Em sua última postagem no Instagram, o nutricionista Felipe Feres
Nassau, de 38 anos, alertou sobre a importância de beber 1,8L de água
diariamente, comer 250g de vegetais, dar três mil passos e dormir antes
das 23h.
A publicação, feita em 6 de janeiro desse ano, foi curtida por
2.227 dos seus 78 mil seguidores.
Dois dias depois, o profissional de
saúde foi preso em flagrante por participar dos atos antidemocráticos na
Praça dos Três Poderes, em Brasília, e permanece até hoje no Centro de
Detenção Provisória II.
De lá para cá, as redes sociais de Felipe receberam comentários como:
“Vai continuar dando dicas de saúde na Papuda?”. Assim como o
influencer, 211 pessoas — 147 homens e 64 mulheres — ainda estão em duas
unidades prisionais por supostamente atuarem na invasão e depredação
dos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal
Federal (STF), em 8 de janeiro.
Seis meses após os atos golpistas, levantamento do GLOBO mostra que o
STF já analisou 1.290 denúncias, pouco mais de 90% das 1.390
apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em todos os
julgamentos as denúncias foram aceitas e os investigados viraram réus.
Nesse período, as investigações avançaram mais rápido em relação aos
presos em flagrante nos dias 8 e 9 de janeiro.
Entre os presos, também na Papuda, o caminhoneiro maranhense
Claudiomiro da Rosa Soares, de 48 anos, contou ao ser detido ter se
deslocado em um ônibus para participar das manifestações em frente ao
Quartel-General do Exército, no início de janeiro. No depoimento, negou
ter cometido danos ao prédio na ocasião.
Já na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, estão 64 mulheres
atrás das grades pelos mesmos crimes.
Uma delas é a faxineira paulista
Edineia Paes da Silva dos Santos, de 37 anos, que disse participar de
uma caminhada quando percebeu que havia começado uma confusão com bombas
sendo lançadas perto do Palácio do Planalto.
Ela afirmou ter se
escondido em um fosso quando foi vista por policial e também negou atos
de vandalismo.
Análise por blocos As denúncias já analisadas pelo STF envolvem
dois grupos. Os que foram presos em flagrante dentro do Palácio do Planalto, do Congresso ou do STF são
apontados como executores dos atos.
Já os detidos na manhã do dia seguinte, no Quartel-General do Exército,
são acusados de atuar como incitadores.
Para contornar o alto volume de casos, o STF realizou a análise por
blocos, sempre no plenário virtual, sistema no qual cada ministro
deposita seu voto, sem discussão direta. Até agora foram oito blocos de
denúncias, analisando até 250 casos de uma vez.
Cada caso é analisado de forma individualizada, mas a PGR adotou uma
espécie de padrão nas denúncias, para casos semelhantes, o que foi
repetido nos votos do relator, Alexandre de Moraes, e dos demais
ministros.
Agora, nos processos em que as denúncias já foram aceitadas, foi aberta
uma ação penal e começou a fase da instrução processual, com a coleta
de provas.
Nessa fase, são realizados depoimentos de testemunhas de
acusação e defesas. As primeiras audiências de instruções já começaram a
ser feitas.
Em junho, Moraes estimou que os casos mais graves, dos réus que seguem
presos, serão julgados em até seis meses. O relator afirmou que as ações
penais devem ser julgadas em blocos de 30 réus.
Investigações contra parlamentares Também foram abertos inquéritos contra três deputados federais: André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Sílvia Waiãpi (PL-AP).
A Polícia Federal (PF) apontou que Fernandes teria cometido incitação ao crime, enquanto Tércio e Waiãpi teriam cometido crime de opinião.
No caso das duas deputadas, a PGR discordou e pediu o arquivamento das investigações. O órgão ainda não se manifestou sobre Fernandes.
Investigações sobre os financiadores e sobre a suposta omissão de
autoridades do Distrito Federal ainda não geraram denúncias. Ao todo, o
STF tem sete inquéritos para investigar os episódios do 8 de janeiro,
além de investigações preliminares que tramitam de forma sigilosa.
Na área cível, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou sete ações
pedindo o ressarcimento dos danos causados na destruição das sedes dos
Três Poderes. Os alvos são 250 pessoas, três empresas, uma associação e
um sindicato que foram presas ou que são apontadas como financiadoras
dos atos. A AGU quer que elas sejam condenadas a pagar R$ 26,2 milhões,
valor que representa a estimativa de prejuízo causado.
Política - O Globo