É evidente que o ataque a Bolsonaro (PSL) em Juiz de Fora, em Minas, é lamentável.
Não
há ângulo possível que minimize a gravidade da coisa. Quais serão as
consequências? Vamos ver. Um de seus filhos, o deputado estadual Flávio
Bolsonaro, já anuncia a vitória no primeiro turno do candidato do PSL à
Presidência. Não é a melhor coisa que um filho pode dizer diante de um
pai gravemente ferido. Mas é a mais oportuna que um candidato ao Senado
pode dizer sobre um presidenciável. Lamento o ataque. Lamento a
exploração política do fato.
Momento em que Bolsonaro leva uma facada em Juiz de Fora, em Minas
Já comentei e lastimei no rádio e na TV
as teorias conspiratórias que circularam nas redes sociais ao longo
desta quinta-feira. Antes que ficasse evidente a gravidade do ferimento,
esquerdistas expressavam a certeza de uma ação à moda “Odorico
Paraguaçu”, de “O Bem-Amado”, o prefeito de Sucupira que praticava atos
de sabotagem contra a própria gestão para pôr a culpa da oposição. Não
havia nenhum indicio disso a não ser o puro desejo de maldizer um
adversário.
A extrema-direita, representada com
muita propriedade pelos admiradores e partidários de Bolsonaro, faziam o
contrário: o ataque seria, na verdade, uma urdidura de esquerdistas
para impedir a vitória certa do mito. Tudo ficou pior quando veio à luz
a, vamos dizer, “ficha partidária” de Adelio Bispo de Oliveira, o
agressor. Fora filiado ao PSOL de Uberaba de 2007 a 2014. Assim,
fechava-se o círculo da falsa evidência.
As duas hipóteses são ridículas. Uma
agressão cometida naquelas circunstâncias, em meio a uma multidão, não
tem como ser “controlada”. Ainda que a intenção fosse “machucar pouco”, o
risco seria, por si, gigantesco. As imagens que vieram a público
desautorizam qualquer possibilidade de uma tramóia. Tivesse havido,
certamente não teria contado com a anuência do agredido.
Da mesma sorte, descarta-se a “tramóia
das esquerdas”. [no descarte da hipótese de uma tramóia das esquerdas, surge o espaço para o famoso:'há controvérsias'.
uma das principais características das esquerdas, deste Stalin ao presidiário de Curitiba, sempre vale: 'os fins justificam os meios'.] Ora, atacar ou matar Bolsonaro por quê? Antes do ato
tresloucado de Oliveira, o candidato do PSL era o adversário dos sonhos
de todos os seus principais oponentes. A pesquisa Ibope informa que ele
perderia a disputa num eventual segundo turno para Geraldo Alckmin
(PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). Empataria tecnicamente
até com o ainda desconhecido nacionalmente Fernando Haddad (PT): 37% a
36%. [pequeno registro: considerando um segundo turno - que não ocorrerá - entre o poste lulopetista e o covardemente esfaqueado Jair Bolsonaro.
O principal não é destacado: Bolsonaro ganhar no primeiro turno - opção que diante da covarde agressão sofrida pelo capitão (sabe-se lá com qual objetivo e no interesse de quem???) se torna real. ] Que interesse objetivo teriam as esquerdas na sua morte? Era o
melhor adversário para ser derrotado.
Adelio Bispo Oliveira: ele não parece fazer parte de uma conspiração [esse cara tem muito o que contgar; é só questão de saber perguntar.]
Mais: note-se que a sua maior exposição
ao público — fora da bolha da Internet, em que pululam fanáticos de
todos os matizes — trouxe-lhe bem poucos votos: em duas semanas, ele
oscilou de 20% para 22%, dentro da margem de erro. Mas a sua rejeição
aumentou bastante: de 37% para 44%, que dizem não votar nele de jeito
nenhum. Em segundo lugar no ranking negativo vem Marina Silva, mas muito
abaixo: 28%.
Logo, tirar Bolsonaro no jogo por quê?
Ao contrário! O melhor era que permanecesse. Sua crescente presença nos
embates, fora da área de proteção da Internet, estava contando como
massa negativa. Passou a ser um acréscimo que diminuía. Assim, as
levianas teorias conspiratórias não fazem o menor sentido. Mas, claro!,
têm muito apelo entre os incautos. Há mais.
Adélio Bispo de Oliveira, o agressor de
Bolsonaro, que alguns querem ver como um perigoso esquerdista, está mais
para um sujeito confuso. [tudo pode ser simulado - até mesmo: até mesmo ser um servente de pedreiro, com curso superior.] Segundo testemunhos de familiares, sua
sanidade mental deve ser investigada. Um membro de sua família afirmou à
Folha que ela já chegou a ter um episódio de surto, sem dizer coisa com coisa. Sim, Oliveira já foi filiado ao PSOL e
recita mantras de esquerda, como a crítica à desnacionalização das
empresas. Também já associou Bolsonaro a um asno. Desinformado, afirma
que “a aprovação de Bolsonaro é maior entre os menos estudados, ou seja,
só analfabetos e semianalfabetos votam em Bolsonaro”. É o contrário: a
maior fatia do eleitorado do candidato do PSL está entre as pessoas com
curso superior e mais endinheiradas. É justamente entre os pobres e os
de escolaridade mais baixa que obtém seus piores índices.
Ele também enxerga uma conspiração da
maçonaria, que controlaria empresas no Brasil. Esse viés paranóico já é
bem típico da extrema-direita mais alucinada. Há laivos evidentes, ora vejam, de
bolsonarismo nas postagens de Oliveira. Ele é contra o Estado laico;
quer que o Brasil seja declarado oficialmente cristão e publica textos e
imagens hostis aos homossexuais, em especial contra a Parada Gay. Assim, como se vê, a caricatura do
agressor “esquerdista” não combina com as informações disponíveis sobre
as suas perorações nas redes sociais. Nada sugere que tenha havido uma tramóia da extrema-esquerda para matar o deputado.
Todos os candidatos, por óbvio, lamentaram o episódio e repudiaram a violência e a intolerância. Bem, é o mínimo que se espera. Dados os procedimentos adotados, é
improvável que Bolsonaro consiga retomar a campanha de rua. Até onde se
sabe, terá de ser submetido a uma nova cirurgia. A informação inicial,
de que havia sido submetido a uma laparoscopia, estava errada. Ele
passou por uma laparotomia exploradora, que consiste na abertura do
abdômen. O procedimento foi necessário em razão da natureza das lesões:
uma no intestino grosso e três no intestino delgado. Foi preciso
recorrer ainda uma colostomia temporária, que é um coletor de fezes, que
fica depositada numa bolsa.
A campanha de Bolsonaro nasceu e cresceu
na Internet. Seu “agitprop” nas redes estará mais ativo do que nunca.
E, como ficou evidente nesta quinta-feira mesmo, nem a UTI foi
impedimento para que falasse a seu público: um vídeo seu, em que se
mostra extremamente frágil, com voz fraca, virou objeto de culto entre
seus fãs.
Mais “mito” do que nunca.
Blog do Reinaldo Azevedo