O presidente Bolsonaro
foi a Águas Lindas, em Goiás, para inaugurar um hospital de campanha
que já estava pronto há 40 dias, [o Governo federal responsável pela construção, cumpriu o prazo e por quarenta dias tentou entregar o hospital para o governo goiano - que sempre se furtou a receber, alegando impossibilidade de sua parte: fornecer pessoal de saúde e suprimentos. Finalmente, ontem recebeu, colocando em funcionamento apenas 70 leitos = 1/3 da capacidade entregue.] o primeiro construído pelo Governo
Federal para as vítimas da pandemia. Desceu do helicóptero, escorregou e
caiu no chão de terra. Levantou-se em seguida, sem problemas.
No fim do ano passado, Bolsonaro já
havia tido uma queda, escorregando no banheiro do Palácio da Alvorada e
batendo a cabeça. Passou a noite em observação, no hospital. De manhã
voltou ao palácio, sem problemas. Mas piores são as quedas políticas: o
presidente Donald Trump, seu ídolo, que antes dele já falava em
cloroquina, disse que se os EUA tivessem lidado com a pandemia como o
Brasil (e a Suécia), sem uma rígida quarentena, poderiam ter tido de um a
dois milhões e meio de mortos, em vez de 105 mil. [atualizando: nenhum estado brasileiro realizou quarentena rígida;
a mais próxima da rígida foi a tentada em Santa Catarina, foi implantada a mistura de quarentena meia boca com quarentena rígida = meia quarentena = e como quarentena é igual a virgindade, não existe meia virgindade, fracassou.
Sobre o vilão do general Hamilton, o vilão atual é o coronavírus, depois de eliminado se cuida dos outros.] Justo Trump, que já
chamou Bolsonaro de “Trump tropical”. E nosso vice, general Hamilton
Mourão, abriu o jogo sobre como Bolsonaro vê o Governo: se o Ministério
da Segurança Pública for separado do Ministério da Justiça, o objetivo
será “acomodar aliados”, que “trariam um apoio maior para a base
governamental dentro do Congresso”. O Centrão sabe seu valor.
Mourão falou também sobre o desempenho
do Governo. Diz que deveria ter criado tratado de conter o desmatamento
da Amazônia no ano passado, e que o Brasil “perdeu a narrativa do ponto
de vista ambiental e é tratado como vilão”. Para quem cai nas pesquisas,
perder Trump e ouvir Mourão é terrível.
Firme
Nada disso significa que Bolsonaro
esteja à beira da queda, embora seja difícil, com apoio reduzido,
retomar os patamares de popularidade em que já esteve. Bolsonaro tem
menos de um terço do eleitorado, dificultando, em termos políticos, uma
tentativa de impeachment. Talvez metade desse terço seja seu núcleo
duro, que não irá abandoná-lo. E a, digamos, conquista do Centrão impede
a aprovação do impeachment no Congresso. Bolsonaro é do ramo, mas é
difícil que mesmo ele crie uma crise em que perca o cargo. [o maior, talvez o único, perigo para a permanência do presidente no cargo, e até mesmo sua reeleição em 2022, é o JAIR BOLSONARO.]
Olhando o exemplo
Só que, em política, as coisas podem
mudar rapidamente. Donald Trump era favorito na luta pela reeleição. Mas
a forma pela qual lidou com a pandemia – inicialmente negando-a, depois
anunciando que a cloroquina era a solução (o caro leitor não se lembra
de algo?) e, numa frase especialmente infeliz, sugerindo injeção de
desinfetante para tratar coronavírus – minou sua popularidade. Ficou
pouco abaixo do adversário Joe Biden. Veio então o episódio George
Floyd, no qual Trump não teve a menor participação. Caiu mais e, nas
últimas pesquisas, ficou com 41%, contra 51% de Joe Biden. [com todas as vênias ao ilustre articulista, destacamos um detalhe: correndo de lado, mas a favor de Trump está a surpreendentemente rápida recuperação da economia e com economia em alta Trump vai junto e será reeleito.]
Tumultos americanos
George Floyd era um segurança negro,
grande e forte, detido por suspeita de tentar passar US$ 20 falsos.
Tentou fugir, resistiu, acabou subjugado, com um policial pressionando-o
no pescoço. Disse algumas vezes que não conseguia respirar e, após nove
minutos de pressão, morreu. O policial, branco, está numa prisão de
segurança máxima, acusado de homicídio. Não há qualquer evidência de que
tenha morto Floyd de propósito, ou por ser negro. Mas, de qualquer
maneira, exagerou. E, por algum motivo, o assassínio incendiou os
Estados Unidos: o slogan “Vidas de negros importam” pegou fundo, e tudo
virou um protesto violento contra o racismo – protesto em que
manifestantes acabaram matando um policial negro. Trump ameaçou colocar o
Exército na parada, o que é proibido pela Constituição (e os militares
foram os primeiros a dizer isso).[Lá nos Estados Unidos, aqui no Brasil a Constituição autoriza e a Lei Complementar nº 97/99 - promulgado no governo FHC - normatiza o emprego das FF AA em território nacional.] A Guarda Nacional atua, mas sob o
comando dos governadores, não do presidente.
Os números
Condenar o racismo é sempre válido. Mas
saquear lojas e incendiá-las? E vejamos números oficiais americanos
(fonte, FBI, relatório sobre 2013). Número de assassínios por milhão de
habitantes: negros mortos por brancos, 0,77. Brancos mortos por negros,
9,83. Brancos mortos por brancos, 10,22; Negros mortos por negros,
53,94. Sim, há causas que levam a isso, que têm de ser corrigidas. Mas
por que esta morte, justamente esta, inflamou o país?
Chumbo Gordo - Coluna Carlos Brickmann