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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Delatores da Lava Jato amargam situação pior que a de ex-presos - Folha de S. Paulo

Obrigações de acordo ficam como resquício de auge da operação e incluem pagamento de tornozeleiras 

O marqueteiro João Santana ainda tem que prestar serviços à comunidade. O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, permanece em regime domiciliar. O ex-deputado Pedro Corrêa precisa de autorização judicial até para ir se vacinar contra a Covid. Delatores da agora esvaziada Lava Jato se tornaram uns dos poucos acusados que ainda cumprem restrições em decorrência de processos da operação, que tem sofrido uma série de derrotas nos tribunais, com a anulação de casos.

Se anos atrás a possibilidade de sair da prisão com acordo de colaboração era vista como atraente, quase uma regalia pós-confissão diante da sombria perspectiva de anos nas cadeias do Paraná, agora a situação se inverteu. Ex-presos que não fecharam acordo e conseguiram habeas corpus hoje permanecem praticamente sem maiores limitações, enquanto os delatores ainda amargam as consequências dos compromissos firmados quando a Lava Jato parecia invencível.

Os ex-deputados Eduardo Cunha (MDB) e José Dirceu (PT), por exemplo, aguardam em liberdade o julgamento de recursos contra suas condenações e voltaram a atividades políticas. Os dois fizeram turnês de lançamento de livros de memórias. Isso porque seus processos foram anulados ou estão longe de ter uma decisão definitiva. Desde 2019, o Supremo Tribunal Federal entende que a prisão de condenados só deve ocorrer quando não houver mais recursos pendentes nas cortes superiores.

Com a eclosão da pandemia da Covid-19, em 2020, vários dos que ainda permaneciam presos conseguiram o direito de deixar o regime fechado. Com a operação no ostracismo —a força-tarefa foi extinta em fevereiro—, suas antigamente frequentes prisões preventivas deixaram de ser feitas. Somado a isso, tem ocorrido uma série de anulações de antigas sentenças da operação. O ex-juiz Sergio Moro, por exemplo, foi declarado parcial pelo STF em sua atuação relacionada ao ex-presidente Lula (PT).

O único nome de expressão nacional que está detido até hoje é o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), condenado no Paraná e no Rio de Janeiro. No auge da operação, os acordos de colaboração firmados frequentemente previam a saída da cadeia com o pagamento de multas, mas mediante uma série de imposições, como período de prisão domiciliar ou recolhimento noturno e uso de tornozeleira.

A fórmula despertava críticas das defesas dos não delatores, que viam possível estímulo a depoimentos falsos e benefícios sem previsão na legislação brasileira. Lula, em 2017, afirmou que os delatores recebiam um prêmio "para conviver com a riqueza que roubaram". Os acordos forneciam aos investigadores provas em escalas inéditas até então, abriam novas frentes de apuração e se tornaram uma das chaves à época do sucesso da operação.

Hoje, mesmo aqueles que já cumpriram os períodos determinados de regime domiciliar ou aberto geralmente ainda têm que cumprir obrigações de longo prazo, como prestar contas de suas atividades à Justiça. Pode parecer mera burocracia, mas, com o delator Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, houve até advertência de um juiz do Paraná por falta de cuidado e de detalhamento nesses relatórios. "Deve compreender a descrição das atividades realizadas, de modo pormenorizado, com a especificação não apenas da data, mas também do horário e a indicação detalhada dos atos e pessoas envolvidas nas atividades", escreveu a ele em 2020 o magistrado Danilo Pereira Júnior.

Um dos principais políticos que viraram delatores, o ex-ministro de governos do PT Antonio Palocci só agora recebeu autorização para retirar a tornozeleira eletrônica.  Ele deixou o regime fechado há três anos e só conseguiu o benefício de tirar a tornozeleira na última quinta-feira (23), porque o Superior Tribunal de Justiça decidiu anular condenação que ele havia sofrido em 2017. Palocci, diferentemente de outros delatores, firmou acordo de colaboração com a Polícia Federal.

É incerto até o momento, porém, o efeito sobre os acordos de réus delatores na anulação de outras sentenças da operação nos tribunais superiores. É possível que eventuais renegociações sejam definidas caso a caso. Além das restrições e das indenizações, os acordos de colaboração também preveem que permaneça a cooperação e depoimentos em processos e investigações. ​O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que não chegou a ser preso, se comprometendo a devolver US$ 97 milhões, terá que comparecer semestralmente ao juízo até 2031, segundo os documentos da Justiça.

UOL - Folha de S. Paulo



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Lava Jato busca elo com mensalão em negócios de empresa com amigo de Lula

As apurações partem da revelação dos novos delatores da Lava Jato, o ex-gerente de Internacional da Petrobras Eduardo Musa e o lobista Fernando Baiano Soares

A força-tarefa da Operação Lava Jato apura se existe relação entre a suposta dívida de R$ 60 milhões da campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, com o Grupo Schahin e o empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo banco do grupo, em 2004, para o pecuarista José Carlos Bumlai - novo alvo das investigações, em Curitiba.

[está simples capturar a 'famiglia' Lula, é só questão de investigar, passo a passo, cada passo mostra algo que impede a volta e a fuga.
São muitos criminosos e muitos crimes - toda uma família delinquindo - é fácil capturar.
Muito em breve veremos Lula com os pulsos unidos por lindas 'pulseiras'.]

As apurações partem da revelação dos novos delatores da Lava Jato, o ex-gerente de Internacional da Petrobras Eduardo Musa e o lobista Fernando Baiano Soares. Segundo eles, contrato de US$ 1,6 bilhão da estatal foi dirigido em 2011 para a Schahin, com intermediação de Bumlai e Baiano, como forma de compensar o grupo pela dívida eleitoral. A ligação de Bumlai nesses dois episódios obscuros envolvendo as finanças do PT e empresas do cartel acusado de corrupção na Petrobras pode unificar dois dos maiores escândalos das administrações petistas, a Lava Jato e o mensalão, avaliam investigadores do caso.

Um dos caminhos dessa apuração é um documento apreendido pela Polícia Federal, em março do ano passado - quando foi deflagrada a Operação Lava Jato - no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Pozza. É um contrato no valor de R$ 6 milhões, assinado em 2004 entre a empresa 2S Participações Ltda., do publicitário Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, do empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André, investigado na morte do prefeito petista de Santo André, em 2002, e a Remar Agenciamento e Assessoria.

No mesmo ano, 2004, o Banco Schahin concedeu um empréstimo para Bumlai de R$ 12 milhões. O pecuarista diz que o dinheiro seria usado para negócios na área rural. "Fiz um empréstimo para meus negócios, meus agronegócios que envolvia R$ 12 milhões. Isso aí já serviu para tudo, para pagar aquele caso de Santo André, para pagar não sei quem." O valor foi quitado.

Chantagem

O Ministério Público Federal sabia, desde 2012, da existência de um negócio que envolveria R$ 6 milhões e os investigados do mensalão. O publicitário mineiro Marcos Valério, operador de propinas no mensalão, afirmou em tentativa de delação premiada naquele ano - quando seria condenado - que dirigentes do PT pediram a ele R$ 6 milhões. O dinheiro seria destinado ao empresário Ronan.

Segundo Valério, isso serviria para que o empresário de Santo André parasse de "chantagear" o ex-presidente Lula, o então secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, e o então ministro da Casa Civil, José Dirceu - preso desde março, pela Lava Jato, em Curitiba. Ronan tentava relacionar Lula, Carvalho e Dirceu a suspeitas de corrupção na cidade que teriam motivado o assassinato do prefeito Celso Daniel, em 2002 - a conclusão da polícia paulista é de que ele foi vítima de um crime comum, não político. Bumlai teria sido uma das pessoas que atuara nesse episódio de suposta compra do silêncio do empresário de Santo André.  O empresário negou qualquer relação com o caso, e disse não conhecer nem Bumlai nem Marcos Valério.

Contrato confidencial
Dois anos depois das afirmações de Valério, em delação que acabou não sendo fechada, o contrato dos R$ 6 milhões da empresa do publicitário envolvendo empresa de Ronan foi apreendido no escritório da contadora de Youssef durante as buscas da Lava Jato.  O material intitulado "Enivaldo confidencial" seria um contrato "referente a um proprietário de uma empresa de ônibus de Santo André/SP" que era guardado a "sete chaves", contou Youssef em seu termo de delação 25, prestado em 26 de outubro de 2014.

"Enivaldo Quadrado disse que preparou a triangulação de pessoas que figurariam em tal contrato", explicou Youssef. "O contrato foi feito entre a empresa de Marcos Valério, isto é, a 2S Participações Ltda, e uma outra empresa que Enivaldo indicou." A empresa, para os investigadores, é a Remar. Para isso, o ex-dono da Bônus-Banval "receberia dinheiro ou algum outro favor", contou.

Segundo o doleiro, quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o documento "era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores - PT, chamada Breno Altiman".  Breno Altman é jornalista e consultor internacional, com relação próxima com o ex-ministro José Dirceu. Ele nega qualquer envolvimento no caso e diz nunca ter visto Bumlai.

Fonte: Estadão