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sábado, 16 de abril de 2022

“Morte, onde está teu aguilhão?” - Percival Puggina

A partir do Iluminismo, a humanidade passou a conviver de maneira crescente com a noção idealista de um evolucionismo sempre positivo. Acreditava-se, então, que, assim como a natureza evoluía para formas cada vez mais complexas, o pensamento e a cultura se elevariam de maneira inexorável na direção da verdade e do bem.


Surpresa! A ciência criou a bomba atômica. A organização “perfeita” da sociedade abriu o século XX para os manicômios políticos, o racismo ideológico, a eugenia e as mais terríveis formas de totalitarismo que a humanidade conheceu. 
E os desencontros com a verdade foram tão flagrantes que a sociedade foi invadida por um relativismo que em tudo e por tudo dela se afasta. 
Paul Johnson, em seu admirável “Tempos Modernos”, relata esse fenômeno a partir das reflexões feitas por Einstein, aturdido perante o fato de que sua Teoria da Relatividade fora apropriada para atribuir consistência ao relativismo moral (que ele qualificava como doença), e registra: “Houve vezes, no final de sua vida, em que Einstein afirmou desejar ter sido um simples relojoeiro”.
A Paixão de Cristo e a Páscoa da Ressurreição nos colocam frente ao fato central da História.  
Para os cristãos, a história é História da Salvação. E Cristo é o senhor da História. 
Deus não é alguém que joga dados, como ironizavam alguns cientistas no início do século passado, nem está subjugado a outras leis que não a do Amor, que é a lei da própria natureza de Deus, pois “Deus é amor”. Como sustenta S. Paulo, quando até mesmo a fé e a esperança tiverem passado, permanecerá o amor porque Ele será, então, tudo em todos.
 
No século XIX, foi recitada a crônica da morte de Deus. 
No século XX, tentaram transformá-lO num bem de consumo supérfluo. 
No século XXI, seus inimigos acrescentam, no chulo desrespeito a Ele e à Sua Santíssima Mãe, mais e mais chibatadas à sua dor física. 
Sobre tudo e todos, porém, o Senhor da História venceu a morte (“Morte, onde está teu aguilhão?” I Cor 15, 55) para que tivéssemos vida plena e não quedássemos como personagens de Platão na Alegoria da Caverna, vendo apenas o fim de tudo porque o fim de tudo é tudo que o começo nos mostra.

Feliz Páscoa, portanto!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 6 de abril de 2020

“ONDE ESTAVA DEUS NAQUELES DIAS?” - Percival Puggina

 A pergunta lançada como um grito por Bento XVI ao visitar o campo de extermínio de Auschwitz em 2006 ecoa 14 anos mais tarde diante dessa versão hodierna da peste representada pelo Covid-19. Onde estava Deus quando permitiu o surgimento desse vírus que mata, enferma, esgota recursos materiais e financeiros, fecha igrejas, destrói empregos, joga bilhões de homens livres em prisão domiciliar? Lembro que a pergunta profundamente humana de Bento XVI foi estampada em todos os jornais e replicada em todos os idiomas. Causava um certo desconforto, uma espécie de cheque mate teológico aplicado às pessoas de fé. Até, claro, pararmos para pensar.

O Papa, qualquer Papa, é um ser humano sujeito às nossas mesmas angústias e inquietudes. Ele não fala com Deus todos os dias através do celular. Quem ainda não se interrogou sobre o silêncio de Deus? Quem, perante a dor, o sofrimento e a aflição, nunca clamou pela interferência direta do Altíssimo?

O paciente Jó, sofredor sempre fiel, nos fornece antigo exemplo bíblico desses brados da nossa débil natureza, que soam e ressoam através das gerações. A manifestação de Bento XVI, que ele mesmo chamou de grito da humanidade, foi humilde e reiterada expressão dessa mesma humanidade. Nem mesmo Jesus escapou a tão inevitável contingência: “Pai! Por que me abandonaste?”

Não conheço Auschwitz. Contudo, visitei o campo de concentração de Dachau e o memorial lá existente. Saímos, minha mulher e eu, com a impressão de havermos visitado um santuário onde a presença de Deus era quase palpável. E isso não se constituiu numa contradição. Ao contrário, aquele lugar de tantos padecimentos se converteu, de modo inevitável, em silencioso ambiente de reflexão e oração, no qual se percebe com nitidez o que acontece quando os homens, prescindindo do Senhor do bem, se bestializam e se convertem em senhores do mal.

É fácil imaginar, igualmente, a presença divina atuando nos incontáveis gestos de solidariedade que, por certo, ocorrem numa situação como aquela. Ativo no coração dos que o amam, ali agia o Deus de todas as vítimas, consolo dos que sofrem, esperança dos aflitos e destino final dos seus filhos. É claro que a nós pareceria mais proveitoso um Deus que atuasse como gerente supremo dos eventos humanos, intervindo para evitar quaisquer males, retificando a imprudência dos homens, proclamando verdades cotidianas em dizeres escritos com as nuvens do céu, fazendo o bem que não fazemos, a todos santificando por ação de seu querer e pela impossibilidade do erro e do pecado.

Nesse paraíso terrestre, nada seria como é e nós não seríamos como somos. Não haveria cruz, nem Cristo. Não haveria lágrimas, nem dor. Tampouco morte, ou vida. É o imenso respeito divino à nossa liberdade que configura a existência humana como tal e que nos concede o direito de bradar aos céus. No entanto, tão rapidamente quanto Deus nos ouve, ouve-nos nosso próprio coração. Sim, porque Deus estava ali, em Auschwitz, como estava em Dachau. Mas não havia lugar para ele no coração dos algozes.

Nesta quaresma das quarentenas, nesta semana que nos leva à Páscoa da Ressurreição, aprendamos com as lições da história, da ciência e da prudência. Aprendamos com o que acontece quando o materialismo, o relativismo e os totalitarismos investem na concretização de seus projetos de poder. Eles jamais abandonam o tabuleiro das opções e seus males sempre se fazem sentir.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.