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sábado, 26 de maio de 2018

Vítima errada

O ex-juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas, agiu durante treze anos de casamento como um criminoso dentro da própria casa


O advogado Roberto de Figueiredo Caldas, até outro dia juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é um homem perigoso. Fique longe dele. Caldas faz parte daquele grupo de brasileiros que se colocam acima da lei por serem profissionais no negócio de “fazer o bem”, tão rendoso hoje neste país ─ e se um dia desses ele resolver agredir você, seja lá pelo motivo que for, prepare-se para reclamar com o bispo, pois vai ser mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que o homem receber qualquer punição penal séria. O ex-presidente Lula pode estar na cadeia por corrupção, junto com os seus mais poderosos ajudantes, mas gente como um Caldas não costuma receber nem uma multa de 10 reais. São heróis dos “direitos humanos”. Combatem o “trabalho escravo”. São convidados para dar palestras denunciando a violência contra as mulheres. Trabalham em favor dos “direitos sociaise nadam entre os peixes mais graúdos das OABs e grupos similares. Quando se metem em algum problema, chamam um advogado de Brasília que se vangloria de ter “influência” nos tribunais mais supremos da nação e “relações” entre os jornalistas “importantes” da capital federal. Quem vai encarar uma peça de artilharia deste tamanho? Melhor que não seja você.
Roberto Caldas: são apenas “tumultos e agressões verbais”, diz advogado de defesa (Acervo CIDH/.)

Os jornalistas Marcela Mattos e Gabriel Castro revelaram, numa reportagem publicada em edição recente de VEJA, um Roberto Caldas desconhecido no mundo em que circulam as grandes figuras do “campo progressista” ─ mas muito conhecido por sua própria mulher, Michella Marys Pereira, da qual está separado há três meses. Infelizmente para ela, esse Caldas oculto era um homem que durante os treze anos de casamento agiu como um criminoso dentro da sua própria casa. De acordo com a queixa que Michella acaba de prestar ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher em Brasília, seu marido a agrediu diversas vezes com pontapés na virilha, murros no rosto, socos no estômago, tapas na cabeça, humilhações de todos os tipos e outros atos de violência; chegou a puxá-la pelos cabelos escada abaixo, na sua casa num bairro tido como exclusivo na capital, e a ameaçou com uma faca de cozinha. Michella tem, a favor de suas acusações, fitas de áudio que gravou e o testemunho de pessoas que presenciaram algumas das agressões. Mas aí é que está: provas, em casos assim, não costumam valer grande coisa. Michella tem contra si, justamente, a força do sistema que protege o marido e gente do seu calibre ─ e é isso, quase sempre, que acaba vingando.

É verdade que Caldas teve de se “licenciar” do seu cargo de juiz na corte internacional; pouco depois foi demitido definitivamente dali, pois nesse tribunal seu caríssimo advogado brasiliense não manda nada. Foi desligado, também, do escritório de advocacia em que trabalhava. Está sujeito, enfim, a ser indiciado em inquérito e a responder à uma ação penal pelos crimes de que é acusado por sua ex-mulher. Mas querem saber? Se o caso acabar como têm acabado há décadas todos os casos deste tipo, cadeia mesmo, que é bom, não vai ter. Caldas vai resolver sua história a preço de custo, com um pouco de dor de cabeça e um apelo da Justiça para que não faça mais isso, doutor, por gentileza; afinal, dirão os colossos do nosso direito, a pior solução seria ceder à visão estreita e autoritária que recomenda punir o “infrator”.  

As penitenciárias, como se sabe, estão cheias de pobres coitados que não pagaram em dia a pensão familiar mas espancar a própria mulher durante anos a fio, como Caldas é acusado de ter feito, é considerado um pequeno deslize, algo como estacionar em lugar proibido ou bancar uma mesa de pif-paf. Não se vai agora punir um homem importante só por causa de uma coisinha dessas, não é mesmo? É por isso, exatamente, que gente do tipo de Caldas é perigosa. Não têm de pagar pelo que fazem. Podem fazer de novo.

Michella Marys, neste momento, está sozinha. Nenhuma organização feminista, até agora, deu um pio em seu apoio. Para ela, nada de militantes femininas vestidas de preto e segurando cartazinhos de “denúncia”. Nada de abaixo-assinado de artista de novela. Nada de discurso no plenário da Câmara. Michella é a vitima errada. Seu ex-marido é o acusado certo: foi nomeado para a Corte Interamericana por Dilma Rousseff, circula em campanhas eleitorais do PT e não se pode “deslegitimar”, através dele, a luta global pelos “direitos humanos”. De mais a mais: “a quem interessa” acusar o dr. Caldas? Eis aí mais uma missão para o nosso jornalismo investigativo.

Veja 

 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Elize Matsunaga é condenada a 19 anos, 11 meses e um dia de prisão

Julgamento durou sete dias e foi um dos mais longos da história da Justiça de São Paulo

Elize Matsunaga foi condenada a 19 anos, 11 meses e um dia de prisão em regime fechado pelo homicídio de seu marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, executivo da Yoki, além da destruição e ocultação de cadáver – crime ocorrido em maio de 2012. A sentença foi dada na madrugada desta segunda-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Os advogados de defesa disseram que vão recorrer da sentença. Foram sete sessões de julgamento em um dos júris mais longos do judiciário paulista.



Elize Matsunaga no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo - Reprodução


 A sentença foi lida pelo juiz Adilson Paukoski no início da madrugada desta segunda-feira após sete dias de julgamento. O júri, iniciado na segunda-feira (28), ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista. Conclui-se que por toda a dinâmica dos fatos, tratar de pessoa com personalidade fria e manipuladora. Chegando a se passar por esposa abandonada e ainda se desvencilhou do instrumento que esquartejou a vítima — disse Paukoski.

Além da condenação por homicídio, Elize recebeu a pena por ocultação de cadáver por ter despejado partes do corpo do empresário em uma estrada. Marcos foi morto no dia 19 de maio de 2012. Em julho do mesmo ano, Elize foi presa.

O Conselho de Sentença entendeu que o recurso que impossibilitou a defesa da vítima foi a única qualificadora aceita e, assim, os jurados derrubaram as de motivo torpe e meio cruel. Na interpretação do júri (formado por quatro mulheres e três homens) – que coincide com a tese da defesa -, o crime não foi cometido nem por vingança nem por dinheiro. Para eles, também não ficou provado que Marcos estava vivo quando foi esquartejado. 

Ré confessa, Elize foi ouvida no domingo em um interrogatório que durou mais de quatro horas, mas não respondeu às perguntas da acusação. Ela chorou ao lembrar do passado como garota de programa, da filha do casal, hoje com 5 anos, e também dos xingamentos de Marcos. “Deus sabe do meu coração. Se eu tenho de aprender mais alguma coisa, Ele sabe”, afirmou.

Neste domingo, Elize contou sua versão sobre o assassinato e esquartejamento do marido. “A única forma que eu encontrei foi cortá-lo, infelizmente”, disse ela. Na parte da manhã, ela respondeu os questionamentos do juiz Adilson Paukoski e se negou a responder as perguntas da acusação. Durante todo o tempo, Elize manteve a voz firme quando falava sobre o disparo que atingiu o lado esquerdo do crânio de Marcos e o esquartejamento, realizado com uma faca de carne no quarto de hóspedes do apartamento, segundo ela. Mas chorava ao falar do passado como garota de programa, da filha e dos xingamentos do marido. Ao mencionar uma passagem da qual disse se arrepender, ela completou a frase com “infelizmente”.  Os advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio alegaram ainda que ela agiu sozinha.


O ‘Dia D’
O assassinato aconteceu em maio de 2012, no apartamento do casal, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Após ser baleado na cabeça, o executivo teve o corpo cortado em sete partes, jogadas à beira de uma estrada em Cotia, na Grande São Paulo.  No dia do crime, Marcos foi buscá-las no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Todos foram ao apartamento. Após a saída da babá, o casal pediu uma pizza que o empresário foi buscar na portaria. Na volta, ele seria morto por Elize.

Na versão da ré, não houve emboscada. O casal chegou a sentar à mesa, mas iniciou uma discussão. Marcos teria dito que ia para a casa do pai. Elize desconfiava que ele voltaria a se encontrar com a amante. “Eu não aguentei, disse para ele parar de mentir”, afirmou. “Eu contei que tinha contratado um detetive e sabia de tudo.” Segundo Elize, o empresário esbravejou. “Como você tem coragem de fazer isso com o meu dinheiro?”, teria dito. “Ele me chamou de vaca, vagabunda e deu um tapa no rosto”, afirmou.

Elize conta que os dois estavam de pé na hora da discussão. Após o tapa, ela foi para a sala de estar, apanhar sua pistola .380, que havia sido presente de Marcos. “Quando olhei a arma na minha mão, me arrependi. Fui para cozinha para ele não me ver.”  Marcos teria ido atrás dela. “Ele ficou surpreso e começou a rir”, contou. “Falou que eu era uma puta, falou para eu ir embora com a minha família e deixar a filha dele lá”, afirmou. “Eu não raciocinei. Eu poderia ter feito inúmeras coisas. Poderia ter feito um milhão de coisas. Eu não estava normal naquela hora.”  Praticante de tiro, Elize disparou a arma e acertou o marido na cabeça. “Eu queria que ele se calasse. Queria que tudo aquilo acabasse”, disse. “Eu não optei pelo tiro.  Aconteceu.” Segundo afirma, a ré ficou desesperada. Chegou a pegar o telefone para ligar para a polícia, mas desistiu. “Eu ia ser presa. Iam levar minha filha para um abrigo.” Elize conta que arrastou o corpo de Marcos pelos braços, por cerca de 15 metros, até o quarto de hóspedes. Depois limpou o rastro de sangue com um pano e produto de limpeza.

O esquartejamento só começou no dia seguinte, entre 5h30 e 6h, após a chegada da babá. “Queria esconder ele”, justificou. Ela relata que começou pelos joelhos, porque sabia que “só tinha articulação”. Depois os braços, o tronco e, por fim, a cabeça. Pôs as partes em sacos de lixo e os sacos em três malas.  Inicialmente, contou à família da vítima que Marcos estava desaparecido. “Eu não tinha como falar para minha sogra: ‘Desculpa, atirei no seu filho’.”
“Eu não queria matar o Marcos, não fiz por crueldade”, disse Elize, quando questionada se gostaria de se defender. “Queria pedir desculpa a todas as pessoas que machuquei por esse ato infeliz”, afirmou. “Se eu tiver mentindo, quero que Deus me castigue da pior forma possível.”

Fonte:  Estadão Conteúdo