[na condição de chefe da Igreja Católica, no campo espiritual, em que deve prevalecer os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, é aceitável que o Papa Francisco tenha suportada a ofensa feita pelo 'cocalero' Morales, aceitado ser saudado pelo nojento 'stédile'.
Porém, como chefe de Estado, autoridade secular máxima do Estado do Vaticano, tinha que ter repudiado Morales, dispensado 'stédile' e encerrado a viagem, sacudindo a poeira dos sapatos.]
Enquanto
no País escândalos, prisões, delações, embates de Poderes sacodem a vida nacional
e concentram atenções e notícias, a vida no planeta continua girando e produzir
alterações no modo de viver e pensar da humanidade. De algum modo essas
mudanças nos atingem e, por isso, é bom prestar atenção nelas.
Saindo um
pouco do Brasil veremos que fatos mundiais relevantes estão em curso e citemos apenas
alguns poucos para não alongar demais o artigo:
1º - Os
problemas econômicos da China, à qual nos atrelamos preferencialmente por obra
e graça de Lula da Silva.
2º - O acordo nuclear do presidente Obama, apoiado
por potências mundiais, com o Irã, algo perigosíssimo que pode futuramente
destruir primeiro Israel, depois os Estados Unidos e, finalmente, não sobrara
nada.
3º - A visita do Papa Francisco a países latino-americanos. Em todos esses
fatos prepondera o fator político.
Como
tenho formação católica vou me deter no Papa e seus discursos. E que tenho me
perguntado: por que foi eleito pela primeira vez um Papa jesuíta e
latino-americano? Comecei agora a decifrar o enigma que merecia um texto de pelo
menos cinquenta páginas, mas que vou resumir ao máximo. Essa breve análise nada
tem a ver com fé, mas sim com o poder temporal da Igreja Católica.
O
fundador da Companhia de Jesus foi o temperamental fidalgo espanhol basco
Inácio de Loyola. A Companhia foi moldada pelo padrão militar. A disciplina era
férrea. Toda individualidade era suprimida e de cada um e de todos exigia-se
uma obediência de soldado ao general.
As
atividades dos jesuítas foram como ainda são variadíssimas. Eles trabalharam
sem trégua na Inquisição, espalharam-se pelos quatro cantos do planeta,
estiveram em todos os centros de decisões, fizeram da educação sua atividade
mais importante, funcionaram desde o início como uma multinacional da fé. Georges
Bernanos disse que “o velho sonho dos jesuítas era o de organizar a cristandade
segundo o método da ditadura totalitária e da razão de Estado”. Será que eles
mudaram?
Ainda no
âmbito da história recordemos que foi no Novo Mundo americano que a Igreja
alcançou seu maior sucesso numa época em que o Velho Mundo europeu enfrentava a
Reforma. Portanto, há tempos a Igreja considera a América Latina como sua filha
preferida. Nesse sentido tem toda razão Carlos Rangel quando apontou em sua
obra, Do Bom Selvagem ao Bom
Revolucionário, que “A Igreja Católica é mais responsável do que qualquer
outro fator pelo que é e o que não é a América Latina”.
Quanto as
nossas origens coloniais pode-se dizer usando uma expressão de Ortega y Gasset,
que tivemos uma “embriogenia defeituosa”, por sua vez geradora de sociedades
desiguais. Nestas, até hoje não foi, conforme Rangel, o marxismo, mas sim a
teoria leninista do imperialismo e da dependência que falsamente propôs uma resposta
consoladora e esquerdizante ao complexo de inferioridade crônico que a América
Latina sofre em relação aos Estados Unidos. Paradoxalmente, continua grande a
imigração de latino-americanos para os Estados Unidos em busca de uma vida
melhor.
No momento, segundo o Instituto Pew Researh,
com sede nos Estados Unidos e citado pelo The Economist, “o Paraguai (onde 89%
da população é católica), o Equador (79%) e a Bolívia (77%) continuam sendo os
bastiões da fé, juntamente com Colômbia e México”.
Note-se
que a recente visita do Papa se deu justamente no Paraguai, no Equador e na
Bolívia, sendo que neste último o Papa recebeu de Evo Morales uma cruz formada
pela foice e o martelo, símbolo do comunismo, com um cristo pregado. Esdrúxula
adaptação do materialismo de Marx com a espiritualidade de Cristo.
Nesta
viagem, onde ficou claramente definida a política do papado, o Papa fez sua
mais veemente condenação ao capitalismo. Em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o
Pontífice foi saudado por João Pedro Stédile, mentor dos sem-terra que tem
visitado o Vaticano juntamente com líderes dos chamados movimentos sociais e da
Teologia da Libertação. Disse Stédile diante de centenas de militantes de movimentos
sociais: “Assim como o capitalismo tem Obama, nós temos o Papa Francisco”.
Mas será que essa ecclesia pauperum ou igreja dos pobres que o Papa Francisco prega,
mesmo que seja em nome de um pós-marxismo, não manterá os pobres da América
Latina, sempre pobres? Afinal, o socialismo, aonde quer que fosse implantado
levou ao cerceamento da liberdade, à violência contra a população, à
escravização completa do indivíduo, ao nivelamento por baixo na miséria enquanto
a classe dirigente gozava das delícias da riqueza. Enfim, o paraíso prometido na terra tornou-se
o inferno. Talvez, uma pregação mais espiritual e menos política enseje um proselitismo
mais exitoso da Igreja na América Latina.
Por: Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga.
www.maluvibar.blogspot.com.br