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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Diretor diz estar ‘apavorado’ com repercussão de filme sobre filha de Moro

Ministro da Justiça pediu que a PF investigue o responsável pelo curta de ficção que retrata o sequestro da filha do ex-juiz em troca da liberdade de Lula




O roteirista Alexandre Barata Lydia, de 55 anos, estava acostumado a produzir curtas-metragens que não passavam de algumas centenas de visualizações no YouTube. O cenário mudou quando ele decidiu se aventurar pelo campo político. O último filme de Lydia, intitulado Operação Lula Livre, o tornou alvo de um inquérito que a Polícia Federal (PF) abriu a pedido do ministro da Justiça, Sergio Moro, para investigar se o roteirista praticou ameaça e apologia ao crime.

OPERAÇÃO LULA LIVRE?


Lydia conta que o filme de 15 minutos estava há duas semanas no YouTube antes de viralizar em redes sociais na quarta-feira 4 e atingir quase 100 mil visualizações. O curta-metragem conta a história de um casal de guerrilheiros que sequestra a filha do ministro “Sergio Mauro” para exigir a liberdade do ex-presidente “Luiz Jararaca da Silva”. O ministro Sergio Moro tem um casal de filhos adolescentes.  O cativeiro tem bandeiras a favor da libertação do verdadeiro Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, e cartazes contra o presidente Jair Bolsonaro.

No filme, os guerrilheiros resolvem libertar a refém após ouvirem um apelo do ex-presidente. Antes, a dupla escreve na testa da garota a expressão “Lula Livre”, em ato inspirado nos caçadores de nazistas do filme Bastardos Inglórios (2009), do diretor Quentin Tarantino.

Em entrevista a VEJA, Lydia diz estar “apavorado” com a repercussão do filme. Ele deletou o curta do YouTube e vai apagar os perfis em redes sociais de sua produtora, a Cactos Intactos. “Não esperava essa reação. Achei melhor tirar o filme já que ele criou tantos celeumas e aborrecimentos. Pensei que seria algo localizado, mas até um jornalista da Noruega já me ligou”, disse.   Lydia afirma que é vítima de um processo de censura e teme o desfecho da investigação conduzida pela PF. “Não duvido que o Moro pode me prender. Se ele fez isso com o Lula, que, na minha opinião, não cometeu crime e nem tem culpa de nada, o que ele pode fazer com um zé ninguém como eu? Só porque ele ficou com raivinha por achar que estava sendo ameaçado, o que não está. Qual é a ameaça de um cara querer fazer um filme? Se um cara quer fazer um sequestro, ele vai lá e faz.” [o assunto tem que ser investigado com rigor, visto que além de ser apologia ao crime, é uma ameaça e um estímulo a que qualquer maluco e/ou sem noção - 90%, no mínimo, da militância petista, tem essas duas características ou pelo menos uma - usar o roteiro do filme como plano de sequestrar crianças, incluindo, sem limitar, a filha do ministro da Justiça, para obter a liberdade do presidiário petista.
 
A entrevista do cineasta - trecho destacado acima - deixa claro que o individuo tem interesses políticos (se declara vítima de um processo de censura) considera o presidiário Lula inocente e demonstra responsabilizar o juiz Sérgio Moro pela prisão do criminoso e condenado petista, sendo eleitor assumido do PT - o que não é crime mas um ponto a mais que somados aos demais consolida suspeitas de ser capaz de ações extremas para soltar Lula.
 
Em todas as manifestações feitas à Veja, ele demonstra não gostar do ex-juiz Sérgio Moro. 
Evidenciando um elevado grau de aversão.]

Segundo o roteirista, o curta-metragem foi rodado com equipamentos próprios e sem que os atores cobrassem cachê. Ele diz que o filme tinha o propósito de ridicularizar militantes políticos que pregam a luta armada como uma solução para os problemas do Brasil. “O final da história mostra que a luta armada é ridícula. Em conversas, tomando cerveja, sempre ouço pessoas dando esse tipo de ideia. Para mim é um absurdo. Os guerrilheiros são dois quixotescos que não têm vontade nenhuma de fazer mal à menina”, afirma.

“É um absurdo quererem forçar uma barra dizendo que o filme é uma apologia à violência. O [programa humorístico] Zorra Total, da TV Globo, faz paródia com político e ninguém estranha. Você tem esse tipo de insinuação em comédias burlescas. Isso é histórico e sempre foi assim. O Sergio Moro quer proibir as pessoas de fazerem filmes”, declarou Lydia, que na última eleição votou em Fernando Haddad (PT) nos dois turnos.

Ele afirmou que não tomou nenhuma medida quanto ao inquérito porque não foi notificado oficialmente. “O Moro é um sujeito fascista. Ele só não é ditador porque não tem poder. A mesma coisa se aplica ao Bolsonaro”, diz. “Estou alarmado, estupefato e estarrecido. Não sou do PT, nunca fui filiado a partidos políticos e nem quero ser. Estou aguardando chegar alguma coisa até mim. O filme é uma comédia, mas vou responder ao inquérito. Não tenho outra opção.” O Ministério da Justiça confirmou que um inquérito policial foi aberto contra os responsáveis pelo filme, mas não forneceu maiores detalhes. A PF ainda não se pronunciou sobre o caso.

Veja - Política


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Não é só tara. É sobre poder

O poder sempre inebriou os homens. O que mudou foi a coragem e a posição das mulheres na sociedade 

Não sei se é preciso ser mulher para se enojar com os relatos das atrizes de Hollywood sobre os métodos de seleção do poderoso produtor de cinema Harvey Weinstein, bilionário aos 65 anos. Ao ler em detalhe os depoimentos das vítimas de Weinstein, todas no viço dos 20 anos quando foram atacadas pelo predador sexual grande e forte, pensei: quando chegará o momento de desmascarar os tarados poderosos no Brasil? Por enquanto, só quem ejacula em ônibus acaba preso.

O primeiro sentimento é de incredulidade. Como esse cara ficou décadas assediando e estuprando moças – e continuou a ser mandachuva em Hollywood? O “sistema” fecha os olhos a homens que usam o poder para atacar mulheres entre quatro paredes. Weinstein não era muito criativo, repetia o padrão. Chamava a aspirante a atriz para uma festa ou uma reunião de negócios imaginária, convidava uma executiva de sua empresa para estar presente por minutos como álibi, inventava uma desculpa para mostrar cenas em seu quarto de hotel.

Partia para o ataque deprimente: dizia que precisava de uma massagem, jogava seu peso físico e profissional sobre as mulheres, tentava tirar a roupa delas, tomava ducha com porta aberta, ficava pelado só com roupão ou já as recebia no quarto com esse figurino, fazia ameaças verbais ao futuro delas, dizia que todas transavam com ele, pegava o rosto delas e empurrava para baixo, exigia sexo oral. Muitas lutaram com ele. As que cediam se sentiram degradadas depois. Um áudio divulgado pela polícia de Nova York revela sua pressão nojenta para tocar os seios de uma modelo de 22 anos. Quando elas se trancavam no banheiro ou tentavam fugir, Harvey Weinstein se masturbava na frente delas. Algumas abandonaram o cinema, por pensar: “É assim?”.

Depois que o jornal The New York Times e a revista New Yorker divulgaram os métodos de Weinstein, aconteceu algo parecido ao que, no Brasil, acabou levando à prisão o médico estuprador Roger Abdelmassih. Uma onda. Começaram a chover os depoimentos de atrizes assediadas ou estupradas pelo produtor. Gwyneth Paltrow, Ashley Judd, Mira Sorvino, Angelina Jolie, Rosana Arquette, Léa Seydoux, Kate Beckinsale, Cara Delevingne são algumas das dezenas que denunciaram Weinstein.

O que faziam elas? Umas, nada, com medo que ele desse um fim a suas carreiras. Só o evitavam. Weinstein produziu filmes que renderam Oscar, como Shakespeare apaixonado, O artista, O paciente inglês. Ele era uma espécie de patrono para diretores como Quentin Tarantino e Steven Soderbergh. Algumas vítimas o denunciavam em particular – Gwyneth contou a seu então namorado, Brad Pitt, e ele confrontou Weinstein. Ela e outras receberam de Weinstein telefonemas ameaçadores. “Cale a boca, pare de falar no assunto.” Ou sutis: “Está precisando de algo?”. Algumas levaram a denúncia a canais oficiais. A resposta foi o silêncio. E houve as que fizeram acordos milionários com advogados do produtor, que tentavam evitar um escândalo.


A versão de Weinstein: “Relações sexuais sempre foram consensuais”. Depois, pediu desculpas “sinceras” publicamente por traumas provocados por seu “comportamento inadequado”. Também atribuiu seus avanços sexuais à “cultura dos anos 1960 e 1970”, quando “as regras eram diferentes de como se portar em lugares de trabalho com mulheres”.

Hã? Não parece ter convencido sua linda mulher, a estilista de 41 anos Georgina Chapman, mãe de seus filhos de 4 e 7 anos. Georgina anunciou a separação: “Meu coração está dilacerado por todas essas mulheres que sofreram uma imensurável dor por causa dessas atitudes imperdoáveis”. Weinstein agora se diz “devastado”, promete buscar terapia e pede “uma segunda chance”.


Não é um fenômeno só de Hollywood. Nem de democratas ou republicanos. Bill Clinton conseguiu sexo oral com estagiária no Salão Oval da Casa Branca. Sua mulher, Hillary, continuou a seu lado. Donald Trump é comparado a Weinstein nos métodos e na prepotência. Um áudio de Trump vazou na campanha eleitoral: “Quando você é poderoso, elas deixam você fazer tudo. Agarrá-las pela x...ta”. Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e sua mulher, Melania, continua a seu lado. Não é só nos Estados Unidos. No Brasil, a seleção de jovens atrizes foi batizada de “teste do sofá”.

Weinstein foi demitido de sua própria empresa. Pode ser banido da indústria cinematográfica. Caiu em desgraça. Poderia ser condenado a 25 anos de prisão se comprovadas as denúncias. Mas isso não acontecerá. O poder sempre inebriou os homens. Conhecemos várias histórias de assédios, também em redações de jornais e revistas. Não mudaram as regras. O que mudou foi a coragem das mulheres. E a posição delas na sociedade. Que se inspirem nos chefes corretos e não abusem de ninguém – moral ou sexualmente.


Fonte: Ruth de Aquino - Época

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