Ah, Vagner Freitas, presidente da CUT,
me é uma grande decepção! Estou chateado com ele. Eu estava curioso para ver
como alguém com o seu “physique du rôle”,
mais para Mussolini do que para Che Guevara, se comporta como guerrilheiro.
Afinal, foi ele quem disse, em solenidade no Palácio do Planalto, que, se
preciso, vai se entrincheirar, armado, para defender Dilma e Lula caso tenham
de prestar contas à Justiça ou ao Congresso.
Eu esperava vê-lo, nesta terça, com
aquela sua pança típica de um burguês bem-sucedido, de pistola na cinta e faca
nos dentes, a defender o pacote baixado pela “presidenta”, como eles chamam
Dilma. Em vez, disso, o homem desceu o sarrafo nas medidas propostas pelo
Planalto. Aí não vale.
Pô! Que jeito estranho de apoiar, né?
Ou melhor: que jeito mais covarde de defender um governo! Onde já se viu? Então
Freitas quer que Dilma fique no poder, acha que qualquer um que a ameace, ainda
que segundo os rigores da lei, com o impeachment está propondo golpe, mas não
aceita as medidas que sua protegida considera essenciais para o país? Ou por
outra: o sindicalista pançudo só topa se identificar com o governo quando as
ações são positivas?
Freitas liderou uma manifestação de
algumas poucas dezenas de gatos-pingados na manhã desta terça, na Avenida
Paulista. Eu sempre me encanto quando sedizentes trabalhadores promovem
manifestações de protestos em dia útil, durante o expediente. Trabalham em quê,
mesmo? Mas sigamos.
Vagner, o pançudo que não parece
disposto a pegar em armas pelo ajuste fiscal, reclamou da falta de diálogo. E
deixou claro que a CUT é contra o pacote do governo, mas ele reiterou que
considera “golpe” o impeachment de Dilma. O homem, em suma, vê como golpistas a
Lei 1.079 e a Constituição da República Federativa do Brasil. Que talento! Que
pensador! Que formulador de políticas públicas! Seria mesmo um desperdício
tê-lo entrincheirado em alguma casamata, liderando uma guerrilha pela
recondução de Dilma ao poder.
Não que isso fosse possível, acho.
Sabem como é… Casamatas são lugares estreitos, onde os guerrilheiros se
locomovem com grande dificuldade. Freitas iria entalar, com a sua garruchinha
enferrujada… A CUT comanda ainda boa parte dos sindicatos de servidores. Vêm
greves em penca por aí. Outras centrais sindicais também
protestaram contra o pacote. Nem poderia ser diferente, claro! Se cutuco a
pança de Vagner Freitas é porque só ele se ofereceu para pegar em armas. Depois
daquela fala, ele recorreu ao Twitter para dizer que era tudo metáfora. Logo
vi. Metáforas não entalam em casamatas.
A manifestação tinha como lema a defesa
“da democracia, do emprego e do salário”. É mesmo? Posso entender por que
emprego e salário estão sob risco. Mas quem ameaça a democracia? Só se for
Freitas, que, em pleno Palácio do Planalto, sob o silêncio cúmplice de Dilma
Rousseff, prometeu se armar e se entrincheirar.
A concentração marca o início de uma
tal campanha salarial unificada (?!) de categorias com data-base de reajuste no
segundo semestre: metalúrgicos, bancários, químicos, petroleiros da FUP,
enfermeiros, aeronautas, aeroviários, comerciários, serviços, médicos e
psicólogos…
Uau! Psicólogos também! Imagino o
estrago para a sociedade se psicólogos se unirem aos petroleiros. A mistura
pode resultar na combustão do superego, que é aquela noção de limite que nos
deve ser transmitida, sobretudo, pela figura paterna, né?
Digam-me: exceção feita a psicólogos
que trabalham em empresas ou no serviço público, de quem um profissional dessa
área deve cobrar reajuste, com o punho cerrado e uma bandeira vermelha na mão?
Do paciente? “Ou você repõe a inflação com ganho de produtividade de 3%, ou
entro em greve. Afinal, só neste mês, descobri três atos falhos seus, e você
teve dois insights!!! Ou é isso, ou eu o deixo sozinho com suas neuroses! Vá
reclamar com outro da superproteção da sua mãe e da desatenção do seu pai! Quer
saber mais? Eles estavam certos!”
Psicólogo, quando se entrincheira com
petroleiro, é fogo!
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo