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segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Lista negra - Feitores da linguagem: juízes “esclarecidos” denigrem a dignidade humana - Gazeta do Povo

Vozes - Paulo Polzonoff Jr

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Lista negra - ovelha negra

O fim de semana foi maravilhoso. Mas minha festa particular teve lá seus momentos de estranheza. Quando me surpreendi pensando na eliminação do Brasil na Copa, por exemplo. Faltavam só quatro minutos, poxa! Ou quando me vi gargalhando amarelo diante da Lista Negra (!) de Palavras e Expressões Racistas elaborada pelo totalitário TSEum tribunal que abandonou suas funções óbvias e restritas às eleições para se dedicar integralmente ao nada nobre trabalho de controlar a sociedade.

Nem as simpáticas ovelhinhas negras escapam da sanha “purificadora” dos militantes travestidos de juízes. Foto:

A risada tem mesmo essa função de apontar o ridículo diabólico da lista de palavras e expressões que, na opinião desses fariseus modernos, devem ser abolidas do vocabulário. Afinal, não há nada mais engraçado do que o homem seduzido pela própria “razão” a ponto de se achar capaz de controlar a linguagem em seus mínimos detalhes. A queda de Lúcifer tem, sim, seu quê de engraçado. Humor negro, digo.

Mas a verdade é que a listinha da corte mais stalinista deste Brasilzão de meu Deus não tem graça.  
Nem se agora, do nada, essa crônica fosse invadida pelo soldado Peçanha, lotado na Delegacia de Combate aos Crimes Vocabulares
“O quê?! Você disse ‘esclarecer’? Que samba do crioulo doido é este texto? Teje preso!”, diria ele nesta minha tentativa frustrada de fazer rir criando um personagem patético, cheio de ressentimentos históricos, cossofredor de dores ancestrais e ainda imaginário nas esquinas da vida. Mas muito real nos gabinetes desses juizecos de meia-tigela.
 
Não tem graça porque, ao contrário das iniciativas semelhantes que já foram motivo de escrutínio neste espaço, essa lista é um documento elaborado por uma tribunal. Por juízes.  
Por magistrados cuja responsabilidade, em tese, é a de mediar as relações humanas, numa esforço para manter algo remotamente semelhante à paz nesse mundo de conflitos incessantes. 
Na prática, porém, o que esses juízes fazem é fomentar o ódio entre as pessoas, o que só aumenta seu poder de coação e controle.

Uma imoralidade em si
E aqui vou usar um verbo apropriado, embora juridicamente incorreto, para descrever as intenções dos militantes de toga com essa nhaca de lista: escravizar. Só que, neste caso, o juiz-feitor afeta virtude ao chicotear no pelourinho um tipo de ser humano que ele vê como inferior e digno do açoite não por causa da cor da pele, e sim por causa das palavras e expressões que usa.

Na plateia deste espetáculo abjeto, talvez neguinho ria de nervoso, se perguntando: “Como chegamos a este ponto?”. Mas terá sido tarde demais. Porque ao redor dele não haverá ninguém para responder que chegamos até aqui assim: por interesses insondáveis, no remoto século XXI militantes travestidos de juízes não só fomentaram o ódio entre as pessoas como também foram soberbos a ponto de se acharem capazes de amenizar um tal de ressentimento histórico (uma imoralidade em si) proibindo palavras “racistas”. E quando disseram aos juízes-militantes que isso tudo tinha um quê de Torre de Babel, eles farfalharam suas togas, dando de ombros para a sabedoria milenar do bom senso.
 
Ao impor mais e mais restrições descabidas à linguagem, no afã de reconstruir uma cultura que nunca pediu para ser destruída, quanto mais reconstruída, juízes querem exercer o controle total sobre o homem comum. 
Querem manobrar não só suas ações, impedindo-os de cometerem “crimes”; 
querem manobrar seus pensamentos, impedindo-os de pensarem “errado”. E sabe o que é pior? 
O pior é que há muita gente que se submete voluntariamente à senzala do pensamento.
[a título de modesta colaboração linkamos para matéria em que mais normas poderão ser conhecidas; enfaticamente, recomendamos que evitem concluir qualquer coisa sobre o tema = visto que, CONCLUSÃO ERRADA se tornou crime grave. No máximo, pensem - pensamento silencioso, nada de pensar com seus botões.]
Como aqueles que fazem mesuras ao dono da casa grande substituindo o criado-mudo por alguma palavra mais esclarecida.  
Que não preparam nem mais uma deliciosa nega-maluca para a criançada
Que se recusam a sambar o simpático e divertido samba do crioulo doido da linguagem cotidiana. 
Que, no mercado negro dos vícios disfarçados de virtude, preferem a passividade do rebanho a bancar a ovelha negra. 
Que, desavergonhados da própria boçalidade, denigrem a dignidade humana ao anunciarem uma lista negra de palavras cujo objetivo é, repito quantas vezes for necessário, tornar o indivíduo cativo de suas vontades.

Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor. - Gazeta do Povo - VOZES

 


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Vocação para o engano - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Nenhuma embalagem é confiável. Confiáveis são os fatos

Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock
Da esquerda para a direita, os presidentes Fernando Collor de Mello, Lula, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons/Shutterstock

Collor, por exemplo. Era o caçador de marajás, representando uma espécie de “direita” moderna contra os vícios fisiológicos da velha política. No que assumiu já submeteu a população a um plano econômico com um nível de autoritarismo estatal que nem a “esquerda” arcaica tinha coragem de cogitar. Colocou uma espécie de czarina no comando das ações, transformando a tecnocracia atrapalhada de Zélia Cardoso de Mello numa lição histórica sobre o que acontece quando se confunde arrogância com perícia.

O confisco, ou embargo do acesso dos brasileiros às suas contas bancárias fora dos limites baixados pela czarina de Collor, foi um ato de fazer stalinista aplaudir de pé emocionado — contrariando diametralmente a embalagem do candidato “capitalista moderno”. O desastre de demagogia e prepotência desse governo aventureiro foi o maior combustível que o petismo e o lulismo receberam em toda a sua vida de farsa “contra os poderosos”.

A chegada de Itamar Franco ao Palácio do Planalto também foi a contradição de si mesma — no terreno das expectativas que a política cria. Por conta do naufrágio da aventura “direitista” moderninha (esses conceitos sempre ajudam as pistas falsas), Itamar virou uma espécie de esperança moralizadora nacional-progressista após o trauma do trem fantasma collorido — com PC Farias, Zélia, Pedro Collor, Rosane e grande elenco da modernidade arcaica feita de gel, petulância e gula.

Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas

Nesse astral de tirar a política dos porões da Casa da Dinda, Itamar entregou o comando da economia a um sujeito gente boa, simpatizante do Galo da Madrugada e da ecologia. De fato, simpatia é quase amor — o que não é pouco depois da carranca da Zélia. Mas daí a resolver o problema da hiperinflação vai uma certa distância. Para complicar um pouco mais, Collor tinha finalmente acertado com a nomeação de Marcílio Marques Moreira para a Economia — cuja gestão discreta e competente foi interrompida pelas boas intenções de Itamar. As aparências enganando de novo, dramaticamente, no sentido oposto.

Fernando Henrique foi nada menos que o quarto ministro da Fazenda de Itamar em pouco mais de seis meses. Ninguém esperava mais nada sério vindo dali — e veio o Plano Real, a coisa mais séria feita no Brasil em décadas. De novo a traição das expectativas: FHC era um intelectual perdido na política (segundo os estereótipos), um sujeito educado para explicar o fracasso com boas maneiras. O PT salivava e só esperava a hora de pegar a chave do Palácio. Esperou dez anos.

Hoje FHC representa a desonestidade intelectual na política, fazendo vista grossa para os crimes de Lula e envenenando a ação meritória de Paulo Guedes para surfar na caricatura antibolsonarista. Mas boa parte dos fundamentos que permitem avanços na política fiscal de Bolsonaro e Guedes foi plantada por FHC, numa gestão que não pode ser classificada como menos do que magistral — regendo uma equipe de excelência e inaugurando a transparência e a previsibilidade na condução macroeconômica.

As aparências enganaram com Collor (até no momento em que ele acertou), com Itamar, com FHC (antes e depois), com Bolsonaro (um nacionalista estatizante que deu sua guinada liberal) e também com Temer, que de vice da Dilma conduziu um período de saneamento da lambança petista. Assim como FHC, Temer fez o favor de também contrariar depois as boas expectativas, aderindo a conversas fiadas sobre “semipresidencialismo” e outros zumbidos golpistas.

Até Lula chegou a driblar as projeções (para o bem) ao assumir a Presidência, jogando fora todo seu discurso populista e adotando uma política macroeconômica responsável, em prosseguimento às reformas do Plano Real. Infelizmente isso durou pouco e ele preferiu voltar ao normal, fazendo a festa dos picaretas do bando. Ainda assim, contrariou as expectativas “socialistas” e preferiu o bom e velho capitalismo como local do crime.

Como se vê, nenhuma embalagem é confiável. Nem mesmo credenciais são plenamente confiáveis, tampouco seus portadores. Confiáveis são os fatos — se você não se importar de olhar para eles.

Leia também “Jantando a democracia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


sábado, 30 de maio de 2020

A guarda pretoriana e a milícia policial - Editorial - IstoÉ


Nos tempos dos conquistadores romanos, a guarda pretoriana — muito bem armada e formada por legionários absolutamente fiéis — era usada pelos imperadores como instrumento de validação de suas leis pela força e, no extremo, encarregada de matar inimigos e opositores, à revelia do devido ordenamento jurídico. Ao lado dela, uma espécie de serviço de inteligência pessoal constituía-se para abastecer os césares de informações estratégicas sobre eventuais sabotadores de seu poder absoluto. Eis que nos dias atuais o caudilho bananeiro Jair Messias Bolsonaro expôs abertamente aos comandados um modelo muito semelhante de atuação. Tendo, de um lado, o que deseja ser o povo armado — “todo mundo armado”, como berrou na fatídica reunião de 22 de abril diante de ministros e generais impassíveis —, e, do outro, um aparelho pessoal de investigação para bisbilhotar clandestinamente supostos adversários do comando central. O “césar” Messias admitiu publicamente que conta com um grupo paramilitar “meu”, particular, que “funciona muito bem”, [o presidente não fez menção a grupo paramilitar e nem a ser armado. Apenas comentou que tem amigos de diversas procedências que lhe fornecem informações.] em gritante confronto constitucional. A Carta Magna desautoriza o chefe de Estado a dispor de aparato policialesco privado para qualquer fim.

Mas no léxico bolsonarista, desobediência à Lei é pleonasmo. Com a exigência de contar com o “povo” armado o mandatário pretende, por sua vez, lutar contra a imaginária ditadura que habita seus piores pesadelos. Vale a lembrança: a “ditadura” referida está sentada no STF, no Congresso, nas cadeiras de governadores e prefeitos — nos demais poderes em geral — que resistem aos intentos totalitários do capitão. Ditadura para Bolsonaro são os freios e contrapesos que frustram seus planos anárquicos, investigam filhos e amigos diletos, não lhe passam informações estratégicas e controlam os notórios excessos do inquilino do Planalto. Os “camisas pardas” de Bolsonaro funcionariam, assim, dentro de uma lógica miliciana, intimidando autoridades de Estado, a imprensa, juízes e parlamentares, “comunistas”, os supostos inimigos, como de hábito já o fazem. O “mito” deseja estar acima e à margem da lei, talkey? Por intermédio da guarda pretoriana e do esquema de inteligência secreto, ninguém pode lhe segurar, acredita. 

E daqui para frente estará tudo dominado. Na Polícia Federal, que ele jurava não interferir — mas cujas evidências deixaram provada e comprovada a sua influência —, a troca na direção, afastando desafetos (sem nenhum demérito técnico), foi seguida de um aparelhamento inédito da estrutura inteira. O novo chefe da PF, poucos dias após assumir, publicou 99 portarias de uma só vez no “Diário Oficial”, cada uma delas dispondo sobre a troca de um a cinquenta ocupantes de cargos, modificando por completo a composição da polícia, de alto a baixo, nos diversos escalões. Um rearranjo vergonhoso, feito à plena luz do dia, para acomodar os interesses do capitão. Ato seguinte, uma operação foi disparada contra o maior alvo e eventual adversário político de Messias: o governador do Rio, Wilson Witzel. Para além do mandado em si – de resto bem fundamentado por suspeitas de desvio —, o que salta aos olhos é a flagrante informação privilegiada dada de véspera às hostes bolsonaristas, que já se vangloriavam publicamente, por meio de entrevistas e posts nas redes, da revanche da investigação, antes mesmo de ela ocorrer. Como é possível tamanho vazamento “devidamente oficializado”, para a felicidade do mandatário, que dava gargalhadas ao lado de apoiadores apreciando o sabor da vingança? 

Não é de hoje, Bolsonaro avilta a presidência e está disposto, num anseio stalinista, a conspirar contra a República, ao lado de seus grumetes ideológicos que lhe dão guarida. “Por mim botava esses vagabundos na cadeia, a começar pelo STF”, grunhiu o pseudo ministro da Cultura, Abraham Weintraub, na reunião da esbórnia, enquanto a colega, Damares Alves, paradoxalmente responsável pelos Direitos Humanos, sugeria pedir a prisão de governadores e prefeitos. [pedir ou sugerir a prisão de alguém não é crime;
crime é ofender os alvos da sugestão ou pedido, que deve ser unido na forma da lei.] O presidente em pessoa tem clamado por “intervenção militar”. Desafia sobranceiramente as deliberações da Suprema Corte e tenta destruir o pináculo da estrutura democrática nacional que é a harmonia dos poderes. A conduta do chefe da Nação evidencia delitos em série, cometidos por alguém que se sente protegido por sua guarda pretoriana de delinquentes.

Carlos José Marques, diretor-editorial



segunda-feira, 4 de março de 2019

Viva Marighella! Viva a morte!

Em seu manual, ele faz questão de explicar didaticamente como deve ser cometido um assassinato

Desde os anos 1980 consolidou-se como verdade absoluta que a luta armada conduziu o Brasil à redemocratização. Isto é reproduzido nos livros didáticos e repetido ad nauseam no debate político. Questionar esta versão falaciosa da História é tarefa fundamental no processo de construção da democracia no nosso país. E, em momento algum, deve representar qualquer tipo de elogio à bárbara repressão efetuada pelo regime militar, especialmente nos anos 1968-1976. Ou seja, o terrorista e o torturador são faces da mesma moeda. Com o agravante, no caso do torturador, de que sua ação foi realizada sob cobertura estatal.

Num país sem tradição democrática, os cultores do extremismo ganharam espaço — inclusive na reconstrução do passado. Hoje, torturadores são elogiados em pleno Congresso Nacional, como vimos na sessão da Câmara dos Deputados que autorizou o encaminhamento para o Senado do pedido de impeachment de Dilma Rousseff; assim como, no dia a dia, terroristas são homenageados nas denominações dos logradouros e edifícios públicos.  Carlos Marighella é um caso exemplar. Militante comunista desde a juventude, stalinista, acabou rompendo com o Partidão após os acontecimentos de 1964. Fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), um grupo terrorista, fortemente influenciado pelas teorias revolucionárias de Fidel Castro e, especialmente, Che Guevara. Foi a Cuba e estabeleceu uma aliança com a ditadura castrista. A ALN se notabilizou pelos impiedosos ataques terroristas e pelo assassinato até de militantes que desejavam abandonar a organização, como no caso do jovem Márcio Leite de Toledo.

Mesmo assim, na canhestra metamorfose tupiniquim, virou um lutador da liberdade. Agora também no cinema. O ator Wagner Moura está produzindo um filmeclaro que com o apoio da Lei Rouanet — para glorificar, ainda mais, Marighella, apesar de a Constituição definir no artigo 5º, inciso XLIII, o terrorismo como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Ou seja, o Estado brasileiro, através do Ministério da Cultura, está rasgando a Constituição ao conceder seu apoio financeiro a uma película que afronta um princípio tão caro da Carta Magna.

Carlos Marighella é autor do Manual do Guerrilheiro Urbano. O documento não pode ser considerado uma ode ao humanismo, muito pelo contrário. Logo no início, afirma que o terrorista “somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais.” E que deve se dedicar “ao extermínio físico dos agentes da repressão.” O herói de Wagner Moura exemplifica várias vezes como matar policiais: “a grande desvantagem do policial montado é que se apresenta ao guerrilheiro urbano como dois alvos excelentes: o cavalo e o cavaleiro.” E continua, páginas depois: “as greves e as breves interrupções de trânsito podem oferecer uma excelente oportunidade para a preparação de emboscadas ou armadilhas cujo fim é o de destruição física da cruel e sanguinária polícia.” Marighella faz questão de explicar didaticamente como deve ser cometido um assassinato: “a execução pode ser realizada por um franco-atirador, paciente, sozinho e desconhecido, e operando absolutamente secreto e a sangue-frio.”

O fundador da ALN não tem pejo em se proclamar um terrorista: “o terrorismo é uma ação usualmente envolvendo a colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.” O democrata Marighella, ídolo de Wagner Moura, quer ficar distante dos defensores da “luta sem violência.” Diz ele — delirando — que não passam de manobras pedir “eleições, ‘redemocratização (as aspas são do terrorista), reformas constitucionais e outras bobagens desenhadas para confundir as massas e fazê-las parar a rebelião revolucionária nas cidades e nas áreas rurais do país.” E, raivoso, conclui: “Atacando de coração essa falsa eleição e a chamada ‘solução política’ (aspas dele) tão apeladora aos oportunistas, o guerrilheiro urbano tem que se fazer mais agressivo e violento, girando em torno da sabotagem, do terrorismo, das expropriações, dos assaltos, dos sequestros, das execuções.”

O terrorista é infatigável na defesa da violação dos direitos humanos. Indica como tarefa fundamental os sequestros. Diz Marighella: “sequestrar é capturar e assegurar em um lugar secreto um agente policial, um espião norte-americano, uma personalidade política ou um notório e perigoso inimigo do movimento revolucionário.” Em todo manual não há, em momento algum, qualquer valorização de algum ideário democrático. Nada disso. A morte — e não o voto — é a companheira fiel do terrorista. Cabe a ele, matar, matar, matar.

O filme poderá captar R$ 10 milhões (!!) do Estado burguês, não é, Wagner Moura? Afinal, o Erário serve para isso. Até para subsidiar uma película reacionária, antidemocrática e stalinista. Que falsifica a história sem nenhum pudor. Chega até a transformar um pardo em um negro, pois, de acordo com as notícias, o terrorista será interpretado pelo cantor Seu Jorge. Inacreditável.

A resistência democrática não fez parte do programa de nenhum grupo terrorista. Todos, sem exceção, defendiam religiosamente que o Brasil deveria caminhar para uma ditadura do proletariado. A divergência é se o nosso país seria uma Cuba, União Soviética ou uma China. A triste ironia é que os perdedores acabaram vencendo no discurso histórico. Aqueles que desqualificavam a democracia e agiam tão ditatorialmente como o regime militar, que diziam combater, foram alçados a má
rtires da liberdade.


 

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Lula vai descobrir que, de novo, quebrou a cara

Deve-se debitar na conta do ex-presidente presidiário a divisão do país entre "nós e eles" e os sucessivos atentados ao Estado Democrático de Direito

Na carta que alguém escreveu e Lula assinou, o deus da seita da missa negra exige que todos os democratas se unam em torno de um trio que sempre menosprezou o Estado Democrático de Direito. O chefe da trinca é o ex-presidente presidiário, que desde 2003 conspira contra a democracia brasileira. Haja cinismo.

Deve-se debitar na conta do corruPTo fantasiado de “preso politico” a divisão do país entre “nós e eles”, a compra de partidos políticos escancarada pelos escândalos do Mensalão e do Petrolão, o desperdício do dinheiro do povo em empréstimos a ditadores amigos, a submissão aos interesses da Venezuela e de Cuba e as sucessivas tentativas de censurar a imprensa, fora o resto.

Completam a trinca de democratas de galinheiro os integrantes da chapa que avança para o naufrágio. Fernando Haddad, candidato a presidente, é o mais stalinista dos sacerdotes do PT. A vice Manuela d’Ávila, do Partido Comunista do Brasil, acaba de fazer a primeira comunhão com mais de 30 anos de idade.
Lula deve achar verdadeira a frase do jornalista Ivan Lessa: a cada 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores. Vai descobrir daqui a três dias que, de novo, quebrou a cara.


Blog do Augusto Nunes - Veja

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A metamorfose vigarista de Haddad - SanatórioGeral: Me engana que eu gosto (1.778)

O poste de Lula também deve achar que o eleitorado brasileiro é um bando de otários


Na primeira visita a Curitiba depois da surra que levou nas urnas do primeiro turno, Fernando Haddad ouviu a ordem do presidiário mais conhecido do país: ele deveria deixar de ser Lula para transforma-se no avesso do chefão. E então começou outra metamorfose delirante.  Ateu de carteirinha, Haddad lembrou que era neto do que chama de “líder religioso”, converteu a vice comunista em católica praticante, descobriu que Deus existe e foi comungar em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. [se Haddad e Manuela já provocavam asco, o sacrilégio por eles cometido ao comungarem,  os tornou mais repugnantes e merecedores do repúdio dos católicos.] Stalinista desde a juventude, converteu-se em democrata.

Apaixonado desde sempre pela cor vermelha, resolveu que havia mais beleza no verde e no amarelo. Neste fim de semana, o devoto de Lula, sem ficar ruborizado, ajoelhou-se no altar de Fernando Henrique Cardoso. Depois de 16 anos endossando a ladainha da “herança maldita”, o candidato ao naufrágio passou a incensar o legado bendito de FHC e mendigar o apoio do ex-presidente que sempre foi o Grande Satã da seita da missa negra. 

Esse tipo de metamorfose sempre acaba mal.  No esforço para mostrar que não é parecido com Lula, Fernando Haddad ficou com cara de vigarista. Como o restante da companheirada, deve achar que o eleitorado brasileiro é um ajuntamento de otários. 

Os resultados do segundo turno mostrarão quem foi o grande idiota da sucessão presidencial de 2018.

Assim como passou a dizer que não é Lula, Haddad agora jura que não tem nada a ver com o PT


Democracia, paz, respeito, diálogo. Tudo que eu fiz a vida inteira como ministro, como prefeito. Eu respeitei todo mundo que me respeitou”. 
(Fernando Haddad, em entrevista à Folha, ao lhe perguntarem o que o Brasil poderia esperar dele, jurando que é completamente diferente do partido pelo qual concorre à Presidência

Blog do Augusto Nunes - Veja

 

domingo, 1 de outubro de 2017

NKVD: Assassinos chefiados por Stalin têm seus nomes divulgados


A partir de 1993, Andrei Zhukov percorreu, pelo menos três dias por semana durante duas décadas, os arquivos de Moscou, vasculhando hora após hora as pilhas de ordens emanadas pela NKVD, a polícia secreta de Joseph Stalin, continuada pela KGB onde se formou Vladimir Putin. Ele procurou e encontrou muitos nomes de oficiais e seus respectivos cargos hierárquicos na organização.


 Grupo de agentes da NKVD.

Foi a primeira pesquisa metódica sobre os homens que executaram oGrande Terror” de Stalin entre 1937 e 1938. Nesse período da ditadura socialista foram presas pelos menos 1,5 milhão de pessoas, 700 mil das quais foram friamente fuziladas.  Na verdade, não foi o primeiro estudo sobre os líderes da NKVD e seus monstruosos crimes. Mas sim o primeiro a identificar os investigadores e os algozes que cumpriram a sádica missão.
E na lista há mais de 40 mil nomes!

Zhukov disse que não agiu por motivações políticas: “Eu sempre fiquei interessado em coisas secretas ou difíceis de achar.”  “Comecei isto apenas com um instinto de colecionador”, disse, segundo o jornal  The Guardian, de Londres.”
Mas os historiadores perceberam a importância de seu trabalho. A organização Memorial, a mais importante em recuperar a lembrança das vítimas chacinadas e dos locais de horror onde passaram seus últimos dias, publicou um CD com o banco de dados dos nomes e o postou na Internet.  Foram anos de meticuloso trabalho porque a polícia secreta tinha uma ampla faixa de atividades além das prisões e execuções.
“Não todos na lista foram açougueiros, até alguns foram assassinados por não executarem os crimes ordenados.  “Mas a vasta maioria estava ligada ao terror”, comentou Yan Rachinsky, co-presidente de Memorial.


Vala comum de vítimas de Stalin em Levashovo, São Petersburgo.
Muitos russos querem saber o destino final de seus antepassados.

Nikita Petrov, outro historiador de Memorial, sublinhou que “trabalhar na NKVD era prestigioso.  “Nos inícios dos anos 1930, marcados pela pobreza e pela fome, recebia-se para comer bem e ganhava-se um belo uniforme.
“Aqueles que entravam não sabiam que dentro de cinco anos estariam sentenciando milhares de pessoas à morte”, acrescentou.

O banco de dados de Memorial sobre as vítimas da repressão socialista soviética contém por volta de 2.700.000 nomes e mais 600 mil devem ser acrescentados ao longo de 2017.
Rachinsky acha que uma lista completa somaria aproximadamente 12 milhões de nomes, incluindo os deportados ou sentenciados por razões políticas. Acrescenta-se que em algumas regiões os algozes locais nunca confeccionaram listagens das vítimas, enquanto em outras os arquivos permanecem fechados.
 Cenotáfio aos religiosos assassinados em Levashovo.

O jornalista Sergey Parkhomenko lançou a campanha Endereço Final, instalando alguns milhares de placas onde morreram vítimas do socialismo stalinista para lhes render uma derradeira homenagem. Dos 40 mil agentes registrados por Zhukov, cerca de 10% acabaram sendo executados, encarcerados ou enviados aos campos de concentração.
Alguns voltaram quando Stalin precisou de homens para combater na II Guerra Mundial. Até ganharam medalhas ou se dedicaram a cometer mais homicídios.

http://flagelorusso.blogspot.com

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

JD quer dar uma razão de viver a um criminoso sem caráter



Como o jeca não precisa de ninguém que não seja mais útil ao projeto pessoal travestido de causa nacional, o ex-capitão de Lula sumiu até mesmo da nota do PT. O futuro não é mais como era antigamente para José Dirceu, aquele cujo telefonema era o telefonema e que, dobrando a meta, consegue ser preso pela segunda vez por corrupção. Depois das delícias da roubalheira, lida com as dores dela: não consigo ter compaixão pelo drama pessoal de quem foi útil ao PT para imolar o país no altar das imposturas de dois presidentes ao custo de um pedaço do nosso futuro.

Com o desassombro em cometer o petrolão enquanto era julgado pelo mensalão já um escárnio com o país –, JD aprofundou-se nos crimes por opção e, agora, milhares de brasileiros vivem dramas pessoais consequentes a ela. Convicto da própria inocência, o condenado pelo STF avisou: “minha sede de justiça será minha razão de viver”. Se ao paranoico, toda sutileza é um pleonasmo; aos sonsos, todo pleonasmo sempre será sutil; aos cínicos, a verdade só se impõe quando lhes interessa; aos lúcidos e honestos em seus propósitos, a verdade se revigora na repetição.

Por isso também, há seis anos esta coluna repete, numa luxuosa lavoura arcaica incansável, a verdade sobre José Dirceu. O risco inerente à repetição é tornar a coisa familiar, promovendo a conciliação com o irreconciliável. A coluna não sucumbe a ele porque segue a lição de José de Alencar: só a ignorância aceita e só a indiferença tolera o reinado da mediocridade. Assim, flagra JD encurralado pela escolha entre o até ontem útil ele mesmo e o personagem de si, já descartado.

O guerrilheiro que não guerrilhou; o lojista que só descobriu balcão na Casa Civil; o stalinista que não realizou o sonho totalitário; o deputado que não concluiu o mandato; o ministro interrompido; o sucessor abortado de Lula; o líder que não mobilizou as massas; aos 60 e poucos anos, esse farsante de si mesmo tem a chance de finalizar uma identidade e mitigar a tal sede de justiça contando o que só um capitão sabe. Ser perfeito, então, a escolha realizaria a tal razão de viver.

Mas tem essa história de o diabo morar nos detalhes e tal, conforme John Adams ensinou: a fala é de Samuel Wainer. Bater a carteira de uma expressão é moleza para quem esbulhou um país, mas tudo o que JD carregará, insistindo no silêncio culpado, é uma carga vazia de significado. Ora, Wainer assumiu pecados, assenhorou-se dos próprios erros, admitiu deslizes nada honrosos atribuindo um caráter ao pecador que foi; JD quer dar uma razão de viver a um criminoso sem caráter.

Todos procuramos uma razão de viver, muitos morrem tentando; a de JD pela inocência não é nem possível nem impossível: é fictícia. Combina com o personagem, mas, olha o diabo aí, a esse não é cobrado provar nada e ao outro, o real, é inútil tentar. A realidade não precisa fazer sentido, só a ficção; JD empreste o sentido que quiser a essa ficção debochada; a realidade não se importa. Nem Lula.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes