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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Leilão do pré-sal ajuda o país a recuperar o tempo perdido no setor de óleo e gás - Míriam Leitão

O leilão do óleo excedente do pré-sal vai ajudar o Brasil a recuperar um pouco o tempo perdido. O país ficou um período grande sem leilões de petróleo, entre o fim da década passada e o início desta, enquanto o governo discutia novas regras para o setor. O interesse era grande, a cotação do petróleo estava alta, mas não houve disputas entre 2008 e 2013.

A expectativa é grande para esse leilão do pré-sal e ficou mais intensa com a desistência de duas gigantes mundiais, a britânica BP e a francesa Total. A Petrobras diz que participará de dois dos quatro campos que serão leiloados. A disputa é pelo excedente de óleo nessas regiões. A Petrobras havia recebido os blocos com permissão para explorar 5 bilhões de barris, e descobriu que a reserva é maior que isso.

São esperados R$ 106,5 bilhões em bônus de assinaturas, se todas as quatro áreas foram negociadas. Além disso, tem o dinheiro equivalente ao óleo-lucro, a parte da produção que as empresas vão pagar ao governo. O consórcio que oferecer a participação maior, ganha a disputa. Essa é a regra para as áreas do pré-sal. É com esse dinheiro do leilão que o governo conta para financiar a PEC do Pacto Federativo. 

Estados e municípios terão participação maior no rateio desses recursos.
A energia fóssil representa um terço de toda a energia consumida no mundo. Ainda. Essa participação deverá cair. O Brasil tem que usar esse dinheiro de forma sábia. O recurso é temporário, tem que ser usado para projetos permanentes. Esse é o lado bom da indústria do petróleo. A parte ruim o país está vendo nas últimas semanas, com as consequências ambientais e econômicas do vazamento que atinge o Nordeste

Míriam Leitão, jornalista - Blog em O Globo

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Já é ruína

Numa noite de outubro, dois anos atrás, ela convocou uma cadeia nacional de rádio e televisão para comunicar:  
“Passamos a garantir, para o futuro, uma massa de recursos jamais imaginada para a Educação e para a Saúde.”

Enlevada num tom de realismo mágico, anunciou a alquimia: “A fabulosa riqueza que jazia nas profundezas dos nossos mares, agora descoberta, começa a despertar. Desperta trazendo mais recursos, mais emprego, mais tecnologia, mais soberania e, sobretudo, mais futuro para o Brasil.”

Arrematou, com esmero ilusionista: “Começamos a transformar uma riqueza finita, que é o petróleo, em um tesouro indestrutível, que é a Educação de alta qualidade. Estamos transformando o pré-sal no nosso passaporte para uma sociedade mais justa.”

Para gerenciar a riqueza submersa a mais de quatro mil metros no Atlântico, Dilma Rousseff criou a estatal Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A.(PPSA). Deu-lhe amplos poderes para defender os interesses da União, o que inclui a gestão dos contratos de partilha, controle dos custos e das operações de exploração e produção de todo petróleo extraído da camada pré-sal.

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Não é pouco. A combalida Petrobras, que nesses campos já produz mais de um milhão de barris, planeja concentrar investimentos numa área de tamanho equivalente a 150 mil campos de futebol, a 170 quilômetros de distância do litoral do Estado do Rio. Libra, como é conhecida nos mapas marítimos, é uma das maiores áreas do planeta reservada à exploração de petróleo. Foi leiloada a uma sociedade composta pela Petrobras, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e as chinesas CNPC e CNOOC.

Dilma continua com o seu discurso surrealista, com toques de absolutismo groucho-marxista: “Eu represento a soberania nacional, do pré-sal, a defesa dos 30%, a defesa do conteúdo nacional... Esse golpe (o processo de impeachment) não é contra mim, é contra o que eu represento, contra a soberania, contra o modelo de partilha do pré-sal”— disse semanas atrás a uma plateia de sindicalistas aliados do governo.

Longe do espelho d’água do Palácio do Planalto, sobram certezas sobre o desgoverno na condução dos negócios do pré-sal. A empresa estatal (PPSA) criada para recolher a “massa de recursos jamais imaginada” para Saúde e Educação mal começou e já está sucateada.  Tem 15 empregados, acumula prejuízos e patrimônio líquido negativo. Sem dinheiro, atravessou 2015 sobrevivendo da caridade privada. Fornecedores cederam-lhe licenças temporárias gratuitas de software.

Perplexos, auditores do Tribunal de Contas da União registraram:Há sérios riscos de se comprometer ou até inviabilizar a realização de importantes tarefas técnicas, tais como: a) interpretação sísmica e modelagem geológica; b) construção de modelos estáticos e dinâmicos para simulação de fluxo em reservatórios petrolíferos; c) análise de dados de perfuração de poços e de desempenho petrofísica; d) testes de modelagem de escoamento.”

É real a ameaça aos resultados econômicos para a União, adverte o tribunal.

Com 28 meses de existência, a estatal do pré-sal pode ser vista como novo símbolo do governo Dilma. Parecia que ainda era construção, mas já é ruína.

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo