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sábado, 24 de junho de 2023

A Selic vai cair, se o governo não atrapalhar - Carlos Alberto Sardenberg

Quatro sinais de que os juros estão prestes a cair

Decisão do CMN elevando as metas provocará alta imediata nas expectativas de inflação, a ser consumadas nos próximos meses 

 [Os juros não podem cair no Brasil ou em qualquer país do mundo que queira realmente controlar a inflação - é essencial para o controle, e queda, da inflação que os juros permaneçam elevados  - juros altos tem sido o remédio eficaz para controlar o dragão que tanto mal já fez ao nosso Brasil, e a outros países, que o percentual atual seja revisto para cima, mais uma ou duas vezes; 
NÃO PODEMOS ESQUECER que a queda da Selic obrigará milhões de pequenos poupadores a gastarem suas pequenas economias, mantidas até então na  poupança = pequenos valores que multiplicados por milhões de poupadores causará elevação da demanda e AUMENTO  INCONTROLÁVEL DOS PREÇOS -  as reclamações do boquirroto presidente devem ser ignoradas, se ele não gosta da Selic atual que mude para outro país, favorecendo milhões e milhões de brasileiros com sua ausência = afinal, não fará falta, visto que passa mais tempo viajando para o exterior que 'governando' o Brasil.
Não esqueçamos que daqui a 6 dias entrará no seu sétimo mês de DESgoverno com apenas duas realizações,que são:
- afixação de uma placa na Esplanada dos Ministérios, indicando onde fica o inútil, por desnecessário, ministério da Cultura - para a 'cultura' brasileira, uma subseção, pendurada em uma subsecretaria de qualquer ministério já seria mais que suficiente;
- invenção da volta do carro popular = um monumento ao  atraso, à volta das carroças e que só favorece às montadoras.]
 Quer saber? O Banco Central tem razão. A queda da taxa básica de juros está logo ali. Mas ainda faltam algumas coisas. Foi o que disse o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) ao cabo da reunião de quarta-feira passada, quando manteve a taxa em 13,75% ao ano. Comparando o último comunicado aos anteriores, há pelo menos quatro indicações de que o início da queda de juros está quase lá:

1) O Copom vinha repetindo que poderia ter de elevar o juro básico se as projeções indicassem desvio mais forte em relação às metas de inflação. Não diz mais, sinal de que não espera uma deterioração do quadro;

2) Entre os diversos cenários com que trabalhava, o Copom incluía uma versão considerando os juros de 13,75% mantidos por um longo período à frente. Também foi suprimida. Não está mais no horizonte do BC nem a alta dos juros básicos, nem sua manutenção nos atuais 13,75% [fato  ou apenas desejo, expectativa?]

3) O cenário de referência passou a ser aquele delineado no Boletim Focus. Esse boletim faz parte do ritual do regime de metas de inflação e funciona assim: departamentos técnicos de bancos, economistas-chefes de corretoras e fundos de investimentos, pessoal das consultorias e instituições de ensino e pesquisa rodam seus cenários macroeconômicos e enviam para o BC toda sexta-feira. O BC tabula isso tudo e publica o resumo na sua página, às segundas-feiras pela manhã. Trata-se, portanto, da visão do pessoal de fora do governo. Visão que o BC considerou em seu cenário de referência.

A última versão do boletim projeta o quê? Que a taxa básica de juros chegará ao final deste ano em 12,25% ao ano. A taxa hoje é 13,75%, e o Copom tem mais quatro reuniões até o final deste ano. De 0,25 em 0,25 de queda, chega-se a dezembro justamente naqueles 12,25%. Claro, não quer dizer que acontecerá exatamente assim. Mas quer dizer, sim, que esperar o início da queda dos juros a partir de agosto faz sentido;

4) O Copom manifestou-se satisfeito com a redução da inflação verificada até agora, consequência da manutenção dos juros em patamar elevado desde agosto. Acrescentou que atuará daqui em diante com parcimônia — palavra utilizada outras vezes para sinalizar que o movimento na taxa básica seria de 0,25 ponto percentual por vez.

Ao mesmo tempo, o Copom também indicou o que falta para a materialização daquele cenário. Não disse bem assim — na linguagem própria, falou de fatos e riscos.

Fatos: a redução da inflação é mais lenta do que se esperava. Os núcleos do IPCA permanecem mais elevados do que seria desejável. A inflação cheia, em 12 meses, tem caído nos últimos meses, mas volta a subir no segundo semestre.

E há pelo menos dois riscos a notar.

O primeiro está no arcabouço fiscal, a proposta do governo para controlar as contas e evitar o crescimento exagerado da dívida pública. 
A coisa avançou, mas ainda está em votação no Congresso.  
Aliás, o Senado piorou a versão que saiu da Câmara, abrindo espaço para mais gastos. 
E o governo, o Executivo, já colocou em marcha diversos programas que, justos ou não, levam a forte aumento de despesas.

O outro risco e deste o BC não fala, mas a gente pode intuir — está no Conselho Monetário Nacional, o CMN. É integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC. Tem reunião marcada para o próximo dia 29, com tema crucial: confirmar (ou não) as metas de inflação para 2024 e 25 (no momento fixadas em 3%) e definir o objetivo para 2026.

Clique aqui e saiba mais - Coluna em O Globo

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista  



sábado, 3 de junho de 2023

O “carrinho” do atraso- J. R. Guzzo

Revista Oeste

O governo insiste em “aumentar o consumo” dando reduções artificiais de preço, quando a única maneira eficaz de levar um cidadão a comprar mais é aumentar a sua renda — algo que só é possível com crescimento econômico


Luiz Inácio Lula da Silva, Janja e Geraldo Alckmin | Foto: Montagem Revista Oeste/Ricardo Stuckert/PR/Shutterstock

O “carro popular” que anda em discussão por aí é o retrato mais nítido do que é realmente o governo Lula na vida real da economia brasileira — uma trapaça permanente, mal-arrumada e sem benefício nenhum para o interesse público, que só é levada adiante, o tempo inteiro, pela propaganda oficial. É sempre a mesma tapeação: uma medida que “enfim” se propõe a ajudar os “pobres deste país” com a doação de algum benefício material. É sempre o mesmo resultado: o Tesouro Nacional transfere dinheiro público para uma facção qualquer da confederação de parasitas que manda no Brasil, e o pobre de verdade não ganha coisa nenhuma

 O “carrinho” do pobre, como diz Lula e a mídia repete no piloto automático, é como o voo de avião com passagem “baratinha”, o apartamento popular com “terracinho” e outros prêmios de programa de auditório que ele passa a vida prometendo ao “povo”. Na prática não acontece nada, a não ser a entrega de impostos a um punhado de amigos capazes de falar mais alto que os outros dentro do palácio presidencial. “Carro popular” é como a “picanha”: não existe, a não ser no churrasco para os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, ou em outros folguedos dessa corte de Luís XV subdesenvolvida, brega e gulosa que continua a engordar em Brasília com o trabalho do povo brasileiro.


“Carro popular” é como a “picanha”: não existe, a não ser no churrasco para os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes | Foto: Shuterstock

O “carro popular” do governo Lula é tudo o que pode existir de mais atrasado em qualquer proposta de “política industrial”, como eles gostam de dizer: entrega dinheiro de todos os brasileiros para a produção de um bem de qualidade ruim, que não serve para nada a não ser ajudar as montadoras a continuarem operando com métodos industriais da idade da pedra — e, quem sabe, permitir que a classe média economize uns trocados para ter um segundo carro na garagem. 
A proposta, pelo que deu para entender até agora, reduz impostos federais e quer oferecer ao público uma carroça por R$ 60 mil em vez de R$ 70 mil, digamos — como se algum pobre brasileiro, no mundo das realidades, tivesse dinheiro para pagar um carro de R$ 60 mil ou qualquer preço parecido. No caso, o único efeito prático será aumentar duas coisas: a frota que está batendo lata na rua com carros de terceira categoria e o estoque nacional de ferro-velho. É isso, na prática, que produz a “política econômica com preocupação social” do governo Lula — atraso direto na veia, com os “pobres” servindo de biombo para a promoção de interesses privados dos amigos, e dos amigos dos amigos.
 
Eis aí, exposto à luz do sol, mais um exemplo do que talvez seja um dos piores traços do caráter de Lula como homem público — a ignorância mal-intencionada.  
Ele não tem, comprovadamente, capacidade para tomar nenhuma decisão que seja de fato competente — e, ao mesmo tempo, tem sempre um propósito viciado nas decisões que toma. Ou seja: decide errado, e pelo motivo errado. Acaba contaminando todo o seu governo, pois o presidente vive num bioma povoado unicamente de puxa-sacos sem nenhum vestígio de espinha dorsal, incapazes de lhe dar uma única opinião honesta — seja qual for a estupidez que ele quer impor ao país, todos concordam. 
 
No caso do carro “para o pobre” a estupidez é múltipla. O governo insiste, aí, na miragem de “aumentar o consumo” popular dando reduções artificiais de preço nisso ou naquilo, quando a única maneira eficaz de levar um cidadão a comprar mais é aumentar a sua renda — algo que só é possível com crescimento econômico, o que, por sua vez, só é possível com a combinação de investimento privado em massa e plena liberdade para os sistemas de produção. O governo Lula, na sua ação concreta, é francamente hostil a isso tudo. 
 Acha que a única maneira de investir é aumentar o “gasto público” algo que no Brasil só serve para transferir o resultado do trabalho de todos para o bolso das mesmas minorias que formam essa elite inepta, preguiçosa e dependente do Erário que manda no país desde Pedro Álvares Cabral. Fizeram isso durante quase 14 anos seguidos, quando tiveram a chance de aplicar o seu “modelo” no governo. Produziram a maior recessão da história econômica do Brasil. Estão fazendo exatamente a mesma coisa de novo.

O carro “baratinho” é uma idiotice, também, porque se coloca diretamente contra toda a lógica que existe hoje na indústria mundial. Um produto só vale alguma coisa, de verdade, se puder ser vendido no exterior; se não serve para ser exportado, não serve para nada que faça sentido efetivo do ponto de vista econômico. 
Para isso, qualidade e tecnologia de ponta são essenciais e o governo Lula está propondo utilizar dinheiro público para fabricar produtos de baixa qualidade e com tecnologia em estado de coma. Pense um pouco. Passa pela cabeça de algum sujeito normal, na Alemanha, na Inglaterra ou nos Estados Unidos, comprar um carro produzido no Brasil? 
Por que raios faria isso, se o automóvel brasileiro é pior e mais caro? 
Já é assim, hoje, com qualquer modelo. Imagine-se, então, com o “carrinho” que Lula quer fazer no seu programa “social”.  
É uma negação de tudo o que está valendo no mundo como ele é hoje. Para completar o desastre, o governo quer incentivar o uso do “componente nacional” na fabricação desse seu novo portento. 
É o oposto, exatamente, do que a realidade atual exige — cadeias produtivas capazes de importar pelo menor preço possível, de qualquer lugar do mundo, componentes de qualidade máxima para montar o melhor produto final e colocar esse produto com chances reais de venda no mercado internacional. Se não tem acesso ao mercado externo, é produto ruim; se é produto ruim, o governo não pode ajudar com subsídio.

Numa época em que a indústria mundial fala em nanociência, robôs e inteligência artificial, Lula fala, acredite se quiser, em “trocar tecnologia” com a Venezuela

Vale para qualquer coisa — a chave de tudo é a capacidade de competir. É por isso, e por nenhuma outra razão, que o Brasil não exporta equipamentos de tomografia, máquinas de precisão e reatores atômicos. Quem iria comprar? Em compensação, faz sucesso vendendo no exterior aviões a jato da Embraer — que importa tudo o que encontra de melhor no mundo para montar os seus produtos aqui no Brasil. O economista Samuel Pessôa deu há pouco, no jornal O Estado de S. Paulo, uma entrevista que resume com notável clareza toda essa situação. “O governo petista, na sua outra fase no Planalto, colocou R$ 400 bilhões no BNDES para gerar fundos de crédito subsidiado”, diz Pessôa. “Os estudos que conheço mostram que isso não gerou muitos resultados.” Só vale a pena investir dinheiro público em subsídios, afirma ele, se for para a produção de coisas que possam ser exportadas. “Muitos falam dos subsídios agrícolas, mas a agricultura exporta, e muito”, diz o economista — mais exatamente, exportou US$ 160 bilhões em 2022, ou cerca de metade de todas as exportações do país. E a indústria automobilística
Exportou quanto no ano passado? Mal passou dos US$ 10 bilhões, e tudo vendido na periferia do mercado. “No dia em que a nossa indústria conseguir fazer um carro que compita no mercado internacional, aí eu vou achar que algum tipo de subsídio vai fazer sentido. Mas essa é uma indústria que está conosco há 60 anos e, tirando um ou outro período relativamente curto, nunca gerou capacidade exportadora.” É simples. Uma fábrica de carros só faz nexo como negócio, hoje em dia, se for capaz de produzir 300 mil unidades do mesmo modelo por ano. Para isso, precisa exportar, porque só as vendas internas não produzem escala suficiente — e para exportar precisa da qualidade, que é o exato contrário da proposta do “carrinho barato”.

Truques como o “carro barato” não levam nada de útil para a sociedade, pois os problemas do desenvolvimento brasileiro vão muito além disso. Pessôa lembra os exemplos da Coreia, Taiwan, Japão e China. “Olhem a qualidade educacional desses países”, diz ele. “Eles não têm indústria porque dão subsídio, mas porque trabalham muito, estudam muito, poupam muito.” 
Não tem nada a ver com o que faz o governo Lula; querem aqui, justamente, sabotar o trabalho, o estudo e a poupança pública. 
Ainda há pouco, Lula e o vice, Geraldo Alckmin, falavam de uma “política de neo-industrialização” para o Brasil. 
Poderiam ser duas múmias discutindo o seu programa de construção de pirâmides no Egito dos faraós. 
Numa época em que a indústria mundial fala em nanociência, robôs e inteligência artificial, Lula fala, acredite se quiser, em “trocar tecnologia” com a Venezuela — isso mesmo, a Venezuela, que não consegue produzir um parafuso de rosca. Pior: não passa pela cabeça de nenhum dos dois, e de ninguém no governo, que simplesmente não existe sociedade desenvolvida, com maior igualdade e mais justiça, sem níveis de educação muitíssimo superiores aos do Brasil que ocupa os piores lugares do mundo no conhecimento da matemática, das ciências e da simples capacidade de leitura, por culpa exclusiva e direta da qualidade desastrosa do ensino público
Como lembrou a economista Cláudia Costin no mesmo O Estado de S. Paulo, nenhum país conseguiu se industrializar dando apenas quatro horas de aula por dia, como o Brasil. E aí — o que Lula e Alckmin vão fazer com o seu programa de neo-industrialização? 
Se o governo pudesse, haveria só três horas, pois o Sistema Lula-PT vai estar sempre do lado dos interesses da sua clientela, e não da maioria. Seu projeto educacional é o projeto do sindicato dos professores, e o sindicato dos professores tem interesses opostos aos interesses dos alunos; na epidemia de covid, para ficar só no último exemplo, foram esses sindicatos que impediram por mais tempo a reabertura das escolas. É a frente unida pela preservação da ignorância, que torna impossível o avanço social do Brasil. 
É o triunfo do eterno conto do vigário do governo Lula.

Leia também Em busca do silêncio”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste