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sábado, 2 de janeiro de 2021

Ciranda em torno dos cofres públicos - Percival Puggina

O moço na TV era um de muitos, no mundo acadêmico e nos meios de comunicação, que fazem análise marxista até sobre chinelo velho. Em toda oportunidade se referem aos artefatos e serviços de proteção que usamos como se equivalessem às defesas com que os grandes traficantes se cercam em seus bunkers.

Descrevem uma realidade que domina a paisagem urbana das cidades brasileiras, como sendo coisa de gente preconceituosa, paranoica e indiferente à miséria alheia. Dizem-nos assim: "Vocês se isolam do mundo, cultivam preconceitos, matriculam os filhos em escolas particulares também protegidas por grades e agentes de segurança". No entanto, bem sabemos todos quanto esses cuidados são indispensáveis num país onde o crime espreita em cada esquina, porta de garagem, restaurante ou agência bancária. [Vivemos em um país em que conhecido jornal, critica na sua  coluna OPINIÃO anistia para policiais que abateram bandidos e propõe que seja estendida para maconheiros que estão presos por consumo de drogas; 
Aliás, o Brasil é um dos poucos países, se não for o único, em que presidiários tem prioridade na fila de vacinação - convenhamos, se e quando a vacina chegar - ao mesmo nível de profissionais de saúde. Quando para proteger bandido condenado a pena de reclusão, regime fechado, da covid-19, basta cumprir a lei: pena de reclusão = regime fechado = o bandido fica preso mesmo, sem visita íntima e/ou social, sem saídão e por aí vai.  CUMPRE-SE a  LEI, se tranca o bandido e ele fica de forma automática e legal sob isolamento.
Um dia desses no Hospital Sarah Kubitschek - especializado em ortopedia - simplesmente dezenas de pacientes que aguardavam consulta/atendimento, viram chegar sob escolta policial um bandido que passou na frente de todos. PRIORIDADE TOTAL e não era nem emergência = apenas o presidiário antes de ser condenado era paciente do Sarah e naquele dia se realizaria uma consulta já agendada. ]

A espiral ascendente da bandidagem não para de se ampliar desde que a análise marxista substituiu a lei pela tolerância ideológica às suas práticas. Ao mesmo tempo, o Estado  passava a gastar mais e mais consigo mesmo do que com suas funções essenciais. A violência aumenta pelo simples fato de que há criminosos em excesso circulando livremente em nossas ruas e estradas. E o sujeito da telinha, embora não tenha referido isso, certamente afirmaria, se lhe ocorresse, que “prender não resolve”. Claro que só prender não resolve, mas, ainda assim, resolve mais do que a impunidade, resolve mais do que o “não dá nada”.

Outro dia escreveu-me um leitor queixando-se dos golpistas que telefonam pedindo dinheiro através do WhatsApp (truquezinho idiota que virou uma praga). 
Respondi a ele que isso só acontecia porque quando viesse a ocorrer a improvável prisão de um tipo desses, não faltaria quem mandasse soltá-lo com méritos de bom cidadão por se dedicar a um golpe de tão baixa lesividade. [beneficio que a famigerada audiência de custódia - desnecessário dizer quem foi o Poder que instituiu tal absurdo e qual o ministro = que com uma simples canetada criou uma 'coisa' que não existe na legislação e que aumentou a impunidade.
Aqui no DF, já teve casos de pessoas que foram presas pela polícia, Lei Maria da Penha, conduzidas à audiência de custódia e liberados, já que praticaram delitos de pouco potencial ofensivo.
Logo que saíram da cadeia foram a casa da mulher que os denunciou e cometeram um crime de grande potencial assassino = mataram a ex = homicídio, também chamado feminicídio.] 

Sujeitos como o de nariz torcido na telinha da tevê querem provar, com ares solenes e doutas perspectivas, que somos os réus dos crimes que contra nós praticam; que somos uma espécie de celerados sociais, atemorizados com as consequências dos males que advêm de nossa resistência às suas fracassadas utopias, às suas estrelas e bandeiras vermelhas. Proclamam que existem pobres porque existem ricos.

Rematadas tolices! Todo o posto de trabalho vem da riqueza gerada pelo setor privado. Todo! Inclusive o emprego público, remunerado pelos tributos incidentes onde haja produção. O Estado é um gastador da riqueza gerada por quem produz. O que mais esperam os desempregados nos países em crise devido à pandemia é que suas economias nacionais comecem a vender, as empresas privadas a produzir e a reempregar, e a sociedade volte a consumir. Há alegria nos mercados quando os indicadores apontam sinais positivos no mundo dos negócios.

O que os adoradores do Estado, que sonham com voltar ao poder e dançar ciranda em torno dos cofres públicos, não contam para você, leitor, é que a verdadeira concentração de renda, nociva e ativa, empobrecedora, que paralisa a atividade econômica como picada de cascavel derruba a vítima, é o Estado  que se apropria de quase 40% do PIB nacional. Aí está a causa da pobreza do pobre: o Estado, esse concentrador de renda nas próprias mãos. O Estado, que, mesmo quando não se deixa roubar, sustenta obrigatoriamente incontáveis cortes, gastos secretos, luxos inauditos e extravagantes comitivas. Como não poderia deixar de ser, esse Estado entrega aos pobres do país, em péssimas condições, a Educação, a Saúde e o Saneamento que, se bons fossem, lhes permitiriam sair da miséria e cuidar bem de si mesmos.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.