Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador cabo eleitoral. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cabo eleitoral. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lula já constrói sua ‘candidatura’ a cabo eleitoral

O PT ensaia uma coreografia grandiosa para o registro da candidatura de Lula na Justiça Eleitoral

Será na próxima quarta-feira (15). Nesse dia, haverá manifestações nas principais capitais. Três marchas de movimentos sociais devem chegar a Brasília no início da semana. A multidão gritará ‘Lula livre’. Mas o PT já não cultiva a ilusão de que a cela de Curitiba será aberta antes da eleição. Embora seus dirigentes não admitam publicamente, o que está em curso é a montagem da ‘candidatura’ de Lula ao posto de cabo eleitoral, não mais à Presidência da República. O enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa é tratado internamente como fava contada.

Para vitaminar o poder de transferência de votos de Lula, o petismo aposta na comoção. Na noite desta terça-feira, o PT levou às redes sociais um vídeo que insinua o que está por vir. O mote para a elaboração da peça foi um conjunto de frases pronunciadas por Lula defronte do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo em 7 de abril, dia em que se entregou à Polícia Federal. “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês”, disse o condenado, antes de ser conduzido para a cela especial de Curitiba. “Minhas ideias já estão no ar… Agora vocês são milhões de Lulas”.

Lula e seus operadores mantêm em pé o plano de empurrar a impugnação da candidatura presidencial para uma data tão próxima do dia da eleição quanto possível. Consumado o indeferimento do registro no TSE, o partido recorrerá —primeiro à própria Corte eleitoral; depois, ao Supremo. Assim, a golpes de barriga, o PT espera esticar a corda até meados de setembro. Nesse intervalo, enverniza-se a pose de vítima de Lula.  Simultaneamente, alimenta-se o noticiário com matéria-prima para a mistificação do preso. Coisas como o estado de saúde dos seis militantes que dizem fazer greve de fome em Brasília e as evoluções da chapa tríplex (Lula—Fernando Haddad—Manuela D’Ávila), a ser convertida em chapa convencional (Haddad—Manuela) depois que a Justiça interromper, finalmente, a pantomima.

O poder de transfusão de votos de Lula será aquilatado pelas próximas pesquisas eleitorais. Em sua última sondagem, divulgada em junho, o Datafolha informara o seguinte: 30% do eleitorado dizia que votaria com certeza em um nome apoiado pelo pajé do PT. Outros 17% afirmavam que talvez votariam. Uma terceira fatia do eleitorado, estimada em 51%, declarava que não votaria num poste de Lula.  Além de elevar o índice dos eleitores que se deixam influenciar por Lula, o PT tenta reduzir as taxas de migração de votos do seu líder preso para candidatos de outros partidos. Segundo esse Datafolha de junho, 17% dos eleitores de Lula manifestavam a intenção de votar em Marina Silva se a candidatura do petista fosse barrada. Outros 13% prefeririam Ciro Gomes. Fernando Haddad, o poste de Lula, herdaria apenas 2% do eleitorado do padrinho. 

Blog do Josias de Souza
 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Jogo de gato e rato

Temer e MDB não estão à caça de candidatos; acham que serão caçados por eles

A pergunta que não quer calar, após o presidente Michel Temer falar ao Estado com simpatia sobre o governador Geraldo Alckmin: é bom ou ruim para um candidato à sucessão ter o apoio explícito do presidente mais impopular desde a redemocratização de 1985? Depende. Exatamente por isso, os presidenciáveis analisam como tirar os bônus sem arcar com o ônus. [Temer também é o único presidente cuja popularidade aumentou 100% em menos de uma semana.]
 
O aceno de Temer surpreendeu por causa de toda a mágoa acumulada no Planalto com os tucanos paulistas, que votaram em peso a favor das duas denúncias da PGR contra Temer, no momento mais dramático do governo. Mas o presidente é um pragmático. Olha mais para frente do que para trás.   Se os candidatos fazem cálculos sobre perdas e ganhos com o apoio de Temer, Temer faz justamente o mesmo em relação a eles: quem tem melhores condições de vencer, dar continuidade a seus principais programas e cuidar do seu nome e do seu governo para a história?

Estropiado ou não, pelas denúncias, más companhias, recuos e pesquisas, Temer tem dois poderosos trunfos na eleição de outubro: o peso da máquina do governo e a força do MDB, que ele presidiu durante anos. Forte ou fraco, governo é governo e está em todos os setores, todas as partes, é sempre uma mão na roda em campanhas. E o MDB é o maior partido do País. Além do maior número de governadores, prefeitos e vereadores, o partido tem também a maior bancada da Câmara, com 61 deputados, e o segundo maior tempo de TV na eleição. Esse é um ativo precioso, disputado a tapa pelo PT e o PSDB eleição após eleição e agora ampliando o leque de negociações.

No discurso de políticos mais jovens, a TV terá cada vez menos importância eleitoral, já a partir deste ano, porque vem sendo substituída pela rapidez, alcance e falta de regras das redes sociais. Mas quem é do ramo, como o próprio Temer, aposta no contrário: com a proibição do financiamento empresarial e os limites apertados do fundo público, a necessidade da TV vai crescer.  O fato é que o MDB se mexe muito, mas diz pouco e dá ainda menos pistas sobre o que pretende fazer em outubro. Como resumiu Temer: “O partido vai ter candidato? Um candidato próprio ou alguém que migre de outra sigla?” Leia-se: o governo e o partido não estão à caça de candidatos; acham que serão caçados pelos candidatos.

O problema é o que fazer com o próprio presidente, ou melhor, como ter os benefícios do governo e do partido, mas escondendo Temer e se descolando do seu desgaste na opinião pública? Não é tão simples. Temer e seus escudeiros Moreira Franco e Eliseu Padilha não são bobos. E candidato que subestima o eleitor pode dar com os burros n’água.  Em 2006, deu certo no Rio, quando Sérgio Cabral se elegeu governador surfando no apoio e nos votos do casal Anthony e Rosinha Garotinho, mas mantendo uma distância prudente e se desvencilhando dos dois assim que ganhou vida própria. Foi, porém, uma situação específica, local. Funcionaria numa eleição presidencial?

É essa pergunta que se fazem Alckmin, Rodrigo Maia e talvez até Henrique Meirelles – os três nomes potencialmente governistas. Enquanto trabalham e torcem para Temer ganhar popularidade e virar um bom cabo eleitoral, temem que, se isso ocorrer, ele mesmo poderá se lançar. Até aqui, portanto, há um jogo de gato e rato: quem caça quem, quem convém a quem. As pesquisas darão as respostas, mas aí é que mora o perigo: elas têm sido bem favoráveis aos nomes da oposição, não aos da situação.

‘Direitão’. Segundo Aécio Neves, Maia “começou bem” ao citar uma frase do seu avô, Tancredo, sobre correr riscos sem se meter em aventuras. Mas começa realmente bem com Paulinho da Força (SD), Valdemar Costa Neto (PR) e Ciro Nogueira (PP)? Isso é “centrão” ou “direitão”?

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

 

 

 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Luiz Edson Fachin, cabo eleitoral da Dilma em 2010 e recém indicado pela Dilma ao STF, reconhece poucos méritos no texto constitucional.



O Supremo é o guardião da Constituição. Mas Luiz Edson Fachin, que vai ser sabatinado pelo Senado, atribui poucos méritos ao texto constitucional
O Senado sabatinará o jurista Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff para a cadeira vaga no STF desde a renúncia de Joaquim Barbosa. O fato de que Fachin fez campanha para Dilma, em 2010, não o desabona. “Ele manifestou uma posição política, votou na presidente”, disse o senador tucano Álvaro Dias, para explicar: “O que deve prevalecer não é a opção política circunstancial”  mas “o notório saber jurídico, a reputação ilibada e a independência de quem vai julgar”. De fato, em 2002, o Senado aprovou a nomeação de Gilmar Mendes por FH e, em 2009, a de Dias Toffoli por Lula, sem impugnar a “opção política circunstancial” de nenhum dos dois. 

O problema é que, no caso de Fachin, a “opção política” não expressa um exercício individual de cidadania, mas uma militância específica na arena do Direito. “Tenho em minhas mãos um manifesto de centenas de juristas brasileiros que tomaram lado”, discursou Fachin cinco anos atrás. “Apoiamos Dilma para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos”. Há algo extraordinário quando juristas assinam coletivamente um manifesto político. Manifestos de intelectuais, economistas ou sambistas são só opiniões. Por outro lado, um “partido de juristas” tem o condão de ameaçar uma ordem jurídica fundada sobre o alicerce da neutralidade da Justiça. É isso que deveria acender uma luz de alerta no plenário do Senado.

O “partido de juristas” que escolheu Fachin como seu porta-voz não é o PT, como imaginam tantos espíritos simplórios. O “lado” dos juristas “que tomaram lado” é o da mudança política e social pelo Direito, à margem da vontade majoritária refletida pelo voto popular. “Se o conselho que se dava aos juízes antigos da Itália era não use a testa, use o texto, hoje a máxima pode ser reinventada para use a testa, não esquecendo do texto e seu contexto”, escreveu o indicado de Dilma em artigo recente. Obviamente, o juiz tem a prerrogativa de interpretar a lei à luz de princípios gerais e circunstâncias singulares.  Contudo, de acordo com Fachin, os juízes, como coletividade que tem “lado”, devem abrir as portas para o futuro, guiando a sociedade numa direção virtuosa. 

O STF é o guardião da Constituição. Fachin, porém, atribui poucos méritos ao texto constitucional. Num ensaio para a “Revista de Direito Brasileira”, publicado em 2011, ele menciona “a Constituição que não vimos nascer”, qualificando o processo constituinte da redemocratização como “uma promessa” que “se converteu em ausência” pois “nela, o que de pouco Marx havia deu lugar a muito Tocqueville”. O fracasso, teoriza, decorreu de um recuo, “a nostalgia da primeira modernidade”, que o jurista entende como primado do indivíduo sobre o coletivo e do mercado sobre os direitos humanos. Não há nada de errado com a crítica acadêmica à Constituição, mesmo quando exprime impulsos autoritários. Outra coisa, bem diferente, é introduzi-la na Corte Constitucional. 

Segundo a tese de Fachin, o “leito de Procusto” do Direito é a economia de mercado, pois “a compra e venda que tudo transforma em mercadoria” interpõe-se “entre os significados da equidade, democracia e direitos humanos”. Na sua visão, a prevalência do mercado “afasta o Estado-legislador do centro dos poderes e intenta limitar o Estado-juiz a retomar-se como bouche de la loi” (isto é, numa antiga expressão pejorativa, como mero arauto da lei). O ideal do jurista, camuflado na floresta de uma retórica hermética, é a concentração do poder no Estado e a autonomia dos juízes para implodir o “leito de Procusto”. 

O ativismo judicial de Fachin não encontra limites. Se, como imagina abusivamente, nosso arcabouço legal não é muito mais que uma reprodução das leis do Estado liberal do século XIX, a solução seria fabricar, pela vontade dos juízes, uma nova Constituição. A Carta de 1988 “proclama erradicar a pobreza” e “reduzir as desigualdades”, mas “não constrói searas de soberania popular”, acusa no mesmo ensaio, para indicar o caminho: “É evidente que uma Constituição se faz Constituição no desenrolar de um processo constituinte material de índole permanente”, pelo recurso a “ações afirmativas” e pelo “resgate de dívidas históricas”. Se os senadores aprovarem o nome de Fachin, estarão dizendo que deve ser atribuído ao STF um poder constituinte.
 
O horizonte de um “processo constituinte” de “índole permanente” é um tanto assustador. A filósofa Hanna Arendt enfatizou que, nas ideologias totalitárias, o movimento é tudo e “o próprio termo lei mudou de sentido: deixa de expressar a estrutura de estabilidade dentro da qual podem ocorrer os atos e os movimentos humanos para ser a expressão do próprio movimento” (“Origens do totalitarismo”). Seria ridículo apontar em Fachin um cultor do totalitarismo. Contudo, sua aversão à “estrutura de estabilidade” da legislação e sua obsessão por “searas de soberania popular”  criadas pelo gesto soberano do juiz não podem passar em branco numa sabatina digna desse nome. 

O “partido dos juristas” almeja reescrever a Lei, interpretando livremente os princípios gerais do Direito para dinamitar as heranças constitucionais da “primeira modernidade”. E eles querem operar acima e além dos limites definidos pela separação de poderes:  “Quando (...) o Judiciário se vê compelido a debater questões de poder, assacam-lhe de pronto a crítica (...) do ativismo judicial”, reclama Fachin, sem se dar conta de que o povo elege o presidente e os legisladores, mas não elege juízes. Displicente, o Senado aprovou o nome de Dias Toffoli, ao qual faltava o “notório saber” para ocupar uma cadeira no STF. Agora, os senadores enfrentam um desafio distinto: o nome escolhido por Dilma usa um indiscutível “notório saber” para contestar a ordem constitucional e as prerrogativas do Congresso. É hora de dizer "não".

Fonte: Demétrio Magnoli – O Globo