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sábado, 7 de outubro de 2017

Bolsonaro na Veja: uma rápida nota

Ana Clara Costa, a jornalista que assina a peça de propaganda contra o deputado Jair Bolsonaro para a Veja desta semana, é uma daquelas figuras típicas do jornalismo tucano: formada na Wharton Business School, ela não é ignorante o suficiente para acreditar em economia marxista ou keynesiana, mas subscreve toda a agenda cultural da esquerda, venera o lumpemproletariado (o povo oficial, formado pelas “minorias”) e sente nojo do povo real, que se preocupa com segurança pública, está farto da roubalheira da classe política e repudia a corrosão dos valores tradicionais simbolizada em exposições como a do MAM e do Queermuseu.[entre os que são contra o deputado Jair Bolsonaro, está a turma que chama pedofilia de arte.]


Não surpreende, portanto, que ela tenha se colocado a serviço de figuras como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Dória (a quem ela parece ser mais simpática nas redes sociais) e esteja trabalhando, ativamente, contra o candidato que dará mais trabalho aos dois.

Não há nenhuma grande novidade em nada disso, mas a capa da revista é um tanto curiosa. Apostando em uma chamada em letras vermelhas e com um subtítulo repleto de adjetivos insultuoso, extremista e outras platitudes do tipo –, a Veja tenta alertar seus leitores (em número cada vez menor) de que o deputado federal representa uma grande ameaça. No interior da revista, o conteúdo da matéria segue a mesma linha, com o agravante de dizer algumas bobagens sobre o professor Olavo de Carvalho, mas o que mais chama a atenção é mesmo a capa, que em um certo sentido, mais profundo do que a turminha do André Petry poderia imaginar, acerta o alvo.

O deputado Jair Bolsonaro representa mesmo uma ameaça. Ele ameaça os arranjos do establishment brasileiro, de que fazem parte a Veja e o tucanato em geral; a hegemonia da tríade PT-PMDB-PSDB e a sobrevivência de seus esquemas de corrupção; a instrumentalização das instituições de ensino para a formação de idiotas úteis como os que assinam a edição da revista; e a cultura do banditismo que, todos os anos, vitima centenas de milhares de brasileiros. O deputado ameaça, ainda, todos aqueles que abominam a idéia de serem governados por alguém que pensa, fala e age como a maior parte do povo brasileiro e que, no mínimo, atrapalha um bocado os mais diversos esquemas de poder conduzidos por grupelhos iluminados que desejam ditar os rumos do país.

P.S.: Para o tal do especial sobre a Revolução Russa, os jornalistas da Veja produziram matérias que, comparam Lênin ao presidente Donald Trump e, dentre outras coisas, tecem loas às supostas conquistas que as mulheres obtiveram com o regime comunista.
P.S. 2: O efeito da matéria certamente será o oposto do esperado. A um ano da eleição, como nos mostrou o Trump, “all media is good media”.

Por:

Ler a matéria completa: A 'ameaça' Bolsonaro, clique aqui




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O regime militar e a esquerda desarmada

A historiografia universitária brasileira que trata do regime militar é muito limitada. 

Além do viés ideológico em favor daqueles que foram derrotados militarmente, também não explora certas temáticas que, pesquisadas com seriedade, trariam sérios problemas para a narrativa vitimista da esquerda. Vejamos o exemplo da ocupação dos departamentos universitários pela militância esquerdista durante a ditadura.
 
A hipótese do professor Olavo de Carvalho, para esse caso, é a de que os militares só combatiam a esquerda armada, deixando bastante à vontade aqueles segmentos esquerdistas desarmados, inclusive para ocupar cátedras universitárias. Em outras palavras, os militares nunca levaram a sério o combate ideológico aos comunistas e, pior ainda, foram responsáveis pela anulação das principais lideranças de direita no país. Nesse sentido, em artigo publicado no Diário do Comércio (02.03.2012), o autor d'O Jardim das Aflições nos apresenta várias possibilidades a serem exploradas.


Sabemos que, logo após 1964, figuras como Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e alguns outros perderam as suas cátedras, com aposentadorias compulsórias. O que discutimos, aqui, porém, é a relação leniente dos militares com a intelectualidade da esquerda desarmada ao longo do regime. O próprio FHC teve liberdade suficiente para criar o CEBRAP e receber financiamento dos americanos em pleno ano de 1969, depois do AI-5, período identificado pela “historiografia vermelha” como “Anos de chumbo”. 

Mas, voltemos ao que nos interessa. Tendo cursado ciências sociais na década de oitenta, sempre me chamou a atenção o fato da maioria dos meus professores terem uma trajetória de esquerda. Alguns, inclusive, tendo partido para o exílio, voluntariamente ou não. Ora, se estávamos numa ditadura militar de “direita” e o processo de seleção dos docentes era a partir de convites, como foi que aquela turma toda conseguiu assumir essas vagas em pleno “campo inimigo”?

Lamentavelmente, ainda não temos uma pesquisa de escopo nacional sobre esses processos que, tenho razões para acreditar que ocorreu em várias universidades federais. Entretanto, apresento, a seguir, alguns elementos que podem nos auxiliar no entendimento do fenômeno, pelo menos no âmbito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mais especificamente, no campus II, na cidade de Campina Grande.


Entre 1976 e 1980, a UFPB teve como reitor o professor Lynaldo Cavalcanti, engenheiro civil (formado na UFPE) com vasta experiência em agências estatais durante o regime militar, sobretudo naquelas que estavam voltadas para o setor educacional. Deixemos que uma das professoras, hoje aposentada, nos relate como se davam as contratações que aqui nos interessam:
Aquele foi um período marcado pela contratação de novos professores temporários, porque não havia vagas para contratações de professores efetivos. (...) Era um programa estimulante, diferente do programa de Professores Substitutos de hoje, inclusive pela facilidade e “flexibilidade ideológica” com que se faziam as contratações desses professores colaboradores. Uma prova disso é que o programa [de Pós-Graduação em Sociologia] se beneficiou muito desses professores que tinham sido fichados pelo DOPS ou outros órgãos de repressão no período da Ditadura Militar, e que, por este motivo não encontravam emprego muito facilmente em outros lugares. Era uma conjuntura muito especial e nisso aí o professor Lynaldo Cavalcanti também atuou positivamente, “quebrou lanças”. Ele dizia: “Tudo bem professora, a contratação desse aqui emperrou, por estar fichado no DOPS, mas a gente resolve”. E ele resolvia mesmo! (Josefa Salete Barbosa Cavalcanti) (*)


Importante realçar que não estamos falando, aqui, de quatro ou cinco militantes de esquerda que, escondendo o seu passado, eram contratados. Ao contrário, foram dezenas de intelectuais devidamente conhecidos (alguns, fichados no sistema de inteligência militar) que foram contratados para dar continuidade a uma revolução cultural que já vinha sendo gestada durante o próprio regime, como mostram inúmeras publicações produzidas pela máquina editorial da esquerda na época – Zahar, Civilização Brasileira, Alfa/Ômega, Brasiliense, Martins Fontes, Hucitec etc.


Portanto, a relação da esquerda desarmada com o regime militar ainda está por ser contada pela nossa historiografia. Nesse sentido, vale a pena seguir a hipótese do autor d’O Imbecil Coletivo, para entendermos o “ponto zero” do processo através do qual as nossas universidades se transformaram em madrassas do pensamento totalitário de esquerda.

(*) Revista Raízes, Campina Grande, vol. 22, nº 01, p. 125–143, jan./jun. 2003. MESA REDONDA: IMPRESSÕES, MEMÓRIAS E REGISTROS DOS 25 ANOS DA PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA EM CAMPINA GRANDE.



Rodorval Ramalho é sociólogo e professor da Universidade Federal de Sergipe.