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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O Supremo legislador - Carlos Andreazza

O Globo

A jogada de Marco Aurélio para cima de Dias Toffoli

O mais importante voto de ontem, no plenário do Supremo, foi o de Marco Aurélio Mello, relator das ADCs sobre a constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo Penal; e não por sua posição relativamente à matéria – sua manifestação foi direta, clara e previsível: era desde há muito sabido que o ministro forma entre os que consideram que só após o transito em julgado, esgotadas todas as instâncias de apelação, pode-se executar a prisão do condenado.

O fato relevante de seu voto, de natureza lateral (e caráter político), é haver possivelmente se antecipado a Dias Toffoli, presidente do tribunal, para lhe atacar, sem dó, a tese intermediária – suprassumo do puxadinho fulanizado que raptou a corte – que pretende estabelecer a ratificação de sentença em terceira instância (STJ) como marco para cumprimento de pena. Já tratei do assunto no artigo O Supremo na encruzilhada.

Toffoli não é de hoje tenta costurar o caminho  com todas as vênias covarde. O relator, em resposta, reduziu a questão em pauta aos dois únicos desfechos possíveis, dado que temos um embate entre o que dizem, combinados, Constituição Federal e CPP, e a jurisprudência corrente ora no STF; daí por que: ou se define, com efeito vinculante, que a regra é prender após condenação em segunda instância ou – sem outra alternativa – após o trânsito em julgado. Ponto final.

Importante aqui, pois, é projetar – à luz do movimento trucado de Marco Aurélio – se ainda restará possível a Toffoli apresentar a solução “evita Lula”. Isto na suposição – como saber? – de que Rosa Weber acompanhe o relator. Situação em que, tudo o mais constante, teríamos um 5 a 5 no placar, cabendo ao presidente do Supremo desempatar. Terá ele – conhecida a posição de Marco Aurélio Mello – condição de propor novamente a tese "tenho medo do bafo das ruas"?

Porque – está declarado – um voto, entre aqueles com os quais deveria contar, já não tem. Marco Aurélio fecha com o grupo garantista, é contra a execução da pena antes do trânsito em julgado; mas não admite qualquer flexibilização a partir desse entendimento.
E aí?
Terá o relator obrigado – no caso de Weber formar (e não tenho a certeza de muitos) com os garantistas – Dias Toffoli a abandonar a solução puxadinho e votar pelo cumprimento de pena somente ao fim de todos os recursos?  Ou contará Toffoli com a adesão à sua tese de um entre os ministros – Alexandre de Moraes, parceiro naquele inquérito censor sem objeto definido – que ora compõem o time dos a favor da prisão após sentença penal condenatória em segunda instância?

A ver, antes de tudo, para onde nos leva o voto de Rosa Weber. Saberemos hoje. O que, porém, fará Toffoli, mui provavelmente, só em novembro.  E que não se pense que o presidente do STF controla o tempo das sessões, sem que as deixe avançar para além de quatro horas, por preguiça ou coisa do gênero. Não. Tem método neste cronômetro rigoroso. Assim, ele fraciona os julgamentos, ganha tempo, costura trilhas, dilui reações e mede o pulso da sociedade. 

Carlos Andreazza - Coluna publicada em O Globo

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O desperdício nosso de cada dia



A astronomia desconhece unidades de medidas cotidianas, como metro e quilômetro. Tudo é, no mínimo, bilhão. São 5,9 bilhões de quilômetros da Terra a Plutão, e 263 bilhões da Terra ao centro da Via Láctea. Assimilá-las não é trivial. Acontece o mesmo com as despesas do Estado, listadas em bilhão, dezenas de bilhão, centenas de bilhão de reais, tudo astronômico e desafiador como as distâncias cósmicas. Em 2015, as pastas da Educação e da Saúde receberam dotação de mais de R$ 100 bilhões cada uma

Ainda assim, faltou dinheiro. O gasto com o pagamento dos servidores federais superou os R$ 280 bilhões. A Previdência custou mais de meio trilhão. O Orçamento Geral da União foi de R$ 2,68 trilhões de reais. Números siderais, com tantos zeros, são alcançados pelas calculadoras. Mas deixam as pessoas um pouco confusas. Uma forma de trazer o debate a um patamar mais terreno é realizar os cálculos com apoio do calendário (a boa e velha folhinha) e do cronômetro. Pode parecer estranho, mas faz sentido.  

Acompanhe.
A folhinha nos oferece o custo médio do Estado brasileiro por mês (R$ 223 bilhões ), e por dia (R$ 7,3 bilhões). O cronômetro, por hora (R$ 306 milhões) e por minuto (R$ 5 milhões). Com estes novos fatiamentos, podemos executar cálculos mais palpáveis. Para melhorar o saneamento, por exemplo, um dos grandes flagelos nacionais, o Estado reserva, por ano, apenas nove horas das despesas globais. O Congresso Nacional custa, anualmente, um dia e seis horas de orçamento. O Bolsa Família, três dias e 19 horas. O Ministério da Defesa, 11 dias, Saúde e a Educação, cerca de 15 dias cada.

Além de dimensionar as despesas no tempo, o método revela que certas economias apresentadas pelas autoridades como fruto de um admirável esforço fiscal são mais modestas do que parecem. Em setembro do ano passado, o Ministério do Planejamento divulgou um pacote de cortes que incluía extinção de ministérios, eliminação de cargos de confiança e reduções variadas de gastos administrativos. Total da economia do pacote: R$ 2 bilhões no ano. Pelo cronômetro, o Estado comprometeu-se a enxugar seis horas e 34 minutos do bolo anual. Pouco, já que o ano tem 8.760 horas. No caso de 2016, bissexto, 24 horas a mais.

O Orçamento de 2015, que deveria apresentar superávit, fechou com déficit de R$ 118,6 bilhões. Zerá-lo significaria um esforço fiscal semelhante a 16 dias da despesa anual. Equivaleria a cortar, em cada mês, um dia e oito horas de custos. Mas as autoridades não conseguiram, e isso nos rendeu a perda do grau de investimento. A folhinha e o cronômetro escancaram o tipo de país que estamos construindo. 

Em 2015, o Estado reservou aos investimentos, base para o futuro, apenas dez dias de recursos — e executou cinco. Investimento é infraestrutura. São obras necessárias para tornar o país socialmente mais justo e economicamente mais competitivo. Já as despesas referentes aos compromissos assumidos no passado consomem quase cinco meses do Orçamento. São dois meses e sete dias do ano para os serviços da dívida pública e outros dois meses e 12 dias para o pagamento da Previdência.

Como o Brasil vai progredir destinando cinco dias do ano ao futuro e quase cinco meses ao passado? Parar de pagar a dívida não é opção, mas conter seu avanço vertiginoso, uma obrigação. O mesmo vale para a Previdência, um sistema que só para em pé se guiado pela lógica atuarial, não por conceitos subjetivos e discutíveis de justiça. Se o método do cronômetro e da folhinha não ajudar os governantes a compreender o tamanho do desafio, restará o método da moedinha. Cara, o Brasil vira um país insignificante; coroa, ele quebra
.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes - Publicado no Globo - Eduardo Oinegue