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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

"Deputéricas" [cuidai-vos] : Bancada feminina da Câmara prepara representação contra deputado

Menos de 10 minutos após o pronunciamento, as parlamentares revezaram-se, na tribuna, criticando a fala de Bibo e avisaram que irão ao Conselho de Ética

 A bancada feminina prepara uma representação contra o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) que, ontem, ao discursar no final do manhã, avisou que, a partir daquele momento, chamaria as deputadas de “deputéricas”, segundo ele “deputadas histéricas que não respeitam minimamente o presidente da República”. Ele repetiu várias vezes que as mulheres “criticam, criticam” e são “histéricas”. Além disso, vangloriou-se de criar um neologismo.

“Quando eu falar ‘deputérica’, estarei me dirigindo a uma deputada histérica, que não tem posicionamento, que não tem bom senso e que não se enquadra dentro do decoro parlamentar”, anunciou.

A resposta não demorou. Menos de 10 minutos após o pronunciamento, as parlamentares revezaram-se, na tribuna, criticando a fala de Bibo e avisaram que irão ao Conselho de Ética. “É um apelido ridículo, indecoroso e machista”, definiu a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que ainda avisou ao bolsonarista: “Não vamos parar de nos posicionar. Vai ter que nos ouvir ainda que não goste”.

A reclamação foi suprapartidária. Do Distrito Federal, Flávia Arruda (PL) e Érika Kokay (PT), de campos opostos da política, uniram-se no discurso. “Não vamos aceitar nenhum tipo de machismo. Já temos que conviver com isso na rua, nas campanhas. Não é possível que tenhamos que conviver, também, no Parlamento”, protestou Flávia. “Todas as vezes que mulheres se colocam e dizem que lugar de mulher é onde ela quiser, e ocupam espaços que a lógica sexista, machista, reserva para os homens, elas são atacadas. Tentam caracterizar a firmeza da posição das mulheres como histeria. Os homens, quando são firmes, são chamados de convictos, combativos”, afirmou Érika.

[deputada Flávia Arruda, apesar da razão lhe assistir, sugerimos que evite certas companhias, especialmente desse pessoal da esquerda.

Quanto a um deputada - ou deputéricas - estar sendo apontada como autora de uma descompostura no deputado Marcel Van Hatten, que presidia a sessão é mais um caso que deve ser apreciado pelo Conselho de Ética.]

Joenia Wapichana (Rede-RR), Sâmia Bonfim (PSol-SP), Fernanda Melchionna (PSol-RS), Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e tantas outras fizeram coro. “Quando um deputado vai à tribuna ofender as parlamentares, está ofendendo as mulheres do Brasil”, apontou Perpétua. Fernanda ainda passou uma descompostura no deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS), que presidia a sessão no momento e não fez qualquer reparo ao pronunciamento de Bibo Nunes.

Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA


 

domingo, 2 de junho de 2019

Muita fala, pouco rumo

Bolsonaro é candidato a ser o presidente mais falante da história

Por óbvio, o Parlamento parla e o Executivo executa. O presidente Jair Bolsonaro subverte essa lógica, ao executar pouco e estar se candidatando a ser o presidente mais falante da história da República, mas a principal questão nem é essa, é se Bolsonaro realmente tem um plano de governo para executar no País.  Até agora, lá se vão cinco meses de governo, o presidente aproveitou a oportunidade de ter os microfones e a caneta de presidente – muito mais poderosa do que a de Rodrigo Maia, como bem lembrou – para transformar em políticas de Estado as velhas crenças e convicções com as quais cresceu, educou seus filhos, bate papo com os amigos e vê o mundo.

Pode ser que haja pesquisas no Planalto, pode ser que não, mas o fato é que Bolsonaro exercita o prazer de sair por aí pensando alto, falando o que bem entende e repetindo a sua tão bem sucedida campanha presidencial, em que era o centro das atrações e dos aplausos e nunca apresentou um plano de governo real. Um homem comum que veio por desígnios de Deus para mudar o País.  É assim que Bolsonaro estimula manifestações a favor de seu governo e contra o Legislativo e o Judiciário, propõe dois dias depois um pacto aos presidentes dos dois outros Poderes e termina a semana acusando o Supremo de “legislar” na questão da homofobia. [simples lembretes: o pacto foi proposto pela primeira vez pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli;


- o furor legiferante da Suprema Corte brasileira é tamanho, que mesmo tendo sido notificada, tesmpestivamente, pelo Senado Federal da existência, em tramitação naquela Casa,  de dois projetos de lei sobre o assunto, o que mostra a inexistência da alegada omissão em legislar por parte do Poder Legislativo, decidiu continuar julgando as ações;

- cabe ao presidente da República indicar os ministros do Supremo (inclusive não é necessário ser bacharel em direito para ser ministro do STF). Assim, desde que o indicado atenda os requisitos exigidos na CF, Bolsonaro pode indicar quem ele quiser - seja católico, protestante, umbandista, ateu, etc. Se o presidente cometeu algum erro foi o da vaidade - fez questão de demonstrar poder.
Aproveite, clique aqui e comprove as razões que motivam as pessoas a não desejarem ser amigas de homossexuais.] Ainda aproveita o ensejo – uma convenção religiosa em Goiânia – para defender (ou anunciar?) um ministro evangélico para a Corte.

Se há praticantes católicos, espíritas, muçulmanos, judeus ou umbandistas no Supremo, não se sabe ou não é importante saber, até porque o Estado é laico e o critério religião não cabe na nomeação de ministros, que devem ter alto saber jurídico, independência e respeitabilidade. Se as pessoas acham que um ou outro não tem, é outra história. O presidente do STF, Dias Toffoli, muito hábil, é desses que está bem com todo mundo e tem boa química com Bolsonaro, a ponto de ser convidado para um café do presidente com a bancada feminina aliada. Um peixe fora d’água. Mas Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello reagiram à altura à fala sobre homofobia e “ministro evangélico”.

O PIB recua, o desemprego resiste e a estudantada volta às ruas, mas Bolsonaro atravessou a rua a pé até o plenário da Câmara, mantém os lives de internet sobre temas gerais e já traçou um rango em restaurante de estrada com caminhoneiros, uma das ameaças sobre o governo – e sobre a economia. E lá veio mais falação: “Estou comendo o pão que o diabo amassou”, lamentou-se o presidente, que estimulou os convivas não apenas a ter armas, como a usá-las.

Ao longo da semana, ele sinalizou que tende a vetar a proibição de cobrança para despachar malas em aviões, reconhecendo que, se vetar, os passageiros não vão gostar; se não vetar, as empresas é que vão reclamar. Ah, se os diabos perseguissem os presidentes por decisões tão simples... Na mesma fala, um ato falho. Apesar de tentar corrigir, ele admitiu que pesa na sua decisão o fato de a volta da bagagem gratuita ter sido proposta pelo PT. E saiu-se com essa: “Os caras (do PT) são socialistas, comunistas, estatizantes e gostam de pobre. Quanto mais pobre tiver, melhor”.

Pena que a área de Humanas esteja em baixa, porque a declaração merece análise sociológica, filosófica, política, psicológica. Primeiro, porque a declaração é pró-PT. Segundo, porque “gostar de pobre” é um dever de governantes e políticos. Terceiro: pobre anda mesmo de avião?   Assim, as manchetes são ocupadas, de um lado, pela economia patinando e o desemprego assolando e, de outro, pelas falas de Bolsonaro sobre suas crenças, seus desabafos e seus “foras”. Aparentemente, o presidente gosta de todo o foco nele, não no governo e nas soluções para o País.


Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo