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domingo, 31 de julho de 2022

Fake news é tudo aquilo de que eu discordo!- Adriano Marreiros

“O termo “fake News” era completamente irrelevante em pesquisas do Google que ocorreram antes da semana que se iniciou no dia 23 de outubro de 2016. (...)

Que evento poderia ter tornado um termo que nunca levantou a menor das preocupações pelo planeta Terra ao topo das prioridades jurídicas, políticas, sociais e “last but not least, policiais em todo o globo?  A resposta é simples, mas não seu contexto: a eleição americana que sagrou Donald Trump como o 45º Presidente americano em 8 de novembro de 2016."

Flávio Morgenstern

Nunca imaginei que ia chegar um tempo em que “eu não acredito nisso” seria a frase que eu diria com mais constância.  E sabe qual a última?!  Um amigo me contou que seu professor de universidade disse que a soberania do povo há que ser relativizada.  Em seguida falou de manipulação das informações por uma tal indústria” de “fake” News.  “Eu não acredito nisso!”. 
O pior de tudo é eu teimar em dizer essa frase constante diante de uma constância que deveria me fazer acreditar imediatamente em qualquer coisa nesse sentido, ainda mais se vier da majoritária parcela ideológica da imprensa e da academia: especificamente quanto a essa parcela totalitarista e antidemocrática, mas majoritária em seus campos, eu tenho orgulho de ser contramajoritário...

Mas essa colocação do tal professor ajuda a entender bem a coisa, revela muito...  Vamos trabalhar em partes como quem fatia ansioso um bife Ancho, enquanto não proíbem o consumo de carne.

Notem que ele fala em manipulação porfake” News.  E o que seriam fake News para ele e outros ideológicos?  “Fake News é tudo aquilo de que eu discordo” diria ele se falasse francamente Morgenstern, em artigo do best seller O Inquérito do Fim do Mundo, demonstra que a expressão “fake News” foi propositalmente introduzida e artificialmente multiplicada no debate público no contexto da eleição de Trump como um artifício para justificar os erros crassos decorrentes da análise política ser substituída por torcida ideológica: até então, as estatísticas do Google registravam pouquíssimo uso dessa expressão.  
Com isso, além de uma desculpa, davam o primeiro passo para justificar a escalada de censura que se seguiu, para garantir que ninguém mais vencesse contra o establishment.
 
Notem que ele fala em “indústria” de “fake” News.  Nessa parte, ele está se referindo a dois mitos, duas falácias que os ideológicos criaram.  A primeira delas são os tais “robôs” .  
A partir do momento que eles percebem que nas redes sociais existe a verdadeira Liberdade de Expressão, num nível que nunca houve antes, quando eles percebem que pessoas comuns, influenciadores e jornalistas independentes, sem apoio dos poderosos, podiam expor opiniões sem o controle, sem a censura de um editor, eles tinham que desestimular isso a todo custo,  inventar que não eram milhares de pessoas opinando, mas sim uma meia dúzia controlando robôs, poderia convencer muitos incautos e justificar, usando as verdadeiras “fake news”: o desprezo pela opinião da maioria afirmando que não era maioria . 
 
A segunda falácia é destinada a atingir os conservadores que conseguissem deixar claro que não eram robôs: bastaria chamá-los de milícias virtuais.  E por quê?  
Porque a expressão milícia teve seu sentido mudado, apropriado por bandidos que, como o tráfico de drogas, dominam grandes áreas do Rio e de outras cidades, formando um estado paralelo.  
Assim, qualquer um que tivesse uma opinião contrária ao establishment e comprovadamente existisse, passava a ser tratado como um miliciano, como um bandido desumano.  
Note que há poucos anos se falava até em cursos e treinamentos de MAV, “militância em ambiente virtual” (procurem no Google as notícias antigas sobre isso), que atuariam politicamente nas redes, de forma coordenada e organizada, divulgando material de forma centralizada, e isso não foi tachado de milícia virtual mesmo sendo um grupo treinado e que atuaria de forma coordenada.  Obviamente: não eram conservadores...

Com essas duas falácias, se consegue duas coisas: desumanizar quem não concordar com a “nobreza” iluminada e; deslegitimar a opinião majoritária das redes, negando que ela signifique o pensamento da maioria da população, negando representatividade a quem opina nas redes contra a opinião que determinaram como autorizada.

Completando a análise do que disse o tal professor, chegamos ao ponto principal: a confissão!!!  
Quando ele fala em relativizar a soberania popular chegamos ao ponto em que esse pessoal não aguenta a coceira na língua e confessa aquilo que já sabemos: o desprezo que eles têm pelo povo, e que o objetivo deles é submeter a maioria a um governo da minoria, mesmo que esses estratagemas não funcionem.  Não é à toa o orgulho de alguns se afirmarem contramajoritários.  

“O povo está certo só quando expressa as opiniões que nós queremos e vota em quem nós queremos” seria a frase que eles poderiam dizer, agora, se fossem sinceros. Mas, como a Aurora, eles não são.  Chamando de mentira, de “fake” News opiniões contrárias e até fatos, usando leftcheckers para garantir que opiniões contrárias à esquerda sejam censuradas, chamando de crime e de organização criminosa o funcionamento básico de qualquer rede social (algum influencer ou qualquer pessoa comum posta algo, muitos concordam e passam a divulgar espontaneamente, sem lideranças treinamento ou coordenação), surgiu o ambiente perfeito para uma censura progressiva que sob a cínica chave-mestra “a liberdade de expressão não é absoluta” e o complemento que não verbalizam – “e eu digo qual o limite caso a caso” – garantiu “liberdade” ilimitada aos que repetem, digo, dizem só o que eles permitem...  Em breve, se você não repetir o que Pravdas e Granmas oficialmente disserem, você não poderá publicar nada e as pessoas só conhecerão os fatos e versão permitidos...

E aí, por fim, surgiu a pandemia que garantiu a supressão de várias garantias e relativizou totalmente a Constituição.

Mas foi então, que Einstein descobriu a relatividade

E tudo que era espúrio passou a ser moralidade.

 Millôr Fernandes

P.S.  Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados.

-    Publicado originalmente no excelente Portal Tribuna Diária

-  O autor é mestre em Direito, membro do Movimento Contra a Impunidade (MCI) e do Ministério Público Pró Sociedade (MP Pró Sociedade), autor de “2020 D.C., Esquerdistas Culposos e Outras Assombrações” e de “Hierarquia e Disciplina são Garantias Constitucionais”.


domingo, 15 de maio de 2022

Porte de voz proibido (para conservadores)... - Adriano Alves-Marreiros

Tolerância libertadora, então, significa intolerância com movimentos da Direita, e tolerância com movimentos da Esquerda.

Herbert Marcuse. (Escola de Frankfurt).

 Porte de arma deveria ser proibido para pessoas de bem, até porque, segundo eles, pessoas de bem não existem.  Existem e importam apenas aqueles que querem nos empurrar o “bem maior” que é algo que não deve ser questionado.  Já para o pessoal ideológico, o porte de armas pode até ser ostensivo sem problemas: só eles precisam de segurança.  Suas vidas valem mais que as nossas.

Mas esse porte já se discute há muito tempo e sempre há tendências totalitárias que querem desarmar o porco espinho para os leões poderem fazer a festa...  Hoje estou falando de outro, que eles acham que é mais perigoso que pegar em armas: o porte de VOZ.  O porte de uma opinião própria que contrarie quem determina o que é politicamente correto: a turminha da ideologia, da revolução, da transformação social, de um tal “mundo melhor”[1]...

Minhas crônicas são tradicionalmente curtas. Prefiro assim: é o meu estilo.  Esta não será!  Se não gosta de ler coisas maiores e mais densas que um tuíte, sugiro ir ler outra coisa.  Esta será longa até para eu exercer o meu porte de voz o suficiente para me satisfazer...  Tenho que curtir o máximo enquanto posso, enquanto não caçam o meu porte.

Critiquei ontem o famigerado “garantismo” penal[2], doutrina consolidada por Aquele Italiano que não Deve Ser Nomeado.  Essa turma vive chamando os outros de “punitivistas” e, por vezes, até de “fascistas” (como ensinou o genocida Stalin), alegando que “punir não resolve”, “prender não resolve”.  Mas... prossigamos...

É curioso que tem gente que acha que o grande problema do país é a corrupção.  Besteira!  Como já explicou algumas vezes meu amigo Motta, o maior problema do Brasil é a impunidade: a corrupção é só uma das decorrências dela...

E o Brasil é engraçado.  “Em se plantando tudo dá”, segundo Pero Vaz.  Mas o Brasil vai além da agricultura nesse quesito.  Plantando-se uma ideia no solo correto, aquele que não oferece resistência ao arado, e por mais absurda que seja, você verá brotar uma colheita maldita sob aplausos, sorrisos e comemorações.  Aqui nós vimos, deste a década de 80, o crime aumentar com o laxismo penal e a cada ano o que se propõe é mais molezinha pra bandido...

A Análise Comportamental e a Análise Econômica do Direito mostram bem isso[3]...  A consequência punitiva sempre vai gerar uma menor probabilidade de repetição daquele padrão comportamental no futuro.  E o que se faz por aqui??? Quanto mais crime menos se pune e mais se propõe punir menos e forma de evitar a prisão: e até o processo!!!  Atribuem por vezes a Einstein, por vezes a outros gênios, uma frase que define a estupidez como continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.  Mas não precisa ser gênio para entendê-la e concordar com ela.  Não importa quem disse: isso é o básico de lógica...

E o pior é que a liderança dessa turminha sabe disso.  Eles entendem bem que punir faz diminuir o comportamento do futuro: não só do punido (que recordará de sua história comportamental), como das demais pessoas (que perceberão um contexto de punição quando ocorre aquele comportamento).  No Brasil, a história comportamental do bandido e o contexto geral são de impunidade.  Mas essa turminha sabe, sim, que punir adianta: a questão é o QUE eles querem punir.  
Aliás, o que, não: QUEM, porque para o politicamente correto, não importa o que se diz, mas quem diz.  E os conservadores devem ser calados, como ensinou, por exemplo, Marcuse: na frase que abre esta crônica...

Briguet avisou que o crime sem castigo levaria ao castigo sem crime.  E hoje vemos isso: plantou-se a impunidade para crimes e colhemos a punição para quem não praticou crimes.  E não só a punição com insegurança, medo, perda de propriedades, de sonhos, de pessoas queridas... Prisão mesmo: e longa!

Hoje vemos, cada vez mais, a punição pra quem não muda de pensamento adotando a narrativa politicamente correta e a submissão ao establishment.  A punição para quem não esconde dentro de si as verdades proibidas pela narrativa.  A punição para o dissidente.  O crime de pensamento, crimidéia: como profetizado por Orwell.  Hoje, nada é mais grave que discordar de ideologia extremista, e os extremistas (estes os reais), usando da falácia do espantalho, afirmam que os dissidentes são aquilo que não são, afirmam que os dissidentes fizeram o que não fizeram.  
Aí os criticam duramente pelo falso ser ou falso fazer que inventaram, repetem histrionicamente, como papagaios, palavras de ordem — que hoje são expressões como “discurso de ódio”,  “extremistas”, “fascistas”, “liberdade de expressão não é para (...)”, sem sequer saberem o que significam e querem punir os dissidentes por isso: puni-los com a cadeia da qual querem tirar traficantes, assaltantes, assassinos...  Deve ser pra dar vaga pra isso como Pessi já explicou narrando fatos antigos [4] e mostrando quem eram os “fascistas” segundo os comunistas...

Não à toa tantos “garantistas” apoiam duras punições a crimes de opinião, mesmo que QUAISQUER deles não fossem puníveis em razão de dispositivos constitucionais expressos e autoaceitáveis.  Os malditos anos em que todos usaram máscaras foram justamente aqueles em que mais máscaras caíram: e só então percebemos quem já as usava muito antes da pandemia...

A corrupção do CP e do CPM nem é o pior tipo de corrupção.  Nem é o pior mal que o corrupto pode praticar.  O pior é quando ele se vale dela (ou até sem ela) para conseguir implantar a corrupção da inteligência de que bem fala o Gordon, que não é o Comissário amigo do Batman: muito embora até o Batman esteja correndo perigo de ser desconstruído, ou ser calado, se resistir à desconstrução...

“Assim  é  narrada  por  Aleksandr  Soljenítsin  a chegada de seu grupo de prisioneiros a um campo disciplinar  -de “extermínio pelo trabalho” -da  União  Soviética,    no  dia  14 de agosto de 1945 (coincidentemente, a mesma data em que foi proclamada a rendição do Japão). A cena iria se repetir no final do  Verão  e  no  Outono  daquele  ano  em  todas  as  ilhas  do “Arquipélago  Gulag”,  onde  a  chegada  dos  “fascistas”  abriria caminho  para  a  libertação  dos  presos  comuns  (o  que  incluía estupradores,  assaltantes  e  traficantes  e  até  mesmo  desertores), anistiados por Stalin. Mas  quem  eram  os  fascistas,  afinal?  Eram  os  presos políticos  enquadrados  no  artigo  58  do  Código  Penal  de  1926. Segundo  observou  Soljenítsin,  não  havia  debaixo  da  cúpula celeste  conduta,  desígnio,  ação  ou  inação  que  não  pudesse  ser punido  pela  mão  pesada  do  art.  58.  De  seus  catorze  parágrafos nenhum  era  interpretado  “de  maneira  tão  ampla  e  com  tão ardente   consciência   revolucionária   como   o   décimo –‘A propaganda    ou    agitação    que    contenham    um    apelo    ao derrubamento  ou  enfraquecimento  do  Poder  Soviético...  e também a difusão, preparação ou conservação de literatura com esse mesmo conteúdo’” –, cuja pena não possuía limite máximo!

Diego Pessi

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

P.S.  Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados: 

P.S.2: Compre o livro de crônicas.

Publicado no excelente portal Tribuna Diária, originalmente 

 

sábado, 16 de abril de 2022

“Morte, onde está teu aguilhão?” - Percival Puggina

A partir do Iluminismo, a humanidade passou a conviver de maneira crescente com a noção idealista de um evolucionismo sempre positivo. Acreditava-se, então, que, assim como a natureza evoluía para formas cada vez mais complexas, o pensamento e a cultura se elevariam de maneira inexorável na direção da verdade e do bem.


Surpresa! A ciência criou a bomba atômica. A organização “perfeita” da sociedade abriu o século XX para os manicômios políticos, o racismo ideológico, a eugenia e as mais terríveis formas de totalitarismo que a humanidade conheceu. 
E os desencontros com a verdade foram tão flagrantes que a sociedade foi invadida por um relativismo que em tudo e por tudo dela se afasta. 
Paul Johnson, em seu admirável “Tempos Modernos”, relata esse fenômeno a partir das reflexões feitas por Einstein, aturdido perante o fato de que sua Teoria da Relatividade fora apropriada para atribuir consistência ao relativismo moral (que ele qualificava como doença), e registra: “Houve vezes, no final de sua vida, em que Einstein afirmou desejar ter sido um simples relojoeiro”.
A Paixão de Cristo e a Páscoa da Ressurreição nos colocam frente ao fato central da História.  
Para os cristãos, a história é História da Salvação. E Cristo é o senhor da História. 
Deus não é alguém que joga dados, como ironizavam alguns cientistas no início do século passado, nem está subjugado a outras leis que não a do Amor, que é a lei da própria natureza de Deus, pois “Deus é amor”. Como sustenta S. Paulo, quando até mesmo a fé e a esperança tiverem passado, permanecerá o amor porque Ele será, então, tudo em todos.
 
No século XIX, foi recitada a crônica da morte de Deus. 
No século XX, tentaram transformá-lO num bem de consumo supérfluo. 
No século XXI, seus inimigos acrescentam, no chulo desrespeito a Ele e à Sua Santíssima Mãe, mais e mais chibatadas à sua dor física. 
Sobre tudo e todos, porém, o Senhor da História venceu a morte (“Morte, onde está teu aguilhão?” I Cor 15, 55) para que tivéssemos vida plena e não quedássemos como personagens de Platão na Alegoria da Caverna, vendo apenas o fim de tudo porque o fim de tudo é tudo que o começo nos mostra.

Feliz Páscoa, portanto!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 16 de outubro de 2021

PENSAR, ATIVIDADE PERIGOSA - Percival Puggina

Pensar, opinar, escrever, falar, atributos inerentes à vida civilizada, se vão tornando atividades de risco, como escalar penhascos, fazer trilha em geleiras, descer cachoeiras, caçar cobras
Com estonteante rapidez, a sempre fugidia verdade foi sequestrada, estatizada, ganhou versões oficiais e foram cancelados os entendimentos divergentes. 
Criou-se um novo conceito de Ciência, em que algo que tenha recebido essa designação não pode ser discutido. Einstein era bem menos peremptório.
 
A título de exemplo, menciono a confiabilidade de urnas eletrônicas, engenhocas que não permitem a impressão e conferência do voto pelo eleitor. 
Ou, o que talvez seja mais grave, a presunção de que apontar evidentes desvios de conduta no STF e no Congresso Nacional é criar animosidade contra as instituições da democracia. 
A ser assim, há que se perguntar a razão pela qual apenas a instituição presidência da República está ao desabrigo dessas invejáveis prerrogativas. 
Que discurso fajuto é esse que serve apenas a dois dos três poderes de Estado?

Li na Gazeta do Povo de 25 do último mês de setembro: “No recém-lançado Programa de Combate à Desinformação (PCD), que será conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para combater conteúdos que, na visão do Tribunal, possam ser enquadrados como "desinformação e narrativas odiosas" direcionadas à Corte, o Supremo informou que uma das medidas será a aproximação do Comitê Gestor às agências de checagem. De acordo com a Resolução 742, que institui o PCD, esses veículos são responsáveis por “buscar solucionar o problema da desinformação e dos discursos de ódio”.

Há algum motivo para que tais agências, postas a serviço da cúpula do Poder Judiciário nacional, não ampliem o garrote já aplicado à liberdade de opinião? Elas nasceram desacreditadas por seu estrabismo ideológico e político, perfeitamente identificável na bênção concedida a “narrativas”, chavões e rótulos que não passam de lixo retórico esquerdista.

Muito do que vejo acontecer me traz à mente a famosa Comissão da Verdade, espécie de oráculo polifônico, a sete vozes, criado pela ex-presidente Dilma para carimbar uma “narrativa” sobre mocinhos e bandidos nos governos militares. Muito me bati contra aquela iniciativa que atribuía tal tarefa a um pequeno colegiado, como se repete agora a propósito de temas polêmicos do momento.

A prova cabal de seu facciosismo se evidencia no fato de jamais haverem exposto a absurda fake news que responsabiliza o presidente da República pela morte de 600 mil pessoas...  [a argúcia do ilustre articulista, traz o pensamento se este modesto escriba ao transcrever uma matéria sobre as 600 mil mortes atribuídas à Bolsonaro, por um equívoco,  digitasse em vez do nome Bolsonaro, o nome Barroso, Pacheco, Fux, com certeza seria preso e condenado a jamais ver a luz do sol - óbvio, sem julgamento ou sentença, apenas a título de prisão preventiva, por atentado à democracia, à Constituição ou ao 'estado democrático de direito'.
Mas, quando a fake news das 600 mil mortes é praticada pelo Calheiros, Aziz, Rodrigues, Humberto Costa (codinome drácula) ou pela mídia militante e atribui aquelas mortes do presidente Bolsonaro NADA OCORRE. A fake news assume o status de 'verdade dos fatos.] 
Para o STF, porém, estão credenciadas a uma parceria com o poder na nobre tarefa de rotular ciência, consagrar verdades e tornar sacrílego o ato de as contradizer.

Caramba! Este país cansa, mas amanhã é outro dia!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 16 de abril de 2020

O terrível silêncio da matéria - Percival Puggina



Vivemos numa época em que a negação de verdades é vista como um serviço à liberdade e evidência de sensatez. Pelo viés oposto, afirmá-las é dar sinais de prepotência intelectual. “Tudo é relativo!”, proclama-se, enquanto se anuncia que a experiência individual (individualismo) ou comunitária (coletivismo) são as únicas fontes de conhecimento. Não é preciso muito esforço para reconhecer o quanto as afirmações de tais fontes são variáveis e não verificáveis. Na prática, o que se produz por essa via é a grosseira valorização do palpite: “Aqui vocês (ou você) decidem legitimamente sobre tudo!”

Quem diz que tudo é relativo afirma o relativismo como uma verdade. Certo? No entanto, se tudo for relativo, também essa “verdade” será relativa e a própria frase destrói o que pretende ensinar, a menos que admitamos o relativismo como a única verdade não relativa.Existe a verdade e existe o bem! E quem nega isso, ao contrário do que imagina, não presta serviço à liberdade. Quantos pais, ocupados com bem educar seus filhos ouvem deles: “Puxa, só aqui em casa as coisas são assim!”. Tal frase é, talvez, a primeira evidência que colherão de o quanto foi a sociedade invadida por conceitos destrutivos de seus próprios alicerces. 

O historiador Paul Johnson, admirável autor de “Tempos Modernos, o mundo dos anos 20 aos 80”, discorrendo sobre a repercussão social do trabalho científico de Einstein, escreveu:
“O mundo está desconjuntado, como tristemente observara Hamlet”. Era como se o globo giratório tivesse sido tirado de seu eixo e lançado à deriva num universo que não mais comportava normas e medidas preestabelecidas. No princípio dos anos 20 surgiu a crença de que não mais havia quaisquer absolutos: de tempo e espaço, de bem e de mal, de conhecimento, sobretudo de valores. Erroneamente, a relatividade se confundiu com o relativismo, sem que nada pudesse evitá-lo.


Mais adiante, referindo-se ainda a Einstein, o autor registra o desalento do cientista ao perceber as consequências da teoria da relatividade na vida real das pessoas.
“[Einstein] viveu para presenciar a transformação do relativismo moral – para ele uma doença – em pandemia social, assim como para ver sua equação fatal dar à luz o conflito nuclear. Houve vezes, no final de sua vida, em que afirmou desejar ter sido apenas um relojoeiro.”

Ora, tanto a física de Newton, quanto a de Einstein e a de Max Plank eram válidas para os respectivos parâmetros, mas sair delas para armar barraca nos porões da dúvida sobre bem e mal, certo e errado, verdade e mentira é maltratar a ciência e torturar os cientistas. O mundo desconjuntado de Hamlet volta as costas a Deus, enquanto se preocupa com a natureza, com os animais e as plantas, e descuida absolutamente do ser humano e da sociedade, da cultura e da civilização.
 Que sentido pode haver em orientar-se pelo terrível silêncio da matéria, relativizando tudo que de fato importa ao homem?


Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.



sábado, 13 de julho de 2019

Prêmio araponga de jornalismo

Te aviso. Ou te detono, o que for melhor pra mim


Memória, verdade e justiça: 50 anos da luta LGBTI+. Jornalista, Gleen Grenwald - 25/06/2019 (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Guilherme Fiúza (publicado na Forbes Brasil)

Conversa entre dois jornalistas investigativos de último tipo:
— E o Deltan, hein?
— Caiu bonito!
— Lava Jato já era.
— A gente é bom.
— Jornalismo é missão, meu caro.
— Missão cumprida!
— Como assim?
— Ué, não era pra ferrar os menudos do Moro?
— Era, mas não é pra falar isso.
— Porra, só tem a gente aqui.

— Tá, mas se amanhã alguém me compra eu posso te detonar…
— O que?!
— Não… “Compra” que eu digo é se alguém me encanta com uma verdade superior.
— Ah, tá. Tipo o Lula fez com a gente.
— É… Tipo isso.
— Cara, mas Lula só tem um!
— Você que pensa.
— Ah, dane-se. Prefiro me concentrar na missão jornalística. Se mudarem a missão, eu mudo o jornalismo. Aí fica tudo igual.
— Perfeito. Acho que você entendeu o Einstein.
— Ele não era tão relativo assim. Mas confesso que estudei muito.

— Seu professor de física era aquele gente boa do PSOL?
— Não lembro se era física, mas PSOL com certeza.
— É, não dá pra lembrar tudo.
Se esses caras da Lava Jato tivessem tido a formação democrática que a gente teve não tavam aí tentando censurar os outros.
— Muito menos censurar um preso político como o Lula, perseguido injustamente no lugar de um amigo dele.
De um, não. De vários. O do triplex, o do sítio, o da cobertura em São Bernardo, o do terreno do Instituto Amigo do Lula, o de Angola, o da Medida Provisória, o da sonda, o da…
— Resume aí, cara. O Lula tem um milhão de amigos. Ponto.
— Imagina: um milhão de amigos querendo ouvir uma entrevista sua de dentro da cadeia e esses fascistas da Lava Jato tentando te censurar…

— Pois é. Pros que tão presos também até nem faz tanta diferença, mas os que tão soltos precisam saber o que fazer com a grana…
— Não, mas esse lance de decidir se é pra investir em pneu velho, em mortadela, em juiz, em jornalista… isso os advogados repassam.
— Tudo bem, mas não é a mesma coisa. É angustiante ficar sem ouvir aquela voz.
— O fato é que a Lava Jato perdeu e a entrevista foi linda!
— Impressionante a pureza do Lula quando não tem nenhum fascista pra atrapalhar.
— Eu acho que vi a auréola dele.
— Aquilo é efeito.
— De quem? Da Polícia Federal?
— Claro que não. Quando a alma é muito honesta ela projeta uma luz que só jornalista investigativo como a gente enxerga.
— Ah, tá. Mas então dá no mesmo.

— É, dá no mesmo.
— Qualquer coisa se não ficar legal a gente edita.
— Pronto.
— Missão é missão.
— Se mudar, me avisa.
— Te aviso. Ou te detono, o que for melhor pra mim.
— Aprendo muito com o seu pragmatismo.
— Em primeiro lugar a lealdade.
— Ah, tanto faz. Depois a gente edita isso.
— Ok.



Veja - Blog do Augusto Nunes
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Litigância de má fé



Perspectiva de mais uma derrota da defesa de Lula na luta incansável e inglória de soltar o presidiário não basta, é preciso que a 2.ª turma do STF pare insanidade e processe autores por desrespeito à Justiça

O envio pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, do recurso de Lula pedindo liberdade e cancelamento dos processos em que ele foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, por este ter sido nomeado ministro da Justiça pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, tratado como mero “adversário” do chefão petista, deverá fazer jus à frase de Einstein de que repetir sempre o mesmo esperando resultados diferentes é sinal de insanidade. 

E arquivá-la. Afinal, já passou da hora de os tribunais superiores deste País pararem de dar guarida a chicanas do tipo e, em vez de simplesmente, negar pedidos e permitir que novos sejam feitos, começarem a processar seus causídicos e o réu por litigância de má fé. Este foi um dos comentários que fiz no Estadão às 5, ancorado por Emanuel Bomfim e retransmitido pela TV Estadão de seu estúdio na redação do jornal por Youtube, Twitter e Facebook na terça-feira 6 de novembro de 2018, às 17 horas.


 

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Saiba o que levou Joesley Batista a se internar no Einstein. E a velha questão da justiça divina

Criminoso premiado teve uma lombalgia, a segunda causa de ida das pessoas ao médico. Vocês achavam o quê? Que ele teria dor de consciência?

Nada de grave com Joesley Batista. Podemos manter a esperança de que ele ainda acabe na cadeia. O que o fez internar-se no Hospital Albert Einstein foi uma lombalgia, a segunda queixa que mais leva as pessoas ao médico.

Lombalgia? É: dor lombar, dor de cadeiras, dor de rim, dor nas ancas, dor nos quartos, lumbagem, lumbago…  Vamos convir, né? Quem realmente está com dor no lombo, ainda que metafórica, é o povo brasileiro, que foi assaltado, ludibriado, enganado, pendurado no gancho como gado…
E vê um de seus algozes flanando por aí.

A lombalgia poderia ser até um princípio de justiça divina, né?, já que não se deve procurar a justiça dos homens nas cercanias de Rodrigo Janot e Edson Fachin.
Mas não é. Deus não se ocupa dessas coisas.
Isso é com a gente.
E, claro!, noto que “as ancas” ou “os quartos” de Joesley, para empregar um vocábulo que orna com açougue, até podem doer. O que não lhe dói mesmo é a consciência.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo