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domingo, 6 de agosto de 2023

A danação de Dino - Augusto Nunes

Revista Oeste

O que há no lote de imagens que tirou o sono e o juízo do ministro da Justiça? 

Flávio Dino | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O primeiro lote de imagens lavou a alma dos donos do poder. Bastaram alguns minutos de transmissão ao vivo para que os comandantes do Executivo e do Judiciário enxergassem nas cenas exibidas pela TV muito mais que um surto de vandalismo, muito mais que um crime contra o patrimônio público. Os ataques às sedes dos Três Poderes em curso naquele 8 de janeiro anunciavam o início do golpe de Estado urdido por bolsonaristas derrotados na eleição presidencial.  
Era hora de mostrar quem é que manda aos extremistas entrincheirados havia semanas nos arredores dos quartéis de Brasília. 
 
O presidente Lula, acampado em Araraquara, e o onipresente ministro Alexandre de Moraes esbanjaram sintonia na imediata contraofensiva
A leva inaugural de decretos e decisões monocráticas rebaixou o Distrito Federal a puxadinho do Palácio do Planalto. 
Por não ter mantido a ordem no cenário do crime, o governador Ibaneis Rocha foi substituído por um interventor indicado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. 
Acusado de tirar férias na data errada, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, voltou dos Estados Unidos diretamente para a cadeia.
 
Empunhando o tresoitão que defende a democracia com tiros na testa do Estado de Direito, o ministro Alexandre de Moraes abriu outros seis inquéritos secretos, aumentou o valor das multas, lotou duas cadeias com a captura de mais de 1,5 mil adoradores de fake news e celebrou a façanha com a exibição da face generosa. 
Com a institucionalização do julgamento por atacado e a universalização da tornozeleira eletrônica, inventou a meia liberdade.

As coisas pareciam sob controle, até que a comissão parlamentar de inquérito quis saber como fora o 8 de janeiro no Ministério da Justiça e Segurança Pública

O segundo lote de imagens tirou o sossego dos donos do poder. Divulgadas pela CNN, gravações feitas pelo sistema de segurança do Palácio do Planalto teriam apenas ampliado os registros visuais do 8 de janeiro se não incluíssem a desconcertante performance do general Gonçalves Dias. 
 Instalado pelo amigo Lula na chefia do Gabinete de Segurança Institucional, era lá mesmo que GDias deveria estar. 
Mas para impedir ataques do gênero, não para caprichar no papel de guia turístico. 
 

Lula, Flávio Dino e Alexandre de Moraes | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Entre uma paulada na janela e um pontapé na relíquia histórica, os invasores ouvem do general instruções que os ajudarão a afastar-se em sossego da área conflagrada. 
Ele não estava só, informa a aparição de outro oficial que oferece água aos cansados de guerra. Os dois militares perderam o emprego. 
E as coisas pareciam sob controle, até que a comissão parlamentar de inquérito quis saber como fora o 8 de janeiro no Ministério da Justiça e Segurança Pública. 
 
Primeiro, o ministro negou-se a entregar o material gravado pelas câmeras de vigilância. Diante da insistência do presidente da CPMI, deputado Arthur Maia, Flávio Dino recomendou-lhe que encaminhasse a solicitação à Polícia Federal. 
Maia lembrou-lhe de que a PF é subordinada ao Ministério da Justiça e exigiu a entrega das imagens no prazo de 48 horas.  
Dino alegou que não poderia liberar gravação nenhuma sem a autorização do Supremo Tribunal Federal. O que há nesse terceiro lote de imagens para tirar o sono e o juízo do seu guardião? 

Dino já admitiu que chegou ao seu gabinete antes que os ataques terminassem, mas tarde demais para agir.  
Avisos não faltaram: entre os dias 2 e 8 de janeiro, a Abin encaminhou 33 alertas ao GSI e a outros 12 órgãos vinculados ao sistema de segurança.  
No dia 7, dois alertas nível máximo ressaltaram o risco de ataques violentos. 
Em casos assim, deve ser acionado o Plano Escudo, que estabelece os procedimentos que devem ser adotados pelo GSI quando o Palácio do Planalto está sob ameaça. 
Uma das medidas é a atuação conjunta das tropas de choque do Batalhão da Guarda Presidencial, do Batalhão de Polícia do Exército e do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas do Exército.  
No dia 8, apenas o Batalhão da Guarda Presidencial estava de prontidão. 
 
O presidente viajou para Araraquara. As tropas permaneceram nos quartéis. Alguns ministros ficaram em casa. 
Outros se instalaram no gabinete para ver, encostados na janela, a passagem dos manifestantes rumo à armadilha montada por provocadores especializados na atração de radicais. 
As imagens que atormentam Flávio Dino também mostram a posição dos ponteiros dos relógios. 
Talvez ensinem como se monta um golpe que melhora a vida dos possíveis golpeados.

Leia também “A Abolição dos Sem-Teto”

 

Coluna Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 12 de julho de 2023

Povo não sabe que o Estado está a seu serviço - Correio Braziliense

Povo que não é ensinado a pensar, também não sabe que é a origem do poder, mandante de seus mandatários políticos e daqueles que são servidores do público

A reforma tributária já tem relator no Senado, e o povo brasileiro está alheio a ela. Só as elites se manifestam; algumas prevendo mais carga tributária, outras antevendo prosperidade. Ela parece cinzenta, pois está entre o preto e o branco: ou é caixa preta ou é cheque em branco. Depois de aprovada na Câmara, ouvem-se dos próprios deputados queixas de que votaram sem conhecer o texto, ou votaram sem entender as consequências das mudanças. 
Representantes do povo são espelho de seus eleitores, que se calam quando seu representante vota o oposto do compromisso de campanha, ou que lhe dá as costas e deixa de representá-lo, para ganhar um cargo em outro Poder.  
Uns e outros carecem de educação e ensino que lhes credencie para praticar um sistema que tem defeitos, mas ainda não se encontrou outro melhor: a democracia, em que todo poder emana do povo e é exercido em seu nome através de seus representantes nomeados pelo voto. 
Por isso, a massa dos pagadores de impostos não é ouvida nem sabe o que vai acontecer quando se mexe nas leis tributárias.
 
Muitos políticos não pensam que educação e ensino são prioridades absolutas para tirar de uma situação crônica uma país tão rico de recursos naturais e tão pobre em bem-estar
Políticos que não pensam que é preciso educação e ensino porque, afinal, muitos deles não tiveram formação e, ainda assim, tiveram votos. [começando pelo apedeuta que atualmente preside o Brasil = que quando recebeu o diploma atestando ter sido eleito para o seu primeiro mandato presidencial, se orgulhou de NUNCA ter lido um livro - ratificando que SUA FALTA DE ESTUDO não o impedia de receber o primeiro diploma da vida o credenciando para exercer,  até aquela ocasião, o cargo mais importante da Nação = importância que foi extinta após dois mandatos seguidos conferidos àquele semianalfabeto e , na sequência, mais dois conferidos a sua sucessora, gênio na ignorância, Dilma Rousseff.] Há políticos que nem querem educação e ensino, porque povo sem um e outro é mais fácil de ser conduzido.  
Paternalismo e clientelismo andam juntos. 
São pagadores de impostos que nem sabem que pagam e recebem qualquer esmola como dádivas pessoais de quem usa o imposto do suor alheio. Povo que não é ensinado a pensar, também não sabe que é a origem do poder, mandante de seus mandatários políticos e daqueles que são servidores do público. Não sabe que o Estado está a seu serviço.
 
Esse povo que se deixa conduzir só se libertará com a educação e o ensino. Desde criança convive com maus exemplos exaltados na mídia que omite os heróis verdadeiros. Aí, fica fácil enganar o povo, como aconteceu na pandemia, quando usaram o medo para paralisar corpos e mentes. Uma fórmula antidemocrática em que o medo paralisa e a ignorância aliena.  
Agora o Censo nos mostra que estamos cada vez mais velhos e aposentados e cada vez menos jovens produtivos. 
Não há país que gere bem-estar se os que geram riqueza forem menores em número. 
A janela dessa oportunidade vai se fechar em breve e é preciso correr com mais produtividade dos que estão em idade ativa.
 
Para mais produtividade, ensino; para cidadania e democracia, educação. Educação é tarefa da família; ensino, tarefa da escola. 
É sinal de que estamos carentes de pais e professores, se as pessoas não praticam a cidadania ou não sabem interpretar um texto nem acertar as letras das palavras que jogam nas redes sociais. Professores que não transmitem conhecimento da língua, da matemática, das ciências
pais que transferem a educação para os professores, se eximindo de sua missão. 
Famílias que não ensinam seus filhos a ética, o cumprimento das leis, a cidadania, as virtudes, o respeito aos outros, os modos de viver em coletividade, estão formando que país?  
Não há outra saída para garantir futuro para este país a não ser educando e ensinando.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo
 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Síndrome russa de morte súbita: a irônica “doença” de figurões apagados

Suicídios, defenestrações, ataques cardíacos e até uma intoxicação por veneno de sapo mataram 24 russos em posições importantes

Pode ser coincidência? Pode, mas a sequência de mortes de figurões russos no ano que acabou exige uma credulidade que desafia as probabilidades.

A revista The Atlantic inventou até um termo irônico para qualificar tantas coincidências, a Síndrome Russa de Morte Súbita e a Wikipedia tem um verbete específico, “As mortes misteriosas de homens de negócio russos em 2022”.

Nem todos foram oligarcas, embora haja uma frequência marcante de executivos da indústria de gás e petróleo. O penúltimo caso da lista impressionou pela reincidência: Pavel Antov, apelidado de “o rei da linguiça” por sua indústria de processamento de carne, caiu da janela de um hotel na Índia onde dois dias antes um amigo com que viajava junto tinha sofrido morte súbita ainda a ser esclarecida. 
Embora fosse deputado pelo mesmo partido de Putin, Antov tinha criticado a invasão da Ucrânia, o que depois desmentiu.

Janela parece ter virado uma coisa perigosa. O presidente do conselho da gigante petrolífera Lukoil, Ravil Maganov, “caiu da janela de um hospital em Moscou”, segundo informaram agências russas – um detalhe posteriormente desaparecido. A Lukoil falou em “morte depois de lutar contra uma longa doença”.

Não foi o primeiro caso do ano na empresa. O ex-diretor Alexander Subbotin morreu aos 43 anos depois de uma sessão com um curandeiro que injetou veneno de sapo em seu corpo para curar uma ressaca.

É claro que as mortes não podem ser colocadas oficialmente na conta de reações à guerra na Ucrânia e as graves consequências internas, provocadas pelas sanções ao país, com prejuízos e perda do estilo de vida internacional que os russos ricos desfrutaram durante as duas décadas em que Vladimir Putin efetivamente recuperou a economia da Rússia e fez um pacto com as elites – cada um na sua pista, com os devidos  e milionários pagamentos.“Imaginem o que acontece a um país globalizado quando cai a ficha das sanções. Alguns cometem suicídio”, disse à Atlantic o historiador Edward Luttwak.

Pelo menos dois casos dados como suicídio envolveram a família. A mulher e a filha de 13 anos de Vladislav Avaiev, ex-vice-presidente do Gazprobank, estavam junto de seu corpo num apartamento em Moscou. Sergei Protosenia, vice-presidente da gigante do gás Novatek, apareceu enforcado na viga da casa de veraneio na Espanha depois de, supostamente, matar a mulher e a filha a machadadas.

Michael Weiss, jornalista que está escrevendo um livro sobre o serviço militar de inteligência, acha que alguns suicídios podem ter acontecido depois do “telefonema” – um aviso, como na Roma antiga, de que o cidadão tinha a opção de tirar a própria vida. Ou ela seria tirada dele.

A dubiedade faz parte do jogo: suicídio, suicídio induzido, homicídio?

“Eles querem que nós saibamos que foi assassinato, mas não querem que possamos concluir definitivamente que foi isso”, disse Weiss à Atlantic.

A legendária eficiência dos serviços russos às vezes é apenas isso – uma lenda. Em dois casos notórios de envenenamento com Novichok, um dentro e um fora do país, as vítimas sobreviveram. 
 Alexei Navalny escapou com vida do agente que paralisa o sistema nervoso, aparentemente espalhado em sua cueca num quarto de hotel, porque o piloto do avião onde entrou em crise fez um pouso de emergência e ele recebeu tratamento médico na Alemanha. Hoje está preso e só se comunica por mensagens através de seus advogados. Os assassinos que deveriam ter despachado o ex-espião Sergei Skripal, que havia desertado e se transformado em agente da inteligência britânica, erraram na dose – ou provavelmente o atendimento médico foi mais eficiente do que o esperado. Skripal e a filha, Julia, escaparam com graves sequelas.

O percurso dos dois agentes russos foi quase que inteiramente reconstituído por câmeras de segurança.

Os agentes que envenenam Alexander Litvinienko, outro ex-espião que mudou de lado, foram mais desastrados ainda. O próprio Litvinienko viveu três dias, o suficiente para relatar como foi atraído para um chá letal num hotel de Londres. A substância usada, polônio-210, deixou traços radiativos em toda a trilha dos assassinos, inclusive no avião de volta para Moscou.

A infame reação de Putin à reconstituição comprovando o atentado contra Alexei Navalny ficou famosa: se os serviços secretos quisessem realmente matar o dissidente, “teriam ido até o fim”, disse ele.

A última morte “importante” do ano foi de Vladimir Nesterov, engenheiro espacial que continuava a trabalhar no novo sistema russo de foguetes mesmo depois de um processo por desvio de dinheiro, entre outras encrencas. Imaginem a quantidade de homens em posições importantes que não estão dormindo tranquilos. Esse é um dos instrumentos clássicos de controle dos regimes autoritários. Algumas das mortes suspeitas podem ter tido até causas naturais, mas o regime putinista quer que as pessoas tenham dúvidas.

Mundialista, Vilma Gryzinski  - Revista VEJA


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Números que alarmaram o lulismo - Percival Puggina

O intenso fluxo de detentores de mandato, na “janela” dos últimos meses proporciona vários ângulos de análise. Já escrevi sobre a descaracterização dos partidos políticos brasileiros e sua transformação em misto de cartório e tesouraria.

Outro ângulo é o que trata do magnetismo das candidaturas majoritárias, especialmente das candidaturas presidenciais, em relação aos congressistas e, em especial, aos deputados federais. Era de se prever, pois política é realismo e a regra do jogo orienta as opções dos jogadores. Assim, feitas as contas e os “noves fora”, o PL viu sua representação crescer para 73 deputados, incluindo outros 40 aos que já tinha.

Conforme matéria da Gazeta do Povo de hoje (06/04), alguns partidos do Centrão que integram a base do governo no Congresso saíram com saldo positivo da janela partidária. O Progressistas (PP), ampliou a sua bancada de 38 para 50 deputados. Já o Republicanos cresceu de 30 para 45 parlamentares.

Ao mesmo tempo, o magnetismo da candidatura de Lula estimulou quase ninguém a migrar para seu partido e não ajudou os partidos à sua volta. 
Apenas dois deputados federais mudaram-se para poltronas petistas. 
Nas cercanias do PT, o PSB, o PV, o PCdoB, o PSOL e o PDT encolheram suas representações. O PSDB perdeu dois deputados.
 
A “janela” aberta acabou virando uma porta escancarada para redução das representações partidárias que poderiam ser atraídas pela candidatura de Lula. 
Só militantes muito otimistas podem dizer que isso não é péssimo sinal para a candidatura conspirada dentro do STF.
 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.