Análise Política
As revoluções podem até morrer, mas deixam sempre algum legado.
De
volta ao assunto do momento, seria ingenuidade, entretanto, imaginar
que o desfecho de CPIs e governos dependa essencialmente de achados
factuais irrefutáveis. Talvez esteja mais para o inverso: quando se
estabelece uma dada correlação de forças, busca-se (e acha-se) algo que
possa dar algum recheio jurídico, ou cara jurídica, ao movimento
político que se quer desencadear. Aí aparecem as "Fiat Elba" (que nada
tinha a ver com qualquer tipo de crime de responsabilidade) e as
"pedaladas".
Acontece que achados
factuais podem, eles também, interferir no balanço das forças políticas.
Isso acontece quando fatos, ou sua descrição, ajudam a criar um
ambiente psicossocial extremo. A Revolução de 30, por exemplo, foi
catalisada pelo assassinato de João Pessoa. Depois descobriu-se que o
homicídio nada tivera a ver com a política. Mas aí os gaúchos já tinham
amarrado seus cavalos no obelisco e Getúlio Vargas estava bem acomodado
na presidência com a caneta na mão.
E Júlio Prestes já tinha ficado a ver navios. O
governo Jair Bolsonaro sustenta-se no terço duro do eleitorado fiel a
ele, na maioria do Congresso (especialmente da Câmara), que vê no
governo dele a janela de oportunidade para avançar reformas impossíveis
num governo de esquerda e acumula poder inédito sobre o orçamento
federal, e num fato singelo: o que os políticos ganhariam depondo um
presidente que hoje depende deles (Bolsonaro) para instalar um que não?
Será que o caso Covaxin vai mexer em algum desses alicerces? [óbvio que não; como bem diz ilustre
advogada o caso Covaxin é: "superfaturamento de compra nao realizada,
desvio de dinheiro não recebido, e,
corrupção por pagamento de preço tabelado mundialmente". Os que são contra o governo Bolsonaro, o Brasil e os brasileiros, consideram que o certo seria: "comprar Pfizer, pagar adiantado e esperar a Anvisa aprovar e a empresa enviar a vacina". Aí sim, teriam algo para tentar o impeachment do presidente Bolsonaro.]
corrupção por pagamento de preço tabelado mundialmente". Os que são contra o governo Bolsonaro, o Brasil e os brasileiros, consideram que o certo seria: "comprar Pfizer, pagar adiantado e esperar a Anvisa aprovar e a empresa enviar a vacina". Aí sim, teriam algo para tentar o impeachment do presidente Bolsonaro.]
Vale a pena ler: Vacinar todo mundo
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político