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quarta-feira, 8 de junho de 2022

Vocação para o engano - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Nenhuma embalagem é confiável. Confiáveis são os fatos

Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock
Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock

Collor, por exemplo. Era o caçador de marajás, representando uma espécie de “direita” moderna contra os vícios fisiológicos da velha política. No que assumiu já submeteu a população a um plano econômico com um nível de autoritarismo estatal que nem a “esquerda” arcaica tinha coragem de cogitar. Colocou uma espécie de czarina no comando das ações, transformando a tecnocracia atrapalhada de Zélia Cardoso de Mello numa lição histórica sobre o que acontece quando se confunde arrogância com perícia.

O confisco, ou embargo do acesso dos brasileiros às suas contas bancárias fora dos limites baixados pela czarina de Collor, foi um ato de fazer stalinista aplaudir de pé emocionado — contrariando diametralmente a embalagem do candidato “capitalista moderno”. O desastre de demagogia e prepotência desse governo aventureiro foi o maior combustível que o petismo e o lulismo receberam em toda a sua vida de farsa “contra os poderosos”.

A chegada de Itamar Franco ao Palácio do Planalto também foi a contradição de si mesma — no terreno das expectativas que a política cria. Por conta do naufrágio da aventura “direitista” moderninha (esses conceitos sempre ajudam as pistas falsas), Itamar virou uma espécie de esperança moralizadora nacional-progressista após o trauma do trem fantasma collorido — com PC Farias, Zélia, Pedro Collor, Rosane e grande elenco da modernidade arcaica feita de gel, petulância e gula.

Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas

Nesse astral de tirar a política dos porões da Casa da Dinda, Itamar entregou o comando da economia a um sujeito gente boa, simpatizante do Galo da Madrugada e da ecologia. De fato, simpatia é quase amor — o que não é pouco depois da carranca da Zélia. Mas daí a resolver o problema da hiperinflação vai uma certa distância. Para complicar um pouco mais, Collor tinha finalmente acertado com a nomeação de Marcílio Marques Moreira para a Economia — cuja gestão discreta e competente foi interrompida pelas boas intenções de Itamar. As aparências enganando de novo, dramaticamente, no sentido oposto.

Fernando Henrique foi nada menos que o quarto ministro da Fazenda de Itamar em pouco mais de seis meses. Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas. De novo a traição das expectativas: FHC era um intelectual perdido na política (segundo os estereótipos), um sujeito educado para explicar o fracasso com boas maneiras. O PT salivava e só esperava a hora de pegar a chave do Palácio. Esperou dez anos.

Hoje FHC representa a desonestidade intelectual na política, fazendo vista grossa para os crimes de Lula e envenenando a ação meritória de Paulo Guedes para surfar na caricatura antibolsonarista. Mas boa parte dos fundamentos que permitem avanços na política fiscal de Bolsonaro e Guedes foi plantada por FHC, numa gestão que não pode ser classificada como menos do que magistral — regendo uma equipe de excelência e inaugurando a transparência e a previsibilidade na condução macroeconômica.

As aparências enganaram com Collor (até no momento em que ele acertou), com Itamar, com FHC (antes e depois), com Bolsonaro (um nacionalista estatizante que deu sua guinada liberal) e também com Temer, que de vice da Dilma conduziu um período de saneamento da lambança petista. Assim como FHC, Temer fez o favor de também contrariar depois as boas expectativas, aderindo a conversas fiadas sobre “semipresidencialismo” e outros zumbidos golpistas.

Até Lula chegou a driblar as projeções (para o bem) ao assumir a Presidência, jogando fora todo seu discurso populista e adotando uma política macroeconômica responsável, em prosseguimento às reformas do Plano Real. Infelizmente isso durou pouco e ele preferiu voltar ao normal, fazendo a festa dos picaretas do bando. Ainda assim, contrariou as expectativas “socialistas” e preferiu o bom e velho capitalismo como local do crime.

Como se vê, nenhuma embalagem é confiável. Nem mesmo credenciais são plenamente confiáveis, tampouco seus portadores. Confiáveis são os fatos — se você não se importar de olhar para eles.

Leia também “Jantando a democracia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


domingo, 6 de março de 2022

Em 1917, o czar não entendeu nada - Elio Gaspari

O Globo 

Não se sabe o que se passa na cabeça de Vladimir Putin, mas sabe-se bem o que acontecia nos palácios de Nicolau II em 1917

Não se sabe o que acontece no Kremlin, muito menos o que se passa na cabeça de Vladimir Putin. Passados 105 anos, sabe-se bem o que acontecia nos palácios do czar Nicolau II em 1917.

No dia de hoje, pelo calendário gregoriano, a Rússia Imperial estava em guerra contra a Alemanha e ia mal. A vida doméstica de Nicolau ia pior. Uma de suas filhas e o príncipe herdeiro, Alexei, estavam doentes (era sarampo). A czarina Alexandra ainda não havia se recuperado do assassinato, em dezembro, do monge Rasputin, curandeiro de seu garoto hemofílico. Ela vivia chapada por tranquilizantes. A Corte russa era um serpentário de intrigas e pensava-se até num golpe. Num desses planos, Alexandra seria mandada para um mosteiro.

Nos últimos dois anos, além de Rasputin, a Rússia tivera quatro primeiros ministros, cinco ministros do Interior, três chanceleres, outros três ministros da Guerra e quatro da Agricultura.  Bailava-se nos palácios, mas faltava comida em São Petersburgo e formavam-se longas filas diante das lojas num inverno que levava a temperatura a quinze graus abaixo de zero. Como aconteciam alguns protestos e greves, Alexandra aconselhou o marido: “Eles precisam aprender a ter medo de você. O amor não basta.”

No dia seguinte, 8 de março, o tempo estava bom (cinco graus abaixo de zero), e dezenas de milhares de trabalhadores, a maioria mulheres, tomaram as ruas de São Petersburgo. Se o negócio era botar medo, veio um mau sinal: os soldados relutaram em reprimir a manifestação. Muita gente cantava a “Marselhesa”. Nada a ver com os bolcheviques, que eram poucos. Lênin estava na Suíça, Trotsky, em Nova York, e Stalin, na Sibéria. Essa data de março marca o início da Revolução de Fevereiro. Era o dia 23, pelo calendário juliano, vigente à época na Rússia.

As greves alastraram-se, paralisando 200 mil trabalhadores, e começaram casos de confraternização de soldados com operários. Com novas manifestações, dessa vez com cerca de 200 mil pessoas, a czarina disse ao marido que aquilo era coisa de desordeiros e, se a temperatura caísse, eles ficariam em casa. Um chefe bolchevique da cidade achava coisa parecida: bastaria que houvesse mais pão. O czar descansava a cabeça lendo Júlio César. Nisso, adoeceu mais uma filha, e na cidade saqueavam-se padarias, mas os teatros funcionavam.

Nicolau mandou atirar, e morreram duzentas pessoas. Três regimentos de elite da cidade amotinaram-se, varejaram o arsenal, levaram 40 mil rifles e seguiram para a cadeia onde estavam os presos políticos, libertando-os. Um general que passava de carro a caminho de um almoço no palácio ficou a pé. Indo para a costureira, a poeta Anna Akhmatova reclamava porque não conseguia um táxi. São Petersburgo foi tomada pela revolta, o chefe de polícia foi morto. A bailarina Mathilde Kschessinska, que muitos anos antes tirara a virgindade de Nicolau, foi avisada que a coisa ia mal, juntou algumas coisas e abandonou seu palacete. No dia seguinte, a casa foi saqueada. (Meses depois, ela veria uma bolchevique, com seu casaco de arminho.)

No dia 12 de março (27 de fevereiro, pelo calendário juliano), os motins tomaram conta dos quartéis. Segundo o historiador Richard Pipes, esta deveria ser a data da Revolução de Fevereiro. Quando a notícia chegou a Nicolau, ele disse que eram maluquices que “nem me incomodei de responder”. Sua mulher achava que estavam acontecendo “coisas terríveis” e passou pela sepultura de Rasputin. Ele previra que se morresse ou se o czar o abandonasse, perderia a coroa em seis meses.
Passaram-se apenas dois meses, e o regime caíra. Os ministros foram presos e levados para uma fortaleza, escoltados por um rebelde que lá estivera preso.

Na noite de 15 de março, Nicolau II abdicou. Como não havia entendido o que acontecia, passou a coroa para um irmão, achando que mais tarde iria para a Inglaterra. Nada disso aconteceu. Stalin chegaria a São Petersburgo em março, Lênin, em abril, e Trotsky, em maio. Em outubro, com um golpe, os bolcheviques tomaram o poder, e a Revolução de Fevereiro ficou fora de moda.

Hungria 1956
A repulsa dos Estados Unidos e das nações europeias diante da invasão da Ucrânia honra a nova ordem mundial, mas o estímulo à resistência armada deve levar em conta um mau precedente. Em 1956, o povo húngaro foi estimulado para rebelar-se contra a invasão soviética e deixado à própria sorte. O primeiro-ministro Imre Nagy asilou-se na embaixada da Iugoslávia. Foi deportado, devolvido e acabou enforcado. 

(...)

Madame Natasha

Natasha está tentando transformar seus frascos de perfume em coquetéis molotov para defender o idioma. Ela concedeu mais uma de suas bolsas ao ministro Ricardo Lewandowski. Trancando a ação que o lavajatismo moveu contra Lula pela compra dos caças suecos, ele disse o seguinte: “Não há como deixar de levar em conta a incontornável presunção de que a compra das referidas belonaves ocorreu, rigorosamente, dentro dos parâmetros constitucionais de legalidade, legitimidade e economicidade mesmo porque, até o presente momento, passados mais de sete anos da assinatura do respectivo contrato, não existe nenhuma notícia de ter sido ele objeto de contestação por parte dos órgãos de fiscalização, a exemplo da Controladoria-Geral da União, do Ministério Público Federal ou do Tribunal de Contas da União.”

Ele quis dizer que a compra dos aviões foi legal e ninguém reclamou. Não precisava de uma frase com 79 palavras. Natasha e o dicionário Houaiss são do tempo em que belonave era navio e não voava. [o ministro Lewandowski, talvez, tenha aderido ao fachinês  = idioma da Dilma adaptado criativamente pelo ministro Fachin. 
É uma linguagem mais prolixa que a utilizada por este escriba - recentemente, o ministro Fachin utilizou 959 palavras para responder, sucintamente,  duas perguntas apresentadas em uma entrevista.  
Este escriba não usa o fachinês - pelo grave defeito que o idioma dilmês x fachinês apresenta: só serve para fugir da pergunta, por conseguir complicar o que já é complicado - pelo uso de um palavreado que nada explica.
Ao nosso ver,  só é conveniente o seu uso quando o dilúvio de palavras trava os neurônios do entrevistador e dos seus leitores.
Mil perdões, cochilei e caí no fachinês.]

(.....) 

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari - MATÉRIA COMPLETA