O primeiro aspecto que deve ser levado
em conta é o fato de que o encarceramento da ativista de extrema direita
não foi em flagrante. É uma prisão temporária. Se fosse em flagrante, o
que pessoas com a mesma ambição por holofotes preferem, seria pior.
Sara Giromini ficaria menos tempo na cadeia, e sairia causando mais
barulho.
Na avaliação de investigadores, tudo o
que Sara Giromini fez, entre ameaças e provocações, buscava conseguir o
oposto, uma repressão policial sobre ela nas ruas. Nessa linha de
raciocínio, sua prisão em flagrante em frente ao público poderia ser
utilizada como uma narrativa de abuso de autoridade. Ou seja, algo que
ela pudesse se apresentar como vítima. Agora, ficou mais difícil de
construir a tese.
A prisão temporária tem o prazo de cinco
dias, prorrogável por igual período em caso de comprovada necessidade.
Ou seja, é um ganho para o caso porque a tramitação será mais lenta. O
ponto aqui é que Sara Giromini foi presa da maneira certa e na hora
certa, e a investigação contra ela está bem mais fundamentada. A resposta à questão “por que a prisão
da bolsonarista, e de outros ativistas semelhantes, será boa para o
Brasil” tem lastro em um ponto mais delicado: qual o limite da liberdade
de expressão? Sara Giromini é uma candidata a deputada frustrada, que
foi derrotada nas urnas. Saiu de um espectro político ao outro, do
feminismo ao bolsonarismo, à medida que viu crescer o apoio às ideias de
direita no país. Passou a ser seguidora do guru da extrema direita,
Olavo de Carvalho. [curioso é que quando Sara Giromini usou sua liberdade de expressão para defender o aborto, ninguém achou, seja das ruas ou da Supremo Corte, que ela estava se excedendo na liberdade de expressão.
E notem que ela na ocasião ela usou a liberdade de expressão para defender o assassinato de seres humanos e inocentes e indefesos!
Já agora ela fez ameaças que apesar de indevidas - todos percebem que jogava apenas para a plateia - eram vagas e inexequíveis.
Criticar a esquerda, no Brasil dos tempos atuais, já se torna 'prova' de ser nazista.
O estudo do nazismo e do fascismo evitaria tal confusão - ou ela ocorre como fruto de má-fé?]
Ocorre que Sara Giromini atravessou uma
linha perigosa, que exigia uma resposta das autoridades. Além da ameaça
que fez ao ministro Alexandre de Moraes, o que é um crime por si só, seu
grupo tem feito atos públicos de inspiração nazista. Ela negou a VEJA, mas a estética vista é a mesma. Atos com inspiração em regimes totalitários, e que incitam o discurso de ódio, não possuem amparo constitucional, na avaliação do decano do STF, Celso de Mello.
Se a democracia não reage, mesmo a esses
provocadores que querem chamar a atenção, sua essência de regime
político humanista começa a desmanchar – há uma perda de respeito.
Outros cidadãos passam a acreditar que podem agir da mesma forma. Foi o
que aconteceu neste fim de semana, quando as ameaças à corte escalaram.
Não é simples, mas chegou o tempo de dizer basta a esses desordeiros que
se vestem com roupas de fantasmas do passado.
VEJA - Blog Matheus Leitão
VEJA - Blog Matheus Leitão