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quarta-feira, 28 de março de 2018

Receita de caos: tiros, ovos, cadáver e insensatez, com o Supremo, com tudo

É preciso reconhecer que o Brasil apaixonou-se pelo desastre. Se os últimos acontecimentos indicam alguma coisa é que essa paixão nacional pelo insolúvel é plenamente correspondida. O último privilégio da nação é poder formular sua própria receita para o caos. Do jeito que vão as coisas e as pessoas, a expectativa é fúnebre. Organiza-se o funeral da sensatez. Depois, todos se culparão mutuamente pela sua morte. Mas o estrago estará feito.


A convulsão que toma as redes sociais, nos choques de ódio, transborda para a praça. Condenado a 12 anos de cana, Lula está no palanque, não na cadeia. Inelegível, fantasia-se de candidato. Suas manifestações são cada vez mais desconexas. No Sul, entrega-se à rotina de percorrer plateias companheiras. Mas elas são cada vez menores. E passaram a ser perseguidas por milicianos travestidos de opositores. Jogaram pedras. Arremessaram ovos. Dispararam três tiros contra um par de ônibus da caravana —um levava jornalistas. Outro, convidados.

A presidente do PT, Gleisi vai ter que matar gente Hoffmann, ergueu a voz: “É um atentado, foi uma emboscada, é tiro. Querem matar o presidente Lula.” Ao lado de Gleisi, o próprio Lula. Atrás, o companheiro Stédile, personagem que o pajé do PT evoca sempre que deseja informar que sua infantaria inclui o “exército” do MST.

O  pedaço do movimento anti-Lula que não se esconde no mato para puxar o gatilho exibe em manifestações barulhentas uma simpatia irrefreável por Jair Bolsonaro. Alguns desses rivais levam à vitrine um paradoxo: caminham para as urnas enrolados numa bandeira metafórica da volta dos militares. É a turma da “direita já”.  A esse ponto chegou a polarização nacional: Lula e Bolsonaro tornaram-se cabos eleitorais um do outro. E o eleitor brasileiro aproxima-se do dia da eleição enxergando um enorme passado pela frente. A preferência de metade do eleitorado oscila entre um condenado por corrupção e um defensor da “bancada da metralhadora” no Congresso. [há diferenças:
o condenado por corrupção em outubro estará preso e já é inelegível;
já o presidente que vai moralizar o Brasil só suscita uma dúvida: ganha já no primeiro turno ou precisará do segundo?]

Alguém já disse que a civilização é o que sobra para ser desenterrado mil anos depois. Quando os arqueólogos desencavarem o que restou do Brasil, encontrarão os sinais de uma sociedade doente. Nela, denunciado por corrupção disputa a reeleição, reforma ministerial vira troca de cúmplices, autoridades assassinam na internet a reputação de uma vereadora fuzilada…

Nessa sociedade em ruínas, magistrados supremos sofrem ameaças, corruptos trafegam livremente sob a marquise do foro privilegiado e o Supremo Tribunal Federal, além de não condenar ninguém acima de um certo nível de poder e renda, cultiva a política das celas vazias para os poderosos que tiveram o azar de ser alcançados pelas instâncias inferiores do Judiciário.  Juntando todos os achados, os responsáveis pela arqueologia do Brasil chegarão à receita perfeita do caos: tiros, ovos, ladroagem, cadáver e muita insensatez —com o Supremo, com tudo.

Blog do Josias de Souza
 


quinta-feira, 8 de março de 2018

Bolsonaro tira a extrema-direita do armário




Ato de filiação ao PSL foi mistura de culto evangélico e programa policial – Tudo pelo Brasil

  Jair Bolsonaro | Aílton de Freitas

Uma mistura de culto evangélico e programa policial de TV. Assim foi o ato que selou ontem a filiação de Jair Bolsonaro ao PSL. O presidenciável defendeu a liberação das armas e prometeu combater “vagabundos” e “marginais”. Ele temperou o discurso com menções a Deus e à “família brasileira".

O deputado encarregou Magno Malta, dublê de senador e cantor gospel, de puxar uma corrente de oração. Em seguida, investiu no culto à própria personalidade. “Eu sou o Messias. Jair Messias Bolsonaro", disse, para delírio dos seguidores que lotavam um dos plenários da Câmara.

O capitão reformado incitou o sentimento nacionalista da plateia. “Vamos voltar a ter orgulho da nossa bandeira”, prometeu. “Mito! Mito! Mito!”, responderam os aliados, em coro. “Só tem uma maneira de esta bandeira ficar vermelha: com o meu sangue”, emendou Bolsonaro. “A violência se combate com energia, e se for necessário, com mais violência”, prosseguiu o pré-candidato. Ele prometeu pedir votos para os colegas da bancada da bala, que se acotovelavam a seu redor. “Quem sabe teremos aqui a bancada da metralhadora”, gracejou.

Dizendo-se defensor da família, o deputado disse que que a homossexualidade “não é normal". “Um pai prefere chegar em casa e ver o filho com o braço quebrado no futebol, e não brincando de boneca”, discursou. “Casamento é entre homem e mulher, e ponto final”, continuou, apesar de o STF já ter reconhecido a união estável de pessoas do mesmo sexo. [ao reconhecer o famigerado 'casamento gay'  apelidado de 'união estável entre pessoas do mesmo sexo', o STF afrontou a Constituição, já que a Suprema Corte legislou o que é proibido pela Constituição Federal.
Por  óbvio um ato nascido de uma afronta à Constituição  é inconstitucional.]

Em outra passagem, Bolsonaro prometeu varrer os partidos de esquerda do Congresso. “Quem reza dessa cartilha de esquerda não merece conviver com os bens da democracia e do capitalismo”, disse. “Nós temos que alijá-los”, acrescentou.  Deputado há 27 anos, o presidenciável se apresentou como promessa de renovação na política. Ele ainda citou Donald Trump como “exemplo para nós seguirmos” e atacou a imprensa, a quem acusou de “conivente com a corrupção".

Antes de ouvir o líder, Magno Malta se ofereceu para o cargo de vice em sua chapa. Ex-aliado de Lula e Dilma Rousseff, ele evitou lembrar o passado ao lado dos petistas. “Agora você é extrema-direita. Isso não ofende, não”, disse, olhando para Bolsonaro. “Extrema-direita é o que nós somos”, concluiu.

O Globo