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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Gergelim: saudável, rentável e promissor - Revista Oeste

 Evaristo de Miranda

Conteúdo Gratuito 

Plantado de março a abril, garante produção até mesmo onde a segunda safra era impossível. O Brasil avança para tornar-se grande exportador dessa extraordinária oleaginosa

 

  Sementes de gergelim | Foto: Shutterstock

Quem não conhece o sésamo ou gergelim? Essa pequena semente é usada no revestimento de pães, em saladas, como gersal, homus e tahine, na forma de óleos, margarinas, em doces como halawi, barrinhas de gergelim e diversos outros produtos. 

Até poucos anos atrás, sua produção no Brasil era muito limitada, concentrada sobretudo em pequenas propriedades no Nordeste. Nesta década, o gergelim emergiu como cultivo mecanizado em Mato Grosso e outros estados. Ele substitui o milho safrinha e diminui o risco de perdas por falta de chuvas, quando o período de plantio do milho já se encerrou. Plantado de março a abril, garante produção até mesmo onde a segunda safra era impossível. O Brasil avança para tornar-se grande produtor e exportador dessa extraordinária oleaginosa.

O gergelim ou sésamo (Sesamum indicum) é uma planta anual da família
Pedaliácea. Foi a primeira planta da história utilizada na produção de óleo vegetal, antes da oliveira. O gênero Sesamum contém cerca de 23 espécies selvagens, a maior parte africana. Oito são do subcontinente indiano e, delas, Sesamum indicum var. malabaricum, do nordeste da Índia, e Sesamum mulayanum, da costa oeste e sul, estão na origem do gergelim cultivado.

Os
restos arqueológicos mais antigos de gergelim foram encontrados na Bacia do Indo (entre 2250 e 1740 a.C.). No Próximo Oriente, os restos são raros e tardios: no reino de Urartu, na Armênia (de 900 a 600 a.C.), e em datas idênticas em Bastan, no Irã, e na Jordânia (800 a.C.). A história do gergelim no Egito é controversa. Seu nome nos hieróglifos ainda não é certo, mas sementes foram encontradas na tumba de Tutancâmon (1343 a.C.). Os textos védicos do Atharvaveda (de 1200 a 1000 a.C.) mencionam o gergelim (तिल tila). O termo sânscrito taila (óleo vegetal) se refere ao óleo de gergelim na literatura ayurvédica, como no Tratado Charaka Samhita.

(....)


A demanda global por gergelim segue em forte expansão, com crescimento da ordem de 4% ao ano, em volume e valor. 
O preço médio entregue no exterior é da ordem de US$ 1.200 a 1.400 por tonelada, e o valor entregue ao produtor é de cerca de US$ 1 mil. 
Em poucos anos, o Brasil emergiu entre os exportadores de gergelim para Ásia e Oriente. A Índia é o maior comprador e tem no Brasil seu terceiro fornecedor. O país é também o segundo fornecedor da Arábia Saudita. A exportação à Turquia, de US$ 6,2 milhões em 2020, aumentou mais de dez vezes em relação a 2016. 
 
O Brasil é o quinto maior fornecedor do mercado turco, e a Turquia é o quarto maior destino do gergelim nacional. Já exporta para Singapura, Vietnã, Grécia, México e outros, num total de mais de 30 países. 
A abertura do mercado chinês, maior importador, está em estágio avançado. O Brasil, com o dinamismo do agronegócio e a modernidade da produção mecanizada, tem condição, em futuro próximo, de atender de 30% a 40% do mercado mundial de gergelim. Talvez mais. Não é fábula. É mais uma caverna de tesouros aberta pelo profissionalismo de produtores, empresas de sementes, fomento e comercialização, e pesquisadores: 
 
 Abre-te, sésamo 
 
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Revista Oeste

segunda-feira, 15 de maio de 2023

O agro exporta coisas inimagináveis - Evaristo de Miranda

Revista Oeste

Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. Além de gergelim para o México; sêmen bubalino para o Panamá; gengibre, algodão e sementes para o Egito

Ilustração: Shutterstock

Muita gente sabe: o Brasil é o maior exportador mundial de soja, açúcar, suco de laranja, café, carne bovina e de frango. Pouca gente sabe: as exportações agropecuárias não dependem apenas de comodities. Desde 2019, o país abriu mercados para mais de 200 novos produtos agropecuários em dezenas de países. E ninguém duvide: a concorrência internacional é acirrada e joga duro com o Brasil.

Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. A exportação de limões e limas, da ordem de US$ 125 milhões/ano, representa cerca de 10% do comércio internacional de frutas frescas do Brasil. Também houve acordo com os chilenos sobre os requisitos fitossanitários para exportar mamão fresco. Hoje, os principais destinos do mamão são Portugal, Espanha, Holanda, Reino Unido, Argentina e Itália.

O Brasil exporta maçãs para a Colômbia, Honduras, Nicarágua e outros países como a Índia, principal importador. A manga é a fruta mais exportada, cerca de US$ 248 milhões/ano e 20% do total na exportação de frutas. Seguem os melões, com US$ 165 milhões e 14% de participação. Nozes e castanhas ganham espaço na diversificação das exportações, com cerca de US$ 150 milhões/ano.

Mangueira em Goiânia, Goiás  -  Foto: Marcia Cobar/Shutterstock

Essa diversificação das exportações inclui novos mercados e produtos como: gergelim para o México; sêmen bubalino ao Panamá; gengibre, algodão e sementes ao Egito. Em 2022, o mel, um produto de baixo volume exportado, com pouco mais de 8 mil toneladas, chegou aos EUA, Alemanha, Canadá, Austrália, Bélgica, Reino Unido, Holanda, Panamá, China e Dinamarca.

Nos mercados abertos, a proteína animal tem destaque: gelatina bovina para a Malásia; carne suína e bovina ao México; carne de aves para a Polinésia Francesa; bovinos vivos a Argélia e Turquia; mucosa intestinal para o Chile; carnes bovina e suína ao Canadá; cortes suínos para a Coreia do Sul; genética, embriões e bovinos para o Iêmen, o Senegal e o Vietnã; ovos férteis, aves de um dia e embriões bovinos e bubalinos para Angola. Recentemente, foram aprovados os produtos de 11 plantas frigoríficas para a Indonésia e de quatro novas plantas para exportar carne bovina à China. E 183 mil cabeças de gado vivo foram para o exterior em 2022.

O protocolo para exportação de proteína processada de aves e suínos (farinha de carne, ossos, sangue, penas etc.), utilizada na fabricação de ração para animais, também foi aprovado com a China. Em abril passado, 63 indústrias de reciclagem animal receberam autorização para exportar proteína processada não comestível de aves e suínos, para uso na alimentação animal à China. Em maio, foi aprovada a exportação de subprodutos de origem animal (farinha de proteínas, sangue e gorduras de aves, suínos e bovinos) para alimentação animal na África do Sul, cuja negociação iniciara em 2017.

Granja em Bastos, São Paulo | Foto: Celio Messias/Shutterstock

A Argentina é o país com o maior número de novos mercados abertos recentemente para os produtos brasileiros: cerca de 30. Além de embriões de equinos congelados e aditivos à alimentação animal com componente lácteo, o país sul-americano passou a importar do Brasil pênis bovino. O vergalho ou pênis bovino serve de petisco desidratado mastigável a cães e gatos. Tem baixo teor de colesterol, é resistente e auxilia na limpeza de dentes e gengivas em animais domésticos. 

Essas aberturas para subprodutos de origem animal permitem diversificar e aumentar oportunidades aos produtores brasileiros. A mucosa intestinal dos suínos, por exemplo, é usada para obtenção da heparina, um anticoagulante usado na profilaxia, prevenção e tratamentos das tromboses. Essas matérias primas devem ser oriundas de animais nascidos e criados no Brasil em áreas livres de Febre Aftosa, Peste Suína Clássica, Peste Suína Africana, Doença Vesicular Suína e Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, abatidos em estabelecimentos oficialmente aprovados.

Todo novo mercado dessa natureza envolve negociação bilateral. Elas definem os parâmetros de sanidade animal, os certificados sanitários, fitossanitários, veterinários e até adequações na produção em função de costumes sociais e religiosos dos países destinatários.

É o caso das carnes halal exportadas a países muçulmanos. Halal significa permitido, lícito, autorizado pela Lei Islâmica (Shariah). No Brasil, o certificado Halal é concedido principalmente pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e por organizações certificadoras como a Fambras Halal. Se o sistema de produção afetou a saúde, o solo, comprometeu recursos naturais ou utilizou mão de obra infantil, não pode receber o certificado Halal. O Brasil é hoje o maior exportador mundial de proteína halal e referência nesse mercado. O mercado halal global está estimado em mais de US$ 3 trilhões, essencialmente nos 58 países de maioria muçulmana.

Na África, açúcar, soja, trigo, milho e carnes representam 87% das importações do Brasil. Arroz, feijão, farinha de milho e amendoim também são importados. Dos 54 países da África, 38 importam produtos brasileiros, inclusive genética animal, máquinas e equipamentos agrícolas.

Desde janeiro de 2019, o governo brasileiro abriu mais de 200 novos mercados para produtos da agropecuária brasileira. No total, mais 50 países passaram a receber alimentos

O Brasil, com 8% da produção total mundial, é o segundo maior exportador de grãos do mundo (19%). Globalmente, a China é o maior parceiro comercial do agronegócio: quase 32% das vendas externas do setor. As principais aquisições são soja em grão, carnes (bovina, suína e de frango), celulose, açúcar e algodão. Do outro lado, existe um número crescente de países adquirindo grãos do Brasil. Na soja, Irã, Vietnã, Espanha, Japão, Tailândia e Turquia importam quantidades significativas. No trigo, o crescimento da produção nacional refletiu-se nas exportações do cereal. Além da China, a Arábia Saudita, o Marrocos, o Sudão e o Egito são destinos das exportações do trigo brasileiro. Em 2021, os países árabes importaram 240 mil toneladas de trigo. Em 2022, o volume ultrapassou 1 milhão de toneladas.

Europa e Estados Unidos representaram 16% e 7% das exportações do agronegócio brasileiro em 2022. Os 27 países da Zona do Euro adquirem produtos florestais, café, frutas e suco de laranja. Por outro lado, como nos grãos, os dados globais das vendas externas do agro apontam para 38% do total adquirido por um grupo de mais de 180 países com pequena participação individual. Juntos, eles cresceram sua relevância em 2022.

A agropecuária nacional busca diversificar os destinos e as exportações brasileiras para reduzir a concentração da pauta exportadora em produtos e países. Aberturas de mercados são sempre resultado de negociações bilaterais. Elas resultam em acordos sobre os parâmetros de sanidade e os certificados correspondentes, sanitário, fitossanitário ou veterinário.

Desde janeiro de 2019, o governo brasileiro abriu mais de 200 novos mercados para produtos da agropecuária brasileira. No total, mais 50 países passaram a receber alimentos e tecnologia em um comércio cada vez mais globalizado do agronegócio. Abrir mercado não significa exportação imediata. Apenas os trâmites legais já estão acertados. Até chegar aos embarques é preciso preparar produtores e exportadores, atender às demandas de cada novo cliente, desenvolver a promoção comercial etc.

A ampliação da pauta de exportações de produtos agropecuários reforça a participação brasileira na segurança alimentar do planeta e mantém a balança comercial brasileira superavitária com o restante do mundo. Sem o agro, o saldo seria negativo. O Brasil gastaria mais com importação e ganharia menos com exportação. Quando isso ocorre, o país fica sem dólares, sem divisas. Tem dificuldades em importar bens como vacinas, medicamentos, equipamentos e até alimentos. É a crise atual da Argentina.

Graças ao agronegócio, o saldo positivo da balança comercial brasileira não para de crescer. Em 2000, o agronegócio exportou US$ 20 bilhões. Em 2022, apresentou um recorde histórico de US$ 160 bilhões. O índice de preços dos produtos exportados pelo agronegócio cresceu 22,1%, relativo a 2021. E o volume embarcado, 8,1%. As vendas externas do agronegócio representaram 47,6% do total exportado pelo Brasil em 2022. Alta de 32% em relação a 2021. E um superávit comercial da ordem de US$ 60 bilhões.


A entrada líquida de divisas ou de moeda estrangeira permitiu ao Brasil ampliar importações em outros setores da economia, sem pressão sobre o valor do câmbio. Houve até uma valorização do real diante do dólar, da ordem de 13%, apesar da disputa e das eleições presidenciais no Brasil.

As cooperativas são um dos caminhos para pequenos e médios produtores participarem da diversificação das exportações. Elas já respondem por quase 10% das exportações do agro. Convênio celebrado em 2022 entre o Sistema OCB e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) capacitará 50 cooperativas com potencial de exportação nas áreas de cafés especiais, frutas frescas, lácteos, meles e proteína animal.

Um paradoxo para as exportações do agronegócio nacional ocorreu, em março, durante evento em Pequim, na China. O novo presidente da Apex, Jorge Viana, relacionou problemas ambientais com a produção de grãos e a pecuária no Brasil (sic). Viana afirmou: “É preciso reconhecer que o Brasil tem problemas ambientais”. Até buscou números para impor uma relação entre o agronegócio brasileiro e a destruição da Floresta Amazônica. Ele opôs-se ao otimismo do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na véspera, cuja intervenção fora bem adequada. A manifestação repercutiu mais aqui do que lá. Parece. Os produtos brasileiros exportados são a imagem do país no exterior. Mais uma vez: é preciso buscar convergências e a paz na terra pelos homens de boa vontade.

Leia Conteúdo Gratuito - Revista Oeste

  Leia também “A hora do chá”

Evaristo de Miranda


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Uma revolução verde - Revista Oeste

Artur Piva

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

Na década de 1980, ocorreu um dos últimos grandes movimentos que impulsionaram a agricultura brasileira. Produtores rurais migraram das regiões Sul e Sudeste do país para o Centro-Oeste, levando na bagagem técnicas mais modernas de agricultura. Isso fez com que a safra nacional desse um salto de quase cinco vezes nos últimos 40 anos. 
Voltando ao açúcar, por exemplo, o Brasil é hoje o maior produtor mundial do alimento. De 8 milhões de toneladas em 1981, hoje são mais de 41 milhões de toneladas — um salto de mais de cinco vezes.     Já a colheita de grãos passou de 52 milhões de toneladas para 255 milhões de toneladas no mesmo período.  
Entre os principais produtos, estão arroz, feijão, caroço de algodão, gergelim, girassol, sorgo, milho e soja, como mostram os boletins elaborados pela Companhia Nacional de Abastecimento.


Um salto da agricultura brasileira
Para conseguir o feito, o avanço tecnológico incorporado à agricultura foi fundamental. Além da ampliação do uso de tratores, cuja frota nacional passou de 500 mil, em 1980, para cerca de 1,25 milhão, em 2017, a utilização de adubos e defensivos agrícolas também foi imprescindível. E o mesmo pode ser dito sobre o desenvolvimento de novas variedades de sementes e mudas mais resistentes. “As soluções químicas estão entre as ferramentas que mais se relacionam com o incremento da produção na lavoura”, explica Andreza Martinez, diretora de Defensivos Químicos da CropLife Brasil, associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias agrícolas. “A revolução verde, por volta de 1960, introduziu essas inovações e, assim, contribuiu para aumentar drasticamente a produtividade de praticamente todas as culturas, não só no Brasil, mas no mundo.”

Andreza cita ainda estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura que ilustram a necessidade de defensivos e fertilizantes para a agricultura. De acordo com o órgão, cerca de 40% da produção agrícola do mundo é perdida todos os anos em razão de ataques de pragas.

“As doenças das plantas custam à economia global mais de US$ 220 bilhões por ano”, ressalta Andreza. “As culturas alimentares competem com 100 mil espécies de fungos patogênicos, 10 mil insetos herbívoros e 30 mil espécies de plantas daninhas. Ou seja, sem a contribuição dos defensivos agrícolas, esses agentes de redução de produtividade agiriam sobre as culturas sem nenhum controle, causando perdas muito grandes.”

Quanto à aplicação dos fertilizantes, a correção do solo permitiu, por exemplo, que as áreas de cerrado pudessem ser exploradas. O desbravamento dessas regiões surpreendeu até mesmo Norman Borlaug, um químico laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1970, pelas contribuições que deu à agricultura.

Aplicação de defensivos agrícolas | Foto: Shutterstock

“O cerrado brasileiro está sendo palco da segunda ‘revolução verde’ da humanidade”, declarou Borlaug, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 1994. “Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que tornaram uma área improdutível há 20 anos na maior reserva de alimento do mundo.”

Entre 1981 e 2021, a área ocupada por culturas de grãos em Mato Grosso cresceu praticamente 15 vezes. Ela partiu de pouco mais de um milhão de hectares para 17 milhões hectares. As plantações de soja lideraram esse processo. Hoje, o Estado localizado no Centro-Oeste é o maior produtor desse grão no país. No começo da década de 1980, a safra de soja mato-grossense era de cerca de 360 mil toneladas, menos de 3% de toda a colheita nacional. Em 2021, os agricultores do Estado colheram cem vezes mais, chegando a 36,5 milhões de toneladas com essa cultura, ou seja, pouco mais de um quarto de toda a safra brasileira de soja no ano passado.

As novas técnicas envolvem ainda o plantio direto no solo e a manutenção palhada — restos das plantas —, deixada depois da colheita. Justus também cita o desenvolvimento de novas sementes e variações de plantas. “O cerrado não valia nada, porque dava, no máximo, um gado solto, criado de forma extensiva”, lembra. “Hoje, são plantadas ali duas safras por ano. Isso é possível porque, no sistema de agricultura tropical brasileiro, é feito um plantio de soja, que carrega o solo de nitrogênio, absorvido depois no plantio do milho.”

Plantação de soja no cerrado brasileiro | Foto: Shutterstock

Justus afirma que tanto a soja quanto o milho não teriam se adaptado ao Brasil sem os fertilizantes nem os defensivos. O cultivo feito sem esses insumos renderia uma safra que não cobriria os custos de produção, segundo o especialista. Além disso, “a utilização do adubo químico é uma reposição de nutrientes necessária para a produção”, argumenta.

A combinação de ciência e tecnologia, aliada à expansão do plantio, trouxe um ganho de produtividade que é medido pela quantidade colhida em uma mesma porção de terra. Em 40 anos, a safra de soja por hectare praticamente dobrou nas lavouras mato-grossenses. Para os grãos de modo geral, o ganho passou de três vezes.

Aprendendo com o mundo
Para que esse leque de tecnologias se disseminasse, Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura, foi fundamental. Na década de 1970, ele ocupou o cargo de ministro da Agricultura e se envolveu na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele lembra que, em 1974, nenhum país tropical tinha o conhecimento científico próprio necessário para desenvolver a agricultura nessas áreas.

A quantidade de alimentos que o Brasil produz atualmente é suficiente para abastecer por volta de 1 bilhão de habitantes ao redor do planeta

“Nós mandamos mais de 1,5 mil técnicos para os melhores centros de ciência do mundo”, conta. Eles tinham de ir até lá, ver o que se fazia de melhor, mas tinham o compromisso de voltar e desenvolver aqui a tecnologia e a inovação para o bioma tropical brasileiro”, contou. “E isso deu certo, porque, além desse esforço, nós criamos a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, responsável por transferir a tecnologia desenvolvida para os produtores rurais.”

Safra de ganhos para o Brasil
Mais grãos e pastos melhores também impulsionaram os rebanhos brasileiros. Todas essas transformações aumentaram a relevância da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 1990, o setor foi responsável por 6,7% de PIB. No ano passado, essa fatia subiu para 14%. Na pauta de exportações, houve a mesma expansão. De cada US$ 100 que o Brasil ganhou com o mercado externo em 1997, US$ 11 vieram da produção rural. Em 2011, essa relação cresceu para US$ 20 por US$ 100.

A quantidade de alimentos que o Brasil produz atualmente é suficiente para abastecer por volta de 1 bilhão de habitantes ao redor do planeta. A média de calorias disponível diariamente por brasileiro chega a 3,3 mil são 100 quilocalorias a mais que a Suécia, e acima também de nações como Holanda e Nova Zelândia, conforme mostram dados de um levantamento realizado em 2018 pelo site Our World In Data, vinculado à Universidade de Oxford.[e aquela sueca, Greta qq coisa,quer cantar de galo no Brasil.]

Criação de gado em Bananeiras, na Paraíba | Foto: Shutterstock

De arroz e feijão, o prato mais popular do país, são cerca de 60 quilogramas por habitante anualmente. O consumo médio interno de carnes, somando aves, bovinos e suínos, foi de cerca de 100 quilos por cabeça em 2021. De leite, a disponibilidade passa de um copo por dia para cada brasileiro. E ainda existe a produção de itens análogos à alimentação, como os biocombustíveis. A fabricação brasileira de etanol, sozinha, bateu cerca de 30 bilhões de litros no passado. E, em biodiesel, foram quase 7 bilhões de litros.

Produzindo com preservação ambiental
Essa produção toda foi possível aliando preservação de matas nativas, uma vez que 66% do território nacional está intocado. Levantamentos realizados pela Embrapa, pela Nasa e pelo Mapbiomas mostram que a agricultura ocupa apenas 8% de todas as áreas brasileiras. [as terras indígenas, ociosas, ocupam quase que o dobro. E quando somadas com a pecuária, as terras ocupam o dobro das terras ociosas = terras indígenas.]  Somando com a pecuária, as terras destinadas ao agronegócio representam cerca de 30% do país.  
A área preservada corresponde ao território de 17 Estados brasileiros, incluindo os dois com o maior território: Amazonas e Pará. Ao mesmo tempo, a área empregada para o cultivo das lavouras equivale ao tamanho de Goiás e Tocantins.

É a revolução verde. Um verde que vem tanto da agricultura quanto do meio ambiente.

Leia também “O mundo tem fome e o Brasil, alimentos”

Artur Piva, jornalista - Revista Oeste