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segunda-feira, 23 de março de 2020

Coronavírus, a batalha da comunicação (por Carlos Alberto Di Franco) - VEJA

A chama da imprensa de qualidade

O coronavírus chegou com tudo. A população está assustada e o pânico é, de longe, o principal aliado do inimigo que pôs o mundo de joelhos, mostrou o tamanho da fragilidade humana e a miragem de tantas prepotências. Regiões inteiras do mundo estão isoladas. O globalismo recua e fecha fronteiras. Os mercados afundam. Museus estão vazios. Estádios de futebol perderam brilho, colorido e vibração. O Vaticano está mergulhado num silêncio que assombra. O papa, em uma de suas falas expressivas, está “enjaulado” no Palácio Apostólico.


Sacerdote concede bênçãos a pacientes com Covid-19 transferidos de um hospital para uma clínica médica de Roma - 16/03/2020  Remo Casilli/Reuters

Imagens de praças, ruas e avenidas fantasmas e de um mundo vestido de vazio reforça o pavor que boatos e notícias alarmantes na era das redes sociais amplificam barbaramente. Vídeos e informações irresponsáveis podem matar. A luta contra o coronavírus depende da competência, da capacidade estratégica e da seriedade das autoridades sanitárias. Mas a guerra – e estamos mergulhados num campo de batalha sem precedentes-  só será ganha na trincheira da comunicação.

A doença é desafiante. Pode ter um brutal impacto na saúde pública. Do ponto de vista  sanitário (as quarentenas, os cancelamentos de eventos, suspensão de aulas, planos de contingência) fazem todo sentido. São medidas que visam diminuir a velocidade com que a epidemia se alastra, de modo que os serviços de saúde não sejam colapsados por uma over demanda.

Os idosos devem ter cuidados especiais
Dos 10 aos 49 anos, a taxa de letalidade varia entre 0,2% e 0,4%, com salto para 1,3% nos pacientes entre 50 e 59 anos. 
Na faixa etária entre 60 e 69 anos, o índice é de 3,6%. 
O número sobe para 8% em infectados de 70 a 79 anos e chega a 15% entre os que têm mais de 80 anos. 
Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. 

A taxa de mortalidade é até nove vezes maior entre pessoas com alguma  doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. Segundo dados do governo chinês, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. 

Estamos diante de um dos maiores desafios de comunicação da história.  E o jornalismo de qualidade exerce um papel decisivo. É preciso informar com clareza e equilíbrio. Ouvir fontes confiáveis e passar informação rigorosa. Transparência informativa, rigor sem alarmismo e didatismo compõem a chave do sucesso.  Quando se escrever a história deste momento da humanidade – único, dramático e transformador – brilhará com força a chama da imprensa de qualidade. Muitos jornalistas estão dedicando a vida e correndo riscos para que você, amigo leitor, possa resguardar sua família com a força da informação correta e bem apurada. Que Deus proteja a todos nós!

Carlos Alberto Di Franco, Jornalista                                      E-mail: difranco@ise.org.br 

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA


sexta-feira, 20 de março de 2020

Eduardo Bananinha, o idiota! - Blog do Noblat

Ricardo Noblat


Uma vez que atraia os holofotes, com ele está tudo bem

Se o deputado, segundo Mourão, não se chamasse Eduardo Bolsonaro, mas sim Eduardo Bananinha, as relações do Brasil com a China estariam cem por cento. Mas por carregar o sobrenome do pai, ele desatou uma crise diplomática entre os dois países que está longe de terminar. Mourão pediu desculpas ao governo chinês. Pequim ainda não respondeu se as desculpas de Mourão serão aceitas. A mais recente nota da embaixada da China no Brasil, distribuída ontem à noite, foi mais dura do que a anterior e renovou a cobrança para que Eduardo peça desculpas e apague os desaforos  que escreveu na sua conta no Twitter.

O povo chinês é o único que tem sua história de milênios escrita à medida que era construída. Hoje, se diria: em tempo real. Seus governantes não só a conhecem bem como podem consultá-la a qualquer momento. Como reagiu a dinastia A ou B em tal situação? Quais foram mesmo os efeitos do “milênio perdido”?

Sem que tivesse ainda a bomba atômica, a China de Mao Tse-Tung foi capaz de encarar ao mesmo tempo a União Soviética e os Estados Unidos, as potencias nucleares à época. É o país mais populoso e antigo do mundo. No final do século XIX, seu PIB era superior à soma do PIB da Europa com o PIB dos Estados Unidos.

Pois foi com essa gente que Bananinha resolveu brigar. Se ele tivesse lido o livro “Sobre a China”, escrito por Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano e o principal responsável pela aproximação entre os Estados Unidos e a China, é possível que não fizesse o que fez. Mas Bananinha nunca ouviu falar de Kissinger.  Quando cotado pelo pai para ser embaixador do Brasil em Washington, ele fez um curso relâmpago sobre diplomacia para responder à sabatina no Senado. Ouviu falar pela primeira vez do Barão do Rio Branco, de Oswaldo Aranha, da anexação do Acre, essas coisas básicas. Mas, sobre a China, necas de pitibiriba.

A China não estava no seu radar. De resto, Bananinha gosta de viajar pelo mundo como turista, interessado nos cartões postais de cada lugar e indo às compras. Cultura nunca foi seu forte. Formado em Direito, fez concurso para escrivão da Polícia Federal e passou. Era mais fácil do que o concurso para investigador ou delegado.

Quando adolescente, seus amigos o chamavam de Loide, uma referência ao filme “Debi & Loide – Dois idiotas em apuros”. Gostava de namorar e de surfar, de acordo com seu perfil publicado na mais recente edição da revista Piauí. E de fumar o que o ex-presidente Bill Clinton fumou uma vez, mas sem tragar. Mantinha distância da política. Até que seu pai decidiu que ele deveria disputar um mandato de deputado federal em São Paulo. Ordem dada, missão cumprida. Entrou na Câmara como um liberal. À procura de um papel, virou um extremista de direita.  Como pai, não gosta de ler livros. Informa-se nas redes sociais. Repete o que está no Google e o que o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho lhe ensina. Foi ele que descobriu Olavo para sua família. Embora disponha de um exemplar do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo, nunca o leu.

Certamente, Eduardo não se deixará abater pela alcunha de Bananinha. Na vida real, é um boa praça travestido de guerreiro pintado para a guerra contra o comunismo e à cata do reconhecimento do pai. Empenha-se para parecer cada vez mais com ele e – quem sabe? – sucedê-lo como chefe político da famíliaEstar no epicentro de uma crise que preocupa o presidente da República não subtrairá a Bananinha um minuto de sono. O brilho dos holofotes é o que fascina o único dos Bolsonaro que sonhou um dia em ser modelo. Ele ainda guarda suas primeiras fotos como aspirante a modelo. Se mostradas, fariam enorme sucesso. [a lista de defeitos do Eduardo Bolsonaro é enorme;
o comentário sobre a China vale igual à soma dos dez maiores defeitos da lista.
Mas, cabe reconhecer que ele não tem o defeito que o fenomenal  Lulinha, o biólogo filho do Lula, tem: Eduardo é HONESTO. Aloprado, porém,honesto e qualquer brasileiro prefere um filho aloprado, 'bananinha' que um filho desonesto - foi Lulinha o primeiro da família Lula da Silva a partir para o mundo das propinas.]

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA


sábado, 26 de janeiro de 2019

O ocaso do chavismo

Além das ações diplomáticas, as autoridades brasileiras devem preparar o País para os desdobramentos da crise venezuelana na região de fronteira

Ainda não é possível atestar o fim da ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela porque, no momento, são desconhecidas as posições das Forças Armadas, da Guarda Nacional Bolivariana e das milícias que formam o tripé armado da base de sustentação do regime. O que se sabe é que o governo comprou o apoio das cúpulas daquelas organizações a peso de ouro. É certo, no entanto, que a posição de Maduro nunca esteve tão frágil como agora, submetida a enormes pressões internas e externas.

Na quarta-feira passada, milhares de manifestantes se reuniram nas ruas de Caracas, inclusive nos bairros periféricos mais dependentes das benesses estatais, para pedir a queda de Nicolás Maduro. A data não foi escolhida ao acaso: marcava o 61.° aniversário do fim da ditadura de Marcos Pérez Jiménez (1948-1958). Diante da multidão, o presidente da Assembleia Nacional (AN), Juan Guaidó, autoproclamou-se presidente interino e prestou juramento simbólico invocando o artigo da Constituição da Venezuela que lhe confere autoridade para declarar a vacância da Presidência da República em caso de ruptura constitucional e convocar nova eleição em um prazo de 30 dias.

Nicolás Maduro foi declarado “usurpador” pela AN após tomar posse, dia 10 deste mês, para exercer o segundo mandato (2019-2025). A eleição da qual saiu vitorioso, em maio do ano passado, não passou de um embuste, o que levou os países que integram o Grupo de Lima, à exceção do México, a declarar sua “ilegitimidade” como presidente, posição que foi seguida pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela União Europeia (UE). Pouco após o discurso de Guaidó, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu-o como presidente de facto da Venezuela. O ato diplomático americano foi seguido por outros 14 países, incluindo o Brasil. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “o Brasil reconhece o senhor Juan Guaidó como Presidente Encarregado da Venezuela”. O governo brasileiro também reforçou a disposição do País em “apoiar política e economicamente o processo de transição para que a democracia e a paz social voltem à Venezuela”. O Itamaraty ainda orientou os diplomatas brasileiros a “ignorar” medidas baixadas por Nicolás Maduro.

É improvável que a transição política ocorra pacificamente. Reconhecer um segundo governo quando o primeiro ainda tem meios de oferecer resistência é um gesto arriscado cujo desdobramento pode ser um conflito interno. De acordo com a ONG Observatório Venezuelano de Conflito Social, 16 pessoas morreram durante os protestos em Caracas e nos Estados de Táchira, Barinas, Portuguesa, Amazonas e Bolívar, entre terça e quinta-feira.

A Rússia e a China, maiores aliados do governo de Nicolás Maduro, reafirmaram apoio ao regime, o que elevou o grau de tensão da crise. O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, afirmou que é “inaceitável” a tentativa de destituição de Maduro e que uma eventual ação militar neste sentido, patrocinada pelos Estados Unidos, resultaria em um “banho de sangue”. O governo chinês foi mais comedido e, embora tenha reforçado o apoio a Maduro, pediu que “todos os lados permaneçam calmos para que se possa chegar a uma solução pacífica” para a crise.

Em Brasília, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, descartou qualquer participação militar brasileira na Venezuela. “O Brasil não participa de intervenções, não é da nossa política externa intervir nos assuntos internos dos outros países”, disse. Ocorre que o País já interveio por meio do reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino. O ato diplomático produzirá consequências que ainda não estão totalmente claras. É bom, contudo, que o governo descarte, de pronto e claramente, qualquer mobilização de tropas para atuação na Venezuela.


Além das ações diplomáticas, as autoridades brasileiras devem preparar o País para os desdobramentos da crise venezuelana na região de fronteira. É naquela região do País que os efeitos de um eventual recrudescimento das hostilidades serão mais sentidos.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

No palco mundial

O sucesso do presidente Jair Bolsonaro em Davos dependerá em boa parte de sua capacidade de olhar para fora e captar os temas e valores internacionais

O presidente Jair Bolsonaro fará sua estreia internacional em Davos, numa sessão especial do Fórum Econômico Mundial, na próxima terça-feira. Será recebido com muito interesse e com a deferência reservada a um governante, mas também com dúvidas graves e alguma inquietação quanto ao seu nacionalismo e à sua concepção de direitos. Um de seus objetivos será apresentar o Brasil como um país confiável, a caminho de ajustes e reformas, com grande potencial de crescimento e boas oportunidades para investidores. Seu discurso deverá realçar, muito provavelmente, as perspectivas de abertura de mercado e o compromisso com o liberalismo econômico. Seus acompanhantes, principalmente o ministro da Economia, Paulo Guedes, darão ênfase a uma política voltada para a desburocratização, a criação de um ambiente propício aos negócios e à consolidação, enfim, de mercados dinâmicos, eficientes e livres. Mas tudo isso responderá apenas a uma parte das indagações. As perguntas mais complicadas são de outro tipo. 

 Ao entrar no Centro de Congressos de Davos, onde se realizam os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro entrará no principal templo da globalização. Ali se reúnem milhares de executivos, empresários, chefes de governo, políticos, acadêmicos e líderes de organizações civis e religiosas. Apesar da variedade de credos e de interesses, têm predominado nesse conjunto as opiniões favoráveis à integração dos mercados e, de modo geral, à globalização e à ordem multilateral. 

Os problemas associados à globalização, como o aumento da disparidade econômica entre países e pessoas, têm ocupado uma parte crescente dos debates, assim como no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Tensões geopolíticas, guerras, fome e os dramas dos migrantes também têm concentrado boa parte das preocupações. As questões climáticas e ambientais há muitos anos estão entre os temas de maior destaque. 

O novo discurso dominante em Brasília tem contrastado, até agora, com esse conjunto de valores. O presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares têm rejeitado a ordem multilateral e ecoado o nacionalismo do presidente Donald Trump. Já renegaram o acordo de proteção aos migrantes. Têm criticado os pactos de preservação do clima. O governo já alterou mecanismos de conservação ambiental e questionou os critérios de demarcação de terras indígenas. [permanece de pé a questão: o que justifica que doze índios sejam donos de uma reserva indígena de apenas 50.000 hectares = 50.000 campos de futebol.? ] Figuras do primeiro escalão têm misturado religião, moralismo e discursos ideológicos dos mais precários com definições de políticas e orientação administrativa. 

Todos esses temas têm pesos diferentes para diferentes participantes do Fórum Econômico Mundial. Nem todos dão importância a questões como educação laica, direitos de grupos LGBT+, liberdade de informação e de expressão e interesses de grupos indígenas. Assuntos como preservação ambiental, regras multilaterais de comércio e livre movimentação de capitais podem ser valorizados, no entanto, por indivíduos e grupos vinculados a diferentes tipos de regime. Representantes do governo chinês têm-se manifestado, no Fórum, como vigorosos defensores do comércio livre e de regras multilaterais de comércio, contra o protecionismo e o nacionalismo do presidente Donald Trump. Da mesma forma, a cooperação para atenuar o drama de milhões de migrantes forçados a fugir da guerra ou da fome pode ser defendida por grupos e indivíduos de diferentes perfis políticos e religiosos. 

Apesar da variedade de origens e de vinculações políticas e religiosas, dificilmente se encontrará em Davos quem rejeite abertamente a ideia de cooperação em favor da prosperidade, do emprego e da redução das desigualdades, grandes temas na pauta do Fórum. O sucesso do presidente Bolsonaro em Davos dependerá em boa parte de sua capacidade de olhar para fora e captar os temas e valores internacionais. Só tem essa capacidade quem faz o contrário do recomendado pelo chanceler Ernesto Araújo, desviar-se da janela e olhar para dentro. Mas a mera disposição de ir a Davos talvez já seja um bom indício.

Editorial - O Estado de S. Paulo

 

sábado, 23 de dezembro de 2017

Saiba do que governos comunistas são capazes

Arquivos britânicos revelam relato macabro do massacre de Tiananmen em 1989

Dez mil mortos, cadáveres esmagados por veículos blindados e manifestantes perfurados por baionetas pelo Exército chinês, é a história macabra revelada vinte e oito anos depois por um documento britânico sobre o massacre na Praça da Paz Celestial, Tiananmen, em junho de 1989 em Pequim.  "A estimativa mínima de mortes civis é de 10 mil", conclui um telegrama secreto enviado em 5 de junho de 1989 por Alan Donald, embaixador britânico em Pequim, ao seu governo após a sangrenta repressão de sete semanas às manifestações por democracia na China.

Este documento dos Arquivos Nacionais britânicos, publicado mais de 28 anos após os eventos, foi consultado pela AFP.  A estimativa é quase dez vezes maior do que os balanços que circulam e que situam o número de vítimas entre várias centenas e mil mortos.  O governo chinês, que impõe um tabu sobre este período, afirmou, por sua vez, em junho de 1989, que a repressão dos "tumultos contra-revolucionários" deixou 200 mortos entre os civis e "várias dúzias" entre as forças de segurança.

O testemunho de Alan Donald projeta um terrível cenário de violência que se desencadeou na noite de 3 a 4 de junho, quando o Exército iniciou sua marcha em direção à gigantesca Praça de Tiananmen, coração simbólico do poder comunista ocupada pelos manifestantes.  "Os veículos blindados que transportavam tropas do 27º Exército abriram fogo contra a multidão (...) antes de passarem por cima", escreveu o embaixador. Alan Donald cita como fonte uma pessoa cuja identidade manteve em segredo, mas que obteve a informação de um "amigo próximo, atualmente membro do Conselho de Estado", o governo chinês. 

Quando os militares chegaram à Praça de Tiananmen "os estudantes entenderam que tinham uma hora para sair, mas depois de apenas cinco minutos, os veículos blindados atacaram", relata Alan Donald. Os manifestantes "foram feitos em pedaços". Os tanques "passaram sobre os corpos várias vezes, transformando em uma 'massa', antes que os restos fossem apanhados por uma escavadeira. Os restos humanos foram incinerados e jogados nos esgotos", diz em linguagem telegráfica.

- 'Primitivos' -
"Quatro estudantes feridas que suplicavam por suas vidas foram atingidas por baionetas", acrescenta o embaixador, antes de detalhar que as ambulâncias militares "receberam tiros quando tentaram intervir".  Esses abusos são atribuídos principalmente ao 27º Exército, composto por soldados da província de Shanxi (norte), "analfabetos em 60% e qualificados como primitivos" e que era liderado por Yang Zhenhua, sobrinho de Yang Shangkun, então presidente da República Popular (uma posição honorária).

De acordo com o documento, a repressão provocou tensões no Exército. O comandante militar da região de Pequim negou alimentos e quartéis aos soldados das províncias para restaurar a ordem.  "Alguns membros do governo acreditam que a guerra civil é iminente", diz o embaixador.  Quanto ao número de mortos, "acho que é confiável", declarou à AFP o ex-líder estudantil Xiong Yan, agora com nacionalidade americana.

O relato também é considerado credível pelo especialista Jean-Pierre Cabestan, que lembra que os documentos desclassificados nos últimos anos nos Estados Unidos apontam as mesmas estimativas. "Isso faz com que duas fontes independentes digam o mesmo".
Este equilíbrio "não é tão surpreendente, considerando o número de pessoas que havia em Pequim, o número de pessoas mobilizadas" contra o governo chinês, assinala o pesquisador da Universidade Batista de Hong Kong, que estava na capital chinesa nos dias anteriores à repressão.

O regime "havia perdido o controle de Pequim", lembra ele, com inúmeros postos de controle ocupados por manifestantes em toda a cidade.  "Os cidadãos lutaram, provavelmente houve muitas mais batalhas do que acredita-se", ressalta.  

sábado, 11 de junho de 2016

Empresas zumbis assombram governo chinês

Modelo adotado para enfrentar a crise financeira de 2008 dá sinais de esgotamento, com riscos de desemprego, bolhas e contágio da economia global

A economia chinesa — e mundial — vive hoje assombrada pela ameaça das firmas zumbis, como são adequadamente chamadas as empresas estatais falidas, que só sobrevivem graças a subsídios do governo. Após o estouro da crise financeira global, em 2008, a China se viu obrigada a rever sua estratégia, passando a injetar internamente bilhões de dólares na economia, além de estimular os bancos a financiarem todo tipo de negócio e consumo. E a maior preocupação do governo tem sido manter o alto patamar de crescimento, necessário para absorver a imensa mão de obra do país. 

Construíram-se cidades, shoppings, estradas, entre outros projetos imobiliários e de infraestrutura vários entre eles ociosos —, estimulando setores industriais. O país manteve o ritmo acelerado, porém bem acima da capacidade interna e externa de absorção. Principalmente as províncias e municípios se endividaram pesadamente, apostando numa demanda que não veio. Além de gerar um perigoso desequilíbrio fiscal e obrigar a intervenção do governo, o excesso de produtos deprimiu ainda mais os já desvalorizados preços de itens como carvão, alumínio, aço, entre outros, retardando a recuperação econômica, inclusive no mundo.

Em recente encontro entre autoridades americanas e chinesas, durante o Diálogo Estratégico China-EUA, representantes de Pequim resistiram às pressões da Casa Branca para que permita o colapso de pelo menos parte das firmas zumbis, que estão inundando os mercados, interno e externo, com produtos para os quais não há procura. 

Segundo dados do Goldman Sachs revelados pelo “New York Times” esta semana, o endividamento da economia chinesa saltou de 130% do PIB, em 2008, para 235% em 2015. O banco projeta que, em 2020, este percentual poderá chegar a 344% do PIB. No opaco campo financeiro chinês, esses números se traduzem em risco de explosão de bolhas, com efeito dominó na economia global. 

A realidade apresenta a conta. Estima-se que a inevitável redução do ritmo de produção industrial poderá levar entre cinco e dez milhões de trabalhadores ao desemprego, o pior pesadelo do regime, devido ao alto potencial de conflito social. [enquanto dez milhões de desempregados assombram a China - número pequeno em relação à população da China - o Brasil resultado da herança maldita do maldito PT já possui quase doze milhões e, infelizmente, número que ainda cresce.
Na China os responsáveis por um desastre desse já teriam recebido a famosa bala na nunca. No Brasil, tanto Lula quanto Dilma  não foram sequer denunciados.] Bancos e investidores, por sua vez, terão que fazer provisões de bilhões de dólares ou reestruturar as dívidas. 

O impasse econômico tem levado Pequim a não só atrasar as reformas do presidente Xi Jinping, como estimular lateralmente projetos militares no Mar do Sul da China e iniciativas de expansão geopolítica para criar empregos e valorizar uma retórica nacionalista, deslocando o problema para fora das fronteiras.  As empresas zumbis que assombram o governo chinês são apenas a ponta de um perigoso iceberg. O verdadeiro terror, para o país e o mundo, é a imprevisibilidade do efeitos de uma crise generalizada no gigante asiático.

Fonte: Editorial -  O Globo
 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Dois métodos: a Lava-Jato e o chinês



A mudança brasileira foi a delação premiada. O sujeito confessa, indica a conta, e o banco dá a sequência do dinheiro
O governo chinês informou ontem: de 2012 até aqui, recuperou US$ 6,2 bilhões que haviam sido roubados por “centenas de milhares” de funcionários e membros do Partido Comunista. Isso dá pouco mais de R$ 19 bilhões, valor desviado apenas da Petrobras, segundo estimativas dos procuradores da Lava-Jato.

A campanha anticorrupção na China é uma iniciativa do presidente Xi Jinping, aplicada pela temida Comissão Central para Inspeção Disciplinar. Trata-se de uma ditadura, de modo que eles frequentemente passam por cima do que chamam lá de formalidades judiciais — isso de não poder prender sem uma consistente acusação formal ou de precisar de processo para recuperar o dinheiro roubado.

Claro que isso permite ao governo escolher seus alvos, transformando o combate à corrupção em ação política para apanhar adversários. Por aqui, a Lava-Jato segue nos termos da lei e da democracia. Não foi politizada nem instrumentalizada por grupos ou partidos. Ainda bem.  O método chinês vai mais rápido. Sabe aquela situação na qual todo mundo sabe que fulano está roubando, mas ainda não deu para dar o flagrante? Pois é, lá na China a Comissão Disciplinar pode prender e, então, sabe-se lá com quais pressões, procura as provas.

Aqui, muita gente ainda diz que a Lava-Jato frequentemente avança o sinal. É que não sabem como se faz nas ditaduras. A Lava-Jato vai muito depressa em comparação com os velhos padrões brasileiros — quando as “formalidades judiciais” garantiam a impunidade. Era assim: o sujeito trabalha numa estatal ou no governo ou no partido do governo e está associado a uma consultoria privada; a empresa tal ganha um contrato com a estatal e faz um pagamento à consultoria privada. Diziam os envolvidos e pegava: são contratos separados, coisas diferentes, com coincidência fortuita de pagamentos.  

Qual é?  Vai um advogado dizer isso hoje para o juiz Moro. 

Por outro lado, há uma novidade histórica que devemos ao governo americano. Na busca do dinheiro do terrorismo e do tráfico, as autoridades dos Estados Unidos simplesmente acabaram com o sigilo fiscal e bancário lá e no mundo.  Quer dizer, não acabaram propriamente. Mas se criou uma legislação, hoje universalizada, que torna mais simples e rápido quebrar sigilos quando há fundadas suspeitas, descobertas nos termos da lei.
Era praticamente impossível achar uma conta de um banco suíço. Hoje é até fácil. Os banqueiros têm pavor de serem acusados de acobertar fortunas roubadas ou do tráfico. 

A mudança brasileira foi a introdução da delação premiada. O sujeito confessa, indica a conta em que recebeu e o banco dá a sequência do dinheiro. Tudo considerado, duas observações: primeira, o método chinês vai mais rápido, mas o método Lava-Jato é mais seguro para as pessoas e as instituições; segunda, e terrível para nós, a roubalheira aqui foi maior que na China, cuja economia é quatro vezes maior. [para a petralhada, formada na sua maioria por ladrões profissionais o método chinês é mais eficiente por ser mais rápido  e oferecer uma vantagem adicional: julgamentos sumários que podem resultar em aplicação rápida da pena capital.
Entre a denúncia e o processo de apuração, julgamento, condenação e execução da sentença – quando for cominada a pena de morte – trinta dias é tempo mais que suficiente.]

Reparem de novo: depois de três anos de dura campanha, os chineses recuperaram o equivalente a R$ 19 bilhões. Dado o sistema deles, é provável que já tenham apanhado a maior parte da corrupção. Ora, só na Petrobras, os procuradores acreditam ter havido roubo de R$ 19 bilhões, dos quais R$ 6 bi já admitidos formalmente pela estatal, em balanço. E está começando só agora a fase do setor elétrico, o segundo da lista.

Conclusão: estamos apanhando aqui os maiores escândalos corporativos do mundo. No sistema formal, demora mais para recuperar a propina distribuída, mas a coisa está andando nessa direção.  Finalmente, há outro ponto em comum. Aqui e na China, a corrupção começa no governo e suas estatais, nas tenebrosas relações com empresas privadas.

A presidente Dilma andou dizendo que a Lava-Jato subtraiu um ponto percentual do PIB. Nada disso. A corrupção estatal/privado subtraiu muitos pontos ao gerar desperdício, perdas e ineficiências. Ou seja, o combate à corrupção precisa de um complemento: uma ampla privatização e um bom ambiente de negócios para quem quer ganhar dinheiro honestamente — um sistema impessoal que privilegie a eficiência, a competitividade, a produtividade.

Enquanto conseguir uma vantagem qualquer em Brasília for mais barato e mais fácil do que investir no negócio para ganhar produtividade, o país não vai crescer. Nem será justo.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista