Bolsonaro critica o Irã e o general morto em ação militar dos norte-americanos e diz que posição do Brasil é de se ''aliar a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo''. Especialistas avaliam, porém, que o governo não tomará partido, de fato, no conflito
A crise entre Estados Unidos e Irã — que sugere risco de um conflito armado — coloca o presidente Jair Bolsonaro entre a cruz e a espada. Os principais conselheiros, entre eles os militares, recomendaram a ele uma postura neutra e pragmática em relação ao embate, tendo em vista a boa relação comercial com ambas as nações. De um lado, o país árabe, aliado da Rússia e China, principal parceiro comercial brasileiro no Oriente Médio e o maior importador do milho produzido no país. Do outro, a maior potência econômica do mundo e o segundo principal comprador de mercadorias brasileiras. Colocado à prova de fogo, contudo, o chefe do Executivo não seguiu a tradição da diplomacia brasileira. Alfinetou o governo iraniano, associando o general Qasem Soleimani — assassinado numa ação militar dos EUA — ao terrorismo e disse que a posição é se “aliar a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo”. [se espera do presidente Bolsonaro o bom senso de permanecer neutro.
O histórico da 'desavença' não fortalece o risco de uma guerra. E,mesmo que haja, o Brasil optar por qualquer um dos lados em nada influirá e só trará prejuízos ao Brasil.
A neutralidade é a melhor política. Não sendo justificável que o presidente Bolsonaro se manifeste sobre o conflito, ainda que para expressar uma posição correta do seu governo - totalmente contrária ao terrorismo - tendo em conta que uma manifestação pode ser interpretada como escolha de um lado.
E, na fase atual, de recuperação da economia, o lema BRASIL ACIMA DE TODOS tem que ser mais do que nunca incluir TODOS OS INTERESSES dos demais países e cuidar da manutenção, com incremento, da recuperação econômica.
Não é covardia a neutralidade e sim a busca de evitar escolher um lado = qualquer lado escolhido, vencedor ou vencido, prejudicará os interesses do Brasil.
O Trump já provou - aliás, todos sabem ou devem ter aprendido - que como presidente norte-americano tem o DEVER de sempre colocar os interesses dos EUA acima de quaisquer outros.]
As
declarações de Bolsonaro sugerem uma posição contrária ao recomendado
pela diplomacia internacional em uma crise deflagrada entre Estados
Unidos e Irã. A relação foi ainda mais escancarada depois que o
Ministério das Relações Exteriores se posicionou. “Ao tomar conhecimento
das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo
brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e
reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade
internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização
para o terrorismo”, comunicou.
O Itamaraty ressalta, ainda, que acompanha “com atenção” os
desdobramentos da ação no Iraque e reforça que condena “igualmente” os
ataques à embaixada dos EUA em Bagdá, ocorridos nos últimos dias. “E
apela ao respeito da Convenção de Viena e à integridade dos agentes
diplomáticos norte-americanos reconhecidos pelo governo do Iraque
presentes naquele país”, informou.
O
posicionamento pegou de supetão e preocupou conselheiros oriundos das
Forças Armadas do alto ao médio escalão do governo. “Diplomacia tem que
ser pautada pela serenidade e isenção total. Ao tomar essa posição,
corremos vários riscos”, ponderou um assessor. Outro interlocutor,
entretanto, considera que há espaço para mudar o tom e adotar um tom
pragmático. Ele não considera muitos riscos, ao menos não em termos de
conflito armado. “Nossa situação em termos de localização geográfica,
nesse caso, é privilegiada, estamos fora da zona de ação”, sustentou.
O
analista político e especialista em relações exteriores Ricardo Mendes,
sócio-diretor da Prospectiva, concorda com a visão de adoção do
pragmatismo. “Apesar dos posicionamentos, não acredito que o Brasil
tomará partido. Não creio que tenha condição para isso”, frisou. “São
interesses contrários aos militares, a área agrícola e econômica. Não
interessa a ninguém. Creio que o país deve se manter neutro, e Bolsonaro
vai voltar atrás”, acredita.
Em entrevista, nesta sexta-feira (3/1), ao programa Brasil Urgente,
da TV Bandeirantes, Bolsonaro disse que o governo é favorável a
qualquer medida que combata o terrorismo no mundo. “A nossa posição é de
nos aliarmos a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo. Nós
sabemos, em grande parte, o que o Irã representa para os seus vizinhos e
para o mundo”, frisou. “A vida pregressa dele (Qasem Soleimani) era
voltada, em grande parte, para o terrorismo. Nossa posição aqui no
Brasil é bem simples: tudo que pudermos fazer para combater o
terrorismo, nós faremos.”
A
Embaixada do Brasil em Bagdá, no Iraque, recomendou, nesta sexta-feira
(3/1), que não sejam feitas viagens ao país devido ao “quadro de
incertezas e especulações”, após ação militar dos Estados Unidos que
matou o general iraniano Qasem Soleimani. Alerta
publicado no site da embaixada também afirma que brasileiros que
estiverem no Iraque devem “evitar as áreas de conflitos e agir com
extrema cautela, sobretudo em lugares com grande concentração de
pessoas”. O governo brasileiro ainda recomenda que esses brasileiros
mantenham “contato regular” com a Embaixada.
A
representação brasileira ainda alerta para que notícias sobre a situação
política no país sejam monitoradas por fontes confiáveis. “No atual
quadro de incertezas e especulações, a Embaixada do Brasil recomenda aos
portadores de passaporte brasileiro que monitorem as notícias por meio
de fontes confiáveis, evitando tomar decisões baseadas em rumores e
especulações que, como sabemos, são comuns e se espalham rapidamente
nessas horas de crise.” “Entendemos as
preocupações com relação à segurança de nossos compatriotas, e a
Embaixada buscará prestar, no momento adequado, a assistência consular
cabível e possível, dentro dos recursos humanos e financeiros
disponíveis”, afirma a nota.
O
parlamentar analisa, ainda, que o Brasil não tem “tamanho” para entrar
na briga. “Temos de observar e torcer por um entendimento e para a paz”,
opinou. “Uma guerra não é boa para nenhum dos lados. Se algo assim vier
a acontecer, teremos de observar as consequências nas relações
comerciais que temos e que serão afetadas”, ressaltou. “O preço do
barril de petróleo, por exemplo, já disparou. Não devemos entrar no
pormenor de quem fez o que. É melhor a gente não se envolver”, insistiu.
A
tomada de posição de um lado pode trazer consequências negativas para o
Brasil, sobretudo se mantiver uma política de alinhamento incondicional
aos Estados Unidos, alertou o professor Juliano da Silva Cortinhas, do
Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
“Sempre que eles entram em confronto, voltam suas atenções para o
problema e nos esquecem. Se acontece em um momento de alinhamento
automático, nosso aliado principal deixa de nos dar atenção”, destacou.
“Mas, se nossa política internacional for pragmática, pode ser um
momento estratégico para viabilizar novas possibilidades”, sustentou.
O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse ao Correio
que conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre a crise entre os
Estados Unidos e o Irã. Ele afirmou que considera “delicada” a situação e
destaca que o momento é o de aguardar: “Não é uma situação em que
possamos estabelecer com antecedência tudo o que vai acontecer. Por isso
que digo: vamos olhar. Mais do que falar, opinar. Vamos olhar, vamos
prestar atenção”. O ministro afirmou que os acontecimentos ainda estão
“muito no início”. “O presidente e eu conversamos muito. Sou segurança
internacional, [sic] não tenho pretensão de ser conselheiro, mas converso com
ele, e a gente discute. Por enquanto, a ideia é a gente ficar
observando. Acabei de receber um documento, vou estudar para conversar
com ele e, por enquanto, a ideia é a gente ficar observando.”
Preocupação com alta do petróleo
O presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião para a próxima
segunda-feira, com o objetivo de debater com o presidente da Petrobras,
Roberto Castello Branco, e com ministros e técnicos da área econômica os
impactos da alta do preço do barril de petróleo no mercado interno.
Diante da perspectiva de alta da commodity e do dólar — dois insumos da
política de reajuste de preços da estatal —, a ideia é discutir medidas
para atenuar impactos que o conflito entre Irã e Estados Unidos podem
provocar no preço da gasolina e do óleo diesel ao consumidor. A intenção
do chefe do Executivo é incentivar a abertura do mercado de
combustíveis. Ele promete não intervir na autonomia da empresa pública.