]
 
Por isso a "vítima" poderá ser também um homem,ou qualquer outra "coisa",ou "mistura". Somos pela total liberdade sexual de cada um, ou seja,como diriam  os franceses "chacun,chacun". Assim, cada qual "dá" o que gosta  e o que  sente vontade. E ninguém mais tem nada a ver com isso. Escolhemos a mulher (normal) como "vítima" nesse quadro hipotético,caso contrário teríamos que relacionar uma infinidade de "outros" tipos sexuais. E faltaria espaço nessa "democracia" dos costumes.
 
O eleitorado do "réu" Lula, nem importando se em quantidade capaz de elegê-lo presidente em outubro próximo, ou não, tem uma característica muito parecida à da mulher que se apaixona por um sujeito que todos sabem que não presta; Todo mundo  sabe,que o sujeito não vale nada,"menos" a própria mulher "vítima", a mulher apaixonada..
Comumente esse tipo de atração é ditada mais pelo coração e pelos sentimentos de satisfação e de  prazer do que pela razão propriamente dita.
 
Geralmente a mulher tomada pelo "vírus-do-amor" fica absolutamente insensível ante todos os questionamentos e eventuais conselhos para que se afaste do seu "amado". E desse modo evite infelicitar a sua vida. Deve ser daí a origem da expressão "o amor é cego".Que dá direito a apaixonar-se por qualquer "pilantra". E todos devem ter exemplos bem claros desse tipo de situação à sua volta.
 
Certamente não é desprovido de algum fundamento o apelido dado a Lula da Silva de "encantador de burros". E esse é o grande perigo de uma (pseudo)democracia,ou de uma "democracia" mal-formada,deturpada,"mascarada",que às vezes pode trazer mais prejuízos e infelicidade a um povo do que um governo reconhecidamente  ditatorial, absolutista. [a democracia à brasileira é a única que a pretexto de preservá-la certas autoridades violam seus princípios  - uma democracia que no entendimento de algumas autoridades tem que ser destruída para continuar presente.]
Nelson Rodrigues deixou imortalizadas duas frases respeitantes à democracia:(1)"a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas,que são a maioria da humanidade",e (2) "os idiotas vão tomar conta do mundo,não pela capacidade,mas pela quantidade.Eles são muitos".
 
Mas uma mulher ingênua, "burra", que se apaixona por um pilantra qualquer e passa a ter  uma vida em comum com ele tem muito mais facilidade de se "livrar" do "problema"  do que um povo que "casa" eleitoralmente com alguém e a ele fica  preso por regras jurídicas rígidas durante um certo tempo,e que seria o "preço" pago por esse povo para ter essa "democracia",mesmo que corrompida. [o pior é que o povo mesmo sentindo na pele as consequência da INcompetência e autoritarismo do governante, nas eleições usa o dedo podre para tentar reeleger o algoz; é um risco que o DF está correndo: Ibaneis, INcompetente e autoritário governador pretende ser reeleito e há o risco dos 'dedos podres', também chamados de idiotas,  o reelegeram. 
A salvação do DF está no retorno do Arruda que tem votos para tratorar o defensor do povo de Correntes - PI.]
Será que os idiotas serão maioria nas eleições de outubro de 2022, enquadrando os brasileiros,vergonhosamente, perante os olhos de todo o mundo - a minoria injustamente- nas trágicas definições de Nelson Rodrigues?
 

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo
 

 

domingo, 12 de junho de 2022

Posso falar? - Percival Puggina

 Volta e meia essa pergunta se apresenta à minha mente quando escolho certos assuntos... É incerto o espaço de liberdade de que dispomos. Há autoridades que não convém contrariar. Elas estão convencidas de que, assim, protegem o Brasil de autoridades que não convém contrariar.

         1. A sociedade e a confiança nas urnas eletrônicas como elas são hoje.

Tenho diante dos olhos a pesquisa Datafolha, conforme publicada pelo site G1 (27/05) a respeito da confiabilidade das urnas eletrônicas. O resultado da pesquisa, apresentada sob o título “73% dos brasileiros confiam na urna eletrônica”, é arrasador: 42% confiam muito, 31% confiam pouco, 24% não confiam e 2% não sabem. 
A malandragem da informação está em relação ao lado para onde é contado o termo médio. Pelo viés oposto ao adotado, a manchete seria “55% dos brasileiros não confiam na urna eletrônica!”. 
 
Confiar pouco na urna eletrônica é não confiar; confiar pouco na fidelidade da esposa é não confiar;  
confiar pouco em determinada empresa é caminho para o encerramento de suas atividades
confiar pouco num senador é certeza de voto em seu adversário; 
confiar pouco na urna eletrônica é sinal de pouca confiança. 
 
Então, eu redigiria assim o título da matéria sobre a referida pesquisa (Datafolha, note-se bem): “Apenas 41% dos eleitores brasileiros confiam na urna eletrônica tanto quanto os ministros do STF”. 
Ainda que desconhecêssemos o significado real do termo médio, é importante observar que os 24% que confiam nadinha nos aparelhos atuais, representam 36 milhões de eleitores que irão às urnas.  

Devido a esse sentimento, diferente do que o STF expressa, sucessivas legislaturas têm aprovado projetos de urnas com impressoras que o STF derruba, direta ou indiretamente (como Roberto Barroso fez no ano passado).

         2. Voto é coisa que se conta.

Nelson Rodrigues diria que a frase acima é o “óbvio ululante”. Ela foi reiterada ontem pelo presidente ao afirmar a uma repórter que o contestara dizendo não haver prova de fraude nas eleições nacionais: “Não se pode provar o que não se pode auditar”, ou seja, não se pode contar. 
A auditoria em determinado percentual de urnas aleatoriamente escolhidas seria suficiente para mudar por inteiro a confiabilidade do processo de apuração e apaziguar o ambiente institucional do país.

         3. O que não falta nesse tema são agravantes.

Ao contrário do que o bom senso recomenda na voz das ruas e das praças, a insegurança em relação aos processos de nossa democracia se agrava com a imposição de silêncio sobre o tema.  
Se agrava com a ativa instrumentalização do inquérito das fake news. 
Se agrava com a conduta antagônica de pelo menos nove ministros do STF que não ocultam seu desejo de ver pelas costas o presidente da República
Se agrava, por fim, quando a condução do processo eleitoral é confiada ao mais iracundo ministro, indisfarçável inimigo pessoal do presidente.  

         4. Tudo que começa errado desencadeia erros em cascata.

É o caso. Todas as tentativas de estabilizar o que foi sendo teimosamente desestabilizado não fizeram mais do que ampliar a incerteza, a insegurança e a instabilidade.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.