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terça-feira, 28 de junho de 2016

A 17,4 km do Palácio do Planalto, João agoniza numa cama enquanto aguarda há dois dias por uma vaga de UTI. Ali, já teve três paradas cardíacas



Eram 10h da manhã  do último domingo quando o construtor desempregado de 55 anos João Rosa do Nascimento deu entrada no hospital regional do Paranoá, a menos de 18 quilômetros de distância do Palácio do Planalto e dos prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Ele sentia tonturas, as mãos estavam dormentes, e não conseguia mais se sustentar de pé. João não tinha ideia que passava por um AVC, acidente vascular cerebral também conhecido como derrame. Meia hora depois de chegar ao pronto socorro, sobreveio a primeira parada cardíaca. João foi reanimado. Logo depois, a segunda parada cardíaca. Mais uma vez foi trazido à vida.

Como não há Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no hospital do Paranoá, uma cidade no entorno do Distrito Federal com mais de 50 mil habitantes, os médicos se viram obrigados a deixar João numa cama em uma sala que serve apenas para primeiros socorros. Desde então, João segue em coma induzido a espera de um quarto de UTI que vague em qualquer hospital de Brasília.

Na madrugada de segunda-feira, ele teve uma terceira parada cardíaca e seu estado é crítico. Alertados pelos médicos, parentes de João foram atrás de um amigo advogado que ainda no domingo conseguiu uma ordem judicial para obrigar a rede pública a acomodar João numa UTI. Só que até agora nada aconteceu. Nesta terça de manhã, completará 48 horas que João está entubado. Segundo médicos, será o dia que o cérebro dele inchará mais e correrá os maiores riscos de sequela. Até agora ele segue em coma induzido porque não há aparelhos para fazer exames que mostrem a extensão dos danos no cérebro, e sem isso é muito arriscado acordá-lo.

Sem uma UTI com suporte para neurologia, não há muito que os médicos possam fazer por João. A família de João pensou em levá-lo a um hospital particular, afinal a decisão judicial diz que o Governo do Distrito Federal será obrigado a arcar com os custos de uma internação na rede privada caso não ache vaga rede na pública.  “Mas os hospitais, agora, pedem cheque-caução, tem que pagar antes”, disse desolado um dos dois filhos de João, que é casado há mais de vinte anos.

Fonte: Blog do Noblat – Guga Noblat


quarta-feira, 4 de março de 2015

Elite golpista




Os banqueiros e empreiteiros ficaram para trás, catando migalhas, enquanto os garis e as empregadas domésticas chegaram ao topo da hierarquia
Li neste fim de semana uma entrevista no jornal com um ex-ministro que dá nome a um bem-sucedido plano de combate à inflação da década de 1980, na qual ele acusa, repetindo o discurso oficial do governo, que as elites não suportam a ascensão dos pobres e nutrem ódio ao PT por isso. Confesso, como presidente da ONG Elite Golpista Opressora (EGO), que o ilustre economista descobriu nossa conspiração.

Desde Cabral o Brasil é dominado pelas elites. Apenas com a chegada do PT ao poder isso mudou. A partir de 2003, são os pobres que estão no comando do país. Os banqueiros e empreiteiros ficaram para trás, catando migalhas, enquanto os garis e as empregadas domésticas chegaram ao topo da hierarquia. E isso nós da EGO não podemos admitir!

Alguns tentam argumentar que não é bem assim, que os petistas são os “novos ricos”, frequentadores do hospital particular mais caro do país, usuários de jatinhos e todo o conforto que só o capitalismo pode oferecer. Mas é pura intriga da oposição. Em nome da sinceridade, vamos admitir: aquilo que não digerimos mesmo é a vida fantástica que o PT propiciou aos pobres brasileiros.

Onde já se viu? Onde isso vai parar? No modelo cubano, onde os pobres vivem exatamente como os demais, na fartura completa? Não vamos aceitar isso. Os pobres brasileiros sob o PT estão com uma qualidade de vida de fazer qualquer sueco morrer de inveja. O transporte público está uma maravilha, o SUS é quase perfeito, a segurança nas comunidades é absoluta. Isso é um ultraje para nós, golpistas da elite!

Vimos nesses dias uma grande paralisação de caminhoneiros revoltados com o aumento do combustível. Mas sabemos que os caminhoneiros são parte dessa elite abastada e golpista. Se analisarmos a vida dos mais pobres mesmo, veremos que tudo mudou para melhor. Ninguém sente a inflação de 7,5% no bolso, pois ela só afeta os mimados burgueses consumistas. Pobre pode simplesmente trocar carne por ovo e, pronto: a inflação desaparece.

A EGO não aguenta mais esse paraíso construído para os mais pobres à custa dos ricos. Os banqueiros vão viver de que se o governo resolver reduzir novamente os juros? É verdade que ele está no patamar mais alto dos últimos anos, mas fica sempre a angustiante dúvida no ar. E os empreiteiros? Como poderão comprar o leite das crianças sem o “petrolão”, que é obra do FH? Imagina se o PT acabar de vez com os “malfeitos”, como promete desde 2003: como a elite vai sobreviver?

Aécio Neves teve 51 milhões de votos na última eleição. Dilma venceu sem mentir, sem estelionato eleitoral. Colocou em prática tudo aquilo que prometeu na campanha. Não importa. As elites que a EGO representa estão furiosas, não com um suposto golpe da presidente, mas com suas medidas populares que tanto ajudam os mais pobres. É isso que nos tira o sono. Somos 51 milhões de ricos da elite nesse Brasil que mais parece uma imensa Suíça. Queremos arrocho salarial já. Queremos aumento de gasolina, de juros, de tarifas de energia. Por que Dilma nos ignora e faz tanto pelos mais pobres?   

Por essas e outras temos espalhado por aí a ideia do impeachment. É verdade que Collor, atual aliado do PT, sofreu impeachment e que isso teve muito a ver com a pressão popular liderada pelos petistas. Mas naquela época não era golpismo, pois era o povo contra a elite. Agora é golpismo, pois é a elite contra o povo. Que seja. A EGO vai continuar espalhando a ideia por aí, pois não dá mais para conviver com tantos pobres melhorando de vida. Não vamos permitir que o Brasil seja tão próspero quanto a Venezuela!

Com receio do nosso golpe, o ex-presidente Lula já convocou até o “exército de Stédile”, o líder do MST. Isso sim é constitucional. Sobre o MST, trata-se apenas de um “movimento social” legítimo, que invade, quer dizer, ocupa terras produtivas pois precisa fazer a reforma agrária nos moldes do Zimbábue, nem que seja na marra. Apenas nós da elite insensível temos esse apego bobo à propriedade privada.

Lula está fazendo seu papel de defensor da democracia e da Petrobras. Trata-se não de um agitador irresponsável, mas de um grande líder das massas. Por isso odiamos tanto o ex-metalúrgico. Pois só se preocupa com os mais pobres, e não liga para aqueles que possuem triplex no Guarujá ou circulam por aí de jatinho. Os petistas são muito abnegados e altruístas, e isso é revoltante. Está na hora de dar um basta. Está na hora de resgatar o poder novamente. Marchamos sob a liderança do ícone da elite branca, o ex-ministro Joaquim Barbosa. Elite opressora unida jamais será vencida!

Autor: Rodrigo Constantino, economista e presidente do Instituto Liberal