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sábado, 8 de julho de 2023

Influencer, caminhoneiro, faxineira: seis meses depois, 211 pessoas continuam presas por atos golpistas - O Globo

Bolsonaristas invadem Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro TON MOLINA / AFP [bolsonaristas??? esquerdistas infiltrados é mais condizente com os FATOS.]
 
Em sua última postagem no Instagram, o nutricionista Felipe Feres Nassau, de 38 anos, alertou sobre a importância de beber 1,8L de água diariamente, comer 250g de vegetais, dar três mil passos e dormir antes das 23h
A publicação, feita em 6 de janeiro desse ano, foi curtida por 2.227 dos seus 78 mil seguidores. 
Dois dias depois, o profissional de saúde foi preso em flagrante por participar dos atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e permanece até hoje no Centro de Detenção Provisória II.

De lá para cá, as redes sociais de Felipe receberam comentários como: “Vai continuar dando dicas de saúde na Papuda?”. Assim como o influencer, 211 pessoas — 147 homens e 64 mulheres — ainda estão em duas unidades prisionais por supostamente atuarem na invasão e depredação dos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), em 8 de janeiro.

Seis meses após os atos golpistas, levantamento do GLOBO mostra que o STF já analisou 1.290 denúncias, pouco mais de 90% das 1.390 apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). 
Em todos os julgamentos as denúncias foram aceitas e os investigados viraram réus. 
Nesse período, as investigações avançaram mais rápido em relação aos presos em flagrante nos dias 8 e 9 de janeiro.

Entre os presos, também na Papuda, o caminhoneiro maranhense Claudiomiro da Rosa Soares, de 48 anos, contou ao ser detido ter se deslocado em um ônibus para participar das manifestações em frente ao Quartel-General do Exército, no início de janeiro. No depoimento, negou ter cometido danos ao prédio na ocasião.

Já na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, estão 64 mulheres atrás das grades pelos mesmos crimes
Uma delas é a faxineira paulista Edineia Paes da Silva dos Santos, de 37 anos, que disse participar de uma caminhada quando percebeu que havia começado uma confusão com bombas sendo lançadas perto do Palácio do Planalto. 
Ela afirmou ter se escondido em um fosso quando foi vista por policial e também negou atos de vandalismo.

Análise por blocos

As denúncias já analisadas pelo STF envolvem dois grupos. Os que foram presos em flagrante dentro do Palácio do Planalto, do Congresso ou do STF são apontados como executores dos atos
Já os detidos na manhã do dia seguinte, no Quartel-General do Exército, são acusados de atuar como incitadores.

Para contornar o alto volume de casos, o STF realizou a análise por blocos, sempre no plenário virtual, sistema no qual cada ministro deposita seu voto, sem discussão direta. Até agora foram oito blocos de denúncias, analisando até 250 casos de uma vez.

Cada caso é analisado de forma individualizada, mas a PGR adotou uma espécie de padrão nas denúncias, para casos semelhantes, o que foi repetido nos votos do relator, Alexandre de Moraes, e dos demais ministros. 
Agora, nos processos em que as denúncias já foram aceitadas, foi aberta uma ação penal e começou a fase da instrução processual, com a coleta de provas
Nessa fase, são realizados depoimentos de testemunhas de acusação e defesas. As primeiras audiências de instruções já começaram a ser feitas.

Em junho, Moraes estimou que os casos mais graves, dos réus que seguem presos, serão julgados em até seis meses. O relator afirmou que as ações penais devem ser julgadas em blocos de 30 réus.

Investigações contra parlamentares
Também foram abertos inquéritos contra três deputados federais: André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Sílvia Waiãpi (PL-AP). 
A Polícia Federal (PF) apontou que Fernandes teria cometido incitação ao crime, enquanto Tércio e Waiãpi teriam cometido crime de opinião. 
No caso das duas deputadas, a PGR discordou e pediu o arquivamento das investigações. O órgão ainda não se manifestou sobre Fernandes.

Investigações sobre os financiadores e sobre a suposta omissão de autoridades do Distrito Federal ainda não geraram denúncias. Ao todo, o STF tem sete inquéritos para investigar os episódios do 8 de janeiro, além de investigações preliminares que tramitam de forma sigilosa.

Na área cível, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou sete ações pedindo o ressarcimento dos danos causados na destruição das sedes dos Três Poderes. Os alvos são 250 pessoas, três empresas, uma associação e um sindicato que foram presas ou que são apontadas como financiadoras dos atos. A AGU quer que elas sejam condenadas a pagar R$ 26,2 milhões, valor que representa a estimativa de prejuízo causado.

 Política - O Globo



sábado, 18 de setembro de 2021

‘Ela confiou nos amigos’, diz irmão de brasileira morta nos EUA

Lenilda dos Santos largou vida como enfermeira para ajudar a pagar a faculdade das filhas no Brasil; ela morreu de fome e sede na travessia da fronteira

A brasileira Lenilda dos Santos, que morreu durante a travessia ilegal entre o México e os Estados Unidos, sabia do perigo de atravessar o deserto, mas decidiu arriscar-se para conseguir uma vida melhor e ajudar a pagar os estudos das filhas. Segundo a família da enfermeira, seu maior erro foi ter confiado demais nos companheiros de viagem.

A mulher de 50 anos foi encontrada morta na última quarta-feira 15 no deserto de Deming, no Novo México. Natural de Vale do Paraíso, em Rondônia, ela tentava entrar ilegalmente em território americano, mas foi abandonada pelo grupo com que atravessava a fronteira e não resistiu à fome e à sede. Lenilda tinha duas filhas, de 24 e 29 anos. “Ela trabalhava como enfermeira, mas preferiu largar tudo e tentar a vida como faxineira nos Estados Unidos”, diz Leci Pereira, irmão da brasileira. “A situação no Brasil estava muito difícil e ela queria terminar de pagar a faculdade das filhas”.

Lenilda iniciou a viagem acompanhada de três amigos de infância e um coiote. Na terça-feira 7, após horas caminhando depois cruzar a fronteira americana, a mulher sentiu-se mal diante do calor e do sol forte e percebeu que não conseguiria mais continuar. O restante do grupo decidiu seguir, mas prometeu voltar para resgatá-la – o que nunca fizeram. Apesar da fraqueza, Lenilda ainda conseguiu usar seu celular para mandar mensagens de áudio aos familiares no Brasil e nos Estados Unidos contando o que havia acontecido. Os parentes imediatamente contataram a polícia fronteiriça americana, que iniciou as buscas. Seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois e identificado por meio dos documentos que ela carregava em uma pochete amarrada ao corpo.

Leci afirma que entrou em contato com os três amigos de Lenilda, que conseguiram chegar bem ao seu destino Estados Unidos, e que eles tentaram se desculpar. “Eles assumiram que erraram e pediram desculpas, mas arrependimento não vai resolver nada”, diz. “Ela sabia do perigo da travessia, mas confiou que os amigos a protegeriam e dariam todo suporte que ela precisasse”.

“Ainda não conseguimos acreditar que eles fizeram isso com ela”, lamenta Leci. "Não se abandona nem um animal, imagina uma pessoa”.

Lenilda dos Santos
Lenilda dos Santos vestia uma roupa camuflada para dificultar a visão da polícia. A escolha desse tipo de vestimenta é comum entre imigrantes ilegais Arquivo pessoal/Reprodução

A localização da brasileira foi difícil de ser descoberta, pois ela estava numa região ampla de deserto e vestia uma roupa camuflada. A patrulha americana havia desistido das buscas após cerca de cinco dias, mas voltaram a procurar por Lenilda quando receberam os áudios enviados por ela à família. O corpo passa atualmente por perícia. A família aguarda o resultado dos exames para iniciar o transporte para o Brasil.

Mundo - Revista VEJA

 

sábado, 27 de agosto de 2016

Os gaúchos merecem piedade - Renan negociou renúncia de Dilma para ela ser candidata ao Senado pelo PDT do Rio Grande do Sul

Aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), levaram a Dilma Rousseff um assunto caro à petista: a renúncia antes da votação do impeachment no plenário da Casa. 

A estratégia negociada nos bastidores do mundo político brasiliense seria posta em prática na ida dela ao Congresso na segunda-feira, 24h antes do desfecho do processo. Os termos do acordo chegaram a ser detalhados.

A partir da proposta apresentada a Dilma, ela, durante o discurso no plenário do Senado, anunciaria a renúncia do cargo de presidente da República. Com o gesto da petista, caciques de partidos mais próximos tentariam evitar a soma de 54 votos pelo impeachment na terça-feira, o dia marcado para a votação. Os fiadores da negociação chegaram a considerar que Dilma deveria aceitar os termos.

Na cabeça de parte dos aliados da presidente, a renúncia seria ao contrário do que a própria petista considerava uma saída honrosa que, na pior das hipóteses, garantiria a manutenção dos direitos políticos, caso o processo do impeachment fosse derrubado no plenário. Um dos argumentos era de que, no futuro, Dilma pudesse sair do PT, buscar filiação no PDT e até mesmo voltar a se candidatar em 2018. Interlocutores de Renan chegaram a falar de uma disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

Distância
Nos últimos dias, os aliados de Dilma viram os caciques petistas buscarem distância do processo de impeachment e do martírio da presidente afastada. Vide a recusa da Executiva do PT, que, por 14 votos a dois, decidiu enterrar a proposta de Dilma de realizar um plebiscito de novas eleições. A ação de Rui Falcão, presidente da legenda, selou de maneira deselegante a relação tempestuosa entre os dois.

Originária do PDT, Dilma nunca teve uma convivência pacífica com os petistas. No primeiro ano do mandato, ainda em 2011, a imagem de “faxineira” passou a ser vinculada à da presidente por ela ter tirado do ministério parte da tropa indicada pelo antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Os movimentos irritaram a cúpula do partido, que chegou a considerar que Dilma jogava contra o ex-presidente.

Nos últimos meses, o mais fiel escudeiro de Dilma foi o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. O hoje advogado da presidente afastada acabou atacado por petistas ao longo da gestão por supostamente não conseguir segurar a atuação da Polícia Federal contra os integrantes da Esplanada. A crítica, por mais estapafúrdia, foi tão devastadora que Cardozo chegou a colocar o cargo à disposição da presidente.

Ataques

Os dois movimentos — a decisão da executiva e a fritura contra Cardozo —, caso combinados no tempo e no espaço, mostram como os petistas trataram Dilma e os principais assessores com certo desprezo e, porque não, em alguns momentos, ódio. No passado, tais ataques chegaram mesmo a influenciar a militância, que só voltou às boas com Cardozo recentemente, quando ele virou advogado.

Além de Cardozo, Dilma se cercou de pessoas que nunca foram vistas com bons olhos por integrantes do partido, como Aloizio Mercadante e Kátia Abreu. O apoio público à presidente deu-se mais por uma simples tentativa de manutenção dos cargos na Esplanada dos Ministérios do que afinidade política. A própria Dilma nunca esperou muito mais do PT, até pela forma que comandou o governo ao longo de seis anos.

A tentativa de negociação com Dilma sobre a possibilidade de renúncia foi interrompida com a negativa da presidente para a proposta. A petista teria que fazer um exercício para explicar algo que sempre negou. Além disso, não teria a garantia completa sobre uma vitória no plenário 24 horas depois da renúncia. Para quem acompanhou as tratativas, a recusa inicial inviabilizou qualquer retomada de um eventual acordo, que levaria tempo para ser maturado por outros senadores.

Fonte: Correio Braziliense - Blog do Vicente



domingo, 15 de maio de 2016

O mito das três Dilmas que nunca existiram

A “gerentona”, a “faxineira” e, agora, a “vítima”. O marketing oficial tentou criar várias personagens para a presidente, mas nenhuma resistiu aos fatos

Eufórico, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfiava seu rosário de palavrões prediletos para comemorar o sucesso de um leilão de concessão de rodovias, que, segundo a oposição, seria um fracasso. Era 2007, o primeiro ano de seu segundo mandato. O Programa de Aceleração do Crescimento (PACo), sua principal bandeira de marketing, já estava nas ruas. E o encantamento com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, celebrada como a responsável pelo resultado do leilão, só aumentava.  
A FAXINEIRA - Dilma viu sua popularidade crescer quando demitiu do governo ministros corruptos. Depois, chamou-os de volta(ANDRE DUSEK/Estadão Conteúdo)

Aos olhos do presidente, Dilma enquadrava a burocracia, tirava projetos do papel, destravava investimentos, fazia o governo acontecer. Era a novidade. A melhor novidade. Por isso, anos mais tarde, com nomes históricos do PT abatidos pelo mensalão, Dilma, "a mãe do PACo", "a mulher do Lula", "a gerentona", foi escolhida para ser a candidata à Presidência. O plano era ambicioso: em mandatos sucessivos, Lula e Dilma garantiriam ao partido pelo menos vinte anos no poder, curiosamente o mesmo número cabalístico que os tucanos pretendiam ficar no governo depois que Fernando Henrique Cardoso foi reeleito. O foco de Dilma, uma vez eleita, seria melhorar a infraestrutura do país, sem inventar moda na política ou na economia. Uma meta simples. Nada podia dar errado. Mas, como se sabe, tudo deu errado.

Eleita com 55,8 milhões de votos em 2010, Dilma estreou como presidente promovendo a defunta "faxina ética". Em apenas um ano, demitiu seis ministros suspeitos de tráfico de influência, corrupção e desvio de verbas públicas. A comparação com Lula, defensor obstinado de companheiros encrencados, era inevitável e lhe rendia dividendos. Setores tradicionalmente refratários ao PT estendiam o tapete vermelho para ela. Lula acompanhava esses movimentos com um pingo de desconfiança. A petistas ressabiados, dizia que Dilma, ao usá-lo como escada, engambelava setores conservadores da sociedade, conquistava a simpatia da mídia e se fortalecia. Além de competente, seria esperta. Em 2012, surgiram os primeiros ruídos entre os dois. Agindo de modo republicano, Dilma desprezou a ideia de Lula de usar uma CPI do Congresso para intimidar a imprensa e o Ministério Público. O contraponto com o antecessor, de novo, era inevitável.

Em março de 2013, a presidente bateu recorde de popularidade. E justamente aí começou sua derrocada. Mandona, centralizadora e irritadiça, Dilma tornou-se imperial. Enviava projetos ao Congresso para aprovação - sem direito a debate, afago ou cafezinho com os parlamentares. Na economia, recorreu à batuta do intervencionismo e determinou a redução, na marra, das taxas de juros e da conta de luz, e ainda tentou tabelar o lucro de empresários, emperrando uma série de projetos. A inflação já dava seus primeiros galopes. Apreensivo, Lula passou a mandar recados à sucessora.

Os porta-vozes do petista ecoavam as queixas do empresariado contra a mão pesada da presidente e defendiam uma troca de comando no Ministério da Fazenda. Dilma, cuja dificuldade para reconhecer os próprios erros tem contornos patológicos, ignorava olimpicamente as advertências. Foi assim até as históricas manifestações de rua de junho de 2013, que dinamitaram sua popularidade. Do centro do ringue, Dilma foi jogada às cordas. Aproveitando essa fragilidade, petistas e empresários, como Marcelo Odebrecht, preso pela Operação Lava-Jato, lançaram um movimento para trocar Dilma por Lula como candidato à Presidência em 2014. Alegavam que Dilma estava tirando a economia dos trilhos. A presidente, tratada agora como incompetente e amadora, resistiu à pressão, manteve-se no jogo e, cumprindo sua própria profecia, fez o diabo para conquistar um novo mandato.

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