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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Síndrome russa de morte súbita: a irônica “doença” de figurões apagados

Suicídios, defenestrações, ataques cardíacos e até uma intoxicação por veneno de sapo mataram 24 russos em posições importantes

Pode ser coincidência? Pode, mas a sequência de mortes de figurões russos no ano que acabou exige uma credulidade que desafia as probabilidades.

A revista The Atlantic inventou até um termo irônico para qualificar tantas coincidências, a Síndrome Russa de Morte Súbita e a Wikipedia tem um verbete específico, “As mortes misteriosas de homens de negócio russos em 2022”.

Nem todos foram oligarcas, embora haja uma frequência marcante de executivos da indústria de gás e petróleo. O penúltimo caso da lista impressionou pela reincidência: Pavel Antov, apelidado de “o rei da linguiça” por sua indústria de processamento de carne, caiu da janela de um hotel na Índia onde dois dias antes um amigo com que viajava junto tinha sofrido morte súbita ainda a ser esclarecida. 
Embora fosse deputado pelo mesmo partido de Putin, Antov tinha criticado a invasão da Ucrânia, o que depois desmentiu.

Janela parece ter virado uma coisa perigosa. O presidente do conselho da gigante petrolífera Lukoil, Ravil Maganov, “caiu da janela de um hospital em Moscou”, segundo informaram agências russas – um detalhe posteriormente desaparecido. A Lukoil falou em “morte depois de lutar contra uma longa doença”.

Não foi o primeiro caso do ano na empresa. O ex-diretor Alexander Subbotin morreu aos 43 anos depois de uma sessão com um curandeiro que injetou veneno de sapo em seu corpo para curar uma ressaca.

É claro que as mortes não podem ser colocadas oficialmente na conta de reações à guerra na Ucrânia e as graves consequências internas, provocadas pelas sanções ao país, com prejuízos e perda do estilo de vida internacional que os russos ricos desfrutaram durante as duas décadas em que Vladimir Putin efetivamente recuperou a economia da Rússia e fez um pacto com as elites – cada um na sua pista, com os devidos  e milionários pagamentos.“Imaginem o que acontece a um país globalizado quando cai a ficha das sanções. Alguns cometem suicídio”, disse à Atlantic o historiador Edward Luttwak.

Pelo menos dois casos dados como suicídio envolveram a família. A mulher e a filha de 13 anos de Vladislav Avaiev, ex-vice-presidente do Gazprobank, estavam junto de seu corpo num apartamento em Moscou. Sergei Protosenia, vice-presidente da gigante do gás Novatek, apareceu enforcado na viga da casa de veraneio na Espanha depois de, supostamente, matar a mulher e a filha a machadadas.

Michael Weiss, jornalista que está escrevendo um livro sobre o serviço militar de inteligência, acha que alguns suicídios podem ter acontecido depois do “telefonema” – um aviso, como na Roma antiga, de que o cidadão tinha a opção de tirar a própria vida. Ou ela seria tirada dele.

A dubiedade faz parte do jogo: suicídio, suicídio induzido, homicídio?

“Eles querem que nós saibamos que foi assassinato, mas não querem que possamos concluir definitivamente que foi isso”, disse Weiss à Atlantic.

A legendária eficiência dos serviços russos às vezes é apenas isso – uma lenda. Em dois casos notórios de envenenamento com Novichok, um dentro e um fora do país, as vítimas sobreviveram. 
 Alexei Navalny escapou com vida do agente que paralisa o sistema nervoso, aparentemente espalhado em sua cueca num quarto de hotel, porque o piloto do avião onde entrou em crise fez um pouso de emergência e ele recebeu tratamento médico na Alemanha. Hoje está preso e só se comunica por mensagens através de seus advogados. Os assassinos que deveriam ter despachado o ex-espião Sergei Skripal, que havia desertado e se transformado em agente da inteligência britânica, erraram na dose – ou provavelmente o atendimento médico foi mais eficiente do que o esperado. Skripal e a filha, Julia, escaparam com graves sequelas.

O percurso dos dois agentes russos foi quase que inteiramente reconstituído por câmeras de segurança.

Os agentes que envenenam Alexander Litvinienko, outro ex-espião que mudou de lado, foram mais desastrados ainda. O próprio Litvinienko viveu três dias, o suficiente para relatar como foi atraído para um chá letal num hotel de Londres. A substância usada, polônio-210, deixou traços radiativos em toda a trilha dos assassinos, inclusive no avião de volta para Moscou.

A infame reação de Putin à reconstituição comprovando o atentado contra Alexei Navalny ficou famosa: se os serviços secretos quisessem realmente matar o dissidente, “teriam ido até o fim”, disse ele.

A última morte “importante” do ano foi de Vladimir Nesterov, engenheiro espacial que continuava a trabalhar no novo sistema russo de foguetes mesmo depois de um processo por desvio de dinheiro, entre outras encrencas. Imaginem a quantidade de homens em posições importantes que não estão dormindo tranquilos. Esse é um dos instrumentos clássicos de controle dos regimes autoritários. Algumas das mortes suspeitas podem ter tido até causas naturais, mas o regime putinista quer que as pessoas tenham dúvidas.

Mundialista, Vilma Gryzinski  - Revista VEJA


domingo, 21 de agosto de 2022

O destino macabro dos cadáveres com batimentos cardíacos

'Cadáveres' com batimentos cardíacos são corpos que tiveram morte cerebral, mas que têm pulso e órgãos que funcionam

Seus corações ainda estão batendo. Eles urinam. Seus corpos não se decompõem e eles estão quentes ao toque. Seus estômagos fazem barulho, suas feridas curam e seus intestinos conseguem digerir alimentos. Eles podem sofrer ataques cardíacos, pegar febre e sofrer escaras. Eles podem corar e suar - e até ter filhos!

E, ainda assim, segundo a maior parte das definições legais e a ampla maioria dos médicos, esses pacientes estão completa e inquestionavelmente mortos. São os cadáveres com batimentos cardíacos - corpos que tiveram morte cerebral, mas que têm pulso e órgãos que funcionam.

Seus custos médicos são astronômicos (até US$ 217.784, ou cerca de R$ 1,12 milhão, por apenas algumas semanas). Mas, com um pouco de sorte e muita ajuda, hoje é possível que o corpo sobreviva por meses - em casos raros, até décadas - mesmo estando tecnicamente morto.

Como isso é possível? Por que isso acontece? E como os médicos sabem que eles estão realmente mortos?

Enterros prematuros
Identificar os mortos nunca foi uma tarefa fácil.

Na França do século 19, havia 30 teorias sobre como dizer se alguém morreu. Elas incluíam desde fixar pinças aos mamilos da pessoa até colocar sanguessugas no orifício anal.

Em outros lugares, os métodos mais confiáveis incluíam gritar o nome do paciente - se ele ignorasse o chamado por três vezes, é porque estava morto - ou pressionar um espelho sob o nariz da pessoa para ver se embaçava.

médico analisando paciente
Getty Images
As primeiras tentativas de verificar sinais de vida incluíram fixar pinças aos mamilos das pessoas

É desnecessário afirmar que nenhum desses métodos convenceu a Medicina.

Até que, em 1846, a Academia de Ciências de Paris, na França, lançou uma competição para encontrar "o melhor trabalho sobre os sinais da morte e os meios de evitar enterros prematuros". Foi quando um jovem médico francês tentou a sorte.

Eugène Bouchut idealizou que, se o coração de uma pessoa houvesse parado de bater, com certeza ela estava morta. Por isso, ele sugeriu usar o recém-inventado estetoscópio para ouvir as batidas do coração. Se o médico não ouvisse nada por dois minutos, o paciente poderia ser enterrado com segurança.

Bouchut ganhou a competição e sua definição de "morte clínica" ficou estabelecida, chegando a ser imortalizada em livros, filmes e na sabedoria popular.

(...)

O desfibrilador foi o primeiro de uma enxurrada de novas e revolucionárias técnicas, que incluíram ventiladores mecânicos e sondas de alimentação, cateteres e máquinas de diálise. Pela primeira vez, você podia perder certas funções do corpo e continuar vivo.

Nosso entendimento da morte estava se modificando, até que a invenção do eletroencefalograma, que pode ser usado para identificar a atividade cerebral, foi o golpe final. A partir dos anos 1950, médicos em todo o mundo começaram a descobrir que alguns dos seus pacientes, que antes haviam sido considerados em estado de coma, na verdade não tinham atividade cerebral.

Na França, o misterioso fenômeno era chamado de coma dépasse (literalmente, "estado além do coma", em francês). Eles haviam descoberto os "cadáveres com batimentos cardíacos" - pessoas cujos corpos estavam vivos, mas seus cérebros estavam mortos.


cérebro
Getty Images
O cérebro usa até 25% do oxigênio do nosso corpo. Por isso, ele é o primeiro órgão a morrer quando paramos de respirar.

(...)

O que nos traz de volta àquela eterna questão médica: se o seu coração ainda está batendo, como os médicos podem afirmar que você está morto?

Inicialmente, os médicos identificavam vítimas de coma dépasse verificando a ausência de atividade cerebral em um eletroencefalograma. Mas havia um problema.

O álcool, a anestesia, algumas doenças (como a hipotermia) e muitos remédios (incluindo o ansiolítico diazepam, ou Valium) podem "desligar" a atividade cerebral, ludibriando assustadoramente os médicos, que podem pensar que o paciente está morto.

(...)

"outras questões."

E tudo pode ficar muito mais complicado em breve. Atualmente, os médicos estão sujeitos à "regra do doador morto", que determina que nenhum órgão pode ser removido antes da morte da pessoa - o que significa total morte cerebral ou coração que já parou de bater. Mas algumas pessoas, incluindo Veatch, acham que isso precisa mudar.

Eles propuseram a definição de "cérebro superior", que significa que uma pessoa não está morta quando seu coração para de bater, nem mesmo quando ela para de respirar. Uma pessoa está morta quando perde sua "personalidade".

As pessoas com partes fundamentais do cérebro intactas e a capacidade de respirar independentemente estariam mortas, desde que não pudessem mais ter pensamentos conscientes.

Com essa definição ampliada, os médicos de transplantes teriam acesso a um conjunto muito maior de potenciais doadores que os disponíveis atualmente e poderiam salvar um número incontável de vidas.

A morte não é um evento, é um processo. Mas, mesmo depois de milhares de anos de tentativas, ainda estamos buscando algo mais definitivo. Não parece que este processo vá acabar em breve.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Esta tradução foi publicada originalmente aqui: https://www.bbc.com/portuguese/revista-62571699

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