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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

O fator 'Lula Livre' - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Bolsonaro criou agenda de antagonismos, mas não regularizou a quitanda do governo

Quando isso acontecer, alterará o medíocre cenário político

Lula deixará a carceragem de Curitiba. Talvez seja logo, talvez demore algumas semanas, ou poucos meses. Quando isso acontecer, alterará o medíocre cenário político que se instalou no país. Os problemas de Pindorama são bem maiores que o caixa do PSL e os bate-bocas do senador Major Olímpio chamando os filhos do presidente de “príncipes” e sendo chamado por um deles de bobo da corte”.
Daqui a uma semana completa-se um ano da vitória de Jair Bolsonaro e de uma espécie de amnésia em relação aos 47 milhões de votos (45%) obtidos pela chapa petista. Nem todo mundo que votou no capitão queria um governo como o que se instalou. 
[conveniente ter presente  a grande possibilidade do petista não ser solto.
VEJAMOS: 
- o STF pode até iniciar amanhã o exame da prisão em segunda instância,mas, nada garante que concluirá o assunto ainda este ano;

- a pretendida e absurda suspeição do então juiz Sergio Moro - um devaneio da defesa do condenado petista, não vai prosperar. As 'conversas' divulgadas pelo site 'intercept Brasil', também conhecido como intercePTação, sequer serão analisadas pela Corte Suprema brasileira; 

- a decisão do ministro Toffoli de quórum completo para decidir sobre quem é mais réu: o deletado ou o delator, pode postergar por anos uma decisão.
Ousamos considerar que se é necessário quórum completo para iniciar a discussão, tal quórum deve prevalecer pelo menos até o término dos debates.

Logo que se firme uma posição do STF, ainda que de adiamento sine die, o TRF-4 confirmará a segunda sentença condenando Lula e o tempo para receber beneficio dobrará = continuará preso.]
 
Livre ou, pelo menos, falando à vontade, Lula ocupará um espaço que há um ano seria impensável. Isso porque Bolsonaro conseguiu criar uma agenda de antagonismos incendiária e cosmopolita, porém incapaz de regularizar a venda de berinjelas pela quitanda do governo. O capitão alimenta contrariedades, mas não enfrenta algo que se possa chamar de oposição. Sergio Moro e a Lava-Jato não são mais o que foram, e o discurso da lei e da ordem desembocou numa constrangedora necropolítica. 

Num de seus telefonemas grampeados, falando com o então vice-presidente Michel Temer, Lula disse que o combate à corrupção, encarnado por Moro, “foi sempre um alimento para golpistas no mundo inteiro, e quem ganhou foi a negação da política”. Exagerava, mas horas depois Moro explodiu sua nomeação para a chefia da Casa Civil liberando impropriamente a gravação de um telefonema de Dilma Rousseff. (Moro determinara o fim do grampo às 11h12m daquele dia, e o telefonema de Dilma ocorreu às 13h22m. A conversa com Temer das 12h58m só foi revelada em setembro passado.)
(...)
 
Na Folha de S. Paulo e no  O Globo  MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista