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terça-feira, 4 de outubro de 2022

Caso de polícia - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Os “institutos” provaram inúmeras vezes que “erram” sempre para o mesmo lado: favorecendo candidatos de esquerda 

 Desconfie de pesquisas pouco tradicionais e com resultado que diverge de TODAS as outras. Por sinal, hoje tem DATAFOLHA!!! Experiência, correção, segurança e a melhor informação”, escreveu no Twitter a “jornalista” Mônica Bergamo na véspera da eleição deste domingo. 
O Datafolha dava uma margem de 14 pontos para Lula, colocando apenas 36% de intenção de votos para Bolsonaro. Isso sem falar do restante, para senadores, governadores e deputados.

Ilustração: Viktoriia Ablohina/Shutterstock

 Ilustração: Viktoriia Ablohina/Shutterstock 

Guilherme Fiuza, após o resultado, comentou: “Chega de poesia: o ‘erro’ grotesco dos ‘institutos’ se chama MENTIRA — devidamente embalada pela imprensa. E que coincidência: os mentirosos estiveram SEMPRE alinhados com o TSE para impedir que a eleição pudesse ser AUDITÁVEL. Brasil, decide aí se quer continuar brincando disso”.

De fato, precisamos explicar o óbvio: erro, em estatística, é sempre aleatório. Se houver uma inclinação de lado constante para o tal “erro”, não se trata mais de erro, e sim de viés. Os “institutos”, que não são institutos, e sim empresas que buscam o lucro vendendo esse serviço, que tampouco é científico como alegam, provaram inúmeras vezes que “erram” sempre para o mesmo lado: favorecendo candidatos de esquerda.

São como o Saci Pererê: só pulam com uma perna. Estão sempre inflando as expectativas dos candidatos esquerdistas, e sempre subestimando as chances dos candidatos mais à direita
Alguns casos foram bem grosseiros, como para o governo do Estado mais rico do país, que colocou Tarcísio Freitas, o ex-ministro de Bolsonaro, como o primeiro colocado com larga margem, ou então para o Senado por São Paulo, com o Datafolha colocando Márcio França como líder com 45% de intenção de voto, ou ainda a disputa para o Senado pelo Paraná, que dava Álvaro Dias como favorito, enquanto ele acabou ficando em terceiro.

Tais “pesquisas” acabam influenciando muitos eleitores, e aí reside o maior problema. Alguns liberais mais ingênuos repetem que o próprio mercado cuida disso, pois empresas que só erram acabam perdendo a credibilidade. Ocorre que nas “lojinhas de porcentagem”, como brilhantemente chamou Augusto Nunes, o que se vende muitas vezes não é um serviço de previsão acurada, mas sim de resultados falsos para justamente influenciar o pleito. E isso é criminoso!

Siga o dinheiro, diria um típico detetive americano. Banqueiros petistas e emissoras de oposição bancam essas pesquisas, e as mesmas empresas de sempre disputam esse “mercado”. Em seguida, a própria imprensa coloca essas “pesquisas” como pauta de debate, e todos os comentaristas, até aqueles como eu, que nunca levaram a sério tais resultados, são obrigados a “analisar” os dados como se fossem reais e científicos. Isso é enganação pura!

Não por acaso alguns políticos começam a falar em criar uma CPI para investigar esses “institutos” de pesquisa, o que seria muito saudável para nossa democracia. Aproveitando a onda bolsonarista que elegeu inúmeros deputados e senadores alinhados ao governo, essa seria uma pauta bastante relevante no começo da própria legislatura. 
Algo precisa ser feito. Não podemos mais continuar brincando de pesquisas com essa imprensa vendida que tem lado.

O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), que foi reeleito neste domingo, 2, disse que vai apresentar um projeto de lei na Câmara dos Deputados para punir os institutos de pesquisas que divulgarem levantamentos cujos resultados não confiram com o que for computado nas urnas além da margem de erro.

Banqueiros petistas e emissoras de oposição bancam essas pesquisas, e as mesmas empresas de sempre disputam esse “mercado”

“Eu vou apresentar um projeto de lei já amanhã [hoje], tornando crime pesquisas que, publicadas, não confiram com a urna além da margem de erro. Se diz que é uma técnica, é uma fotografia, então, a fotografia tem de ser verdadeira. Não tem cabimento uma pesquisa influenciando o eleitor, porque, infelizmente, no Brasil, tem eleitor que não quer perder o voto”, disse o deputado, em entrevista para o UOLBarros é o líder do governo federal na Câmara dos Deputados.

“Não podemos permitir que haja manipulações de resultados em pesquisas eleitorais. Isso fere a democracia. Nada justifica resultados tão divergentes dos institutos de pesquisas. Alguém está errando ou prestando um desserviço. Urge estabelecer medidas legais que punam os institutos que erram demasiado ou intencionalmente para prejudicar qualquer candidatura”, publicou o presidente da Câmara, Arthur Lira, em suas redes sociais, antes mesmo dos resultados tão discrepantes.

Em seu editorial, a Gazeta do Povo constatou que os “erros em série” mostram que há algo de muito grave nesses “institutos”: “Jogar a culpa dos erros de 2018 nas costas de uma suposta volubilidade do eleitor foi apenas uma maneira de empurrar o problema para a frente, e ele volta a explodir bem diante dos institutos, que precisam admitir que o produto que entregam não está correspondendo ao que se promete”.  
A questão é o que e a quem tais empresas lucrativas prometem. Pois para o consumidor geral, o eleitor no caso, sem dúvida o serviço seria considerado um lixo absoluto. 
Mas e se quem contrata tais “pesquisas” tinha exatamente a distorção da realidade como promessa? 
Aí não estamos mais falando em erros de metodologia ou amostragem, e sim em crime, estelionato eleitoral.

Até a imprensa internacional chamou a atenção para esse fato. O jornal norte-americano esquerdista New York Times e os argentinos La Nacion e Clarín apontaram os erros das pesquisas eleitorais em relação à votação, que levou Lula e Bolsonaro ao segundo turno. O jornal norte-americano chegou a afirmar que “ficou claro que ele estava certo”, referindo-se às críticas que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fez aos institutos. Os analistas subestimaram “a força de candidatos conservadores em todo o país”, disse o NYT.

Eu confesso que comentava de má vontade e cheio de ressalvas as “pesquisas” nos programas de que participo, pois eram pauta obrigatória imposta pela direção. A partir de hoje, eu simplesmente me recuso a comentá-las. Não são caso de análise política, e sim de polícia! Que venha uma investigação profunda sobre bancos, veículos de comunicação e “institutos” de pesquisa, pois não resta a menor dúvida de que esse conluio vem prejudicando nossa democracia.

Leia também “O mito de Sísifo”

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Weintraub e a ‘suspenção’ das bolsas - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Com Ricardo Salles e Damares, ele compõe o triunvirato folclórico do governo 

Brasil tem que conviver com ministro que assina documento sem ler e suspende auxílio à pesquisa

[o nosso presidente Bolsoanro, infelizmente, não pode acertar todas - no caso da educação já está na segunda péssima escolha.

Mas, sempre pode corrigir - a BIC,  ou Compactor,  dele tem muita tinta.]

Num governo que fez a opção preferencial pelo folclore radical, Abraham Weintraub é um personagem inesquecível. É legítimo herdeiro do general Aurélio de Lyra Tavares, que há exatos 50 anos governava o Brasil na junta militar que empalmou o poder diante da incapacidade do presidente Costa e Silva. O doutor Weintraub pediu dinheiro ao ministro Paulo Guedes referindo-se à “suspenção” de pagamentos. Dias depois, explicou-se dizendo que assinou a carta de oito páginas sem lê-la. 

Em março de 1964, o general Lyra Tavares escreveu ao seu chefe, Humberto Castelo Branco, falando em “acessoramento”, numa carta em que meteu também um “encorage”. Como o general acabou seus dias num fardão da Academia Brasileira de Letras, o ministro da Educassão tem pouco a temer. (Quando a ditadura vivia seu período de abrandamento, era comum que panfletos e documentos militares criticassem a “distenção”.) 

Com Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Weintraub compõe o triunvirato folclórico do governo Bolsonaro. Uma cedilha a mais ou a menos não deve ser motivo para se condenar uma pessoa. Grave mesmo é que no dia em que se noticia a suspensão do pagamento de 5.613 bolsas de mestrado e doutorado, o ministro vá para vitrine escrevendo que “tem gente que acredita em Saci Pererê, em Boi Tatá e em Mula sem Cabeça; e tem gente que acredita no Datafolha”. Seu chefe manifestou o mesmo ceticismo em relação a uma pesquisa que mostrou a corrosão de sua popularidade, lembrando que tem gente que acredita em Papai Noel. Tudo bem porque qualquer fantasia é admissível para quem se vê mal numa pesquisa, inclusive a de acreditar no bom velhinho.

Ministro da Educação é outra história, sobretudo num país que precisa de pesquisadores. O Brasil que já conviveu com um ministro do Exército que escreveu “acessoramento” pode conviver com outro, na Educação, que assina sem ler um documento mencionando uma “supenção” de pagamentos. Mais difícil será conviver com um administrador que suspende todas (repetindo, todas) as novas bolsas de mestrado e doutorado do país.

Weintraub poderia abrir o debate do financiamento dessas bolsas, de sua qualidade e dos critérios que as orientam. Também poderia reconhecer a gravidade da suspenção, organizando-se para minorar seus efeitos. Nessa discussão haverá espaço para vida inteligente. É sempre bom lembrar que nos seus 21 anos de duração, a ditadura demitiu, prendeu e exilou cientistas, mas também montou uma sólida base de estímulo à pesquisa. Poucos professores foram tão patrulhados pela esquerda em 1964 quanto o reitor Zeferino Vaz, da Universidade de Brasília. A partir de 1966 ele comandou a organização da Unicamp, que está hoje entre as melhores do país. O campus da universidade leva seu nome. Deve-se a Sérgio Buarque de Holanda a distinção, na política brasileira, entre conservadorismo e atraso. Talvez Zeferino fosse conservador, mas atrasado não era. Weintraub é atrasado, só. Ele acha que existe um boi chamado Tatá. O boitatá é uma enorme serpente de fogo que protege as matas. Ricardo Salles e Bolsonaro, por exemplo, sentiram o bafo do boitatá.

Elio Gaspari, jornalista - Folha de S. Paulo /O Globo

[mantendo distância de qualquer intenção de polemizar com o ilustre articulista, apenas destaco que:
- se tratando de educação, ensino, pesquisa e saúde, qualquer restrição financeira deve ser evitada o máximo possível;
- quanto ao erro do general Lyra Tavares e do próprio Weintraub, oportuno lembrar ser voz corrente que  a quase totalidade das autoridades, quando assinam  um documento, façam apenas  uma leitura superficial, sem descer ao exame de detalhes que podem passar despercebidos. ]