J. R. Guzzo
Indicação de advogado é mais um deboche de um presidente que trata o Brasil como uma republiqueta bananeira qualquer
A indicação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal é,
além e acima de qualquer outra coisa, uma vergonha.
Deveria ser, logo
de cara, uma vergonha para ele.
Todo o mundinho oficial, parasita e
subdesenvolvido que prospera em Brasília, às custas do erário público e
em permanente estado de coma moral, vai fingir que não há nada de errado
com mais essa aberração. Mas ele, Zanin, vai saber no fundo da alma, a
cada minuto dos próximos 27 anos, que está no seu cargo unicamente
porque é, ou foi, o advogado pessoal do presidente Lula
– e não por qualquer mérito de sua parte.
Pode ser, é claro, que Zanin
não sinta vergonha de nada e apenas diga para si próprio: “Me dei bem”.
Para o Brasil e para os brasileiros, em todo caso, é uma humilhação.
Em
que país sério do mundo o presidente nomeia o seu próprio advogado para a
Corte Suprema de Justiça? Em nenhum. Isso é coisa de Idi Amin, ou de
alguma dessas ditaduras primitivas que desgraçam o quinto mundo, da
Venezuela à Nicarágua, e que encantam cada vez mais o presidente da
República.
É possível, humanamente, esperar que o novo ministro seja imparcial em alguma decisão que tome a respeito de quem até outro dia era o seu patrão? É claro que não. Se o Brasil tivesse um Senado, a quem cabe aprovar ou rejeitar a indicação, Zanin não iria resistir a quinze minutos de sabatina – seu nome, aliás, nem seria enviado para consideração.
Mas o Brasil não tem Senado nenhum. O que tem é um
escritório de despachantes a serviço do governo que aprova tudo o que
Palácio do Planalto manda fazer. Vai ser apenas mais um espetáculo de
hipocrisia, em que os senadores vão fingir que perguntam e o nomeado vai
fingir que responde.
Todo mundo, incluindo-se aí a maior parte da mídia
e toda a elite que manda no País, vai fazer de conta que as
“instituições” funcionaram mais uma vez e o caso fica resolvido. Pronto: Zanin estará no STF até o ano de 2050, quando não vão mais existir Lula, nem o seu governo e nem o mundo político como ele é hoje.
A
influência de Zanin no conjunto do STF, em termos aritméticos, será de
três vezes zero. Lula já tem ali, hoje, uma maioria infalível de 8 votos
a 2; com Zanin, passará a ter de 9 a 2.
Qual a diferença, na hora da
votação?
O STF já tirou Lula da cadeia, onde cumpria pena por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, alegando que o CEP do seu o processo
estava errado. Anulou as quatro ações penais que havia contra ele – e,
com isso, fez sumir a sua ficha suja.
Mais que tudo, através dos
serviços do TSE, colocou Lula na Presidência da República.
Não foi
preciso ter nenhum Zanin para isso. Também não será preciso daqui para a
frente. O STF, há muito tempo, deixou de ser um tribunal de justiça e
se transformou numa seita política que trabalha para Lula e para o
sistema de interesses em torno dele – atende a todas as suas exigências e
persegue todos os seus adversários, numa espécie de sociedade de
assistência mútua onde uma parte se serve da outra e, ao mesmo tempo, é
servida por ela.
O Congresso ou alguma lei estão atrapalhando o governo?
Nenhum problema. Manda tudo para o Supremo, seja lá o que for, e os
ministros resolvem. Zanin vai ser apenas um voto a mais nessa farsa.
O novo ministro, cujo escritório recebeu R$ 1,2 milhão do PT durante a campanha eleitoral de 2022,
fora o que já havia ganho antes para cuidar da sua defesa, nunca vai
tomar alguma decisão contra Lula.
O STF também não – com ou sem Zanin no
plenário.
Sua nomeação, na verdade, acaba sendo apenas mais um deboche
por parte de um presidente da República que trata o Brasil, cada vez
mais, como uma republiqueta bananeira qualquer.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo