A elite política vence a Lava Jato
A Lava Jato não mete mais medo em
Brasília. Os graúdos da política aproveitam recuos do Supremo, acumulam
vitórias e retomam território para a impunidade
Em meio ao burburinho da sessão da Comissão de Constituição e Justiça,
na quarta-feira, dia 18, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) defendeu o
presidente Michel Temer.
Havia horas o colegiado debatia o relatório do deputado Bonifácio
Andrada (PSDB-MG), que recomendava a rejeição de um pedido da
Procuradoria-Geral da República para investigar Temer pelos crimes de
organização criminosa e obstrução da Justiça. Maluf classificou a
denúncia contra Temer como um ato de “terrorismo” contra a economia
nacional. “Quem aqui pode levantar a mão e dizer ‘eu estou aqui sentado
sem ter pedido recurso para ninguém, minha campanha custou zero’? Todos
pediram recursos. Eu pedi e Michel Temer pediu. Mas de acordo com a
lei”, disse Maluf, um veterano em ser alvo e reclamar de denúncias. Uma
semana antes, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)
confirmara sua condenação à prisão pelo crime de lavagem de dinheiro.
Entre outras coisas, Maluf é acusado de movimentar ilegalmente US$ 15
milhões entre 1998 e 2006 em contas no paraíso fiscal de Jersey, uma
ilha no Canal da Mancha.
A experiência na causa explica a ousadia de Maluf. Tamanha é
a rejeição do presidente Michel Temer nas ruas –
apenas 3% dos
entrevistados da mais recente pesquisa consideram seu governo ótimo ou
bom –, que nenhum de seus colegas foi tão longe quanto Maluf, a ponto de
defender Temer por aspectos morais, como a
“honestidade” ou a
“probidade”.
[Maluf se vangloria de não precisar fazer campanha política: "Vou cumprir este mandato de deputado federal em 2018, aos 87 anos. Se
estiver com boa saúde, não preciso fazer campanha para deputado. É só
dizer que sou candidato que estou eleito. Executivo não tem mais". Essa condição o autoriza a defender Temer sem medo de perder votos.] - SABER MAIS, CLIQUE AQUI.
Preferiram atacar a Operação Lava Jato na pessoa do
ex-procurador-geral da República
Rodrigo Janot,
que encaminhou a denúncia no mês passado
. “Quem merece crédito? O
pinguço pego no porão de uma distribuidora de bebidas tomando um trago
de ‘cana’ com um advogado ou o presidente da República, que contra ele
não há nada absolutamente provado?”, disse o deputado Alceu Moreira
(PMDB-RS), em referência a um
encontro em um bar entre Janot e o advogado Pierpaolo Bottini, defensor do empresário
Joesley Batista, da JBS, cuja delação premiada gerou as denúncias contra Temer.
O
deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aguerrido defensor de Temer,
alargou os limites institucionais.
“Agora vem uma ditadura de
procuradores que se associam a bandidos delatores”, disse em sua defesa,
para que a comissão rejeitasse a denúncia contra Temer. Enquanto isso,
agarrado a um exemplar da Constituição e a uma cópia da denúncia
grifada, o relator Bonifácio Andrada
– “nosso relator”, segundo o
Palácio do Planalto – defendia o
s “aspectos técnicos” de seu trabalho.
Não era necessário. Os acordos por cargos, emendas ao Orçamento e
favores eleitorais acertados pelo governo fizeram com que 39 deputados
votassem a favor de Temer e só 26 contra.
O resultado era
esperado. A dança dos discursos é que merece atenção.
Os parlamentares
que defenderam Temer e o ajudarão a escapar definitivamente da
investigação na votação no plenário da Câmara, prevista para esta
semana, não têm mais medo de desancar a Operação Lava Jato em público.
Aqueles que até pouco tempo atrás repetiam com dores agudas no estômago
frases como
“A Operação Lava Jato tem de ser preservada” hoje podem
falar abertamente o que pensam da investigação contra a corrupção. A
certeza em torno disso é corroborada pela
salvação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente afastado do PSDB um dia antes.
Fonte: Revista Época