O moço na TV era um de muitos, no mundo
acadêmico e nos meios de comunicação, que fazem análise marxista até
sobre chinelo velho. Em toda oportunidade se referem aos artefatos e
serviços de proteção que usamos como se equivalessem às defesas com que
os grandes traficantes se cercam em seus bunkers.
Descrevem uma realidade que domina a
paisagem urbana das cidades brasileiras, como sendo coisa de gente
preconceituosa, paranoica e indiferente à miséria alheia. Dizem-nos
assim: "Vocês se isolam do mundo, cultivam preconceitos, matriculam os
filhos em escolas particulares também protegidas por grades e agentes de
segurança". No entanto, bem sabemos todos quanto esses cuidados são
indispensáveis num país onde o crime espreita em cada esquina, porta de
garagem, restaurante ou agência bancária. [Vivemos em um país em que conhecido jornal, critica na sua coluna OPINIÃO anistia para policiais que abateram bandidos e propõe que seja estendida para maconheiros que estão presos por consumo de drogas; Aliás, o Brasil é um dos poucos países, se não for o único, em que presidiários tem prioridade na fila de vacinação - convenhamos, se e quando a vacina chegar - ao mesmo nível de profissionais de saúde. Quando para proteger bandido condenado a pena de reclusão, regime fechado, da covid-19, basta cumprir a lei: pena de reclusão = regime fechado = o bandido fica preso mesmo, sem visita íntima e/ou social, sem saídão e por aí vai. CUMPRE-SE a LEI, se tranca o bandido e ele fica de forma automática e legal sob isolamento.
Um dia desses no Hospital Sarah Kubitschek - especializado em ortopedia - simplesmente dezenas de pacientes que aguardavam consulta/atendimento, viram chegar sob escolta policial um bandido que passou na frente de todos. PRIORIDADE TOTAL e não era nem emergência = apenas o presidiário antes de ser condenado era paciente do Sarah e naquele dia se realizaria uma consulta já agendada. ]
A espiral ascendente da bandidagem não
para de se ampliar desde que a análise marxista substituiu a lei pela
tolerância ideológica às suas práticas. Ao mesmo tempo, o Estado
passava a gastar mais e mais consigo mesmo do que com suas funções
essenciais. A violência aumenta pelo simples fato de que há criminosos
em excesso circulando livremente em nossas ruas e estradas. E o sujeito
da telinha, embora não tenha referido isso, certamente afirmaria, se lhe
ocorresse, que “prender não resolve”. Claro que só prender não resolve,
mas, ainda assim, resolve mais do que a impunidade, resolve mais do que
o “não dá nada”.
Outro dia escreveu-me um leitor
queixando-se dos golpistas que telefonam pedindo dinheiro através do WhatsApp (truquezinho idiota que virou uma praga).
Respondi a ele que
isso só acontecia porque quando viesse a ocorrer a improvável prisão de
um tipo desses, não faltaria quem mandasse soltá-lo com méritos de bom
cidadão por se dedicar a um golpe de tão baixa lesividade. [beneficio que a famigerada audiência de custódia - desnecessário dizer quem foi o Poder que instituiu tal absurdo e qual o ministro = que com uma simples canetada criou uma 'coisa' que não existe na legislação e que aumentou a impunidade.
Aqui no DF, já teve casos de pessoas que foram presas pela polícia, Lei Maria da Penha, conduzidas à audiência de custódia e liberados, já que praticaram delitos de pouco potencial ofensivo.
Logo que saíram da cadeia foram a casa da mulher que os denunciou e cometeram um crime de grande potencial assassino = mataram a ex = homicídio, também chamado feminicídio.]
Sujeitos como o de nariz torcido
na telinha da tevê querem provar, com ares solenes e doutas
perspectivas, que somos os réus dos crimes que contra nós praticam; que
somos uma espécie de celerados sociais, atemorizados com as
consequências dos males que advêm de nossa resistência às suas
fracassadas utopias, às suas estrelas e bandeiras vermelhas. Proclamam
que existem pobres porque existem ricos.
Rematadas tolices! Todo o posto
de trabalho vem da riqueza gerada pelo setor privado. Todo! Inclusive o
emprego público, remunerado pelos tributos incidentes onde haja
produção. O Estado é um gastador da riqueza gerada por quem produz. O
que mais esperam os desempregados nos países em crise devido à pandemia é
que suas economias nacionais comecem a vender, as empresas privadas a
produzir e a reempregar, e a sociedade volte a consumir. Há alegria nos
mercados quando os indicadores apontam sinais positivos no mundo dos
negócios.
O que os adoradores do Estado,
que sonham com voltar ao poder e dançar ciranda em torno dos cofres
públicos, não contam para você, leitor, é que a verdadeira concentração
de renda, nociva e ativa, empobrecedora, que paralisa a atividade
econômica como picada de cascavel derruba a vítima, é o Estado que se
apropria de quase 40% do PIB nacional. Aí está a causa da pobreza do
pobre: o Estado, esse concentrador de renda nas próprias mãos. O Estado,
que, mesmo quando não se deixa roubar, sustenta obrigatoriamente
incontáveis cortes, gastos secretos, luxos inauditos e extravagantes
comitivas. Como não poderia deixar de ser, esse Estado entrega aos
pobres do país, em péssimas condições, a Educação, a Saúde e o
Saneamento que, se bons fossem, lhes permitiriam sair da miséria e
cuidar bem de si mesmos.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e
Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do
site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,
a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.