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quinta-feira, 19 de março de 2015

Por que o governo se trumbica

Até agora, o pior erro de comunicação do governo federal foi o documento interno do governo federal sobre os erros de comunicação dele mesmo, o governo federal

Na terça-feira à tarde, o texto que circulava no Palácio do Planalto foi noticiado com exclusividade no portal estadao.com.br. Ontem a peça virou manchete deste jornal. Não era para menos. A reportagem de Valmar Hupsel Filho e Ricardo Galhardo destrincha um texto que, em mais de um sentido, é uma bomba. Elaborado dentro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), segundo apuraram os repórteres, o documento não explica e não resolve a desorientação do Planalto em matéria de se entender com a sociedade. Em vez disso, piora tudo.

São 1.904 palavras que se estendem por cinco páginas de papel ofício. Todas erradas. Erram no diagnóstico, nas proposições e nos fundamentos. Na visão ali exposta, as falhas de comunicação dos anos Dilma Rousseff teriam sido técnicas: a desativação de robôs que atuavam nas redes sociais em defesa do governo, o distanciamento dos “blogueiros progressistas”, a falta de publicidade oficial e outros desacertos da mesma linha. Em síntese, o governo teria errado porque não lançou mão das ferramentas “certas”, nas doses cavalares “certas”, para convencer a cidadania errada de que ele, governo, é que está certo.

Por que o diagnóstico é um erro em si mesmo? Porque a principal deficiência do poder que aí está, quando o assunto é comunicação, não tem nada que ver com mais ou menos propaganda na televisão, não tem que ver com a falta de cumplicidade de ativistas das redes sociais. O que existe é uma incapacidade anterior, constitutiva e persistente. Pelo menos desde 2011 (a coisa não era tão grave nos tempos de Lula), a gigantesca limitação comunicativa do Palácio do Planalto é política, não técnica. Em termos menos vagos, é de natureza auricular. O governo não escuta ninguém - e todo mundo que está rouco de tanto avisar sabe disso muito bem. O governo não escuta a oposição, não escuta os parlamentares, não escuta o PT e não escuta os conselhos do ex-presidente Lula. Que não escute também a sociedade não surpreende nem um pouco.

Escutar, nesse caso, significa ouvir. E ouvir não significa concordar com tudo, mas significa levar em consideração, acolher, incorporar, agregar, somar, dividir o poder para multiplicar a representatividade, o engajamento. Como não faz nada disso (e como faz muito o oposto disso), falta credibilidade aos convites que, agora, os ministros começam a fazer para o “diálogo”. Puxemos pela memória. Dilma também falou em “diálogo” logo ao vencer o segundo turno, no dia 26 de outubro, com 51,6% dos votos. Mas que diálogo? Na noite daquele domingo usou o microfone por quase meia hora e não pronunciou uma única vez o nome de Aécio Neves, seu adversário. Não dirigiu a ele uma única palavra de agradecimento. Não o cumprimentou. Ora, essa, quem ela queria ouvir para dialogar?

Instrumentos de comunicação o governo hoje tem de sobra. Paga-os a peso de ouro. As somas são bilionárias. Não foi por falta de máquina de propaganda que a classe média foi às ruas no domingo. Foram passeatas de direita? Foram, e daí? Isso as torna menos legítimas e menos expressivas, por acaso? A indignação, além de legítima, é generalizada - e ela não se deve à escassez de blogueiros amigos ou à ausência de superproduções publicitárias na TV. O erro está mais embaixo. E mais acima. O erro está em todo lugar. É ubíquo. O erro é de postura. Você não vai acreditar, mas hoje, no Palácio do Planalto, nem as paredes têm ouvidos.

Sem dúvida, devemos ler com reservas o tal documento da Secom. Ele não é um pronunciamento solene, não é uma portaria, não foi publicado no Diário Oficial. Não passa de papel interno, cuja circulação deveria ser reservada. Por outro lado, em nenhum outro lugar a índole palaciana se expressou com tanta crueza, de modo tão desabrido. E até o dia de ontem, no meio da tarde, ele não foi desautorizado. Mesmo não sendo oficial, ele é verossímil, autêntico. Os seus parágrafos trazem cada uma das impressões digitais dos estrategistas que animam esse continental desastre de comunicação que se instalou na Presidência da República. Tudo ali explode como numa inacreditável confissão de culpa. E, nesse caso, culpa não apenas pelos tais erros cometidos, mas principalmente culpa por expor de modo tão cristalino um pensamento tão obscuro, tão bruto.

Vejamos um trecho: “Não importa quantos panelaços eles façam. É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando numa mesma coordenação Voz do Brasil, sites, Twitter e Facebook dos ministérios, Facebook da Dilma e Agência Brasil”.

Note bem o pronome eles. Quem são mesmo “eles”? Como é possível que, a esta altura da evolução da democracia brasileira, um servidor público chame de “eles” os brasileiros que fazem panelaço? Que governo é esse que quer operar na base do “nós contra eles”? O governo não deveria ser de todos os brasileiros? Que um partido pense assim é compreensível, mas o governo?

No mesmo trecho, o emprego da expressão “comunicação estatal” é igualmente perturbador. Se o Estado, nos termos da Constituição, deve ser apartidário e impessoal, como é que a “comunicação estatal” pode ser posta a serviço desse sombrio combate ideológico contra “eles”? Lembremos que “eles” são cidadãos brasileiros, como eu e você. (Fora isso, é deplorável, ofensivo, ver a Agência Brasil reduzida a munição partidária na guerra do “nós contra eles”.)
“Não será fácil virar o jogo”, conclui o texto. Não mesmo. Mais fácil será o jogo virar o governo, quer dizer, virar a cabeça do governo. Quem sabe Dilma se toque e vire o seu governo na direção da mentalidade democrática e do diálogo verdadeiro. Os estrategistas da surdez que nos perdoem, mas essa crise não é uma partida de futebol.


Por: Eugênio Bucci - O Estado de São Paulo

 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Dilma derrete



Popularidade de Dilma derrete: 62% de ruim e péssimo contra apenas 13% de ótimo e bom; o Nordeste e os mais pobres desistiram da petista. Pior: há aloprados querendo piorar tudo
A Secretaria de Comunicação do governo, cujo titular é Thomas Traumann, elaborou um documento aloprado sobre a situação política do país, propondo um conjunto de ações eivado de ilegalidades. Acredita-se na possibilidade de reverter o desgaste de Dilma na base da “guerrilha” de propaganda, como está lá. Leiam post a respeito. Entre as propostas, está intensificar a relação com os chamadosblogs sujos”, que seriam os “soldados de fora” que atirariam com munição fornecida pelo governo.  Pois é…

Se a receita fosse mesmo essa, a Secom teria que, literalmente, chafurdar no mar de lama. Por quê? Dilma Rousseff derreteu. Em pouco mais de um mês, os que consideravam seu governo ótimo e bom despencaram de 44% para 13%. Os que o avaliam como ruim ou péssimo saltaram de 23% para 62%, e caíram de 35% para 24% os que o veem como regular. Os números são do Datafolha e estão na edição da Folha desta quarta. O instituto entrevistou 2.842 pessoas entre os dias 16 e 17. Pode-se argumentar que os dados estão sob o impacto dos protestos do dia 15. Mas também é possível considerar que os protestos do dia 15 só foram tão bem sucedidos porque esses sãos os números, não é mesmo?

Não há boa notícia possível para Dilma. Pela primeira vez, desde que o PT está no poder, a reprovação ao governo no Nordeste encosta nos números do Sudeste, onde a presidente conta com apenas 10% de ótimo e bom e 66% de ruim e péssimo. Entre os nordestinos, esses números são, respectivamente, 16% e 55%. A região mais severa com a presidente é o Centro-Oeste: 75% de ruim e péssimo e só 10% de ótimo e bom. No Sul, estes números são, na ordem, 64% e 13%. Só a Região Norte destoa um pouco, mas ainda com números francamente hostis à presidente: 51% de ruim e péssimo e 21% de bom e ótimo.

Dilma, como eu já havia apontado aqui na pesquisa de fevereiro, viu desabar a sua popularidade entre os pobres: acham seu governo ruim ou péssimo 60% dos que ganham até dois salários mínimos; 66% dos que recebem de dois a cinco; 65% entre os que ganham entre cinco e dez e mais de dez. O seu mais alto índice de ótimo e bom, bem mixuruca, está na faixa de até dois mínimos: 15%; o mais baixo, na de dois a cinco: 10%.

Se os números são ruins, as expectativas podem ser piores. Sessenta por cento acreditam que a situação econômica vai piorar, e só 15%, que vai melhorar. Para 77%, a inflação vai subir, e só 6% acreditam que vai cair. Creem que o desemprego vai aumentar 69% dos entrevistados, contra apenas 12% que pensam o contrário. Segundo o Datafolha, é o maior pessimismo registrado no país desde 1997. O governo e os petistas deveriam parar com essa bobagem de que os protestos contra o governo são coisa de rico, não é mesmo? Como se nota, os pobres formam hoje um formidável público potencial para as manifestações. Ainda que não tenham aderido em massa à mobilização do dia 15, parece que podem fazê-lo a qualquer momento. Se a tática desesperada da Secom for posta em prática, aí é que o bicho pode mesmo pegar. A nota atribuída pelos entrevistados a Dilma também caiu: de 4,8 em fevereiro para 3,7 agora.

O Congresso não merece avaliação melhor em tempos de petrolão: só 9% dizem que seu trabalho é ótimo ou bom, contra 50% que o têm como ruim e péssimo. Os números são péssimos, sim, mas é evidente que a crise política não tem origem no Parlamento.  Como Dilma sai das cordas? Uma coisa é certa: não é alimentando a guerra suja, como sugere um documento da Secom. Talvez um primeiro passo fosse se cercar de gente capaz de entender a natureza da crise. Até agora, não há ninguém com esse perfil. O petismo aloprado só a aproxima ainda mais do abismo.


Fonte: Reinaldo Azevedo – Revista VEJA