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domingo, 29 de maio de 2022

O enigma brasileiro - Alon Feuerwerker

Análise Política

A dissolução e o desmembramento da União Soviética abriram um período de hegemonia da globalização. Não apenas no terreno econômico, mas também na geopolítica e na ideologia. Mesmo a esquerda, que nos anos 1990 e na virada do século ainda se batia contra a tendência, transitou em anos recentes, em sua maioria, para a defesa de uma “globalização benigna”, fundada nas causas ambientais, identitárias e numa justiça social sem rupturas.

Esse período vai, pouco a pouco, mostrando seu esgotamento. Num planeta interconectado em que os países busquem cada um livremente desenvolver-se, será irreversível que o eixo da hegemonia econômica se desloque rumo à Ásia. A razão deve ser buscada na aritmética. Sem contar os demais países asiáticos, China e Índia, juntas, têm população que corresponde a quase quatro vezes a soma dos habitantes dos Estados Unidos e da União Europeia.

O otimismo ocidental com a globalização impulsionada a partir dos anos 90 do século passado supunha que a absorção das grandes economias asiáticas pelo mercado global comercial e financeiro, China e Índia à frente, acabaria por consolidar a hegemonia do Ocidente político. Aconteceu o contrário, e hoje este sabe que o desenvolvimento pacífico do planeta projeta um mundo em que norte-americanos e europeus não mais darão as cartas sozinhos.

Essa conclusão óbvia está na base das tensões e conflitos planetários mais relevantes e acaba de ser abertamente manifestada num pronunciamento oficial do Departamento de Estado dos EUA, a que a política exterior da UE aparentemente decidiu acoplar-se acriticamente, talvez com alguma resistência, como é tradicional, da França. A nova política do Ocidente é desglobalizante, buscando enfraquecer polos potencialmente ameaçadores à hegemonia.

Toda essa introdução é para informar que o Brasil está diante de um enigma, um problema, na acepção matemática.   
Somos um país do Ocidente geográfico e político (agora que o conceito de Terceiro Mundo parece algo enfraquecido), mas na esfera da economia a inércia nos empurra a estreitar relações com o Oriente geográfico e político, este definido pelos países que EUA e UE consideram ameaçadores a sua liderança.

Não é à toa que, por enquanto, as manifestações sobre a guerra na Ucrânia vindas dos aspirantes à Presidência com expectativa real de poder a partir de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro, tragam alguma superposição. Restou aos demais a “photo-op”, alinhar-se à narrativa dominante para aproveitar a janela de oportunidade. Mas o problema colocado pela vida real é mais complexo. Como equilibrar-se no arame sem cair ou ser derrubado?

O crescimento econômico do Brasil está ligado às exportações de commodities e aos investimentos em infraestrutura. No momento, nossos mercados mais ativos não estão nos EUA e na UE, mas no Oriente, especialmente na China
E não há sinal de que isso vá mudar no curto prazo. 
Mas está nítido que o Ocidente político pretende tratar como adversários todos aqueles que não se alinharem a sua Guerra Fria 2.0. [comentando: só que o Ocidente político começa a encontrar dificuldades já que a guerra que estimulou -  para os ucranianos guerrearem, que por sua vez esperavam que seus aliados de palanque fizessem o trabalho pesado para eles - não está resultados tão favoráveis, quanto o Ocidente político esperava.]
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

quinta-feira, 11 de março de 2021

America e Europa primeiro - Alon Feuerwerker

Análise Política

O Comitê Olímpico Internacional vai comprar da China vacinas para imunizar participantes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos previstos para Tóquio em meados deste ano (leia). As competições eram para ter sido realizadas ano passado, foram adiadas e agora os organizadores e o COI lutam para não serem canceladas. A nova ameaça, naturalmente, vem da segunda onda da Covid-19.

Faz sentido imunizar atletas de alto rendimento prestes a participar de uma competição internacional, a mais importante da agenda esportiva mundial. Mas há, é claro, dúvidas éticas envolvidas nessa decisão, dada a ainda relativa escassez de vacinas, agravada pelo fato de os Estados Unidos terem adotado no tema a política "America First". E a Europa vai na mesma linha (leia).

Ficam para trás os países pobres e também os não tão pobres que acreditaram na "globalização benigna" e no multilateralismo, abrindo mão de capacidade industrial em setores vitais. Talvez por subestimar a força do nacionalismo nos países de onde mais vêm opiniões qualificadas sobre o "fim do nacionalismo". Uma ilusão injustificada pelo menos desde a crise de 2008-09.
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político