Catarina Rochamonte
O tinhoso está sempre atento às oportunidades e, no momento, não perde uma sessão da CPI da pandemia
Há um interessante trecho de C.S. Lewis no qual ele explica a estratégia do diabo para nos pegar: “Ele sempre envia ao mundo erros aos pares —pares de opostos. E sempre nos estimula a desperdiçar um tempo precioso na tentativa de adivinhar qual deles é o pior”. Deus é brasileiro, mas o diabo gosta da nossa terra e está esfregando as mãos com a expectativa de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro: “Ele usa o fato de você abominar um deles para levá-lo aos poucos a cair no extremo oposto”.
No cinema, por vezes, o diabo é boa pinta,
sedutor e perfeito anfitrião. No Brasil, dependendo da ocasião, toma uísque,
cachaça, vinho ou tubaína; e também articula “almoços democráticos” entre
ex-presidentes. [e sobram motivos para o diabo se sentir bem no tal almoço democrático - além de ambos os comensais cultuarem a traição (um dos recursos preferidos por 'satanás') os dois possuem condições de sobra para representarem o príncipe das trevas - ambos são ateus, e no momento o embaixador plenipotenciário do diabo é o ex-presidente petista (presidiário temporariamente em liberdade = nada impede que a qualquer momento um ministro do STF, em decisão democrática, revogue decisões que mantém o condenado em liberdade e o mande de volta para a cadeia - decisão acertada e justa.) visto que o ex-presidente sociólogo anda meio prejudicado pelo tempo.]
Ao depor como testemunha, o general e
ex-ministro mentiu abundantemente, com altivez e segurança. As mentiras de
Pazuello, porém, e a óbvia responsabilidade do governo Bolsonaro pela
desastrosa condução da crise sanitária e pelo consequente número trágico de
mortes, não anula a responsabilidade de gestores estaduais e municipais nos
casos em que houve desvio de verbas enviadas para o combate à pandemia. [não só nos casos de desvio de verbas - no popular: roubo mesmo - mas também em ações propostas do Governo Federal e que foram recusadas pelos prefeitos e governadores = suprema decisão de abril/2020, determina que havendo reprovação dos estados e municípios a propostas do Governo Federal, a vontade daqueles prevalece.]
Como tem repetido o senador Eduardo Girão, desvio de verba em tempo de pandemia não é apenas corrupção, é assassinato. Bolsonaro delinquir [se delinquisse] não torna menos delinquentes os gestores que permitiram desvios. Como diria Lewis, temos que “passar reto no meio de ambos os erros. Nem um nem outro nos interessam”.
Catarina Rochamonte - Folha de S. Paulo