Quatro sinais de que os juros estão prestes a cair
Decisão do CMN elevando as metas provocará alta imediata nas expectativas de inflação, a ser consumadas nos próximos meses
1) O Copom vinha repetindo que poderia ter de elevar o juro básico se as projeções indicassem desvio mais forte em relação às metas de inflação. Não diz mais, sinal de que não espera uma deterioração do quadro;
2) Entre os diversos cenários com que trabalhava, o Copom incluía uma
versão considerando os juros de 13,75% mantidos por um longo período à
frente. Também foi suprimida. Não está mais no horizonte do BC nem a
alta dos juros básicos, nem sua manutenção nos atuais 13,75% [fato ou apenas desejo, expectativa?]
3) O cenário de referência passou a ser aquele delineado no Boletim Focus. Esse boletim faz parte do ritual do regime de metas de inflação e funciona assim: departamentos técnicos de bancos, economistas-chefes de corretoras e fundos de investimentos, pessoal das consultorias e instituições de ensino e pesquisa rodam seus cenários macroeconômicos e enviam para o BC toda sexta-feira. O BC tabula isso tudo e publica o resumo na sua página, às segundas-feiras pela manhã. Trata-se, portanto, da visão do pessoal de fora do governo. Visão que o BC considerou em seu cenário de referência.
A última versão do boletim projeta o quê? Que a taxa básica de juros chegará ao final deste ano em 12,25% ao ano. A taxa hoje é 13,75%, e o Copom tem mais quatro reuniões até o final deste ano. De 0,25 em 0,25 de queda, chega-se a dezembro justamente naqueles 12,25%. Claro, não quer dizer que acontecerá exatamente assim. Mas quer dizer, sim, que esperar o início da queda dos juros a partir de agosto faz sentido;
4) O Copom manifestou-se satisfeito com a redução da inflação verificada até agora, consequência da manutenção dos juros em patamar elevado desde agosto. Acrescentou que atuará daqui em diante com parcimônia — palavra utilizada outras vezes para sinalizar que o movimento na taxa básica seria de 0,25 ponto percentual por vez.
Ao mesmo tempo, o Copom também indicou o que falta para a materialização daquele cenário. Não disse bem assim — na linguagem própria, falou de fatos e riscos.
Fatos: a redução da inflação é mais lenta do que se esperava. Os núcleos do IPCA permanecem mais elevados do que seria desejável. A inflação cheia, em 12 meses, tem caído nos últimos meses, mas volta a subir no segundo semestre.
E há pelo menos dois riscos a notar.
O outro risco — e deste o BC não fala, mas a gente pode intuir — está no Conselho Monetário Nacional, o CMN. É integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC. Tem reunião marcada para o próximo dia 29, com tema crucial: confirmar (ou não) as metas de inflação para 2024 e 25 (no momento fixadas em 3%) e definir o objetivo para 2026.
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Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
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