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domingo, 20 de novembro de 2022

Um pouco de Ionesco. E o reductio ad absurdum que nunca falha - Alon Feuerwerker

Análise Política

Talvez as despesas com programas sociais, o Auxílio Brasil/Bolsa Família de carro-chefe, possam ser classificadas como “investimento” no plano retórico. Mas no universo das realidades materiais elas nunca deixarão de ser gastos de custeio.  
Talvez faça sentido politicamente deixar para sempre certas despesas de custeio fora do limite imposto pelo teto constitucional de dispêndios. Pelo ângulo da economia, não. Se for para liberar desse limite alguma rubrica, melhor que seja investimento, pois este alavanca o mais eficiente programa social de todos: o emprego.

Seria entretanto quixotismo puro olhar a política pelas lentes de uma racionalidade fria, pois os políticos são em larga medida escravos dos grandes movimentos de opinião. E há consenso sobre a necessidade de continuar pagando os seiscentos reais às mais de 21 milhões de famílias hoje cadastradas para receber o benefício. Então é provável que o Parlamento escolha o caminho mais fácil, em vez de enveredar pelo pântano de tentar cortar outras despesas de custeio para conseguir encaixar essa não tão nova.[nada contra os mais pobres, mas as necessidades dos mais desfavorecidos são maiores que as decorrentes das medidas necessárias para levá-los, de modo definitivo, a uma condição melhor - portanto a PEC da Transição, ou seja, a PEC do PRECIPÍCIO não pode nem deve ser aprovada nem este ano nem nos primeiros meses de 2023.]

O que facilitaria, quem sabe?, abrir um buraco no teto de gastos para os investimentos. No final do arco-íris alguma solução será encontrada, pois interessa a todo o mundo político achá-la. Mesmo que venha a ser uma gambiarra.

De gambiarra em gambiarra o teto de gastos agoniza, e já faz algum tempo. Talvez valesse a pena aproveitar o renovado (está sendo assim desde 2020) consenso sobre a necessidade de furá-lo e buscar uma alternativa. Ou alternativa nenhuma e simplesmente revogá-lo, adotando a fórmula minimalista mais razoável: o Executivo pede ao Legislativo autorização para fazer certa despesa, e este decide se autoriza ou não. E diz de onde virá o dinheiro. Seria um cipoal a menos para desembaraçar.

Melhor do que persistir neste faz-de-conta, em que o teto de gastos está previsto na Constituição e a cada ano é preciso emendar a Constituição para desrespeitá-la. Ionesco puro.

Ainda sobre incongruências, uma é candidata a destaque. No debate sobre os recursos para manter programas sociais vitais, o verbo tem sido exatamente este: manter. Não se fala em ampliar. Mas isso bate de frente com um dos pilares da narrativa vitoriosa na campanha eleitoral.

Pois estabeleceu-se entre nós como verdade, a partir de um único estudo, que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, apesar dos seiscentos reais mensais dados às 21 milhões de famílias do AB/BF. No último debate do segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva procurou contornar esse ruído, associando a fome à recente reforma da Previdência. Duvidoso.[o número de famintos foi inflado de forma proposital e covarde pelo ladrão - dados do Banco Mundial provam que ela foi a menor desde 1981 - comprovam , para que assim ele pudesse voltar à cena do crime = ainda nem foi diplomado e já está aceitando favores de empresário delator = corrupção passiva.]

Ora, se 33 milhões de pessoas passam fome apesar de 21 milhões de famílias receberem seiscentos reais por mês, uma de três situações é obrigatoriamente verdadeira: 
1) o valor pago é insuficiente, precisa ser aumentado; ou 
2) há 33 milhões de muito pobres fora do Auxílio Brasil/Bolsa Família; ou 3) há uma combinação dessas duas situações. De todo modo, a ser verdadeira a premissa, estaríamos diante de uma gravíssima emergência social. Que exigiria um plano imediato e recursos imediatos para ser enfrentada.

Mas não se vê nenhuma preocupação ou movimentação nesse sentido. [por ser sabido que o número de miseráveis caiu = Mentir sobre 33 milhões de famintos vira verdade quando a mentira é publicada muitas vezes.]Todo o debate gira simplesmente em torno de por quanto tempo prorrogar o que já existe. Ninguém fala em aumentar as famílias no programa ou aumentar o valor do benefício.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


quinta-feira, 6 de maio de 2021

Bia do Bradesco: inteligência artificial capenga importa mais que as clientes

Entre mudar com crédito a vida de mulheres reais e atender às demandas autoritárias da lacração, ficou-se com a segunda opção. Uma pena.

Desde que o ESG virou ativo valioso para as empresas tem gente tentando fazer versões mequetrefes. Hoje, no mercado corporativo, se dá uma importância enorme aos 3 eixos de governança: corporativa, social e ambiental. Environmental, Social and Corporate Governance, a tal da ESG, custa muito caro e dá um trabalho danado porque a gigantesca maioria das empresas não nasceu assim.

O legado empresarial hoje engloba também o tipo de interferência da empresa na sociedade e como a modifica para as próximas gerações. Esse é o problema do ESG, não tem como faturar no marketing no curto prazo. Por isso, no Brasil, já está na moda o que eu batizei de "ESG de Taubaté". Em vez de gastar uma fortuna promovendo governança social e ambiental, você bota uma grana numa propaganda lacradora e finge que é a mesma coisa. Bia do Bradesco, sabe?

O banco diz que está promovendo uma campanha contra o assédio e usa como carro-chefe do marketing a inteligência artificial criada para atender os clientes. Trata-se de um produto capenga devido ao estado de evolução dessa tecnologia e à realidade da interface com o usuário. Você já usou assistência da Bia do Bradesco? Tente. Não dá certo. Quer dizer, dá super certo se o seu objetivo for passar nervoso.

Inteligência artificial precisa ser treinada na interface com cada usuário. A tente também precisa aprender como fazer isso. E, vamos confessar, a maioria não sabe, não tem tempo nem paciência. É o meu caso. É indecente e misógino comparar o assédio sofrido por mulheres reais, com todas as suas consequências, à reação de alguém gritando com uma máquina que não funciona direito.

A tentativa de transformar um limão em limonada por meio de publicidade da lacração é um desrespeito com as mulheres. O problema da Bia é que o próprio Bradesco havia programado respostas misóginas, comparando estupro com namoro, por exemplo. Agora mudou para respostas igualmente misóginas, que equiparam dores reais de mulheres em situações graves a alguém dizendo, "que b*sta de chat" diante da frustração com o funcionamento dele. Desde quando isso é luta contra assédio?

Claro que a internet não perdoa. Geral já sabia que a tal da Bia não acha as coisas que a gente pede nem com corrente de oração. É mais rápido ir até a agência, pegar a fila do covidário e falar com o gerente do que conseguir fazer o que você quer pedindo à inteligência artificial. Quando mudaram as respostas, a interface continuou igualzinha. Vocês sabem que a única indústria em franca ascensão no Brasil é a da zueira. Ela entrou em ação mostrando que a Bia do Bradesco continua com os mesmos problemas.

Segundo a propaganda lacradora, "inspirados pelo movimento "Hey, atualize minha voz", da UNESCO, mudamos as respostas da BIA para que ela reaja de forma justa e firme contra o assédio. Sem meias palavras. Sem submissão. Porque, se queremos construir um futuro com mais respeito, precisamos dar o exemplo AGORA". O banco gastou uma fortuna com a campanha da lacração e nem assim a inteligência artificial parou de elogiar machismo e confundir estupro com amor.

A diferença prática é que agora aparece lição de moral quando, por exemplo, a Bia não entende o nome do cliente. Com o novo conjunto de respostas pré-programadas, a assistente virtual elogia nazismo e fetos enlatados, mas compara ir à missa a estupro. Não me parece que a campanha da UNESCO recomende essas práticas. Eu não entendo nada de banco, mas talvez tivesse sido melhor gastar o dinheiro da campanha lacradora em desenvolvimento de inteligência artificial.

O Bradesco propagandeia como se fossem iniciativas contra o assédio outras ações de marketing. Por exemplo, entrou na Aliança sem Estereótipo, "movimento que visa conscientizar anunciantes, agências e a indústria da propaganda, em geral, sobre a importância de eliminar os estereótipos nas campanhas publicitárias". Como diria o grande João Kleber, "para, para, para, para". Vão desativar a Bia? Não tem estereótipo mais gongado na área de inteligência artificial do que toda assistente ser mulher. Por que não é homem? Por que não é uma voz robótica, neutra, sei lá?

Madeleine Lacsko, jornalista - VOZES - Gazeta do Povo