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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A campanha de ódio contra os que pedem “Fora Dilma”. O caso do/da cartunista Laerte. Ou: A última da baranga moral!



O cartunista Laerte Coutinho, como expressão política, é um farsante. E nem me refiro ao fato de ele ter decidido parar de se vestir de homem para ser baranga na vida. Fosse uma sílfide, sua ética não seria melhor. Não é a mulher horrenda que há nele que o faz detestável, mas o que há de estúpido. E aí, meus caros, pouco importa como ele use os instrumentos com os quais o dotou a natureza.

Em 2012, esse farsante, que então se dizia bissexual e declarava ter uma namorada, foi flagrado usando o banheiro feminino de um restaurante. Estava, como se diz, montado. Uma mulher, segundo os dotes da natureza, sentiu-se incomodada. Especialmente porque estava no recinto com a sua filha, uma criança. Indagado se não era justo o incômodo já que, afinal, ele se dizia também atraído por mulheres, deu a seguinte resposta: “Não importa. Como é que elas se sentiriam com uma lésbica dentro do banheiro?”.

Depende. A resposta parece esperta, mas é típica de um argumentador picareta. Em primeiro lugar, Laerte é homem, não lésbica. Em segundo lugar, ainda que alguns traços estereotipados (mas nem sempre) possam indicar o lesbianismo, uma hétero só poderia reclamar da presença de uma lésbica se fosse alvo de algum assédio. Em terceiro lugar, o exibicionismo certamente doentio de Laerte faz dele o mais famoso homem que se veste de mulher do país.

Na sua insaciável compulsão por mandar a lógica às favasele pensa mal não importa como esteja travestido —, afirmou ainda:Eu sou uma pessoa transgênera e quero usar o banheiro feminino”. Laerte acredita que o fato de ele “querer” alguma coisa transforma essa coisa num direito. Mais: salvo demonstração em contrário, o banheiro feminino é reservado às mulheres, e a menos, então, que sejam consultadas, essa maioria não poderia ser submetida aos desejos da minoria “transgênera” — na hipótese, não comprovada, de que ele representasse a dita-cuja, o que também é falso.

Ocorre que esta falsa senhora transita num meio em que o único preconceito aceitável é não ter preconceitos, como se as escolhas que fazemos ao longo dos dias, das semanas, dos meses, dos anos e da vida não comportassem uma carga de saberes prévios e necessários à organização em sociedade. Mas nem vou me ater agora a esse aspecto. 

Registro apenas que um esquerdista como Laerte, a despeito de sua ignorância política amplamente demonstrada em suas charges (as que fazem sentido ao menos…), é uma figura icônica desses tempos em que tudo pode desde que seja visto como transgressão — ainda que não se saiba por que transgredir e com que finalidade. Em suma: o sujeito é esquerdista, gay, “transgênera” (seja lá o que isso signifique) e sempre tem, como disse Mencken, respostas simples e erradas para problemas complexos.

Para o homem-mulher que pretende usar o banheiro feminino porque se diz transgênera” e que acusará o “preconceito” de qualquer um que ouse obstar os seus balangandãs entre vaginas, a sua generalização é insuportavelmente preconceituosa. Pior ainda: desta feita, é a minoria que está no poder — e Laerte pertence inequivocamente ao terreno dos que governam o país há 13 anos — ironizando a maioria que não está.

Associar as pessoas que pedem “Fora Dilma” a supostos policiais que praticam chacinas é duplamente doloso:
1 – porque atribui a milhões de pessoas que vão às ruas comportamento e escolhas criminosas;
2 – porque associa a Polícia Militar, como instituição, ao crime.

Vera Guimarães Martins, ombudsman da Folha — entre os melhores textos que já passaram pela função, diga-se —, escreveu a respeito neste domingo. Laerte se pronunciou, defendeu sua charge estúpida e produziu esta pérola:
“Muitos manifestantes tiraram selfies ao lado de PMs e as reproduziram fartamente nas redes sociais, transformando esse gesto num ícone de todas as marchas até agora. Essas pessoas não estavam confraternizando com soldados específicos –estavam demonstrando apoio a uma corporação que vem sendo apontada como uma das mais envolvidas em mortes de pessoas, no país (segundo esta Folha, no primeiro semestre, foram 358 mortes “em confronto”). Os recentes assassinatos apontam, segundo as investigações, para ação motivada por vingança, por parte de policiais. O que busquei foi juntar as pontas desses fatos sociais e estimular a reflexão.”

É asqueroso. Pessoas fazem, sim, selfies com policiais que estão sem máscara, de cara limpa, acompanhando pacificamente uma manifestação política de… pacíficos! De fato, demonstram seu apoio à instituição que responde pela segurança pública, não a eventuais assassinos que se acoitam na corporação. Afirmar — e notem que é isso que ele faz — que esses manifestantes estariam apoiando esquadrões da morte é delinquência intelectual. Mais: as investigações estão sendo conduzidas, entre outros entes, pela própria Polícia Militar.

Há mais burrices na fala da baranga moral: há mais de 50 mil assassinatos por ano no Brasil, e a Polícia Militar não está entre as que mais matam. É mentira! No caso, as mortes aconteceram em São Paulo, estado que tem hoje a menor taxa de homicídios do país.

A figura travestida de pensador ainda ousa: “Toda redução será, em algum grau, injusta”. É verdade. Mas Laerte não produziu só a “redução” inevitável de uma charge. A “transgênera” que participou de um evento no Instituto Lula no dia 16 de agosto, enquanto mais de 600 mil pessoas pediam o impeachment de Dilma, as associou a todas ao crime, à violência e a execuções sumárias. No mesmo dia, naquele instituto, os “companheiros” faziam a defesa de petistas presos, flagrados com a boca da botija.

O homem que se finge de mulher associa manifestantes pacíficos a criminosos para que possa participar de um ato que, fingindo-se de pacífico, defende criminosos. Laerte é uma fraude de gênero. Laerte é uma fraude lógica. Laerte é uma fraude moral. Mas que se note: ele não está só. Multiplicam-se os textos no colunismo que tentam associar os que pedem o impeachment de Dilma, ancorados na lei, à defesa da violência e da truculência, embora essas pessoas tenham promovido as três maiores manifestações políticas do país sem um único incidente. A pauta de uma minoria, que pede intervenção militar, é usada como exemplo do suposto perfil antidemocrático de quem sai às ruas. 

Não obstante, até agora, só duas lideranças com alguma projeção acenaram com confronto armado foram Vagner Freitas, presidente da CUT, e Guilherme Boulos, chefão do MTST. O assunto sumiu da imprensa.


Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo