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segunda-feira, 23 de março de 2020

Coronavírus, a batalha da comunicação (por Carlos Alberto Di Franco) - VEJA

A chama da imprensa de qualidade

O coronavírus chegou com tudo. A população está assustada e o pânico é, de longe, o principal aliado do inimigo que pôs o mundo de joelhos, mostrou o tamanho da fragilidade humana e a miragem de tantas prepotências. Regiões inteiras do mundo estão isoladas. O globalismo recua e fecha fronteiras. Os mercados afundam. Museus estão vazios. Estádios de futebol perderam brilho, colorido e vibração. O Vaticano está mergulhado num silêncio que assombra. O papa, em uma de suas falas expressivas, está “enjaulado” no Palácio Apostólico.


Sacerdote concede bênçãos a pacientes com Covid-19 transferidos de um hospital para uma clínica médica de Roma - 16/03/2020  Remo Casilli/Reuters

Imagens de praças, ruas e avenidas fantasmas e de um mundo vestido de vazio reforça o pavor que boatos e notícias alarmantes na era das redes sociais amplificam barbaramente. Vídeos e informações irresponsáveis podem matar. A luta contra o coronavírus depende da competência, da capacidade estratégica e da seriedade das autoridades sanitárias. Mas a guerra – e estamos mergulhados num campo de batalha sem precedentes-  só será ganha na trincheira da comunicação.

A doença é desafiante. Pode ter um brutal impacto na saúde pública. Do ponto de vista  sanitário (as quarentenas, os cancelamentos de eventos, suspensão de aulas, planos de contingência) fazem todo sentido. São medidas que visam diminuir a velocidade com que a epidemia se alastra, de modo que os serviços de saúde não sejam colapsados por uma over demanda.

Os idosos devem ter cuidados especiais
Dos 10 aos 49 anos, a taxa de letalidade varia entre 0,2% e 0,4%, com salto para 1,3% nos pacientes entre 50 e 59 anos. 
Na faixa etária entre 60 e 69 anos, o índice é de 3,6%. 
O número sobe para 8% em infectados de 70 a 79 anos e chega a 15% entre os que têm mais de 80 anos. 
Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. 

A taxa de mortalidade é até nove vezes maior entre pessoas com alguma  doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. Segundo dados do governo chinês, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. 

Estamos diante de um dos maiores desafios de comunicação da história.  E o jornalismo de qualidade exerce um papel decisivo. É preciso informar com clareza e equilíbrio. Ouvir fontes confiáveis e passar informação rigorosa. Transparência informativa, rigor sem alarmismo e didatismo compõem a chave do sucesso.  Quando se escrever a história deste momento da humanidade – único, dramático e transformador – brilhará com força a chama da imprensa de qualidade. Muitos jornalistas estão dedicando a vida e correndo riscos para que você, amigo leitor, possa resguardar sua família com a força da informação correta e bem apurada. Que Deus proteja a todos nós!

Carlos Alberto Di Franco, Jornalista                                      E-mail: difranco@ise.org.br 

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Protocolo de ressuscitação

Não faz sentido esperar que a retomada do nível de atividade possa estar baseada em expansão do dispêndio público

O título, extraído de um manual de atendimento cardiovascular de emergência, é para não deixar dúvidas acerca de quão inerte está o investimento na economia brasileira e da urgência de ressuscitá-lo.  Ao fim de uma recessão tão profunda, a maior parte das empresas encontra-se com níveis muito altos de capital fixo ocioso. Como a capacidade instalada de que dispõem parece mais do que suficiente para fazer face à provável evolução da demanda nos próximos anos, as empresas não têm por que encomendar novos equipamentos ou expandir suas instalações. Simplesmente pararam de investir.

A persistência de taxas de juros extremamente altas e a incerteza sobre as possibilidades de superação da grave crise fiscal com que se debate o país — amplificada por preocupações com desdobramentos políticos da Lava-Jato e seus possíveis efeitos sobre o desfecho das eleições de 2018 — têm sido fatores adicionais de desestímulo ao investimento.  Ainda assim, é sobre a recuperação do investimento que recaem as esperanças de uma reativação sustentável da economia ao longo dos próximos anos. Em meio às dificuldades fiscais que vêm sendo enfrentadas pelos três níveis de governo, não faz sentido esperar que a retomada do nível de atividade possa estar baseada em expansão do dispêndio público. 

Do lado do consumo, tampouco se pode esperar muito. Com o desemprego a 12% e as famílias, em grande parte, ainda excessivamente endividadas, a recuperação do consumo parece fadada a dar contribuição relativamente modesta à retomada da economia. Da expansão das exportações, sim, se pode esperar efeito dinâmico significativo. Mas a magnitude desse efeito estará limitada pela participação ainda muito pequena das exportações na demanda agregada da economia brasileira.

É da recuperação do investimento, portanto, que, em grande medida, dependerá o vigor da retomada da economia no próximo biênio. E, na corrida contra o tempo, é crucial que o governo não cometa erros no protocolo de ressuscitação do investimento. Todo cuidado é pouco. Há que se reconhecer que medidas importantes para destravar os investimentos vêm sendo tomadas. Merece destaque a atuação decisiva do Banco Central, que, em poucos meses, restaurou a credibilidade da política monetária e abriu espaço para uma queda pronunciada das taxas de juros. 

Por altas que ainda sejam, as incertezas sobre as possibilidades de superação da crise fiscal foram substancialmente reduzidas nos últimos meses, à medida que a aprovação da PEC do teto e a perspectiva de avanço da reforma da Previdência passaram a dar mais credibilidade ao plano de jogo do governo. Mas a recuperação do investimento não pode ficar na dependência do desfecho de um esforço de ajuste fiscal que, na melhor das hipóteses, deverá se arrastar por vários anos. Para intensificar o círculo virtuoso do reflorescimento do investimento, o governo terá de ter cuidado especial com setores que não padecem de problemas de excesso de capacidade, como agricultura, infraestrutura e exploração e produção de petróleo e gás.

No setor agrícola, o reflorescimento do investimento, alimentado por uma safra de grãos recorde e preços favoráveis, deu-se de forma natural e parece bem promissor. Para que tenha continuidade, basta que o governo não atrapalhe. Já os investimentos em infraestrutura, não obstante seu enorme potencial, continuam entravados pela falta de um aparato regulatório adequado, que o governo ainda não conseguiu entregar.  Grande potencial têm também os investimentos em exploração e produção de petróleo e gás. Mas é importante que o governo impeça que seu reflorescimento seja atrofiado pela imposição de exigências de conteúdo local, como voltou a ser agressivamente defendido pelos lobbies de praxe. Ceder a tais pressões seria péssimo sinal. 

O que está em jogo é muito mais que o investimento no setor de petróleo e gás. É a própria perspectiva de avanço do delicado círculo virtuoso de quebra do pessimismo e reflorescimento do investimento na economia como um todo.

Por: Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio - O Globo