Análise Política
Seria entretanto quixotismo puro olhar a política pelas lentes de uma racionalidade fria, pois os políticos são em larga medida escravos dos grandes movimentos de opinião. E há consenso sobre a necessidade de continuar pagando os seiscentos reais às mais de 21 milhões de famílias hoje cadastradas para receber o benefício. Então é provável que o Parlamento escolha o caminho mais fácil, em vez de enveredar pelo pântano de tentar cortar outras despesas de custeio para conseguir encaixar essa não tão nova.[nada contra os mais pobres, mas as necessidades dos mais desfavorecidos são maiores que as decorrentes das medidas necessárias para levá-los, de modo definitivo, a uma condição melhor - portanto a PEC da Transição, ou seja, a PEC do PRECIPÍCIO não pode nem deve ser aprovada nem este ano nem nos primeiros meses de 2023.]
O que facilitaria, quem sabe?, abrir um buraco no teto de gastos para os investimentos. No final do arco-íris alguma solução será encontrada, pois interessa a todo o mundo político achá-la. Mesmo que venha a ser uma gambiarra.
De gambiarra em gambiarra o teto de gastos agoniza, e já faz algum tempo. Talvez valesse a pena aproveitar o renovado (está sendo assim desde 2020) consenso sobre a necessidade de furá-lo e buscar uma alternativa. Ou alternativa nenhuma e simplesmente revogá-lo, adotando a fórmula minimalista mais razoável: o Executivo pede ao Legislativo autorização para fazer certa despesa, e este decide se autoriza ou não. E diz de onde virá o dinheiro. Seria um cipoal a menos para desembaraçar.
Melhor do que persistir neste faz-de-conta, em que o teto de gastos está previsto na Constituição e a cada ano é preciso emendar a Constituição para desrespeitá-la. Ionesco puro.
Ainda sobre incongruências, uma é candidata a destaque. No debate sobre os recursos para manter programas sociais vitais, o verbo tem sido exatamente este: manter. Não se fala em ampliar. Mas isso bate de frente com um dos pilares da narrativa vitoriosa na campanha eleitoral.
Pois estabeleceu-se entre nós como verdade, a partir de um único estudo, que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, apesar dos seiscentos reais mensais dados às 21 milhões de famílias do AB/BF. No último debate do segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva procurou contornar esse ruído, associando a fome à recente reforma da Previdência. Duvidoso.[o número de famintos foi inflado de forma proposital e covarde pelo ladrão - dados do Banco Mundial provam que ela foi a menor desde 1981 - comprovam , para que assim ele pudesse voltar à cena do crime = ainda nem foi diplomado e já está aceitando favores de empresário delator = corrupção passiva.]
Ora, se 33 milhões de pessoas passam fome apesar de 21 milhões de famílias receberem seiscentos reais por mês, uma de três situações é obrigatoriamente verdadeira:
Mas não se vê nenhuma preocupação ou movimentação nesse sentido. [por ser sabido que o número de miseráveis caiu = Mentir sobre 33 milhões de famintos vira verdade quando a mentira é publicada muitas vezes.]Todo o debate gira simplesmente em torno de por quanto tempo prorrogar o que já existe. Ninguém fala em aumentar as famílias no programa ou aumentar o valor do benefício.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político