O presidente do Brasil perdeu mais uma disputa no Congresso.
Dessa vez na comissão que aprovou o relatório da reforma da Previdência.
[o jogo para valer, o que decide, é no Plenário - duas vezes na Câmara (308 votos) e duas no Senado (41 votos) .]
Depois de ser chamado de traidor por policiais civis, federais e
rodoviários e por agentes penitenciários, Jair Bolsonaro correu para
tentar mudar o teor do relatório de modo a garantir proteção a estes
também. Era tarde demais. O relator da reforma ignorou o presidente e a
comissão retirou da reforma apenas policiais militares e bombeiros, até
porque esta fatura cairá na conta dos estados.
Tratando o Congresso sempre de forma intransigente e reiterando
que não negocia com parlamentares por entender que negociação política é
loteamento de cargos, o presidente achou que bastavam dois telefonemas a
líderes de partidos aliados e uma postagem em rede social para resolver
o problema. Quebrou a cara. Sorte do Brasil. Imaginem do que ele seria
capaz se soubesse negociar e tivesse habilidade política.
O apoio ao presidente veio de apenas alguns fiéis e dos partidos
de esquerda. PT, PCdoB, PDT, PSOL e Rede votaram a favor de estender um
regime complacente também aos policiais. Votaram assim, não por
convicção, mas para torpedear o projeto da reforma. E o quadro pitoresco
que se viu foi Jandira Feghali defendendo no plenário da comissão o
mesmo que Jair Bolsonaro pregava em redes sociais e entrevistas: mais
privilégios especiais.
Jair Bolsonaro é um presidente corporativo. Pensa e age como se
governasse apenas para militares. Mesmo assim, alguns oficiais das
Forças Armadas também já o vêem como um desertor da causa, ou como um
desaglutinador. Em seis meses, comprou briga com metade dos quatro
estrelas que colocou no governo, e agora ouve sem reagir o filho Carlos
atacar o seu general mais antigo, o ministro Augusto Heleno. Difícil
enxergar onde ele quer chegar. Por vezes parece que trabalha sem tática,
sem objetivo. O relator da comissão, Samuel Moreira, lembrou que a
reforma sozinha não basta, cabe agora ao governo tocar seus projetos.
Passada a reforma, o governo vai precisar do Congresso para
aprová-los. Hoje, Congresso e Palácio estão em campos distintos. Tanto
que a reforma que anda não é a de Bolsonaro nem a de Paulo Guedes, é a
reforma previdenciária que o Congresso produziu. [com o devido respeito ao articulista: produziu? nos parece mais concordante com a realidade usar 'se apropriou' e deu uns retoques mais para prejudicar o governo do que para ajudar - imagine que desconstitucionalizaram o BPC, agora qualquer projeto de lei com pouco mais de 100 votos favoráveis pode mudar tudo no BPC.] Depois de mexer duas
vezes no comando da articulação política no meio da discussão da
reforma, Bolsonaro deu posse na quinta-feira ao general Luiz Eduardo
Ramos no comando da Secretaria Geral. Nas palavras das repórteres Bela
Megale, Naira Trindade e Jussara Soares, “Ramos terá de construir um bom
relacionamento com o Congresso, mas não tão próximo a ponto de gerar
desconfiança de Bolsonaro e seu entorno”
É exatamente isso, o novo ministro da articulação política vai
ter que andar no fio da navalha para não cair. Vai ser obrigado a
negociar sem ter protagonismo. Será refém dos desmedidos ciúmes que os
filhos têm do pai, das instruções obtusas do guru de Richmond e da
intransigente mania do pai de não fazer concessões a políticos. Será um
ministro que pela natureza da sua função terá que prometer muito, mas
que em razão das suas amarrações palacianas terá pouco ou quase nada
para entregar.